28.5.07

A MENTIRA TEM PERNA CURTA

A esquerda costuma espalhar o mito de que seus expoentes são operários de salário mínimo, meeiros, bóias-frias, pobres criaturas suburbanas. A direita seria formada de latifundiários, grã-finos, freqüentadores das colunas sociais. Ora, nada mais contrário à realidade dos fatos. E menciono alguns, apenas para comprovar.

Iniciemos pelo patriarca da esquerda: Karl Marx casou-se com uma aristocrata alemã, Jenny von Westphalen, descendente, pelo lado materno, da alta aristocracia da Escócia e filha de um nobre. [1] Ela usava nos cartões de visita o título de Baronesa von Westphalen. [2] O próprio Marx pouco trabalhou, vivendo às custas das mesadas de seu companheiro de idéias, Friedrich Engels - filho de grande burguês, diz Garaudy. [3] Engels deu a Marx dinheiro suficiente para viver com folga o resto da vida e até mesmo para que um genro de Marx adquirisse um verdadeiro palacete de trinta aposentos. [4] Dentre os comunistas mais chegados a Marx, praticamente nenhum era proletário no sentido comunista da palavra. [5] Marx não dava muita atenção a seus parentes próximos, porém orgulhava-se dos ricos primos Philips da Holanda – conhecidos fabricantes de eletrodomésticos. [6]

O libertário Pedro Kroptkine pertencia a uma das mais velhas famílias da nobreza russa. Seu pai tinha terras onde ocupava cerca de mil e duzentos trabalhadores, em três províncias russas. Dispunha de cinqüenta criados na residência em Moscou, e vinte e cinco na casa de campo. [7] Também o guerrilheiro Pol Pot nunca trabalhou. [8]

Trotksy era filho de um rico proprietário de terras. [9]

Malenkov, como Lenine e outros bolchevistas, era filho de pais abastados.[10]

Mao Tse-Tung não foi diferente: era filho de um próspero agricultor[11] , "que logo se tornaria o mais rico de seu vale."[12]

Caio Prado Júnior era herdeiro de uma das mais abastadas famílias do país – dona de fazendas e indústrias - e fez uma parte de seus estudos secundários na Inglaterra. [13] Morava no "bairro dos ricos autênticos, com tradição e fidalguia": Higienópolis. [14]

Jean-Paul Sartre costumava andar com um milhão de francos no bolso, na época cerca de 37 salários mínimos brasileiros. [15]

O pai de Fidel Castro era um latifundiário que possuía oitocentos hectares de terras e arrendava outros dez mil. [16] Nunca se soube que o ditador cubano tivesse algum emprego. Seu companheiro Che Guevara confessa: Nenhum dos guerrilheiros que se estabeleceram na Sierra Maestra teve um passado de operário ou camponês, ninguém passou fome, a não ser transitoriamente durante os anos de guerrilha. [17] A respeito dele, diz um comunista cubano: "Ernesto Guevara nació en 1928 en Argentina, en una familia con cierta holgura económica, culta, de ideas socialistas." [18]

Salvador Allende era filho de advogado, neto de médico e descendente de importantes personagens da independência chilena; casou-se com a filha de uma respeitável família e morou sempre nos melhores bairros de Santiago. Nunca disfarçou a inclinação pelos bons vinhos, pratos refinados e coleções de obras de arte. Em seu bem fornido guarda-roupa enfileirava-se uma numerosa coleção de ternos de impecável corte, finos sapatos e duzentas gravatas, sobre as quais usava sempre uma pérola. Pouco exerceu a Medicina, já que foi senador por 25 anos, com mordomias garantidas. [19]

Olof Palme, o ex-primeiro ministro sueco, era "o mais esquerdista dos líderes ocidentais" – mas nascera na classe abastada. [20]

O falecido líder do PC italiano, Enrico Berlinguer, descendia de marqueses catalães, e seu nome figurava no "Livro de Ouro da Nobreza Européia". Costumava passar as férias na Sardenha natal, onde velejava em seu barco. Ele e o irmão chegaram a possuir uma ilha particular, de 110 hectares. [21] Por outro lado, o senador mais rico da Itália, em 1988, Guido Rossi, pertencia ao Partido Comunista. [22]

Mateotti, o socialista morto pela polícia de Mussolini, era filho de ricos agricultores. [23]

François Mitterrand possuía uma residência em Paris, uma casa na praia, dois pequenos terrenos no campo, além do saldo bancário. [24]

