12.5.06

'Oligarquia faz pressão no Brasil'

'Querem que Lula mande uma divisão de tanques para a Bolívia e que brigue comigo', diz Chávez

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, declarou ontem que "a oligarquia brasileira está submetendo a pressões selvagens" o seu colega Luiz Inácio Lula da Silva para que responda com dureza à nacionalização do gás e do petróleo na Bolívia e entre em conflito com o governo venezuelano. "Isso não ocorrerá", disse ele. "Alguns querem que Lula mande uma divisão de tanques para a Bolívia. Em vez disso, Lula me disse, por telefone: Chávez, me pressionam para que seja duro com a Bolívia, mas não vou fazê-lo porque é um país pobre e isso não me sai da alma."

Chávez, que ontem se reuniu com o papa Bento XVI e depois viajou para Viena, negou qualquer influência sobre a decisão do presidente da Bolívia, Evo Morales, de nacionalizar os hidrocarbonetos, embora admita seu apoio. "Essa é uma idéia nascida do império (Estados Unidos) e foi comprada pela oligarquia brasileira, que conspira e quer me fazer brigar com Lula."

Sobre as declarações do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, segundo as quais Lula teria demonstrado desconforto com a sua interferência na Bolívia, Chávez considerou que são fruto da "pressão da oligarquia interna" . "Eles andam incomodados, querem que eu e Lula briguemos, mas vão ficar de cabelo em pé, porque eu e Lula somos irmãos."

Segundo o presidente venezuelano, o documento de Puerto Iguazú, Argentina, onde se realizou a reunião, em 4 de maio, dos presidentes da Argentina, Néstor Kirchner, da Bolívia, da Venezuela e do Brasil, demonstra o sentimento e a vontade política dos presidentes.

Ele lembrou os projetos de cooperação existentes entre a Petrobrás e a estatal venezuelana de petróleo PDVSA e sublinhou que as duas empresas se completam, mesmo nas operações na Bolívia.

CONFRONTO IDEOLÓGICO
Ao chegar a Viena, Áustria, para participar da 4ª Cúpula de Chefes de Estado da União Européia, da América Latina e do Caribe, Chávez afirmou que a América Latina vive hoje um confronto ideológico muito duro em decorrência das críticas à política do governo venezuelano de "solidariedade com os pobres".

Ele comentou que está confiante em uma rápida solução para a crise entre a Argentina e o Uruguai, provocada pela construção de duas fábricas de celulose do lado uruguaio da fronteira entre os dois países. "A Argentina e o Uruguai vão resolver logo essa crise. Esperamos que seja rápido, para que possamos reformar o Mercosul e dar uma dose maior de solidariedade aos países mais pobres", disse.

COM O PAPA
No encontro de ontem de manhã, no Vaticano, o papa Bento XVI entregou uma carta a Chávez na qual pede respeito pela liberdade da Igreja Católica na nomeação dos bispos. O papa pediu também que o ensino da religião não seja abolido nas escolas, como requer o projeto de reforma da educação na Venezuela.

Outro pedido do papa foi para que o programa de saúde venezuelano tenha como base a defesa da vida desde a concepção.

Na tradicional troca de presentes, Chávez deu ao papa um quadro com a imagem de Simon Bolívar e o testamento do herói da Venezuela que termina com a afirmação "Sou um católico e fiel cristão".

Na entrevista coletiva, Chávez disse que na tentativa de golpe na Venezuela, em 2002, estavam envolvidos representantes da Igreja, mas o problema foi superado.
Estadão

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