8.5.06

Invasão venezuelana

Entrada de venezuelanos no país aumentou 175% em dois meses, segundo dados obtidos pela Folha
Bolívia de Morales sofre "invasão" de aliados


O ingresso de venezuelanos na Bolívia aumentou 175% nos dois primeiros meses após a vitória do presidente Evo Morales, indicam documentos do Serviço Nacional de Imigração obtidos pela Folha. A presença cada vez maior de representantes do país de Hugo Chávez e também de cubanos tem provocado críticas da oposição, que vê uma ingerência em assuntos internos. Já o governo sustenta que eles contribuem para programas sociais, mas sob a supervisão do Estado boliviano.
Segundo o relatório obtido pela reportagem por um parlamentar da oposição e cuja autenticidade foi verificada, em dezembro, mês em que Morales foi eleito no primeiro turno, no dia 18, a imigração boliviana registrou a entrada de 80 cidadãos venezuelanos.
O número saltou para 294 em janeiro, em parte devido à participação de Hugo Chávez na cerimônia de posse, cuja comitiva bateu o recorde de participantes. Só de militares, geralmente encarregados de segurança, o serviço de imigração registrou 51 nomes entre os dias 11 e 21 de janeiro. A posse de Morales foi no dia 22.
Em fevereiro, o número caiu para 147 -mesmo assim, é quase o dobro de dezembro.
Com relação a cubanos, os documentos revelam a entrada de 146 cidadãos de janeiro a março. A reportagem buscou dados de meses anteriores para comparação, mas foi informada de que essas informações não estão disponíveis para jornalistas.
O envolvimento de venezuelanos em atividades do governo Morales foi um dos principais temas de debate no país na semana passada, quando Morales decretou a nacionalização dos hidrocarbonetos. O principal líder da oposição, Jorge "Tuto" Quiroga, líder do partido Podemos, não questionou os termos do decreto, mas criticou o que chamou de "ingerência" do governo Chávez no processo.

"Cooperação técnica"
Na semana passada, a Folha revelou a presença de 28 técnicos venezuelanos da gigante petroleira PDVSA em Santa Cruz, cidade que concentra as principais empresas do setor de hidrocarbonetos. O governo Morales afirma que há uma "cooperação técnica" da empresa venezuelana com a combalida estatal boliviana YPFB, que, com 650 funcionários e capacidade de investimento próxima do zero, terá de administrar todas as operações de gás e petróleo recém-nacionalizadas.
O recente aumento de cidadãos venezuelanos foi confirmado por dez trabalhadores do setor de turismo de Santa Cruz, entre motoristas e funcionários de hotel.
"Quase não chegava ninguém e agora isso aqui está cheio de venezuelanos", disse um taxista.
Em entrevista à Folha dias antes da nacionalização, o ministro da Presidência, Juan Ramon Quintana, disse que Cuba e Venezuela têm ajudado em programas do governo boliviano, mas que falar em ingerência é uma "falácia".
"Essa é uma falácia, uma grande mentira. Temos, com Cuba e Venezuela, uma cooperação em matéria social e assistência técnica em alguns setores", disse Quintana. "Por exemplo, na área social, os dois países apóiam a assistência às pessoas prejudicadas pelos desastres naturais [houve várias enchentes no país em janeiro]."
"Hoje, estão fazendo um trabalho rural, em unidade móveis, são muito bem recebidos pelas comunidades indígenas e pelos municípios rurais, e o trabalho da cooperação cubana é muito bem valorizado. Além disso, nossos médicos, que estudam com recursos do Estado, não querem ir trabalhar no campo. Hoje, são os médicos cubanos que estão aí."
No caso da cooperação venezuelana, Quintana diz que apóiam o plano de alfabetização, que está sendo assistido também pelos cubanos. "Temos aí uma espécie de tripé em programas sociais. Não há nenhuma possibilidade de que cubanos e venezuelanos interfiram no exercício da autoridade boliviana. Por outro lado, afirma Quintana, "com o Brasil, esse nível de cooperação não existe, porque é um programa de cada país. Cada país oferece à Bolívia o que deseja. Mas não quero fazer comentários sobre o Brasil: simplesmente os países cooperam com o que querem".
O principal ministro da área política de Morales informou ainda que os EUA continuam cooperando financeiramente com a Bolívia no combate ao narcotráfico.

Chávez abrirá campanha com ex-cocaleiro
O jornal boliviano "La Razón" informou ontem que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, participará, ao lado do presidente boliviano, Evo Morales, do lançamento, na Bolívia, da campanha pela Assembléia Constituinte.

O comício está marcado para o próximo dia 18. Será a terceira vez que Chávez irá á Bolívia desde a eleição de Morales, há pouco mais de três meses. Ambos também se encontraram fora daquele país em quatro outras oportunidades. Desta vez Chávez assinará com a Bolívia um convênio cooperação tecnológica na área petroquímica.Em Caracas, Chávez acusou ontem os americanos de quererem "amedrontar" seu governo, por meio de manobras militares no Caribe.No sábado Chávez afirmou que, caso a oposição não dispute as eleições presidenciais de dezembro, ele convocaria um plebiscito para ser autorizado a disputar sucessivas reeleições nos próximos 25 anos.