30.10.06

Desabafo de uma mulher de bem.

Ao acabar a campanha de segundo turno para presidente,cabe um agradecimento a todos os brasileiros e parabenizar aqueles que mantiveram e trouxeram novos valores e talentos para a política nacional. Parabéns aos brasileiros que com muita honra no último dia 1º de Outubro elegeram grandes pessoas e grandes estadistas para nos representar durante 08 anos no senado e 04 anos câmara federal:
Fernando Collor, José Genoíno, João Paulo Cunha, Antonio Palocci,Paulo Maluf, Jarder Barbalho, Clodovil Hernandes, Luiza Erundina, Frank Aguiar, Ricardo Berzoini, José Mentor, Valdemar Costa Neto. Essa é apenas uma parte da lista de pessoas
de "grande caráter e capacidade" para representar a política de nosso país nesses próximos anos. PARABÉNS BRASILEIROS!!!!!!!!!

Vergonha, como votam num costureiro que em uma entrevista na TV diz: "Não sei, só sei que lá não se faz política, vou até lá pra ver o que acontece". (Clodovil, ao ser perguntado o que vai fazer em Brasília). E para completar a lista de politicos "honrados", reelegeram lula.
Se depois de tanto tempo de problemas e corrupção em nosso país, o povo ainda não aprendeu, ao menos mostrou que realmente deseja continuar na MERDA e viver sempre sendo
enganado e sendo feito de IDIOTA por aqueles que se dizem nossos representantes... PARABÉNS BRASILEIROS!!!
Sabia que a memória dos brasileiros era curta, mas isso foi demais com certeza!!!
lula não ganhou a eleição. O povo brasileiro é que perdeu.

Perdeu a vergonha na cara, a noção de responsabilidade, de honestidade, de decência. Assinou um atestado público e inconteste de sua condição inferior, de sua nulidade como povo, demonstrando mais uma vez que não passa de um povinho, uma nação menor. Votando neste delinqüente cínico, que com sua quadrilha aviltou todas as instituições nacionais, esse povinho se tornou cúmplice. Como elles gostam de dizer, o povinho deu seu "aval".
E se já roubavam, mentiam e corrompiam antes, podemos imaginar o que virá pela frente. Assumiu assim o povinho brasileiro, sua real vocação: o cinismo, a desonestidade, a safadeza,
a ganância, a inveja, o despeito. Tudo que pareça bom e justo deve ser banido, para que reinem absolutas, a corrupção, a impunidade, a ganância, o engodo. O povinho nada mais fez que eleger um seu igual, um seu real representante:
sórdido, mesquinho, vulgar, corrupto, recalcado, menor.
Em todos os sentidos. lula não ganhou a eleição. Tomou a força. Na marra. Movimentando descaradamente a máquina pública, desfalcando os cofres públicos, enganando, mentindo,
corrompendo. E que com isso, se pare de uma vez por todas de endeusar esse "ente" enigmático a que chamam povo.
Povo é uma coisa, gentalha é outra, e infelizmente, o Brasil desgraçamente é formado em sua maioria por gentalha.
Mãe do Brasil - de luto, envergonhada pela constatação do óbvio: o povinho brasileiro não vale nada mesmo. Regina

29.10.06

Ele mora em Brasília e tem ligações com o PT!!!

Dólares para dossiê Vedoin foram pedidos por petista, afirma PF

Polícia pede quebra de sigilo telefônico dos donos da casa de câmbio de onde saíram U$ 248,8 mil apreendidos

A Polícia Federal já descobriu que quem encomendou parte dos US$ 248,8 mil na Vicatur Casa de Câmbio e Turismo, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, mora em Brasília e tem estreitas ligações com o PT. Para reunir provas contra o arrecadador do dinheiro - R$ 1,75 milhão de origem criminosa que seria usado para a compra do dossiê Vedoin -, a PF pediu a quebra do sigilo telefônico dos proprietários da Vicatur, Fernando Ribas Soares e Sirley da Silva Chaves. A operação mobilizou um grupo de laranjas profissionais residentes em Magé (RJ) e Ouro Preto (MG).

A consulta a esses documentos vai permitir a identificação do momento exato em que a operação foi montada e os seus desdobramentos. A investigação federal avalia o rastreamento como passo essencial para fechar o cerco a outros nomes do PT, ainda não citados no inquérito do dossiê. Os investigadores também acreditam que o levantamento vai apontar outras operações fraudulentas de câmbio, eventualmente realizadas pelo grupo petista.

Há sete anos os laranjas recrutados pela Vicatur emprestam seus dados pessoais para o fluxo ilegal de dólares. Ao delegado federal Washington Clarck os laranjas confessaram essa rotina de atos lesivos ao sistema financeiro nacional.

O delegado Daniel Lorenz, superintendente regional da PF em Mato Grosso, onde estão concentradas as investigações sobre o dossiê Vedoin, afirmou que não há mais dúvidas de que os dólares que saíram da Vicatur são os mesmos encontrados no Hotel Ibis, em São Paulo, onde foram presos, dia 15 de setembro, Gedimar Passos e Valdebran Padilha - recrutados pelos petistas para negociar o dossiê - de posse do R$ 1,75 milhão.Os maços de dólares integravam o total apreendido.

Sirley e Soares, os sócios da Vicatur, já foram indiciados pela Polícia Federal, quinta-feira, por crimes de falsificação de documentos (Artigo 304 do Código Penal) e fraude em operação de câmbio (Artigo 21 da Lei de Crimes Financeiros). Eles são acusados de fraude na venda dos dólares. Podem pegar de três a dez anos de prisão, mais multa.
Estadão

27.10.06

Padeiro conta tudo!!

PF investiga em Minas padeiro que diz ter levado R$ 250 mil a petista

Em entrevista a jornalistas de Pouso Alegre, Aguinaldo Delino disse que entregou dinheiro a Hamilton Lacerda

Ouvido ontem por policiais, padeiro disse em gravação que parte dos recursos passou por sua conta, mas não apresentou extratos


A Polícia Federal investiga o teor de uma entrevista gravada em vídeo pelo padeiro Aguinaldo Henrique Delino, 31, na qual ele afirmou ter ajudado a transportar R$ 250 mil de Pouso Alegre (MG) para São Paulo (SP) para entregar a uma pessoa que ele identificou como o petista Hamilton Lacerda, perto do hotel Ibis, em São Paulo, pouco antes da apreensão de R$ 1,7 milhão pela PF.
Delino foi interrogado ontem por uma equipe da PF de Varginha (MG). No vídeo, gravado há cerca de 20 dias por jornalistas do site da internet TV Uai e do "Jornal do Estado", de Pouso Alegre, o padeiro afirmou que o promotor de eventos Luiz Armando Silvestre Ramos, para quem trabalhou há um ano, pediu para usar sua conta bancária para receber uma transferência eletrônica de R$ 80 mil no último dia 10 de setembro.
O dinheiro, que teria vindo de empresa do interior de São Paulo, foi sacado um dia depois no Bradesco. Ramos teria sacado mais R$ 170 mil da conta de sua empresa, a Produções SR Silvestre Ramos Rodeio Show, que está desativada há um ano.
Indagado se o padeiro confirmou os saques em seu depoimento, o delegado da PF Daniel Daher afirmou à Folha que sim. Sobre a entrega, Daher disse que só conversaria com a imprensa após tomar depoimentos que começaram às 18h30 e continuavam até o fechamento desta edição. A PF não recebeu extrato de Delino que comprovaria a operação.
Depois dos supostos saques, Ramos teria chamado Delino para ir a São Paulo, acompanhado de dois seguranças. "Ele me convidou, se eu queria ir com ele, aí eu peguei e fui. [Em São Paulo,] a gente chegou perto do hotel, do hotel Habib's, Ibis, e sentamos numa padaria. Ficamos lá, aí ele [Ramos] ligou no celular. Aí passou um tempo e chegou um rapaz lá, um carro com mais uns seguranças. Aí o Silvestre saiu da padaria, encontrou ele, e passou o dinheiro pra ele", descreveu.
Ao ver na TV o noticiário sobre o dossiê, o padeiro afirmou ter reconhecido Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha do candidato derrotado ao governo de São Paulo Aloizio Mercadante (PT).
"Aí eu vi aquele, o Hamilton Lacerda. Eu comentei com a minha família: "Nossa, fui a São Paulo, junto com meu patrão, e levamos dinheiro pra esse rapaz aí'", disse Delino, no vídeo.
Segundo o padeiro, ele decidiu então procurar a imprensa de Pouso Alegre. "Eu fiquei com medo de ser preso, porque usam minha conta para fazer um depósito e passou para o rapaz que apareceu na televisão."
Os seguranças citados por Delino estavam sendo ouvidos pela PF no final da noite de ontem. Eles disseram à imprensa que não conhecem nem o padeiro nem Ramos.
O empresário Silvestre Ramos, procurado ontem pela Folha, não foi localizado.
No depoimento que prestou à PF de São Paulo, Lacerda negou envolvimento com a tentativa de compra do dossiê contra tucanos por petistas.
Folha

26.10.06

Aposentado nega participação

'Não tenho nada com isso', diz aposentado sob investigação
Chefe da família que consta como sacadora dos dólares nega envolvimento e teme por sua segurança

Sob a placa com o nome de sua pequena chácara, Sítio Rancho Alegre, Levy Luiz da Silva, de 72 anos, chorou ao falar com o Estado anteontem sobre o fato de o seu nome e os de seu filho, Levy Luiz da Silva Filho, de sua mulher, Demilde Gomes da Silva, e de outros parentes aparecerem na lista de sacadores de dólares da Vicatur, em Nova Iguaçu. Aposentados, Levy e Demilde vivem na zona rural de Magé, numa casa simples.

Ao saber do motivo da reportagem, a família ficou amedrontada. A filha deles, Denise, que não está na lista, contou que os pais são hipertensos e ficaram nervosos ao serem informados da possibilidade de terem tido o nome usado no caso. Depois de muita insistência, apenas o patriarca, Levy, aceitou conversar com o Estado, mas pediu que não fossem feitas fotos.

Homem simples e franzino, disse que trabalhou 32 anos como agente de portaria do Ministério das Relações Exteriores no Rio. Com três anos de licença-prêmio, aposentou-se. Há dois anos, comprou o sítio e ainda trabalha como agricultor. Frisou que sempre teve muito cuidado para manter seu nome limpo e nunca viu uma nota de dólar. 'Como posso ter sacado dólares? Há 12 anos não recebo aumento', afirmou. 'Sempre tive muito capricho com meu nome. Sempre prezei minha honestidade', completou.

Levy contou que tem acompanhado pela TV as notícias sobre a investigação da origem do dinheiro do dossiê Vedoin. Ouviu que uma família poderia ter sido usada como laranja, mas disse nunca ter imaginado que pudesse ser a sua. Sem conter as lágrimas, afirmou temer que seus parentes paguem por crimes de poderosos. 'Vi na TV que estão procurando laranjas, mas não sou eu que estou por trás daquilo. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Eu sou o lado mais fraco. Não tenho nada com isso, mas estou preocupado. Neste País, sempre o pequeno paga tudo. E eu sou um pequeno.'

Assim como o filho, Levy diz não ter idéia de como os dados dos documentos foram parar na Vicatur. 'Não sei. Mesmo quando a gente vai numa loja comprar algo, pedem documentos', especulou. O aposentado também relatou não se lembrar de algum familiar que tenha perdido documentos e afirmou não possuir nenhuma relação com políticos. 'Nem gosto de políticos. Voto porque é meu dever.'
Estadão

25.10.06

Escândalos acompanham donos da Vicatur

Um deles chegou a ser denunciado no esquema PC, mas foi absolvido

Dona da Vicatur Câmbio e Turismo, agência em Nova Iguaçu que, segundo a Polícia Federal, foi responsável pela venda dos US$ 248,8 mil apreendidos com os petistas que comprariam o dossiê Vedoin, a família Ribas Soares já se envolveu em outros escândalos financeiros desde os anos 90. Um dos irmãos chegou a ser acusado em investigação contra Paulo César Farias, tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando Collor.

