Decodificando Lula: basta inverter o sinal
A "revolução pela corrupção" colocou Lula e o PT fora do campo da lei. Embora ainda tenham popularidade, não têm mais legitimidade
DAQUI PARA a frente é o vale-tudo? Não tem mais lei, não tem mais costume republicano, não tem mais nada? Sim, porque os ministros de Lula se transformaram em cabos eleitorais e usam vergonhosamente o governo para fazer campanha declarada e para atacar a oposição.
Enquanto isso, o presidente-candidato vai tentando nos iludir com seu ardil preferido: declarar exatamente o contrário do que está fazendo. Se ele diz que não atacará o adversário, é sinal de que atacará. Se ele diz que quer apurar o crime do falso dossiê, é sinal de que colocará todos os obstáculos para que se chegue a desvendar a origem do dinheiro e da trama na qual estão envolvidos seus homens. Se ele diz que punirá rigorosamente os culpados (por quaisquer dos seguidos escândalos que seu governo patrocinou), é sinal de que já arrumou um jeito de não punir ninguém. Tudo o que ele diz, vale, sim, porém com o sinal trocado. Para decodificar Lula, é simples: basta inverter o sinal.
O jornalismo ainda não descobriu o código. E a oposição acha que pode conversar e fazer acordos procedimentais com o PT. Mas isso é impossível, pois o interlocutor, no caso, não merece confiança. A estratégia da "revolução pela corrupção" colocou Lula e o PT fora do campo da lei. Conquanto ainda tenham popularidade, não têm mais legitimidade.
As declarações de Garcia às vésperas do primeiro turno -alegando que o golpe mais grave no processo eleitoral foi o vazamento das fotos da dinheirama ilegal do PT (para esconder o verdadeiro golpe do falso dossiê e desviar a atenção sobre a origem dos recursos e sobre o crime)- são uma prova de que esses caras não conhecem limites. Vale tudo para permanecer no poder: distorcer, mentir, urdir versões fantasiosas...
Os recentes pronunciamentos do ministro Genro, no sentido de que Lula quer o debate ético, já que, ao contrário da oposição, concordou com as CPIs e puniu todos os seus decaídos, ultrapassam a simples desfaçatez.
Todos sabem que Lula e o PT moveram mundos e fundos para impedir a instalação da CPMI dos Correios, sabotaram e bombardearam a CPI do Mensalão até o fim e só admitiram as comissões quando não havia mais condições políticas de evitá-las. Entendam que, aqui, já não estamos mais no terreno da democracia nem sequer no da política. O caso é de polícia, mesmo. Para desconstituir essa ameaça, devemos, entretanto, aprender as lições do processo político em curso.
A primeira lição: não há congruência entre resultado eleitoral e justiça. Ou seja, as urnas não podem distribuir justiça, não podem sancionar o mau comportamento, não podem zelar pela ética na política. Dos 11 mensaleiros que concorreram, oito foram reeleitos. Para não falar do PT, partido do Waldomiro, de Santo André, do mensalão, da violação do sigilo de Francenildo, das tentativas de controlar a TV e a imprensa, dos sanguessugas, das cartilhas pagas com dinheiro público (que foram parar em uma certa organização privada) e do falso dossiê: mesmo assim, elegeu quatro governadores, disputa em mais dois Estados e ainda fez a segunda bancada na Câmara dos Deputados.
No dia em que deixarmos que se legitime a falsa teoria de que as urnas são capazes de absolver ou punir, então será o fim da possibilidade de democracia e de Estado de Direito.
A segunda lição que se deve reter é a de que uma força política não se desmancha por si mesma. Se estiver no poder, não se suicida. Se for uma quadrilha, não se desarticula na ausência de uma força que a desbarate. A terceira é a de que Lula é o PT: não há nenhuma diferença entre essas duas "entidades".
Repetir que o PT atrapalhou Lula, que a armação do falso dossiê foi feita contra ele, é fazer o seu jogo. Aliás, a denominação jocosa de "Operação Tabajara" foi urdida, como despiste, no alto comando do Planalto e "comprada" acriticamente por muita gente que ainda se julga perspicaz...
Ora, ora: Lula é o chefe. Chefe de quem? É claro que só há uma resposta: chefe do PT, inclusive da parte mais secreta (até para a maioria dos petistas), que tem uma estratégia definida de perpetuação no poder a qualquer preço. Se ele, como sempre, de nada sabia antes, depois não teria nenhuma dificuldade de saber.
Vamos ver se a oposição aprende essas lições e não cai mais uma vez na conversa, aceitando ir para o segundo turno sem cobrar diariamente o esclarecimento sobre a origem dos recursos e sobre o envolvimento dos homens do "entourage" pessoal de Lula no golpe do falso dossiê.
AUGUSTO DE FRANCO
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