23.10.06

FMI não enche mais o saco

Presidente diz que ´FMI não enche mais o saco`

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que repetidamente vem manifestando seu orgulho em ter encerrado antecipadamente o acordo firmado com o Fundo Monetário Internacional (FMI), retomou o tom que adotava nos velhos tempos ao se referir à instituição. Ontem, em comício em Cidade Tiradentes, zona leste na capital paulista, a imagem do presidente da República deu lugar ao ex-sindicalista que tantas vezes repetiu o slogan 'Fora FMI'.

Ao comentar as realizações de seu governo e exaltar os benefícios que resultariam de um segundo mandato, Lula voltou-se para milhares de militantes e moradores da zona leste da cidade e bradou: 'O FMI não enche mais o saco. Foi embora.'

A afirmação foi feita no momento em que o presidente dizia que seu governo conseguiu não apenas reduzir o custo de vida da população mais pobre, como também manter a inflação sob controle. Ao mesmo tempo em que acusava o PSDB de governar para as elites, o presidente exaltava seu projeto como um governo para todos.

O FMI, de fato, deixou de 'encher o saco' porque o Brasil cumpriu tudo o que foi determinado pelo organismo internacional. Pagou em dezembro de 2005 a dívida de US$ 15,5 bilhões que venceria nos próximos dois anos e aprofundou o ajuste fiscal. Além disso, o programa original com o FMI exigia um superávit primário (economia para pagar juros) de 3,75% do Produto Interno Bruto (PIB). O governo, porém, elevou a meta para 4,25% do PIB. A medida foi apresentada como uma 'decisão soberana'.

Lula e seus companheiros da área econômica conviveram civilizadamente com o FMI nos três primeiros anos de governo porque não havia outro jeito. O País estava 'quebrado' em 2002. O mercado financeiro vivia um clima de pânico diante da perspectiva da eleição de um governo de esquerda.

Diante do risco de um desastre econômico, em setembro de 2002 o então ministro da Fazenda Pedro Malan assinou um acordo de 15 meses com o FMI, no valor de US$ 30 bilhões. Foi uma forma de dar ao mercado internacional o seguinte recado: não haverá loucuras nos próximos 15 meses.

Quando foi indicado ministro da Fazenda, Antonio Palocci encontrou-se com representantes do Fundo e garantiu que o programa seria cumprido. Ele, porém, mal disfarçava a contrariedade. Em janeiro de 2003, após encontrar-se com a então número 2 do FMI, Anne Krueger, comentou: 'Vamos cumprir o contrato e boa noite, obrigado.' Não foi o que se viu. Quando o acordo negociado por Malan acabou, Palocci teve de pedir uma prorrogação por um período de mais 15 meses. Esse segundo acordo acabou em fevereiro de 2005 e não foi renovado.
Estadão

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