Em 1995, Jorge Ribas Soares Júnior foi denunciado no processo contra doleiros que ajudaram PC Farias a movimentar dinheiro de caixa 2 obtido na campanha de Collor à Presidência em 1989. Como sócio da Cambitur, antecessora da Vicatur, foi acusado de 'atribuir ao 'fantasma' Francisco Martins de Souza falsa identidade para a realização de operação de câmbio'. Mas nas alegações finais do processo, o Ministério Público pediu sua absolvição, concluindo que não havia provas de sua participação nas fraudes.

Mas ele teve 2 condenações. Em 1994, foi aberta investigação por conta da remessa ilegal de US$ 63,8 milhões da Cambitur para o Uruguai, por contas CC-5, com ajuda dos uruguaios Gonzalo Alvarez Mourele, procurador da empresa uruguaia Guide Financeira, e Ramon Vila Vazquez, ex-operador da Cambitur. O juiz Wilson José Witzel, da 8ª Vara Federal Criminal, condenou Soares Júnior a 6 anos e 8 meses de prisão e os outros a 5 anos. Na sentença, ele diz que a empresa 'servia apenas como fachada para que os responsáveis pela Cambitur realizassem a lavagem de quantias cuja procedência não havia como justificar'. Soares Júnior foi condenado à revelia: desde 1997 vive em Estoril, Portugal.

A outra condenação é por estelionato, a 4 anos de reclusão. Ele foi acusado de fraudar o resgate de FGTS de um ferroviário, no valor de R$ 10,3 mil, falsificando documentos junto à Caixa Econômica Federal.

FALSA IDENTIDADE

Seu irmão, Fernando Manoel Ribas Soares, sócio majoritário da Vicatur, já estava sendo investigado por vender dólares a pessoas com falsa identificação antes de ser envolvido no caso do dossiê Vedoin. Em 2003, apuração do Banco Central descobriu que a empresa vendeu dólares a pessoas físicas fictícias, ou laranjas, crime previsto na Lei do Colarinho-Branco. A Procuradoria da República do Rio pediu então abertura de inquérito à PF em Nova Iguaçu.

A Delegacia de Combate aos Crimes Financeiros da Polícia Federal no Rio começou outra investigação, pelos mesmos motivos, este ano. No dia 11 de setembro, o procurador André Coutinho deu mais 120 dias para a PF concluir a investigação. Até ontem, porém, o inquérito permanecia na procuradoria à espera da polícia.
Estadão

PF está com excesso de trabalho!

PF só pretende intimar laranjas depois da eleição

Órgão alega que tem excesso de trabalho e que não se pauta pela votação; meta agora é saber se compradores dos dólares 'alugaram' os CPFs

A Polícia Federal só vai intimar depois da eleição os laranjas que adquiriram os US$ 248,8 mil dólares usados na frustrada tentativa de compra do dossiê Vedoin. Segundo a PF, o volume de trabalho tem sido avassalador e a instituição tem que pautar sua atuação conforme a conveniência da investigação e não pelo calendário eleitoral.

Para dar uma idéia do volume de trabalho desse inquérito, a PF informou que foram processadas 1,6 milhão de transações financeiras, a partir do cruzamento de 43,7 mil contas. No total, foram processados 66,2 mil dados. Desde o início da investigação, foram rastreadas 2,8 milhões de chamadas telefônicas de 56 mil aparelhos. Dessas ligações, 380 mil partiram ou se destinaram à Presidência da República.

O principal objetivo do inquérito, nesta nova etapa, é desvendar a origem do R$ 1,75 milhão - destinado à compra do dossiê - apreendido em poder dos petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha num hotel de São Paulo, em 15 de setembro. A origem dos dólares está praticamente desvendada.

Segundo a PF, a maior parte do dinheiro estrangeiro foi adquirida por um grupo de cinco a nove pessoas de uma mesma família, na Vicatur Câmbio e Turismo, de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Pobre e sem meios para justificar operação dessa monta, a família seria do município de Magé.

O objetivo da investigação agora é descobrir se eles 'alugaram' seus CPFs ou tiveram os nomes usados indevidamente pelos petistas e se os donos da empresa que vendeu os dólares tinham conhecimento da operação.

Autorizada a operar com câmbio de moeda estrangeira desde 1999, a Vicatur foi objeto de uma comunicação do Banco Central ao Ministério Público do Rio, por suspeita de irregularidade em operações de câmbio.

Em alguns casos, as pessoas nem sequer sabiam que seus nomes tinham sido usados nas operações na agência.
Estadão

PF ouve "laranja"

Laranja ouvido pela PF diz que não soube de compra de dólares

Venda de moeda foi realizada pela casa de câmbio Vicatur, uma das investigadas pela Polícia Federal no caso do dossiê contra tucanos

PF analisa dados de 66.256 pessoas, 56.047 números de telefone e 2.828.000 chamadas, milhares delas para o Palácio do Planalto

A Polícia Federal ouviu pelo menos um dos laranjas cujos nomes foram utilizados para comprar dólares supostamente usados por petistas na tentativa de compra de um dossiê contra os tucanos.
O laranja ouvido negou ter conhecimento da compra de dólares feita em seu nome, em uma operação realizada pela casa de câmbio Vicatur, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro.
A pessoa ouvida pelos policiais é integrante de uma família pobre, que tem oito de seus integrantes registrados como compradores de dólares em operações com a Vicatur investigadas pela PF. Os demais laranjas devem prestar depoimento ainda nesta semana.
Além da Vicatur, são alvos preferenciais da PF as casas de câmbio Diskline e Travel, em São Paulo, e a Centaurus, em Florianópolis.
Por meio dessas empresas, suspeita a PF, passaram US$ 110 mil em notas seriadas, lote que faz parte do R$ 1,75 milhão em dólares e reais que seriam utilizados para comprar o dossiê, mas foram apreendidos em 15 de setembro, no hotel Ibis Congonhas, em São Paulo.
Os nomes dos laranjas fazem parte de uma base de dados montada pela PF especificamente para investigar a negociação do dossiê contra políticos tucanos.
A análise das informações envolve dados relativos a 66.256 pessoas, 56.047 números de telefones e 2.828.000 chamadas de sigilo telefônico.
As sucessivas quebras de sigilo telefônico, no período entre 15 de agosto e 15 de setembro, revelaram que os suspeitos e as pessoas com as quais se comunicaram receberam do Palácio do Planalto e fizeram para o local 380 mil ligações telefônicas. A PF investiga com quem do governo os suspeitos de negociar o dossiê conversaram.
O lado financeiro da investigação trabalha, no mesmo sistema -chamado de "Arquivo X"-, com dados de 43.778 contas bancárias, 1.580.094 transferências financeiras, além de 311.039 contratos relativos à compra de lotes superiores a US$ 10 mil.
Os números vão aumentar ainda mais. Ontem à noite, a PF começou a alimentar o "Arquivo X" com dados sobre contratos de compra de dólares em valores inferiores a US$ 10 mil. O novo pedido de informações foi feito ao Banco Central porque há suspeita de que as compras destinadas ao negócio com o dossiê tenham sido mais pulverizadas do que o limite de US$ 10 mil que havia sido fixado para a quebra de sigilo pedida à Justiça anteriormente.
Folha

24.10.06

Geraldo, Lula e as elites

Se comparações podem ser feitas, muito mais Lula do que Geraldo Alckmin representa os interesses das elites

"Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade." (Joseph Goebbels)

Segundo a campanha petista, Geraldo Alckmin seria o candidato das elites, enquanto Lula representaria os pobres deste país. Quais são os fatos?
Geraldo é de família de classe média, tem formação universitária e desde jovem atua na vida política exercendo diversos cargos eletivos, sempre do lado certo.
Lula tem origem de família pobre do Nordeste, tem pouca formação escolar, veio para São Paulo como milhões de migrantes nordestinos e chegou a líder sindical. Quanto à origem e à formação, Geraldo faz parte da elite intelectual do país. Lula, não, porque não quis. Tempo e condições não lhe faltaram.
Contudo, Lula teve mais acesso aos bens materiais -e propriamente ao poder- que Geraldo, pois comandou um dos maiores sindicatos da América Latina. Conheceu o inescrupuloso jogo do poder que utiliza com maestria na função que exerce. Aprendeu a trocar favores para manter lealdades.
Lula não é mais aquele homem pobre e humilde de outrora. No exercício do poder federal, atendeu interesses de grandes grupos empresariais, que por isso o apóiam, e de centenas de membros da elite sindical, que deixaram a sua função para se refestelar em cargos públicos.
Enquanto membros da família de Lula, em tenra idade, passaram a possuir patrimônio invejável por meio da associação com grandes grupos concessionários de serviços públicos, Geraldo e família continuam com vida modesta. Se comparações podem ser feitas, muito mais Lula do que Geraldo representa os interesses das elites.
No governo anterior, o Bolsa-Escola era a contrapartida para possibilitar que famílias abaixo da linha da pobreza mantivessem seus filhos na escola. Criavam-se, assim, as condições para seu desaparecimento no tempo, quando os filhos já não estivessem em idade escolar ou quando a obtenção de um emprego tornasse desnecessária a ajuda. O Bolsa Família, instituído por Lula, é assistencialismo puro, provoca dependência permanente.
Para as elites dominantes, particularmente no Nordeste, não interessa a incorporação de milhões de pessoas à cidadania. Melhor é mantê-las -em troca de um punhado de reais- na exclusão e na ignorância, como massa de manobra.
No que diz respeito às estatais, as elites empresariais e sindicais sempre influenciaram fortemente as suas ações. As empresas telefônicas estatais, por exemplo, pouco produziam.
Só serviam, pelos fundos de pensão, aos interesses de seus próprios funcionários, dos líderes sindicais e, principalmente, de seus dirigentes, lá colocados por interesses políticos. Nelas se enraizavam os grupos econômicos privados que sugavam seus recursos de forma predatória.
A Vale do Rio Doce, por sua vez, era pouco lucrativa e pouco colaborava com o esforço exportador na área mineral. Em uma mina da empresa, no Pará, ouvimos dos gerentes que os baixos investimentos e as limitações impostas à empresa, por ser estatal, impediam seu crescimento. Hoje, privada, tem alta lucratividade e é uma das maiores exportadoras do mundo.
O mesmo vale para a Embraer e as usinas siderúrgicas. Não fosse a privatização, as exportações seriam bem menores, e os nossos índices de crescimento, ainda mais medíocres. Outras empresas estatais não foram e não devem ser privatizadas, porque não convém ao país.
Quando da quebra do monopólio estatal do petróleo, o PT alardeava que queríamos privatizar a Petrobras. Sugeri, então, ao presidente FHC -e ele o fez- a redação de um compromisso, o qual foi lido nos plenários da Câmara e do Senado, de não privatização da estatal. Foi respeitado o interesse nacional, pois a Petrobras, além de grande fornecedora de recursos ao caixa da União, não podia deixar de ser um monopólio estatal para se tornar um monopólio privado.
O Banco do Brasil também não deve ser privatizado por ter funções públicas que o diferenciam de um banco com objetivos puramente comerciais. Cada caso é um caso. Fora disso, é oportunismo eleitoral.
Lula nos acusa de defendermos projetos que não temos, como, aliás, o PT fez há quatro anos, quando nos acusou de aprovarmos leis eliminando direitos trabalhistas. São adeptos de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do regime nazista.
A ausência de escrúpulos é uma característica de parte das elites econômicas e sindicais, que privilegiam os ganhos nos negócios e o enriquecimento pessoal. Quando se juntam para transformar-se em poder político, sob o comando de um presidente com as mesmas concepções morais, é o país que sofre.
ALBERTO GOLDMAN

Petistas têm o direito de mentir!!!