Gabriel García Márquez, grande amigo de Fidel Castro, recebia em 1981, só de direitos autorais, 22 milhões de cruzeiros, cerca de 170 mil dólares por ano. [25] Em entrevista, admitiu que sua obra lhe proporcionava entre 350.000 e 400.000 dólares anuais. [26]

Jorge Amado revela num escrito autobiográfico: Era filho de fazendeiro, assim como vários amigos seus. [27]

A mãe de Olga Benário (amante e talvez esposa de Luís Carlos Prestes) morava na capital da Baviera, em casa elegante, cheia de objetos de arte. O primeiro amante de Olga, Otto Braun, era comunista chique, de gravata meticulosamente amarrada, cabelos ajeitados com brilhantina, calças bem vincadas, e cachimbo aristocrático. [28] Aliás, se alguém procurar a carteira profissional de Prestes vai ter uma surpresa. Parece que sua última ocupação fixa foi ali por 1922, quando era capitão do Exército. O Secretário-Geral do PC gostava só de música clássica. [29]

Ao falecer no Uruguai, João Goulart morava numa fazenda de 3.600 hectares, com 6.000 ovelhas e 3.000 cabeças de gado Hereford.[30] Tinha várias outras propriedades, tanto que um seu filho natural, Noé Silveira, recebeu de herança uma fazenda em São Borja, com 2.0232 hectares, uma casa, um terreno e boa soma em dinheiro.[31] No final do processo de investigação de paternidade, Noé recebeu metade dos bens da irmã, Denise, avaliados em cem milhões de dólares. [32] No matrimônio de Denise, aliás, houve "o maior banquete de casamento dos últimos anos". [33] Outro filho, o João Vicente, possuía uma fazenda de 70.000 hectares no Maranhão. [34] A viúva de Jango, Maria Teresa, pôs à venda um sobrado em Punta Del Este, onde o ex-presidente passou parte do seu exílio; a duas quadras da praia, avaliaram-no em 400.000 dólares.[35]

Sérgio Buarque de Holanda foi um jovem bem-nascido que, formado em Direito, teve uma confortável carreira de burocrata à sua espera. [36]

Nosso paranaense Vieira Neto só bebia uísque escocês, fumava cachimbo com fumo inglês e tinha iate em Guaratuba. [37]

Miguel Arraes, membro de uma das mais tradicionais famílias do alto sertão cearense, nasceu rico e fazendeiro. Casou-se pela primeira vez com uma jovem pernambucana das mais aristocráticas famílias da Zona da Mata, e se tornou concunhado do riquíssimo e poderoso usineiro e senador Cid Sampaio. [38] Ao voltar do exílio, Miguel Arraes instalou-se num palacete, no aristocrático bairro recifense da Casa Forte, cujo aluguel era de Cr$ 30 mil mensais – cerca de 14 salários mínimos. [39] São pitorescas suas negaças à revista Veja (12-07-1979) para não contar exatamente com que meios vivia durante o exílio na Argélia. Disse que foi assessor de algumas empresas, mas não houve jeito de descobrir em quais... Depois de ter vendido o controle que tinha sobre uma livraria de Paris, os interesses da família Arraes na França limitavam-se à empresa Sudhemis, que importava e exportava para a Argélia, Angola e Moçambique. [40]

Fernando Henrique Cardoso foi "o mais distinto scholar marxista a liderar uma nação desde a morte de Lênin. Como um jovem professor, pertencia a um grupo que dissecou cuidadosamente os três volumes de O capital e muitos outros clássicos marxistas." [41] Declarava-se um intelectual "crítico do imperialismo" e "teórico da dependência" [42] "um intelectual de passado esquerdista", "egresso do marxismo" [43], que sofreu grande influência de Marx, Sartre, Lukács e Florestan Fernandes. [44] É bisneto de um governador de Goiás e neto de marechal, filho de um general, advogado e deputado. [45] Passou oito anos de seu governo "encenando que brigava com o MST, ao mesmo tempo que alimentava o movimento com gordas verbas e todo tipo de proteção." [46] Só exigiu que a força do Estado - e até do Exército - se movesse em defesa do direito de propriedade quando o MST ocupou a sua fazenda, em Buritis.

Marta Suplicy, mesmo antes de ingressar na vida pública, não fazia compras em supermercados "nem morta"; ela treinava copeiras e cozinheiras a ponto de se dar ao luxo de nem sequer entrar na cozinha. [47] No final de 2002, estava se preparando para mudar-se com o "namorado" argentino para a casa ocupada pelo ex-marido, Eduardo Suplicy, avaliada em 2,5 milhões de reais - uns 694.400 dólares.[48] Outros detalhes de sua vida nada proletária são bem conhecidos do público.

