Novo contrato da estatal cede controle de cinco empreendimentos à petrolífera venezuelana PDVSA
A ascensão do presidente venezuelano Hugo Chávez como líder político mais importante da América Latina, superando as ambições do presidente Lula, tornou-se o principal item da pauta de observadores e empresários que têm negócios no continente. Na semana passada, a revista britânica The Economist afirmou que Chávez tem humilhado Lula e o transformou em um espectador irrelevante dos acontecimentos sul-americanos. Essa disputa, que se dá principalmente em torno dos lucros com o petróleo na região, pendeu mais uma vez para o lado de Chávez nas últimas negociações da Petrobras com a PDVSA sobre os contratos de exploração de petróleo na Venezuela. Acordo fechado no final de março, mas que até agora não havia sido divulgado, mostra que a Petrobras foi obrigada a aceitar a PDVSA como sócia majoritária na exploração de cinco campos de petróleo no país.
Pelos termos finais da negociação, a PDVSA assume 60% do negócio da Petrobras na Venezuela: a extração diária de 70 000 barris de petróleo por dia. O país produz diariamente 3 milhões de barris de petróleo. Por serem campos antigos, ou maduros, no jargão da indústria, esses locais precisam de tecnologia avançada de extração, uma das especialidades da Petrobras. O contrato que foi renegociado com a PDVSA previa que a estatal brasileira recebesse bônus cada vez que superasse as metas de produção, o que sempre aconteceu. "Era um negócio extremamente lucrativo", diz o diretor internacional da Petrobras, Nestor Cerveró. Ele confirma os termos do acordo e diz que a PDVSA pagou uma indenização para assumir os 60% de participação nos campos, mas diz que as cifras são confidenciais. Apesar de não ter conseguido chegar ao valor final pago pela estatal venezuelana, EXAME apurou que metade foi paga em dólares e a outra metade em bolívares. Um bolívar vale hoje 0,0004 dólar.
O desfecho dessa negociação mostra como a defesa dos negócios da Petrobras é frágil quando se trata de brigar com a estratégia dos venezuelanos. A imposição da PDVSA como sócia majoritária de todos os negócios com petróleo na Venezuela já fez com que a americana Exxon Mobil vendesse seus ativos. A italiana Eni e a francesa Total deixaram o país, enquanto outras multinacionais, como Shell e BP, decidiram aceitar a PDVSA como maior sócia. Na Bolívia, onde o presidente Evo Morales conta com apoio político e técnico do presidente Chávez, a estatal brasileira ainda tenta deslanchar a negociação sobre a desapropriação de suas refinarias. A Petrobras não tem refinarias na Venezuela, mas está no meio de um processo de negociação para assumir a exploração de um dos campos de petróleo mais promissores do país, o Carabobo 1, na região conhecida como faixa do rio Orinoco, com possibilidade de produzir 200 000 barris de petróleo por dia. A participação da Petrobras na exploração desse campo seria uma contrapartida à sociedade das duas estatais na construção de uma refinaria em Pernambuco. O diretor internarional da Petrobras diz que as negociações caminham no ritmo esperado, mas entre os técnicos da estatal domina a sensação de que os venezuelanos, no fundo, não querem fechar negócio algum, nem no Brasil nem na Venezuela. "A discussão entre essas duas empresas é muito mais ideológica do que econômica. Portanto existe sim o risco de essas negociações não darem em nada", comenta Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE).
Nos anos 90, a Venezuela abriu os 32 campos maduros de petróleo do país para exploração por empresas estrangeiras. Pelos contratos assinados na época, as empresas recebiam um pagamento mensal por barril, dependendo do preço do petróleo e do volume de produção. A produção desses campos chegou a 400 000 barris por dia só com o investimento dessas empresas, estimado em 12 bilhões de dólares até hoje. No início do ano, Chávez anunciou que todos esses contratos seriam revistos. Segundo a nova regra, para continuar operando no país, as empresas estrangeiras teriam de associar-se à PDVSA e passar a maior parte do negócio à estatal venezuelana.
As empresas que não aceitaram a imposição deram um jeito de sair do país. Foi o caso da Exxon Mobil, da Eni e da Total. Em 31 de março, numa cerimônia no Palácio de Miraflores, em Caracas, Chávez anunciou ter fechado acordo com um grupo de multinacionais, entre as quais a Shell, a Repsol e a própria Petrobras. O governo venezuelano ofereceu 900 milhões de dólares pelas participações acionárias assumidas pela PDVSA, algo muito distante do valor dos projetos. Estimativas feitas pela consultoria Wood Mackenzie para a revista Business Week dizem que a perda total das empresas com os novos contratos deve chegar a 3,7 bilhões de dólares, metade do que elas estimavam faturar com esses campos na Venezuela neste ano.
EXAME
Um comentário:
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