Wagner diz que petistas do dossiê Vedoin têm o direito de mentir
Um dos coordenadores da campanha de Lula, governador eleito afirma que eles são 'cidadãos que se abrigam na lei'

Depois de acusar o PSDB de insistir no 'samba de uma nota só', o governador eleito da Bahia, Jaques Wagner (PT), admitiu ontem que os petistas acusados de tentar comprar o dossiê Vedoin podem estar mentindo em seus depoimentos à Polícia Federal quando dizem não saber de onde veio o dinheiro (R$ 1,75 milhão) que seria usado na negociação do material destinado a envolver políticos tucanos com a máfia dos sanguessugas.

'Ao réu é dado o direito de mentir, então não acho que o réu petista seja diferente de outros réus', afirmou o governador eleito da Bahia, que integra o time de coordenadores da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição. 'Atestado de idoneidade não vem com ficha de filiação partidária. É uma coisa anterior.'

Wagner disse acreditar que os seis petistas envolvidos no escândalo foram 'induzidos por uma armação'. Não esclareceu quem teria montado a trama, mas insinuou participação de integrantes do PSDB - embora o dossiê fosse contra os próprios tucanos. Falou em 'lambança' e 'burrice', mas afirmou que, mesmo causando desgaste à campanha de Lula, os petistas têm 'o direito' de mentir.

'Eu não estou defendendo que eles mintam. Estou dizendo que eles estão usando do direito, concedido pela lei, de que o réu não é obrigado a dizer toda a verdade. Se não fosse assim, seria simples descobrir os crimes. Eu posso estar com toda indignação em relação a esses que produziram tanto desgaste na reta final da campanha do presidente, mas, antes de eles serem petistas, são cidadãos brasileiros que se abrigam na lei', argumentou.

O futuro governador baiano fez questão de destacar que não engrossa as fileiras dos que pregam atenuante para companheiros unicamente pelo fato de serem do PT. Para ele, a legenda não dá salvo-conduto a ninguém porque honestidade não se aprende em partido. Em uma demonstração de que pretende baixar a temperatura da campanha, Wagner também lançou afagos na direção dos opositores.

'Reconheço no PFL e no PSDB pessoas íntegras, assim como reconheço que dentro do PT possa haver pessoas que não tenham essa mesma integridade', observou ele. 'Isso a gente traz de outro lugar. O partido pode ajudar a manter ou pode deteriorar, mas o fato é que vem de outra praia.'

SHERLOCK

Sentado diante de um painel gigante de Lula, no comitê da reeleição, Wagner disse que nunca gostou do mundo da arapongagem. Questionado se parecia crível que o presidente não soubesse da negociação para a compra do dossiê Vedoin, tendo tantas pessoas de seu círculo íntimo envolvidas no escândalo, ele não perdeu o bom humor. 'O velho Sherlock perguntaria: a quem interessa isso?', insistiu, numa referência ao personagem Sherlock Holmes, o maior detetive da literatura mundial. 'Seguramente ao presidente Lula é que não interessa.'

Ex-ministro das Relações Institucionais do governo petista, Wagner também saiu em defesa de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete da Presidência. Rastreamento telefônico feito pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, revelou que Carvalho telefonou duas vezes para Jorge Lorenzetti, o petista apontado nas investigações como o homem que articulou a operação de compra do dossiê, exatamente no dia em que a Polícia Federal prendeu Gedimar Passos e Valdebran Padilha, no Hotel Ibis, em São Paulo, com R$ 1,75 milhão em dólares e reais. À época, Lorenzetti coordenava a área de inteligência da campanha de Lula, a chamada 'Abin do PT'.

Carvalho disse ter discado para Lorenzetti no dia 15 de setembro - três dias antes de o nome dele ter sido citado no escândalo - em busca de esclarecimentos sobre a prisão dos petistas, porque ele era o responsável pela área de informações da campanha. 'O fato de Gilberto ter falado com Lorenzetti não autoriza nenhuma conclusão de envolvimento do chefe de gabinete nesse processo', comentou Wagner. Em seu diagnóstico, a suspeita lançada 'é uma tentativa desesperada de subir o tom por parte daqueles que não estão encontrando outros argumentos para virar o jogo eleitoral'.
Estadão

23.10.06

FMI não enche mais o saco

Presidente diz que ´FMI não enche mais o saco`

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que repetidamente vem manifestando seu orgulho em ter encerrado antecipadamente o acordo firmado com o Fundo Monetário Internacional (FMI), retomou o tom que adotava nos velhos tempos ao se referir à instituição. Ontem, em comício em Cidade Tiradentes, zona leste na capital paulista, a imagem do presidente da República deu lugar ao ex-sindicalista que tantas vezes repetiu o slogan 'Fora FMI'.

Ao comentar as realizações de seu governo e exaltar os benefícios que resultariam de um segundo mandato, Lula voltou-se para milhares de militantes e moradores da zona leste da cidade e bradou: 'O FMI não enche mais o saco. Foi embora.'

A afirmação foi feita no momento em que o presidente dizia que seu governo conseguiu não apenas reduzir o custo de vida da população mais pobre, como também manter a inflação sob controle. Ao mesmo tempo em que acusava o PSDB de governar para as elites, o presidente exaltava seu projeto como um governo para todos.

O FMI, de fato, deixou de 'encher o saco' porque o Brasil cumpriu tudo o que foi determinado pelo organismo internacional. Pagou em dezembro de 2005 a dívida de US$ 15,5 bilhões que venceria nos próximos dois anos e aprofundou o ajuste fiscal. Além disso, o programa original com o FMI exigia um superávit primário (economia para pagar juros) de 3,75% do Produto Interno Bruto (PIB). O governo, porém, elevou a meta para 4,25% do PIB. A medida foi apresentada como uma 'decisão soberana'.

Lula e seus companheiros da área econômica conviveram civilizadamente com o FMI nos três primeiros anos de governo porque não havia outro jeito. O País estava 'quebrado' em 2002. O mercado financeiro vivia um clima de pânico diante da perspectiva da eleição de um governo de esquerda.

Diante do risco de um desastre econômico, em setembro de 2002 o então ministro da Fazenda Pedro Malan assinou um acordo de 15 meses com o FMI, no valor de US$ 30 bilhões. Foi uma forma de dar ao mercado internacional o seguinte recado: não haverá loucuras nos próximos 15 meses.

Quando foi indicado ministro da Fazenda, Antonio Palocci encontrou-se com representantes do Fundo e garantiu que o programa seria cumprido. Ele, porém, mal disfarçava a contrariedade. Em janeiro de 2003, após encontrar-se com a então número 2 do FMI, Anne Krueger, comentou: 'Vamos cumprir o contrato e boa noite, obrigado.' Não foi o que se viu. Quando o acordo negociado por Malan acabou, Palocci teve de pedir uma prorrogação por um período de mais 15 meses. Esse segundo acordo acabou em fevereiro de 2005 e não foi renovado.
Estadão

20.10.06

Trabalho de profissionais

A origem do dinheiro ainda é uma dúvida, mas todos os envolvidos na busca da identificação da fonte original compartilham da mesma certeza: foi um trabalho de profissionais, experientes o bastante para deixar o mínimo de rastros e confundir os investigadores.

De 'tabajara', portanto, a operação não teve nada. Disso não têm dúvida o delegado responsável pelas investigações da Polícia Federal, Diógenes Curado Filho, o juiz Jefferson Scheinneder, da 2ª Vara Federal de Cuiabá (MT), e a CPI dos Sanguessugas, cujos integrantes vêm mantendo constante troca de informações com a polícia e a Justiça.

O profissionalismo empregado para dificultar a localização do dinheiro é um argumento que convence parlamentares de oposição de que a demora da PF pode estar mesmo muito mais ligada aos obstáculos reais do que a uma ação deliberada de manipulação eleitoral de forma a postergar os resultados para depois da eleição.

Mesmo assim, a hipótese de interferência 'de cima' ainda integra o campo de trabalho da CPI e do juiz Scheinneder, que receberia ontem um relatório parcial das mãos do delegado Diógenes e estava disposto a reforçar a exigência de que a polícia se apresse nas investigações. Ele quer, no mínimo, receber da PF explicações técnicas 'cabais' a respeito dos indícios até agora coletados e sobre os caminhos percorridos antes de firmar convicção de que as dificuldades alegadas justificam a demora.

Até agora são três as fontes de onde teria saído o R$ 1,75 milhão: doleiros, saques de pequena monta no Bradesco, no Safra e no Citibank, e uma pequena quantia de bicheiros. Nenhuma dessas fontes permite registro adequado à identificação.

Os dólares, quando repassados às operadoras de câmbio (foram 14, no caso), não têm mais suas cédulas anotadas; o dinheiro do jogo do bicho transita à margem de legalidade; os saques de quantias baixas misturam-se a uma infinidade de operações semelhantes nos bancos.

Se ação 'aloprada' houve, foi dos mandantes do crime, que subestimaram o fato de Luiz Antônio Vedoin, em regime de delação premiada, estar sob vigilância policial e judicial. Os executores revelaram 'expertise' no manuseio de recursos ilícitos.

Mas, a despeito de ainda ignorar a identidade dos fornecedores originais, a polícia já sabe de muita coisa. Sabe, por exemplo, que o dinheiro não tem origem em contas do PT e não é fruto de 'sobras de campanha'. Daí o presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Antônio Carlos Biscaia, ter afirmado que a fonte é criminosa sem contestações.

Sabe também que Hamilton Lacerda, o ex-assessor da campanha de Aloizio Mercadante, foi o receptador e encarregado do repasse a Gedimar Passos que, por sua vez, tinha a missão de entregar os dólares e os reais a Valdebran Padilha, que pagaria a Luiz Antonio Vedoin pelo dossiê e pela entrevista à revista IstoÉ, acusando o ex-ministro José Serra de conivência com a máfia das ambulâncias.

Quem acompanha de perto a história tem conhecimento também de um telefonema dado pelo petista Jorge Lorenzetti, responsável pela central de informações e contra-informações do PT, ao secretário particular do presidente Luiz Inácio da Silva, Gilberto Carvalho, relatando que o dossiê estava sendo primeiramente negociado por Vedoin com Abel Pereira - acusado de negociar com a máfia em nome do Ministério da Saúde na gestão de Barjas Negri, sucessor de Serra no governo Fernando Henrique.

E por que Abel Pereira estaria interessado num dossiê inconsistente e teria admitido pagar alto por ele? Suspeita-se de que os dados contidos no material não seriam tão inconsistentes assim no que se refere a ele.

De acordo com a narrativa, os petistas interceptaram a negociação que, naquela altura, girava em torno de uma soma de R$ 20 milhões. Era quanto Vedoin queria pelo dossiê.

Chegaram a um acordo por R$ 2 milhões (R$ 300 mil sumiram não se sabe como) e a promessa de que, havendo reeleição, o empresário não seria perseguido pelo governo. Nessa parte da história não fica claro se tinham autorização de alguém abalizado para fazer esse tipo de acerto. Logo, podem ter blefado, só para fechar o negócio, pois a promessa de proteção era o que mais interessaria a Vedoin.

O uso eleitoral pretendido está devidamente estabelecido nas investigações que, entretanto, dificilmente conseguirão comprovar a 'cadeia causal' entre a ação dos nada aloprados rapazes da estiva do submundo da espionagem política e uma ordem expressa do comando da campanha, com o conhecimento inequívoco do presidente da República.

Dora Kramer

dora.kramer@grupoestado.com.br

Quebra de sigilo

Juiz decreta quebra de sigilo bancário

Também foi autorizada abertura dos dados bancários de Lacerda


A Justiça Federal decretou ontem a quebra do sigilo bancário de Freud Godoy, ex-guarda-costas de Lula. A decisão foi tomada pelo juiz Jefferson Scheinneder, da 2ª Vara Federal de Mato Grosso. O juiz também autorizou acesso aos dados bancários de Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha do senador do PT Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo.

A ordem judicial é o primeiro passo concreto da investigação sobre o dossiê Vedoin na direção de um dos homens mais próximos do presidente, Freud Godoy. A Procuradoria da República e a Polícia Federal (PF) suspeitam que Freud seria o cabeça da trama que pretendia jogar o governador eleito de São Paulo, José Serra, do PSDB, na lama dos sanguessugas.

