Lula diz ao "Le Monde" que PT pagará por seus erros
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, ao jornal Le Monde, em Brasília, que o PT pagará pelos erros que cometeu. Durante a entrevista, publicada ontem, Lula citou ainda dados positivos da economia e de programas sociais do governo, como o Bolsa Família, e se mostrou otimista.
Questionado sobre as lições que extraiu da crise do mensalão, afirmou que "é preciso distinguir entre os erros cometidos (...) e os crimes que os adversários do PT atribuem a ele". Para o presidente, o desfecho dos casos depende de decisão da Justiça, mas disse acreditar que "boa parte" dos envolvidos vai ser absolvida.
Em relação aos ataques promovidos pelo PCC em São Paulo, afirmou que a situação da segurança pública é grave e conhecida dos governantes. Discordou que o plano nacional de segurança pública, sua proposta de campanha, tenha ficado no papel. Citou dados de presídios em construção, a criação de um secretariado de segurança e treinamento de policiais.
"Devemos todos, mais que buscar os culpados, assumir nossas responsabilidades e apresentar uma resposta à sociedade brasileira", disse. Fez crítica velada ao governo de São Paulo, ao salientar que "o problema é que a segurança pública não depende do poder federal: no Brasil, ela é responsabilidade dos Estados".
Sobre tensões recentes entre Brasil, Bolívia e Venezuela, contemporizou. Para o presidente, a decisão do presidente boliviano Evo Morales de nacionalizar o gás do país "não é tão grave" e há espaço para a negociação, "caso o bom senso prevaleça". Diplomático, afirmou que prefere confiar em negociações a "ostentar retórica para impressionar o público".
Na opinião de Lula, para que a integração regional se consolide, é necessário que os países maiores sejam "sempre generosos" com os mais pobres. "O Brasil e a Argentina precisam contribuir (...) porque não temos interesse algum em viver cercados de países mais pobres", disse. "Na América do Sul, de vez em quando é preciso contar até dez antes de tomar uma decisão."
Esquerda
Conceitos de esquerda, como o antiimperialismo ou a revolução, perderam sua pertinência hoje, afirmou o presidente. "Jamais me ative à etiqueta da esquerda", completou. Disse que é um "defensor da liberdade de expressão" e que cada um pode utilizar as palavras que melhor lhe convierem. Apesar disso, em 2004, o governo petista tentou expulsar o jornalista Larry Rohter, do "New York Times", que publicou reportagem com o título "Hábito de bebericar do presidente vira preocupação nacional".
Lula descartou convergências entre as suas reformas e aquelas promovidas pelo PSDB. "Se tivesse havido continuidade, a inflação teria chegado aos 40%, e o risco-país disparado", afirmou. Reconheceu, no entanto, "certos pontos em comum com partidos como o PSDB ou o PMDB e com partidos de esquerda menores". Citou dados comparativos entre sua gestão e a de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) para, em seguida, afirmar que "não existe comparação entre este governo e o precedente".
Sobre a Copa do Mundo, afirmou que se for considerado só "o retrospecto e o talento de cada jogador, o Brasil voltará a ser campeão mundial". Ressalvou, no entanto, que não basta ter a melhor seleção ou os melhores jogadores. "Há momentos na história em que os favoritos não vencem. (...) Em assuntos de futebol, é preciso sempre esperar pelo começo do campeonato."
Folha
Um comentário:
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