Berzoini negou na PF saber da negociação para a compra do dossiê
Em depoimento ontem na sede da Polícia Federal, em Brasília, o ex-ministro e ex-coordenador da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deputado Ricardo Berzoini (PT), negou conhecer a negociação feita por petistas para comprar e tornar público o conteúdo do dossiê contra tucanos. Ele disse que só soube do dossiê após da divulgação do caso na imprensa.
Berzoini também, indiretamente, contradisse versão sustentada por Hamilton Lacerda para negar que tivesse levado o dinheiro que seria usado na compra do dossiê para o ex-agente da PF contratado pelo PT Gedimar Passos, detido no hotel Ibis, em São Paulo, com R$ 1,75 milhão. Lacerda foi flagrado pelas câmeras do hotel com uma mesma bolsa depois carregada por Gedimar.
À PF, Lacerda disse que não havia dinheiro na bolsa, mas sim panfletos e boletos de doação da campanha nacional. Ao ser questionado sobre o assunto, Berzoini disse desconhecer que Lacerda portasse tal material, afirmando que boletos de contribuição não estavam dentro da atribuição do ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo. Berzoini também afirmou que não sabia da participação de Lacerda no episódio.
O petista Valdebran Padilha, também detido, disse à PF que a mesma mala carregada por Lacerda foi mostrada a ele por Gedimar repleta de dinheiro.
Para os policias que acompanharam o depoimento, a versão de Berzoini não convenceu. A PF não pode falar em contradições em relação a declarações anteriores do presidente licenciado do PT, pois é a primeira vez que depõe sobre o caso.
Para a PF, Lacerda trabalha para proteger Mercadante. Berzoini atuaria na defesa de Lula. Ambos negam qualquer tipo de pagamento, pois, se isso fosse admitido, seria o sinal para se sentirem obrigados a revelar a origem do dinheiro.
Ainda conforme o depoimento, Berzoini afirmou ter contratado o petista Jorge Lorenzetti para fazer o trabalho de análise de risco da campanha de Lula. Disse também que, em dado momento, Lorenzetti pediu a ele a indicação de um jornalista com o qual pudesse trocar informações.
Consta do depoimento que Berzoini, então, sugeriu a Lorenzetti que procurasse a assessoria de imprensa da campanha. A troca de informações seria a busca de uma alternativa para tornar público o dossiê que envolveria políticos tucanos, principalmente José Serra, então adversário de Mercadante em São Paulo, no escândalo dos sanguessugas.
Berzoini disse aos policiais que, quando o escândalo se tornou público, Lorenzetti o procurou. Desculpou-se por ter "extrapolado" a confiança que lhe fora depositada. Por fim, negou que a negociação com os Vedoin envolvesse dinheiro.
"Nem um fato novo foi apresentado que já não fosse de conhecimento da imprensa. Ele foi transparente e prestou todas as informações à polícia", disse ontem o advogado de Berzoini, Fernando Tibúrcio Peña.
Por conta do episódio do dossiê, Berzoini foi afastado da coordenação-geral da campanha de reeleição de Lula e da presidência do PT.
A aérea de inteligência da PF recebeu ontem informações que considera fundamentais para desvendar o papel dos petistas envolvidos com o caso. O diretório nacional do PT enviou à PF a identificação dos celulares usados cedidos pelo partido para Lorenzetti, Oswaldo Bargas, Gedimar, Freud Godoy e Expedito Veloso.
Apesar de já dispor dos dados das ligações feitas e recebidas pelos aparelhos cedidos pelo partido, a PF não sabia quem usava os números alvos da quebra do sigilo telefônico.
Anteontem, no programa Roda Viva, o presidente Lula assumiu que o destino de Berzoini foi selado pelo dossiê. "Chamei o presidente do partido lá em casa e falei: Olha, quero saber quem fez essa burrice. (...) Porque isso é de uma sandice inominável. Ele me disse que não sabia. Falei: Ricardo, você, como presidente do partido, tem obrigação de apresentar para a sociedade uma resposta. E ele não fez. Eu o afastei da coordenação da campanha. (...) A ordem à PF é que não deixe pedra sobre pedra."
A PF encontra dificuldades na busca do responsável -ou responsáveis- pelo financiamento do dossiê. A maior suspeita para a origem do R 1,1 milhão destinado ao negócio são bancas de jogo do bicho, que estão sob investigação.
Folha
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