O procurador Mário Lúcio Avelar, que acompanha o inquérito da PF sobre o dossiê pelo qual dirigentes do PT iriam pagar R$ 1, 75 milhão, requereu a abertura de informações confidenciais de Freud e de Lacerda.Avelar queria fazer um rastreamento minucioso, indo além das contas de Freud. O juiz Scheinneder, no entanto, restringiu a pesquisa às contas bancárias do ex-segurança de Lula. O Ministério Público Federal deverá insistir na busca mais ampla.

Avelar resolveu ir à Justiça para pleitear a quebra do sigilo de Freud depois da divulgação de transferência de R$ 369 mil para uma conta do investigado no dia 7 de setembro. Oito dias depois dessa operação foram capturados em São Paulo Gedimar Passos e Valdebran Padilha com o R$ 1, 75 milhão.

DEFESA

Freud e Lacerda não vão recorrer da decisão judicial. O advogado Augusto de Arruda Botelho Neto, defensor de Freud, alertou para o fato de que a quebra do sigilo bancário é uma medida de exceção, adotada em casos absolutamente excepcionais e quando existem fortes indícios de prática de crime. 'Freud não cometeu crime algum, ele não tem nada a ver com esse dossiê, mas diante das denúncias descabidas abro mão da exceção porque a quebra do sigilo é importante até para provar sua inocência', declarou Botelho.

Alberto Zacharias Toron, advogado de Lacerda, disse que 'é boa e oportuna' a medida judicial. 'Acho a medida salutar para demonstrar a verdade. Não tem nenhum dinheiro espúrio na conta do Hamilton.'
Estadão

Apartamentos do PT

Outro envolvido com dossiê tem unidade no prédio

No mesmo bloco B do condomínio Torres da Mooca, onde Freud Godoy manteve encontros com integrantes do governo e do PT, um outro envolvido no escândalo do dossiê Vedoin aparece como dono de imóvel. O apartamento 174 B pertence a Oswaldo Bargas - apontado como o responsável pela tentativa de venda do dossiê à revista Época e colaborador do programa de Lula.

Quem ocupa o apartamento hoje é o presidente nacional da CUT, Artur Henrique da Silva Santos. Nem Bargas nem Santos foram localizados ontem.

O Torres da Mooca é um dos empreendimentos imobiliários da Cooperativa Habitacional do Sindicato dos Bancários (Bancoop), criada pelo presidente afastado do PT Ricardo Berzoini. Moradores do condomínio levantaram suspeitas sobre a propriedade dos imóveis onde moram Espinoza e Aurélio. É que na ata da assembléia em que foram sorteados os apartamentos, em 14 de fevereiro de 2004, 18 unidades apareciam como objeto de permuta e não poderiam ser escolhidas. Os apartamentos 183 B e 203 B, de Aurélio e Espinoza, respectivamente, estavam nessa lista.

O próprio presidente Lula tem um apartamento em um edifício que está sendo construído pela Bancoop no Guarujá. O imóvel está registrado na declaração de bens entregue ao Tribunal Superior Eleitoral, mas sem o nome completo da cooperativa.
Estadão

PT, jogo do bicho, Olívio e etc

Acusações de ligação do PT com o jogo vêm de campanha de Olívio, em 1999

Suspeitas e acusações envolvendo o PT e o jogo - legalizado ou não -, como ocorre agora no escândalo do dossiê Vedoin, não constituem novidade na história do partido. A primeira grande denúncia de corrupção envolvendo integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no início de 2004, teve como base uma fita de vídeo em que o então subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz, aparecia pedindo doações de campanha e propinas ao empresário de jogos de bingo Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, do Rio.

Waldomiro trabalhava havia 12 anos com o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, o homem forte do governo petista, e parecia operar em escala nacional. Soube-se que parte do dinheiro do jogo tinha sido destinada aos cofres da campanha derrotada do petista Geraldo Magela, quando ele concorreu ao governo do Distrito Federal, em 2002. No mesmo ano, à frente da Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj), Waldomiro também teria negociado com a contravenção contribuições para as campanhas de Benedita da Silva (PT) e Rosinha Matheus (PMDB).

Essa não foi, no entanto, a primeira bomba política que associou PT e contravenção. Quando o caso Waldomiro explodiu, o PT ainda tentava se recuperar dos danos causados por um escândalo semelhante ocorrido no Rio Grande do Sul - Estado que até então funcionava como vitrine do estilo petista de governar.

Em 1999, um ex-tesoureiro do partido disse a jornalistas que parte do dinheiro da campanha do ano anterior para o governo estadual, quando o petista Olívio Dutra foi o vencedor, tinha vindo do jogo do bicho. Em 2001, a CPI da Segurança instalada na Assembléia, investigou o caso e acabou sugerindo o indiciamento de Olívio e mais de 41 pessoas. Além das denúncias de irregularidades na arrecadação de fundos, pesou na decisão uma gravação na qual o petista Diógenes de Oliveira, então presidente do Clube de Seguros da Cidadania, aparecia pedindo ao chefe de Polícia de Porto Alegre que amenizasse a repressão aos bicheiros.

No rastro da CPI, o Ministério Público denunciou dez pessoas à Justiça. Ninguém foi condenado. Mas o estrago político foi enorme. Fragilizado pelas denúncias, Olívio nem tentou a reeleição em 2002.
Estadão

19.10.06

Justiça suspende MP

Justiça federal suspende MP que liberava R$ 1,5 bilhão para gastos extraordinários
A justiça federal suspendeu nesta quarta-feira a medida provisória 324 assinada há duas semanas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que liberava R$ 1,5 bilhão para gastos extraordinários como obras e pagamento de dívidas de nove ministérios. A liminar foi concedida em uma ação popular ajuizada pelo deputado Raul Jungmann (PPS-PE), que vinculou a liberação dos recursos a objetivos eleitorais. Essas despesas não poderão ser executadas até que seja julgado o mérito da ação. Ainda não há data marcada para que isso aconteça.

De acordo com a juíza da 2ª vara da justiça federal em Brasília, Candice Lavocat Galvão Jobim não há urgência que justifique a edição da MP. Ao tomar conhecimento da decisão, o Ministério Planejamento informou que o governo cumprirá a decisão judicial, mas acrescentou que nenhum representante da pasta falaria sobre o assunto. O governo deverá recorrer da liminar.

Em sua decisão, Candice Jobim argumentou que, segundo a Constituição, os créditos extraordinários ao Orçamento só podem ser autorizados em casos extremamente urgentes e imprevisíveis, como guerra, comoção interna ou calamidade pública. Para ela, as áreas contempladas com a medida provisória não se enquadram nesse perfil.
O Globo

Trégua do MST acaba no dia 29, avisa Rainha

Líder dos sem-terra diz que movimento está nas ruas agora para 'eleger Lula', mas após 2º turno 'sai das trincheiras e retoma mobilizações'

A trégua dada pelo Movimento dos Sem-Terra (MST) nas invasões termina no dia 29, às 17h, quando se encerra a votação para o segundo turno, disse ontem o líder José Rainha Júnior. 'Vamos sair das trincheiras e retomar as mobilizações.'

Segundo ele, o MST reduziu o ritmo das invasões em todo o País por causa da campanha eleitoral. 'Estamos na rua agora, mas é para eleger o Lula.' Ele disse que esse é o seu compromisso como líder dos sem-terra. 'Depois da votação, voltamos a pensar na mobilização.'

De janeiro a março deste ano, o MST fez 99 invasões nos 21 Estados em que atua - no ano passado tinham sido 63 no mesmo período. Em abril, houve outras 35 invasões, totalizando 134 em quatro meses, mas em seguida, com o início do período eleitoral, o movimento desacelerou. Nos quatro meses seguintes, foram apenas 46 ações. O número se manteve baixo em setembro - 4 invasões - e neste mês. Até ontem, tinha sido registrada apenas a ocupação da sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Belo Horizonte e de uma fazenda em Roraima.

Segundo Rainha, um provável segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva será 'uma grande oportunidade para que o presidente resgate seus compromissos' com a reforma agrária. 'O governo federal deu mostras de que quer resolver o problema dos sem-terra, ao contrário do que ocorreu em alguns Estados.' Ele disse que há expectativa do movimento em relação ao governador eleito de São Paulo, José Serra ( PSDB).

'Na gestão do Alckmin (ex-governador Geraldo Alckmin, candidato à Presidência), a questão fundiária foi tratada como questão policial e não política. Esperamos que seja diferente com o Serra.'

Rainha disse que o movimento estará aberto ao diálogo, mas não abrirá mão das invasões, que considera um instrumento de luta. 'O Estado tem dinheiro em caixa para adquirir terras e, se não for usado até o fim do ano, terá de ser devolvido ao governo federal.' Segundo ele, o movimento não pretende deixar que isso aconteça. 'Vamos para dentro de todas as terras devolutas que tiverem por aí.'
Estadão

18.10.06

PF: dinheiro teria saído de bicheiros do Rio

Superintendente de Mato Grosso afirma estar perto de conseguir provas materiais para esclarecer caso do dossiê

A Polícia Federal encontrou fortes indícios de que parte do dinheiro que seria utilizado pelos petistas para a compra do dossiê contra candidatos tucanos tem como origem o jogo do bicho no Rio de Janeiro, como tinham informado semana passada parlamentares da CPI dos Sanguessugas.

O superintendente da Polícia Federal em Mato Grosso, delegado Daniel Lorenz de Azevedo, deu pistas nesse sentido durante entrevista ontem, em Cuiabá.
Houve basicamente a comprovação de uma tese. Nós precisamos agora de prova material —disse o delegado.

Para avançar na investigação sobre a origem do dinheiro, a PF está contando com a colaboração de uma pessoa que teve envolvimento no caso.

O nome desse colaborador é mantido sob sigilo. Perguntado pela imprensa sobre se a tese confirmada pela PF é a de que os recursos seriam provenientes do jogo do bicho, como os parlamentares da CPI dos Sanguessugas informaram, Lorenz comentou: — Não somente isso, mas várias teses.

O delegado deu a entender que, nos últimos dias, a PF tem mesmo contado com a colaboração de um informante.

— Há pessoas de dentro da operação que estão colaborando com a polícia, dando indicações bastante precisas. Só precisamos de um pouquinho de sorte.

Segundo o delegado, nos próximos dias a PF pode chegar a uma conclusão definitiva sobre a origem do dinheiro. Na semana passada, depois de conversarem com o delegado Diógenes Curado Filho, que preside o inquérito, deputados da CPI dos Sanguessugas foram os primeiros a dizer que a PF trabalha com a hipótese de que parte do dinheiro arrecadado pelo PT para a compra do dossiê tenha vindo do bicho.

Três indícios levaram os policiais a essa suspeita, segundo os parlamentares: há no dinheiro apreendido pela PF muitas cédulas usadas e de pequenos valores, como R$ 5, R$ 10 e R$ 20, e duas fitas que envolviam maços de dinheiro eram provenientes de máquinas de calcular antigas e tinham a inscrição: 10 x R$ 100 = R$ 1.000. Para o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), expromotor de Justiça, a anotação é típica da contravenção.

Além disso, havia dois carimbos nas fitas com os dizeres "Caxias 118" e "Campo Grande 119". As duas referências são de locais no Estado do Rio. Anteriormente, a PF chegou a acreditar que as inscrições faziam referência a agências bancárias, mas agora acredita que, na verdade, tratam-se de bancas do jogo do bicho.

Lorenz, um homem com aparência tranqüila e de poucas palavras, demonstrava estar eufórico ontem. Por várias vezes, repetiu que em toda investigação os policiais, além de fazerem um trabalho minucioso, têm de ter sorte. E, ao que parece, a sorte chegou.

—Toda investigação tem seu tempo, mas dependemos também de um pouco de sorte, de estar no local certo, na hora certa — disse o delegado.

Anteontem, Lorenz havia dito que acredita que até antes do dia 29, data do segundo turno das eleições, a PF conseguirá esclarecer o mistério da origem do dinheiro. Ontem, ele adiantou que espera algum resultado já nos próximos dias, embora tenha reafirmado que a Polícia Federal não convocará uma entrevista coletiva para anunciar o resultado.