O então senador José Paulo Bisol (PSB), candidato a vice-presidente na chapa de Lula em 1989 era proprietário da fazenda São Vicente da Direita, com 1.097 hectares, em Buritis, e outra em Unaí, ambas em Minas Gerais. [49]

Leonel Brizola possuía em 1986 um patrimônio avaliado em dois milhões de dólares, representado principalmente por duas fazendas no Uruguai (El Repecho e La Tala de Yi), com 3.181 hectares, onde criava sete mil ovelhas.[50] Com razão um adversário perguntou: "Como pode um dos maiores latifundiários do Sul do País falar em acesso à terra por meio da posse?" [51] Seu candidato a vice-presidente, em 1989, detinha um patrimônio que, só em poupanças, chegava a 37,6 milhões de cruzeiros novos, cerca de 13,6 milhões de dólares. [52] Mais tarde, em 2001, a revista Veja publicou reportagem, sustentando que sua propriedade uruguaia valia 4,5 milhões de dólares; o rebanho estimado era de 16 mil cabeças ¾ 6 mil bois e 10 mil ovelhas. Além disso, recebia três aposentadorias: 5.600 reais como ex-governador do RGS, 6.175 reais como ex-governador do Rio e 980 reais por ter sido duas vezes deputado federal, num total mensal de 12.755 reais, [53] na época cerca de 4.850 dólares.

Experimente alguém reunir quinhentos anticomunistas para um evento, numa capital brasileira; os obstáculos financeiros serão quase intransponíveis. No entanto, um dos últimos eventos do Forum Social Mundial reuniu em Porto Alegre 100.000 pessoas, de 121 países e 5.500 ONGs.[54] De algum misterioso lugar vieram passagens, hotéis e refeições para essa multidão enorme...

Basta de exemplos da "pobreza" da esquerda, meu leitor. E agora, com licença, que como bom "milionário" da direita, vou dar minhas suadas aulas...

Por Ênio José Toniolo (eniotoniolo@pop.com.br)

Renan na Casa Civil.

Grupo queria lobby de Renan na Casa Civil, revela grampo
Em conversa, investigados dizem contar com senador para pressionar Dilma


Objetivo seria incluir no PAC obra na qual foi descoberta fraude; o presidente do Senado diz que só fala hoje e a ministra não foi localizada


Diálogos captados pela Polícia Federal revelam que acusados de integrar o esquema de corrupção da construtora Gautama articularam para que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fizesse lobby para pressionar a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) a liberar recursos para uma das obras fraudadas pelo grupo.
Os acusados disseram que trataram com o senador, segundo as interceptações telefônicas, para que o projeto fosse incluído no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
A obra é a barragem do rio Pratagy, em Maceió (AL), para a qual a União já repassou R$ 30 milhões, de um total previsto de R$ 70 milhões. O projeto foi, de fato, incluído no PAC e teve sua previsão de gastos ampliada para R$ 120 milhões.
Os grampos da PF, obtidos pela Folha, demonstram que pelo menos três integrantes da quadrilha, presos na Operação Navalha, tinham proximidade com Renan e com um de seus assessores, identificado pela polícia como Everaldo. O senador tem um assessor chamado Everaldo Ferro. O lobby sobre a ministra Dilma é citado em pelo menos dois momentos.
No dia 30 de março, o então secretário e o subsecretário de Infra-estrutura de Alagoas, Adeílson Teixeira Bezerra e Denisson de Luna Tenório, falam em preparar, de forma irregular, um documento sobre a barragem do Pratagy para que Renan pudesse pressionar a ministra.
Adeílson: "Eles têm que fazer um estudo preliminar em 15 dias [...].
Denisson: "Rapaz, em 15 dias não sai."
Adeílson: "Foi esse o prazo que o Enéas [de Alencastro Neto, representante do governo de Alagoas em Brasília] ficou preso lá e a gente prometeu a Renan que a gente fazia".
Denisson: "Como é que você vai fazer uma coisa dessa sem topografia? É chute".
Adeílson: "É chute mesmo, não é projeto executivo [...]. É só um documento para o Renan pressionar a Dilma na liberação do recurso".
A juíza Eliana Calmon (Superior Tribunal de Justiça), relatora do caso, incluiu Denisson e Adeílson no terceiro nível da organização criminosa, formada por funcionários públicos encarregados de remover obstáculos aos interesses da quadrilha. Em troca, receberiam propina.
No dia 23 de abril, Adeílson conversa com Enéas de Alencastro. Adeílson não só conta a Enéas que estivera um dia antes com o senador como dá recados, segundo ele, a pedido do presidente do Senado.
Adeílson: "Olhe, outra coisa que o senador me pediu. Disse para a gente se sentar, nós dois, e evidentemente levar isso para o governador, e ver o que acrescenta às obras estruturantes para botar logo no PAC".
O próprio assessor de Renan teve conversas gravadas. São 13 diálogos em que o senador é mencionado, dos quais 2 envolvem diretamente Everaldo.
Em uma das gravações, o empresário Zuleido Veras, dono da Gautama, orienta sua secretária, a enviar um telegrama desejando parabéns ao senador, a quem chama de "amigo".
Sobre um dos diálogos, entre Zuleido e Everaldo, a PF levanta a suspeita de o tema da conversa se referir a pagamento de propina, mas sem especificar a quem. Eles falam sobre Renan e o deputado Olavo Calheiros (PMDB), irmão do senador.
"Zuleido diz que, para a semana, disseram que resolvem aquele negócio, até segunda. Everaldo diz que tenha cuidado com Olavinho [Olavo Calheiros], pois parece que ele fica em cima, o ministro [não identificado] estava falando. Zuleido diz que tem que ter calma [...] e pede para transmitir os parabéns para o amigo [Renan]."
No dia 22 de fevereiro deste ano, Fátima Palmeira, funcionária da Gautama, conversa com um funcionário da empresa Brastubo chamado Fernando. Ele conta que havia estado com Renan em Maceió e que o senador lhe dissera que sairia R$ 1 bilhão para a adutora do rio São Francisco, em Sergipe (obra também investigada pela PF), e que não faltaria dinheiro para a barragem do rio Pratagy.
Folha

