Agricultura familiar do PT favorece a CUT e sindicatos
Governo gasta mais neste ano com subsídio no campo que com Bolsa-Família
Para ter direito a créditos do Pronaf, agricultores têm de se filiar a sindicatos, que vivem explosão de adesões em áreas rurais no Brasil
As ações do governo Lula na agricultura familiar estão provocando uma explosão na sindicalização de trabalhadores rurais. A CUT, central sindical historicamente ligada ao PT, é a principal beneficiada.
O potencial econômico e político das iniciativas são comparáveis aos do Bolsa-Família, um dos pilares de sustentação da popularidade do governo.
A gestão federal do PT multiplicou por quase cinco a verba do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). A partir de julho, na reta final da campanha eleitoral, o governo começa a liberar o recorde de R$ 10 bilhões a agricultores familiares.
Neste ano, o orçamento do Bolsa-Família também será recorde, de R$ 8,7 bilhões.
Para ter direito aos créditos fortemente subsidiados do Pronaf, uma das duas opções dos agricultores é entrar para um sindicato de trabalhadores.
É o que vêm fazendo, ampliando principalmente a base da CUT (Central Única dos Trabalhadores), pró-governo. Dos 3.490 sindicatos hoje filiados à central, 1.272 (36%) são de agricultores. O governo nega o uso político do Pronaf.
Com tendência de aceleração nos últimos anos e predominância feminina, a sindicalização no meio rural cresceu 40% entre 1999 e 2004, quase quatro vezes acima da média de todos os outros setores (11,8%).
Espremidas debaixo da pirâmide salarial brasileira, as trabalhadoras agrícolas são hoje, proporcionalmente, o principal motor da recuperação do sindicalismo no Brasil: 65% mais mulheres no campo se sindicalizaram entre 1999 e 2004.
Hoje, o país tem mais mulheres sindicalizadas na área rural do que homens, segundo levantamento do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit), da Unicamp.
Por meio do Pronaf, os agricultores familiares mais pobres tomam empréstimos a juros de 1% ao ano e podem deixar de pagar até 50% dos créditos. Nas linhas mais caras, os juros são bem inferiores aos de mercado -no máximo de 7,25% ao ano.
Desvantagem salarial
Algumas das ações do Pronaf visam justamente o fortalecimento da posição feminina.
No Brasil, trabalhadoras brancas ganham 40% menos do que homens brancos. As negras, até 70% menos. Na comparação salarial cidade/campo, a desvantagem é ainda maior.
Assim como no caso dos benefícios financeiros (para quem recebe) e políticos (para o governo) do Bolsa-Família, grande parte do dinheiro do Pronaf para a área rural vai para o Nordeste -onde a verba foi multiplicada por cinco.
Na região, o segundo maior colégio eleitoral do Brasil, o presidente Lula tem hoje, disparado, as maiores taxas de intenção de voto e de aprovação.
Elisangela Araujo, coordenadora-geral da Fetraf (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar), ligada à CUT, diz que houve aumento de 30% no número de novos sindicalistas no governo Lula.
No Sindicato dos Trabalhadores Rurais em Feira de Santana (BA), a sindicalização também está em plena expansão, com predominância feminina. Hoje, mais de 75% dos 12 mil filiados são mulheres. "A proporção aumenta a cada ano", diz Conceição Borges Ferreira, dirigente do sindicato.
O Pronaf é defendido por governo, sindicatos e CUT como forma de melhorar a situação de milhões de agricultores familiares que têm, em grande parte, culturas de subsistência, com algumas sobras para comercialização.
"Arranjos institucionais qualificam melhor a política, com monitoramentos. Nós dialogamos muito com os movimentos [sindicais]. Mas não há vínculos políticos", afirma Valter Bianchini, secretário de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Folha
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