O relatório das investigações será enviado ao Ministério Público Federal e à Justiça Federal.

—Todo o resultado das operações será trazido em forma de relatório para dentro do inquérito.

Suspeita também sobre o PT  Antes mesmo de aprofundar a investigação sobre a origem do R$ 1,7 milhão apreendido em São Paulo, a PF acreditava que, mesmo saído de fonte ilícita, o dinheiro era do PT. Entre documentos que a CPI dos Sanguessugas recebeu da Polícia Federal, há um relatório preliminar da investigação em que o delegado Diógenes Curado afirmava que, ao que tudo indicava, o dinheiro apreendido era o próprio partido. Na interpretação de um parlamentar, o delegado fez essa afirmação depois de constatar que todos os envolvidos eram petistas.
O Globo

PF no rastro do bicheiro Turcão

Polícia investiga se parte dos R$ 1,7 milhão para compra do dossiê veio das bancas de jogo de Antônio Kalil, que atua no Rio

A Polícia Federal investiga no Rio de Janeiro pessoas ligadas a Antônio Petrus Kalil para tentar desvendar a origem do dinheiro que seria usado para a compra do dossiê contra integrantes do PSDB. Conhecido como Turcão, Kalil é apontado pela polícia como um dos mais atuantes empresários do jogo do bicho naquela cidade. Passados 32 dias da apreensão do dinheiro em poder dos petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos num hotel em São Paulo, essa é a principal linha de investigação da PF no que se refere aos R$ 1,1 milhão encontrados com a dupla, além dos US$ 248,8 mil(totalizando R$ 1,7 milhão).

Os investigadores do caso encontraram indícios de que parte dos recursos arrecadados pelo grupo petista, antes de chegar às mãos de Valdebran e Gedimar, transitou pelas bancas do jogo do bicho atribuídas a Kalil. De acordo com um dos policiais, o suposto bicheiro movimenta grandes quantias na capital carioca. E suas bancas atuariam como uma espécie de câmara de compensação, abastecendo outras bancas do jogo do bicho. Para levantar as provas que sustentem a hipótese, foram realizadas ontem no Rio buscas e apreensões em endereços comerciais de pessoas ligadas a ele.

As suspeitas sobre dinheiro do jogo do bicho foram levantadas pela polícia a partir da forma como a parte dos recursos em reais foi encontrado: cédulas velhas, amassados e de valores pequenos R$ 5 e R$ 10. Duas tiras de papel encontradas chamaram a atenção dos investigadores. Elas trazem anotações de valores e fazem referência a duas localidades no Rio: Caxias e Campo Grande. Ao lado de cada nome, havia ainda um número que a polícia acreditava se referir a bancos (118 e 119, respectivamente). Após realizar uma pesquisa na rede bancária, a PF constatou que não existem tais números. Com isso, ganhou força entre os policiais a tese de que o dinheiro tenha origem no jogo do bicho.

Escândalo
Em Cuiabá, cidade onde estão centralizadas as investigações do escândalo do dossiê, o superintendente regional da Polícia Federal, Daniel Lorenz de Azevedo, admitiu a hipótese de que parte do dinheiro seja proveniente do jogo do bicho. “Estamos conseguindo comprovar uma tese”, afirmou o policial. Lorenz confirmou a realização de diligências para tentar levantar as provas que possam confirmar as suspeitas. Integrantes da CPI dos Sanguessugas que tiveram na capital matogrossense na semana passada para se informar sobre o andamento da apuração também confirmaram essa possibilidade, depois de conversar com o delegado Diógenes Curado, responsável pelo inquérito.

O rastreamento do dinheiro apreendido com Valdebran Padilha e Gedimar Passos obrigou a polícia a levantar milhares de operações financeiras realizadas nos 30 dias que antecederam a prisão dos dois petistas. Não se descarta que uma parcela tenha transitado pela rede bancária, já que informações encontradas no pacote do dinheiro indicam que saques em pelo menos três instituições bancárias: Bradesco, Safra e BankBoston. A PF também investiga operações no Banco do Brasil.

Em relação aos dólares (US$ 248,8 mil), o universo de pesquisa supera um total de 200 mil operações realizadas a partir de um lote de US$ 29 milhões que entraram legalmente no país por intermédio do banco Sofisa, de São Paulo. Os policiais identificaram US$ 110 mil em série, mas, por falta de controle no país das numeração de cédulas distribuídas entre instituições bancárias, casas de câmbio e agências de turismo, ainda não foi possível chegar aos compradores finais.

O dinheiro foi distribuído pela instituição em pelo menos quatro praças: Rio, São Paulo, Curitiba e Santa Catarina. A Polícia Federal está realizando uma operação pente-fino em 30 casas de câmbio e de turismo localizadas nessas cidades.

Garcia nega vinculação com bingos

O coordenador da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia, disse ontem que o governo “não tem vinculação” com os bingos e só não fechou as casas de jogos de azar porque o Congresso derrubou a proposta. Garcia fez o comentário logo após ser questionado sobre a afirmação do deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), presidente da CPI das Sanguessugas, de que o dinheiro (R$ 1,75 milhão) para pagar o dossiê que petistas usariam contra tucanos tem “origem criminosa”.

“Seria bom que ele (Biscaia) explicitasse a fonte do dinheiro”, afirmou o coordenador da campanha de Lula. “Se eu tivesse o acesso que ele tem às informações, estaria mais seguro em desvendar esse imbróglio.”

Indagado se as declarações de Biscaia causavam constrangimento, pelo fato de o deputado ser do PT, Garcia respondeu que não. “Ele sempre foi um deputado ativo na condição de integrante da CPI”, observou. Nos bastidores, porém, a cúpula da campanha de Lula considerou que Biscaia “jogou para a platéia” por não ter apresentado provas de suas afirmações.

Garcia procurou ainda minimizar a decisão do PDT de permanecer neutro na disputa, não declarando apoio nem a Lula nem ao candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. “A neutralidade frustrou muito mais os nossos adversários do que nós”, disse, alegando estar confiante no apoio de vários líderes do partido nos estados.

Berzoini complica Mercadante

O presidente licenciado do PT, Ricardo Berzoini, negou ontem conhecimento sobre a negociação do dossiê contra tucanos. Em pouco mais de uma hora e meia de depoimento à Polícia Federal, o deputado sustentou também desconhecer a origem dos R$ 1,75 milhão (em notas de dólar e real) que seriam usados na transação. E lançou dúvidas sobre a versão apresentada à polícia por Hamilton Lacerda, ex-assessor do candidato derrotado ao governo de São Paulo Aloizio Mercadante (PT).

Hamilton é apontado pelos investigadores do caso como o “homem da mala”, responsável pela entrega do dinheiro a Gedimar Passos e Valdebran Padilha num hotel em São Paulo, onde a dupla foi presa na madrugada do dia 15 de setembro. Gravações do sistema interno de vídeo no local registraram a chegada do então assessor de Mercadante com mala semelhante à que teria sido usada para carregar os recursos. Interrogado pela PF, Valdebran Padilha reconheceu a valise.

Denunciado pelas imagens, Hamilton foi chamado para depor e alegou que transportava, além de roupas, boletos de arrecadação para a campanha presidencial. Berzoini, porém, afirmou que a arrecadação de recursos não fazia parte das atribuições dele no comitê de Mercadante e menos ainda no presidencial. A declaração de Berzoini pode precipitar o depoimento do senador petista. Na semana passada, os policiais envolvidos na apuração afirmaram que será preciso ouvi-lo também, mas ainda não havia uma definição de cronograma para a audiência.

Testemunha
À época da negociação do dossiê entre petistas e o sócio da Planam Luiz Antônio Vedoin, Ricardo Berzoini ocupava a presidência nacional do PT e a coordenação da campanha à reeleição do presidente Lula— funções das quais foi afastado posteriormente. Passado um mês do início da investigação, a PF decidiu convidá-lo, na condição de testemunha, para dar explicações sobre o envolvimento de dois de seus ex-subordinados no comitê presidencial: Jorge Lorenzetti e Osvaldo Bargas.

O petista confirmou a função de Lorenzetti: a de analista de risco. E disse ao delegado Diógenes Curado, que preside o inquérito do caso, ter sido procurado por ele porque o ex-assessor precisava de ajuda para localizar um veículo de comunicação, de abrangência nacional. A finalidade seria trocar informações que ajudassem a subsidiar reportagem contra os tucanos.

O ex-presidente do PT, porém, sustentou que em nenhum momento soube do teor das informações, da origem delas e que o assessore deveria recorrer à assessoria de imprensa do partido para encontrar um órgão de imprensa. Após o escândalo se tornar público, revelou ainda Berzoini à PF, Lorenzetti o teria procurado e se desculpado por ter “extrapolado na confiança”. O presidente afastado do PT, segundo o depoimento, disse que Lorezentti lhe garantiu que não tinha dinheiro no caso.
Correio Braziliense

Conta petróleo tem déficit de US$ 3,2 bilhões!

Saldo negativo decorre, principalmente, da diferença entre os preços no mercado interno e internacional

A auto-suficiência na produção interna de petróleo, anunciada pela Petrobrás, ainda não se materializou em termos financeiros, com o petróleo mantendo a posição de um dos maiores custos na balança comercial. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o déficit na conta petróleo atingiu US$ 3,210 bilhões até agosto. Nesse total estão incluídas as operações com petróleo bruto, derivados e o gás natural importado da Bolívia.

No início do ano, a Petrobrás previu que poderia encerrar o ano com balança comercial positiva, com saldo líquido de até US$ 3 bilhões. Mais recentemente, diretores da empresa reduziram as estimativas, mas acreditam que os números serão positivos, pela primeira vez na história. Os dados da Petrobrás são diferentes dos da ANP porque não incluem o movimento com o gás boliviano nem alguns derivados importados por outras empresas, como os pólos petroquímicos, que fazem grandes compras de nafta.

O grande déficit até agosto reflete, principalmente, o forte aumento dos preços internacionais do petróleo, que têm anulado os efeitos do aumento da produção interna. Em agosto, o Brasil importou o equivalente a US$ 1,272 bilhão de petróleo bruto, o mais elevado volume em apenas um mês no período de seis anos acompanhados pela ANP. Foi nesse mês que o petróleo atingiu o preço mais alto no mercado internacional.

Os dados da ANP mostram o peso crescente das compras de gás natural da Bolívia. Além disso, cresceu a diferença entre os preços do petróleo nacional e o importado. Enquanto o importado custou US$ 77,62 o barril em agosto, o exportado saiu por US$ 57,44.

A Petrobrás, que controla 98% do petróleo refinado no País, tem de importar óleo leve (mais caro) para processar nas suas refinarias. Outro fator relevante é que a empresa tem de exportar gasolina, que sobra no Brasil devido à adição de álcool anidro, e importar óleo diesel.

Os dados da ANP mostram que o País reduziu em 5,03% as compras de óleo bruto nos oito primeiros meses de 2006, mas o valor financeiro subiu para US$ 6,353 bilhões, um aumento de 28,98% em relação a igual período de 2005.

No caso das exportações, o volume cresceu 13,83% em relação a igual período de 2005, o que elevou a receita financeira em 56,62% ante o mesmo período de 2005, atingindo US$ 4,131 bilhões. O déficit, só de óleo bruto, atingiu US$ 2,22 bilhões, mas teria sido muito maior sem o acréscimo na produção interna.

No caso dos derivados, a ANP mostra que houve equilíbrio entre o montante importado e o exportado. Ao todo, as compras no exterior somaram US$ 2,915 bilhões, cerca de metade das compras de óleo bruto. Em relação a igual período de 2005, houve aumento de 27,27%.

ACORDO NA COLÔMBIA

A Petrobrás e a estatal colombiana Ecopetrol assinaram um acordo para estimular a produção de biocombustíveis naquele país. A informação foi divulgada ontem em comunicado oficial da presidência da Colômbia.

Segundo o comunicado, na área dos biocombustíveis “as duas empresas se comprometeram a estudar nos próximos 12 meses a possibilidade de estruturar novos negócios para sua produção, comercialização, transporte, pesquisa e assistência tecnológica”.
Estadão

Delegado fala sobre o dinheiro

Dinheiro deve ter saído do PT, diz relatório

Delegado diz que envolvidos são do partido, mas ainda não sabe a origem do dinheiro que seria usado para comprar dossiê

Curado disse que só hoje vai apresentar relatório com um pedido de prorrogação do prazo do inquérito e um balanço das investigações

O delegado da Polícia Federal Diógenes Curado, responsável pelas investigações sobre a tentativa de compra do dossiê antitucano por R$ 1,7 milhão, escreveu em relatório parcial que, "ao que tudo indica", o dinheiro tem origem no PT.
A informação foi dada ontem por um integrante da CPI dos Sanguessugas que leu os três volumes de papéis que formam o inquérito presidido por Curado. A documentação chegou anteontem à CPI e reúne depoimentos tomados pelo delegado, resultados de diligências e relatórios preliminares feitos no decorrer das investigações.
Segundo o integrante da CPI, que pediu para não ser identificado, o delegado usa como argumento no relatório a constatação de que "todos os envolvidos" no episódio eram do PT.
De acordo com Diógenes Curado, o integrante da CPI deve ter visto uma das representações feita por ele solicitando quebras do sigilo bancário e telefônico. Ele informou que nestas representações ele descreve que todos os envolvidos são do PT, mas não afirma qual seria o origem do dinheiro. "A origem do dinheiro é justamente o principal objeto das nossas investigações", disse ele ontem.
O delegado disse que só vai preparar e apresentar hoje o relatório preliminar à Justiça com o pedido de prorrogação do prazo do inquérito. Do relatório constará um balanço das investigações e a indicação das medidas a serem tomadas.
A Polícia Federal prendeu no dia 15 de setembro, em São Paulo, Gedimar Passos e Valdebran Padilha com R$ 1,7 milhão (R$ 1,2 milhão e US$ 249 mil) que seria usado para a compra de documentação que comprometeria candidatos tucanos.
Desde então, informações desencontradas e negativas marcam a investigação sobre a origem do dinheiro. Integrantes do PT e das coordenações de campanha de Lula e de Aloizio Mercadante, apontados como suspeitos de participação na trama, acabaram afastados. Cinco foram expulsos do PT.
Segundo o integrante da CPI, há no inquérito as fotocópias que mostrariam Hamilton Lacerda, ex-coordenador de imprensa da campanha de Mercadante, com uma grande mala no hotel onde a PF realizou as prisões. Curado teria calculado que a mala poderia levar cerca de R$ 1 milhão. Lacerda nega ter transportado dinheiro. Anteontem, o presidente da CPI, Antonio Carlos Biscaia, disse não haver dúvida de que a origem do dinheiro é criminosa.
Folha

Berzoini nega tudo!

Berzoini negou na PF saber da negociação para a compra do dossiê

Em depoimento ontem na sede da Polícia Federal, em Brasília, o ex-ministro e ex-coordenador da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deputado Ricardo Berzoini (PT), negou conhecer a negociação feita por petistas para comprar e tornar público o conteúdo do dossiê contra tucanos. Ele disse que só soube do dossiê após da divulgação do caso na imprensa.
Berzoini também, indiretamente, contradisse versão sustentada por Hamilton Lacerda para negar que tivesse levado o dinheiro que seria usado na compra do dossiê para o ex-agente da PF contratado pelo PT Gedimar Passos, detido no hotel Ibis, em São Paulo, com R$ 1,75 milhão. Lacerda foi flagrado pelas câmeras do hotel com uma mesma bolsa depois carregada por Gedimar.
À PF, Lacerda disse que não havia dinheiro na bolsa, mas sim panfletos e boletos de doação da campanha nacional. Ao ser questionado sobre o assunto, Berzoini disse desconhecer que Lacerda portasse tal material, afirmando que boletos de contribuição não estavam dentro da atribuição do ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo. Berzoini também afirmou que não sabia da participação de Lacerda no episódio.
O petista Valdebran Padilha, também detido, disse à PF que a mesma mala carregada por Lacerda foi mostrada a ele por Gedimar repleta de dinheiro.
Para os policias que acompanharam o depoimento, a versão de Berzoini não convenceu. A PF não pode falar em contradições em relação a declarações anteriores do presidente licenciado do PT, pois é a primeira vez que depõe sobre o caso.
Para a PF, Lacerda trabalha para proteger Mercadante. Berzoini atuaria na defesa de Lula. Ambos negam qualquer tipo de pagamento, pois, se isso fosse admitido, seria o sinal para se sentirem obrigados a revelar a origem do dinheiro.
Ainda conforme o depoimento, Berzoini afirmou ter contratado o petista Jorge Lorenzetti para fazer o trabalho de análise de risco da campanha de Lula. Disse também que, em dado momento, Lorenzetti pediu a ele a indicação de um jornalista com o qual pudesse trocar informações.
Consta do depoimento que Berzoini, então, sugeriu a Lorenzetti que procurasse a assessoria de imprensa da campanha. A troca de informações seria a busca de uma alternativa para tornar público o dossiê que envolveria políticos tucanos, principalmente José Serra, então adversário de Mercadante em São Paulo, no escândalo dos sanguessugas.
Berzoini disse aos policiais que, quando o escândalo se tornou público, Lorenzetti o procurou. Desculpou-se por ter "extrapolado" a confiança que lhe fora depositada. Por fim, negou que a negociação com os Vedoin envolvesse dinheiro.
"Nem um fato novo foi apresentado que já não fosse de conhecimento da imprensa. Ele foi transparente e prestou todas as informações à polícia", disse ontem o advogado de Berzoini, Fernando Tibúrcio Peña.
Por conta do episódio do dossiê, Berzoini foi afastado da coordenação-geral da campanha de reeleição de Lula e da presidência do PT.
A aérea de inteligência da PF recebeu ontem informações que considera fundamentais para desvendar o papel dos petistas envolvidos com o caso. O diretório nacional do PT enviou à PF a identificação dos celulares usados cedidos pelo partido para Lorenzetti, Oswaldo Bargas, Gedimar, Freud Godoy e Expedito Veloso.
Apesar de já dispor dos dados das ligações feitas e recebidas pelos aparelhos cedidos pelo partido, a PF não sabia quem usava os números alvos da quebra do sigilo telefônico.
Anteontem, no programa Roda Viva, o presidente Lula assumiu que o destino de Berzoini foi selado pelo dossiê. "Chamei o presidente do partido lá em casa e falei: Olha, quero saber quem fez essa burrice. (...) Porque isso é de uma sandice inominável. Ele me disse que não sabia. Falei: Ricardo, você, como presidente do partido, tem obrigação de apresentar para a sociedade uma resposta. E ele não fez. Eu o afastei da coordenação da campanha. (...) A ordem à PF é que não deixe pedra sobre pedra."
A PF encontra dificuldades na busca do responsável -ou responsáveis- pelo financiamento do dossiê. A maior suspeita para a origem do R 1,1 milhão destinado ao negócio são bancas de jogo do bicho, que estão sob investigação.
Folha

Tesoureiro do PT reuniu-se com Freud

Encontro aconteceu em apartamento de José Carlos Espinoza, outro assessor direto de Lula em campanhas eleitorais

Participantes da reunião se contradizem sobre motivo e conteúdo da conversa, ocorrida após depoimento de Freud Godoy na PF


O tesoureiro do diretório nacional do PT e coordenador de infra-estrutura da campanha do candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Paulo Ferreira, reuniu-se com Freud Godoy, ex-assessor especial da Presidência, após o depoimento que este prestou à Polícia Federal sobre a tentativa frustrada de compra de um dossiê contra o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB).
A reunião ocorreu no apartamento de José Carlos Espinoza, 52, ex-chefe do Gabinete Regional da Presidência da República em São Paulo e um dos mais próximos assessores de Lula nas campanhas anteriores. Espinoza deixou o cargo no início da atual disputa para exercer, no comitê do presidente em São Paulo, a função de encarregado da agenda do candidato à reeleição.
Paulo Ferreira falou com a Folha às 18h25 de ontem. Indagado sobre a reunião, fez um discurso contra a imprensa e em defesa de Freud: "Escreva aí: Freud tem a minha inteira solidariedade". Em seguida, desligou o telefone sem nada responder. Mais tarde, ele confirmou ter ido à casa de Espinoza "dar um abraço" em Freud.
A data da reunião é imprecisa: Espinoza disse acreditar ter sido a noite do dia 18, e o advogado de Freud Godoy, Augusto Botelho, indicou a noite do dia 19. Freud prestou o primeiro depoimento à PF entre 14h e 18h20 do dia 18.
O motivo e o conteúdo da reunião de um implicado no caso do dossiê com o responsável pela arrecadação de dinheiro do PT também são controversos. Espinoza, que concedeu entrevista à Folha ontem à tarde na frente do comitê de Lula, na avenida Indianópolis (na capital paulista), disse que o pedido do encontro partiu de Freud, com a intenção de discutir "o seu futuro no PT".
Espinoza disse que Ferreira "tranqüilizou" Freud, mas negou que se tenha discutido auxílio financeiro a ele (leia texto nesta página).
O advogado de Freud, Augusto Botelho, que primeiro negou a reunião, mas depois a confirmou, apresentou uma versão diferente. Disse que a iniciativa partiu do tesoureiro, Paulo Ferreira, que queria "inteirar-se" do caso do dossiê.
O advogado se contradisse ao falar que não conhecia Espinoza. Apenas o teria visto anos atrás quando, na função de estagiário do escritório de advocacia do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, foi colher uma assinatura de Lula para uma procuração.
Ao saber que o próprio Espinoza havia explicado à Folha que encontrou-se com ele horas antes da reunião com o tesoureiro, Botelho admitiu ter estado no prédio de Espinoza, na Mooca.
Segundo a última edição da revista "Veja", Freud e Espinoza tiveram uma reunião no dia 18, daquela vez na própria sede da superintendência da PF e com o preso Gedimar Pereira Passos, segundo uma carta enviada à revista por três delegados federais cujos nomes foram mantidos em sigilo.
A exemplo da PF paulista, Espinoza e o advogado de Freud negaram o encontro no prédio da polícia.
Segundo um primeiro depoimento prestado à PF pelo advogado Gedimar Passos, funcionário do comitê de Lula em Brasília, preso no dia 15 de setembro com R$ 1,7 milhão que seria usado para comprar o dossiê, a ordem para a operação teria vindo de Freud. No último dia 3, em ofício enviado ao Tribunal Superior Eleitoral, Passos retirou a acusação.
Folha

Entrevista com Espinoza!

Petista diz que ex-assessor foi "tranqüilizado"

Encarregado no comitê da campanha à reeleição de Lula em São Paulo de organizar a agenda do candidato, José Carlos Espinoza, 52, disse ontem que Paulo Ferreira, tesoureiro nacional do PT, "tranqüilizou" Freud Godoy, ex-assessor da Presidência, implicado por integrante do comitê de Lula no escândalo do dossiê. Leia os principais trechos da entrevista.


FOLHA - O sr. participou de uma reunião com Freud Godoy e Gedimar Passos na sede da PF?
JOSÉ CARLOS ESPINOZA - Não participei de nenhuma reunião e não teria porque participar. Por que eu estaria numa reunião dessas?

FOLHA - Como foi a reunião na sua casa com Freud e o tesoureiro Paulo Ferreira?
ESPINOZA - Nós tivemos uma primeira reunião com o doutor Augusto [Botelho], advogado do Freud, onde a gente foi conversar um pouco do que estava acontecendo e da possível prisão preventiva dele que havia sido pedida. O doutor Augusto foi embora, veio o Paulo Ferreira e nós fomos conversar mais a situação do Freud, interna. Como é que ficava a situação dele? Ele estava se exonerando da Presidência, como é que ficava a situação dele dentro do partido, o que seria exigido dele, ou ser pedido. O Paulo Ferreira nos tranqüilizou. Ele falou: "Olha, por enquanto não muda absolutamente nada. Não muda absolutamente nada. Vamos esperar os fatos irem se desenrolando e a gente vê o que é necessário". Agora, nada mais além disso, nada mais.

FOLHA - Freud solicitou alguma ajuda financeira?
ESPINOZA - Nenhuma.

FOLHA - Foi oferecida a ele alguma coisa?
ESPINOZA - Olha, eu diria, nesse caso, não foi. Mas acho que, dependendo das condições, acho que até isso é possível. Mas não foi, pelo menos naquele momento, não foi conversado nem cogitado nada disso.

FOLHA - Por que foi procurado o tesoureiro e não alguém da presidência ou da secretaria-geral do partido?
ESPINOZA - Olha, porque o tesoureiro também é um membro do partido. Poderia ter sido outro, mas o Ferreira é que tinha participado da reunião em Brasília e ele então é que tinha o resultado das conversas em Brasília. Foi por esse motivo.

FOLHA - Que reunião em Brasília?
ESPINOZA - Eles tiveram uma reunião em Brasília para discutir o episódio, a compra do dossiê, como é que ia encaminhar, como é que estava, sobre o Gedimar, o Valdebran. Porque até então essas pessoas estão sendo ditas como [integrantes] do PT. Então tem toda uma preocupação, uma movimentação. E o Paulo Ferreira foi a pessoa que acompanhou essa reunião lá. Foi ele que veio trazer o relato dessa reunião para nós e tranqüilizar a gente, dizer: "Olha, tranqüilo, vamos ver, vamos investigar, vai dar problema. "Nêgo" vai virar sua vida de cabeça pra baixo, mas por enquanto está tudo tranqüilo". Paulo Ferreira não foi (...). Você que falou agora nessa questão de tesoureiro. Eu nem (...). É um membro do partido, está na coordenação da campanha também e é o cara que participou da reunião lá em Brasília. (...) O que ele falou pra mim foi o seguinte, o que foi conversado com ele foi o seguinte: "Olha, nós fizemos uma reunião lá e tomamos essas decisões, nós vamos fazer essas coisas".

17.10.06

Pingos nos is: as contradições de Lula no Roda Viva

O presidente e candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu entrevista nesta segunda-feira ao programa Roda Viva, da TV Cultura, e falou sobre vários assuntos. No próximo domingo, será a vez do candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Abaixo, algumas das contradições do petista.

1. Desvio para o superávit
O que diz Lula... Que seu governo está em dívida com o País por ter desviado o dinheiro dos fundos setoriais de telecomunicações (Fust e Funtef) para fazer superávit primário, em vez de usá-lo nos programas de inclusão digital
... e a realidade O presidente dá a entender que o desvio ou contingenciamento do dinheiro dos fundos setoriais das telecomunicações é um caso isolado na execução do Orçamento Geral da União. Não é. Também foi desviado ou contingenciado o dinheiro dos fundos de Segurança Pública e Penitenciário, dos fundos de Ciência e Tecnologia e até do orçamento vinculado à Saúde. O Fundo Penitenciário, por exemplo, sofreu um corte de R$ 56 milhões de 2004 para 2005 (de R$ 147 milhões para R$ 91 milhões)
2. Privatizações
O que diz Lula... Que não teria privatizado as empresas de telefonia. Critica a venda da Vale do Rio Doce e outras estatais “a preço de banana” e diz que o dinheiro da venda das empresas públicas não pode ser usado para equilibrar as contas do Tesouro. Admite que o serviço telefônico melhorou depois da privatização
... e a realidade A opinião do governo Lula e do PT sobre as privatizações é, no mínimo, inconsistente e ziguezagueante. Em 2002, quando o candidato Lula lançou a Carta ao Povo Brasileiro, o PT parou de criticar as privatizações, arquivou a idéia de fazer auditoria nos leilões e desautorizou a proposta de reestatizar as empresas. Nos dois mandatos como prefeito de Ribeirão Preto (1993-1996 / 2000-2002), o petista Antonio Palocci privatizou a telefônica municipal (Ceterp) e parte do serviço de saneamento. O governo Lula privatizou o Banco do Estado do Ceará (Bec) e só não vendeu o Ibri (Instituto de resseguros do Brasil) porque o escândalo do mensalão atrapalhou os planos do Ministério da Fazenda
3. Carga tributária
O que diz Lula... Que não aumentou impostos. Pelo contrário: aplicou à economia uma política de desoneração tributária setorizada
... e a realidade Segundo a Receita Federal, entre 2003, primeiro ano do governo Lula, e o final de agosto passado, a soma de todas as desonerações (R$ 22,8 bilhões) e dos impostos reajustados e coletados (R$ 26,4 bilhões) dá um saldo de R$ R$ 3,6 bilhões desfavorável aos contribuintes. O Orçamento para 2007, que está no Congresso, prevê um aumento de carga tributária federal de 17,24% para 17,41% do PIB
4. Déficit da Previdência
O que diz Lula... Que a cada 10 ou 15 anos, a Previdência precisa ser repensada, não só no Brasil, mas no mundo todo
... e a realidade Este padrão de resposta vem sendo usado tanto por Lula como por Alckmin para os candidatos não se comprometerem com a necessária reforma da Previdência. Mas o governo Lula agrava o déficit porque na reforma de 2003 aprovou os fundos de previdência complementar para os novos servidores públicos, mas nunca regulamentou a medida. Resultado: cerca de 30 mil novos funcionários públicos civis foram admitidos e incorporados ao sistema de aposentadoria pré-reforma
5. Berzoini e o dossiê
O que diz Lula... Que o presidente do PT e coordenador da campanha presidencial à reeleição, o deputado federal Ricardo Berzoini, deixou os dois cargos porque não “sabia de nada” sobre “quem “fez a burrice” do dossiê Vedoin, uma “sandice inominável”
... e a realidade Lula trata o dossiê como uma “sandice” ou “burrice” para desidratar a gravidade política do assunto. E o presidente só autorizou a saída de Berzoini das duas funções (coordenador da campanha e presidente do PT) depois que a imprensa (revista Época) revelou o envolvimento do deputado na operação de compra e divulgação do dossiê Vedoin. Em entrevista ao jornal O Globo, Lula disse o contrário do que afirmou ao Roda Viva, que não perguntou e nem pretende perguntar a Berzoini quem foram os autores da “sandice burra”
6. Demissão de ministros
O que diz Lula... Que os ex-ministros Antonio Palocci (Fazenda) e José Dirceu (Casa Civil) “foram afastados” do governo, “na medida em que a opinião pública julgou que eles não podiam ficar nos cargos”. Segundo Lula, “eles viraram alvos de críticas, de especulações, de denúncias, e eu não poderia mantê-los no governo”
... e a realidade Outra afirmação ziguezagueante, o que prova que Lula só afastou os ministros por conta da pressão da opinião pública. Mas o presidente também já disse, em entrevista à TV Globo, que foi ele quem demitiu os ministros. Havia dito, antes, depois de chamá-los de “amigos” e “companheiros”, que eles se demitiram
7. Cortar gastos
O que diz Lula... Que não tem onde cortar gastos públicos, que a oposição fala em cortes para reduzir o salário dos funcionários públicos e demitir
... e a realidade A questão mais importante não é cortar gastos, mas gastar bem. O governo Lula aumentou o custeio em detrimento dos investimentos públicos. Exemplo: nos três primeiros anos do governo Lula (2003-2005), o investimento médio na saúde, segundo dados do próprio Tesouro Nacional, foi menor do que o investimento médio nos três últimos anos do governo FHC (2000-2002): 1,83% do PIB contra 1,90%
8. Lulinha e a Telemar
O que diz Lula... 8. Que (os negócios do filho, Fábio Luiz Lula da Silva, com a Telemar) “foram muito investigados (pela CPI dos Correios) e não se chegou a nenhuma conclusão sobre irregularidades
... e a realidade A imprensa investigou os negócios de Lulinha com a Telemar. A CPI dos Correios, por causa de um acordo político envolvendo o próprio PSDB, não investigou nada. Na Polícia Federal, o inquérito está parado
9. Polícia Federal
O que diz Lula... Que deu ordem à PF para, em todas as investigações, “não deixar pedra sobre pedra”
... e a realidade A realidade é outra: todas as investigações de denúncias envolvendo diretamente o governo federal ou estão paradas ou caminham muito lentamente, sem a menor prioridadade. Até hoje, a PF não chegou a nenhuma conclusão, por exemplo, sobre o caso Waldomiro Diniz, que estourou em fevereiro de 2004

Estadão

Será possível que ninguém se toca?

Estamos vivendo um momento histórico delicadíssimo. As conquistas da redemocratização estão ameaçadas pelo projeto petista de poder. A agenda óbvia para melhorar o Brasil é um consenso entre grandes cientistas sociais. Vários prêmios Nobel concordam com nossos pontos essenciais de reforma política e administrativa, que fariam o País decolar. Mas, os despreparados sindicalistas e ex-comunas ignorantes têm um programa que nos levará a um retrocesso político trágico. Em pouco tempo, podemos ter volta da inflação, caos político, ruptura institucional - tudo na contramão das necessidades de modernização do País. Eles prometem medidas que nos jogarão de volta aos anos 50 ou para trás, pelo viés burro de um 'socialismo' degradado num populismo estatizante: o lulismo. Enquanto isso, os cidadãos que comeram e estudaram, intelectuais e artistas cultos, os que bebem nos bares e lêem jornal ficam quietos. O Brasil está sendo empurrado para o buraco e ninguém se toca?

O que vai acontecer com esse populismo-voluntarista-estatizante é obvio, previsível, é 'be-a-bá' em ciência política. 'Sempre foi assim...' - se consolam.

Mas, não. 'Nunca antes', um partido montou um esquema secreto de 'desapropriação' do Estado, para fundar um 'outro Estado'. O ladrão tradicional roubava em causa própria e se escondia pelos cantos. Os ladrões desse governo roubam de testa erguida, como em uma 'ação revolucionária'. Fingem de democratas para apodrecer a democracia por dentro.

Lula topa tudo para ser reeleito. Ele usa os bons resultados da economia do governo FHC para fingir que governou. Com cínico descaro, ousa dizer que 'estabilizou' a economia, quando o PT tudo fez para acabar com o Real, com a Lei de Responsabilidade Fiscal, contra tudo que agora apregoa como atos seus.

Se eleito, as chamadas 'forças populares', que ocupam os 30 mil postos no Estado aparelhado, vão permanecer nas 'boquinhas', através de providências burocráticas de legitimação.

As Agências Reguladoras serão assassinadas. Os sinais estão claros, com várias delas abandonadas e com notícias de que o PMDB já quer diretorias.

O Banco Central perderá qualquer possibilidade de autonomia, como já rosnam os membros do 'Comitê Central' do lulismo. A era Meirelles-Palocci será queimada, velho desejo de Dirceu e camaradas.

Qualquer privatização essencial, como a do IRB por exemplo, será esquecida.

A reforma da Previdência 'não é necessária' - dizem eles -, pois os 'neoliberais exageram muito sobre sua crise', não havendo nenhum 'rombo' no orçamento.

A Lei de Responsabilidade Fiscal será aos poucos desmoralizada por medidas atenuantes.

Os gastos públicos aumentarão pois, como afirmam, 'as despesas de custeio não diminuirão para não prejudicar o funcionamento da máquina pública'. Nossa maior doença - o Estado canceroso - será ignorada.

Voltará a obsessão do 'Controle' sobre a mídia e a cultura, como aconteceu no início do primeiro tempo. Haverá, claro, a obstinada tentativa de desmanchar os escândalos do chamado 'mensalão', desde os dólares na cueca até a morte de Celso Daniel e Toninho do PT, como já insinuam, dizendo que são 'meias-verdades e mentiras, sobre supostos crimes sem comprovação...'.

Leis 'chatas' serão ignoradas, como Lula já faz com a lei que proíbe reforma agrária em terras invadidas ilegalmente, 'esquecendo-a' de propósito. Quanto ao MST, o governo quer mantê-los unidos e fiéis, como uma espécie de 'guarda pretoriana', a vanguarda revolucionária dos 'aiatolás petistas', caso a crise política se agrave. Não duvidem, eles serão os peões de Lula.

Outro dia, no debate, quando o Alckmin contestou Lula ao vivo, ouviu-se um 'ohhhh!....' escandalizado entre eleitores, como se o Alckmin tivesse cometido um sacrilégio. Alckmin apenas atacou a intocabilidade do operário 'puro' e tratou-o como um cidadão como nós, ignorando a aura de 'ungido de Deus' de Lula, que os fanáticos intelectuais lhe pespegaram. Reagiram como diante de uma heresia, como se Alckmin tivesse negado a virgindade de Nossa Senhora ao lhe perguntar: 'De onde veio o dinheiro?'

Agora, sem argumentos diante dos escândalos inegáveis, os lulistas só agem pela Fé. Lula sempre se disse 'igual' a nós ou ao 'povo', mas sempre do alto de uma 'superioridade' , como se ele estivesse 'fora da política', como se a origem pobre e a ignorância lhe concedessem uma sabedoria maior. Agressão é o silêncio cínico que ele mantém, desmoralizando as instituições pela defesa obstinada da mentira. Mas, os militantes imaginários que se acham 'amantes do povo' pensam que Lula não precisa dizer a verdade; basta parecer. Alguns até reconhecem os crimes, mas 'mesmo assim', votarão nele. Muitos têm medo de serem chamados de reacionários ou caretas. Há também os 'latifundiários intelectuais': acadêmicos e pensadores se agarram em seus feudos e não ousam mudá-lo. Uns são benjaminianos, outros marxistas, outros hegelianos, gurus que justificam seus salários e status acadêmico e, por isso, não podem 'esquecer um pouco o que escreveram' para agir. Mudar é trair, para ortodoxos. Ninguém tem peito de admitir a evidência inevitável de que só um 'choque de capitalismo' destruiria nossa paralisia estatal, burocrática e patrimonialista, pois o mito da 'revolução sagrada' é muito forte entre nós. Se há uma coisa que une esquerda e direita é o ódio à democracia (Bobbio).

Os intelectuais dissimulados votarão em Lula de novo e dizem que 'sempre foi assim' porque, no duro, eles acham que o lulo-dirceuzismo estava certo sim, e que o PT e sua quadrilha fizeram bem em assaltar o Estado para um 'fim revolucionário'.

Vou guardar este artigo como um registro em cartório. Não é uma profecia; é o óbvio, banal, previsível. Um dia, tirá-lo-ei do bolso e sofrerei a torta vingança de declarar: 'Agora não adianta chorar sobre o chopinho derramado... Eu não disse?...'
Arnaldo Jabor

Lula se enrosca na língua

Os noticiários on-line atribuem a seguinte frase ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante o programa "Roda Viva", que foi ao ar ontem mesmo, a propósito do afastamento de Ricardo Berzoini da coordenação de sua campanha:
"Chamei o presidente do partido lá em casa e falei: eu quero saber quem fez essa burrice para não usar a palavra que estou pensando agora. Você, como presidente do partido, tem obrigação de dar uma resposta à sociedade. Ele não deu [a resposta], eu o afastei da coordenação da campanha".
Quer dizer então que o presidente de um partido tem obrigação de saber quem fez "essa burrice" (mais que "burrice", tem toda a pinta de ser crime eleitoral) e o presidente da República (também presidente de honra do partido) não tem a obrigação de saber de nada?
Lula usou à exaustão o argumento de que nem em família o pai, se está na sala, pode saber o que se passa na cozinha (ou qualquer outra dependência). Aí, de duas uma: ou o argumento vale também para Berzoini ou, se não vale, não serve para proteger Lula.
É óbvio, mas se torna obrigatório dizer: o presidente da República tem à mão instrumentos muito mais potentes do que o presidente de um partido (qualquer partido) para averiguar quem fez "essa burrice" (e os demais crimes de que o PT é acusado, a ponto de sua cúpula ter sido chamada de "organização criminosa" pelo procurador-geral da República).
No entanto, o presidente sistematicamente nega à sociedade as informações que acha que Berzoini tinha obrigação de dar. Diz que foi traído (no episódio do mensalão), mas não diz por quem.
Joga a culpa por todo o escândalo do dossiê em cima de Berzoini e dos "aloprados", como se ele próprio fosse inimputável. Lula nem precisa de opositores para se enroscar na língua.
CLÓVIS ROSSI

15.10.06

Estelionato à vista!

Enquanto assessores do PT e do PSDB avaliam onde e como cortar, Lula e Alckmin despistam eleitor sobre ajuste fiscal

A JULGAR pelos primeiros programas do horário eleitoral, nenhum ganho substantivo de qualidade no debate entre os candidatos à Presidência se mostra digno de registro. Estaríamos, numa apreciação preliminar, apenas diante da habitual sucessão de marchinhas e sorrisos, de candidatos caminhando em câmara lenta no rumo de um horizonte vago, encontrando ao longo do percurso uma amostra cientificamente ponderada de eleitores segundo diferentes faixas de idade e origens étnicas.
Curiosamente, contudo, uma questão "ideológica" ganha espaço no confronto entre Lula e Alckmin. Num movimento extemporâneo e escamoteador, tudo se passa como se, no próximo mandato presidencial, estivesse em pauta o antigo debate entre privatismo e estatismo.
Várias camadas de inadequação e disparate se superpõem nessa tentativa de polarização doutrinária entre os candidatos. Em quatro anos de governo, Lula não deu nenhum passo sequer no sentido de reverter as privatizações realizadas pelo seu antecessor; tampouco se dispôs a investigar as irregularidades que, não se cansa de dizer, teriam sido cometidas no processo.
A crítica lulista às privatizações não só é refutada na prática administrativa de seu governo como se torna mais deslocada e irrealista do que nunca. Na área de telefonia, por exemplo, o abandono do modelo estatista resultou em patente sucesso, tanto em termos de elevação dos investimentos quanto nos benefícios que acarretou para a grande maioria da população.
Quanto à candidatura Alckmin, pode enfatizar sem desconforto que não mudará o modelo de gestão vigente na Petrobras ou no Banco do Brasil; a refutação indignada de tais acusações lhe serve, no fundo, como cortina de fumaça a esconder sua própria ausência de projetos, ou seu desinteresse político em explicitá-los ao eleitor.
O falso tema da privatização presta aos dois candidatos o serviço de eximi-los de discutir o que realmente está em jogo na política econômica durante os próximos quatro anos. Trata-se do ajuste fiscal, passo imprescindível para a redução continuada dos juros e para a aceleração do crescimento econômico.
Quando o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, trata no Congresso da desvinculação das receitas orçamentárias -o que significa dar ao governo mais flexibilidade para cortar gastos em saúde e educação-, é este o tema em foco. Quando o economista Yoshiaki Nakano enuncia seus planos de superávit fiscal, para pânico e desconcerto dos estrategistas de Alckmin, é também disso que se trata.
Cortar onde, como e em que medida? Quais os setores a serem sacrificados nesse ajuste? De que modo obter repartição mais justa da carga tributária e como recalibrá-la sem comprometer o atendimento às necessidades básicas da população?
Um estelionato eleitoral se prepara de ambos os lados, enquanto a campanha investe na desinformação e no marketing, condimentados agora por uma polarização doutrinária artificial e fora de época. E o eleitor, reduzido a um simulacro sorridente nas imagens da propaganda eleitoral, vê-se tratado como sempre: uma massa de manobra infantilizada, cujas opiniões reais, sobre problemas reais, nenhum candidato tem coragem ou interesse em consultar.
Folha

Quando privatizar estatais!!!

Empresas estatais são típicas do século 20, ainda que algumas tenham aparecido antes na Europa e no Brasil (BB) em áreas onde o setor privado não tinha forças para atuar.

Dois casos fogem desse padrão: os correios - estatais em quase todos os países, exceto agora no Japão - e o Banco da Inglaterra, criado em 1694 com acionistas privados para desempenhar funções dos modernos bancos centrais e estatizado apenas em 1946.

Nos anos 1930, estatais foram criadas nos EUA para enfrentar a depressão e para desenvolver certas regiões, como a Tennessee Valley Authority, a qual, como a Amtrak (transporte ferroviário) continua sob controle do Estado.

Por razões 'estratégicas' ou ideológicas, estatais surgiram em todo o mundo, inclusive mediante a estatização de empresas privadas. Empresas aéreas viraram estatais em países como o Canadá e o Reino Unido, que fez o mesmo com o transporte urbano e o carvão. No pós-guerra, os trabalhistas britânicos estatizaram petróleo, gás, aço e ferrovias. As empresas petrolíferas são quase todas estatais. Estas possuem 90% das reservas mundiais de óleo e gás.

Nos anos 1970, as estatais foram questionadas, particularmente nos países ricos. Tornou-se clara sua ineficiência. As empresas privadas podem fazer melhor, pois funcionam sob o regime de concorrência, o que reduz preços, cria incentivos à inovação e melhora a qualidade dos respectivos bens e serviços.

Na América Latina, além disso, muitas estatais se tornaram cabides de emprego ou foram usadas indevidamente pelo governo. No Brasil, se endividaram para atrair capitais na crise da dívida externa e tiveram seus preços fixados abaixo dos custos para ajudar no controle da inflação. A ineficiência e os prejuízos aumentaram.

Nos países ricos, esses problemas foram evitados graças à governança corporativa de suas estatais. No Reino Unido, diretores eram escolhidos pelo critério de mérito e sem restrições à nacionalidade. A British Steel teve um presidente canadense.

Nesses países, percebeu-se que as estatais eram produto de uma época. O termo 'privatização', cunhado nos anos 1930 pela The Economist, passou a ser utilizado no processo de venda dessas empresas no Reino Unido. Depois, a palavra foi consagrada em todo o mundo.

Em comparação com os anos 1980, restam poucas estatais na Europa, como é o caso do metrô de Londres e da BBC. Os bancos estatais praticamente sumiram. Uma exceção são os bancos estaduais alemães, que deixaram de ser instrumento de governo e agora servem mais à geração de dividendos para o Tesouro. Um deles, o WestLB, virou um banco de investimento global e competitivo.

A extensão da privatização européia não se repetiu nos países em desenvolvimento. Na América Latina, o processo é lento, dada a resistência da cultura estatista. O bem-sucedido caso da Vale do Rio Doce não foi até hoje absorvido. Apesar do claro benefício para o governo, o País e os empregados, o próprio presidente da República condenou sua privatização em debate recente na TV.

Muitos dos que são contra a privatização dificilmente acreditam que as estatais são eficientes, mas entendem que as questões estratégicas compensam as ineficiências. Com raríssimas exceções, é o caso das estatais petrolíferas.

Há o mito de que empresas estatais se preocupam com o desenvolvimento, enquanto as privadas seriam predadoras que olham apenas o lucro. Exemplos de países ricos que independem delas não são considerados. O Brasil depende mais das empresas privadas do que das estatais para crescer, mas poucos se dão conta disso.

A China caminha para ser uma exceção. Além da ampla privatização ou extinção de estatais, vendeu parte do controle de seus bancos estatais a estrangeiros. A SAIC, estatal de automóveis, contratou um americano para dirigir sua área internacional. Isso seria impensável no Brasil.

Estatais devem ser privatizadas quando puderem ser substituídas com vantagens pelo setor privado. Um estudo sério dirá que essa é a situação de praticamente todas as nossas.

Não basta, todavia, provar a tese. O BB, a Petrobrás e a CEF continuarão estatais por décadas. A sociedade ainda não está preparada para aceitar a sua venda nem elas estão prontas para tanto. Daí porque Lula e o PT usam o argumento desonesto e terrorista de que Alckmin as privatizaria se fosse eleito.

Mailson da Nóbrega - e-mail: mnobrega@tendencias.com.br