27.5.07

Reportagem da Veja

O senador e o lobista
Renan Calheiros terá de explicar por que diretor de construtora pagava suas contas
Policarpo Junior
Roberto Jayme/AE

O senador Renan Calheiros: "Tudo foi pago com meu dinheiro"

Desde que a Operação Navalha foi deflagrada, o senador Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, tem sido instado a explicar suas relações com o empreiteiro Zuleido Veras, dono da Gautama. O senador tem dito que são apenas conhecidos, mas são mais do que isso. Em 1990, o empreiteiro bancou sorrateiramente a campanha do senador ao governo de Alagoas e, embora tenha terminado em derrota, a eleição serviu como marco de uma amizade sólida. Sólida mesmo, a ponto de o empreiteiro freqüentar a residência oficial do presidente do Senado. A situação de Renan Calheiros, porém, é mais complicada do que sua intimidade com Zuleido Veras. É que o senador tem outro amigo explosivo no submundo da empreita que, tal como Zuleido, freqüenta sua casa e, tal como Zuleido, é seu dileto amigo. O amigo de alta octanagem é Cláudio Gontijo, lobista da construtora Mendes Júnior, uma das maiores do país. Nos últimos anos, Gontijo, mais do que um amigo, tem se apresentado no papel de mantenedor do senador. VEJA apurou os laços financeiros entre os dois:



• O lobista da Mendes Júnior coloca à disposição do senador um flat num dos melhores hotéis de Brasília, o Blue Tree. O flat, número 2 018, é usado para compromissos que exijam discrição. Está em nome de Cláudio Gontijo.



• O lobista da Mendes Júnior pagou, até março passado, o aluguel de um apartamento em Brasília para o senador. O imóvel tem quatro quartos e fica em uma área nobre da capital federal. O aluguel saía por 4.500 reais.



• O lobista pagava 12.000 reais mensais de pensão para uma filha do senador, de 3 anos de idade. A pensão foi bancada por Cláudio Gontijo de janeiro de 2004 a dezembro do ano passado.



• O lobista ajuda nas campanhas do senador Renan Calheiros e nas de sua família. Já ajudou o próprio senador, seu filho e seu irmão.



Tal como Zuleido, Gontijo opera nas sombras. Oficialmente, ele é assessor da Diretoria de Desenvolvimento da Área de Tecnologia da Mendes Júnior há quinze anos. Na realidade, sua função é defender os interesses da empresa junto ao governo. A Mendes Júnior constrói aeroportos, metrôs, linhas de transmissão de energia e estradas. Tem fortes interesses no governo. Hoje, participa, entre outras obras, de um consórcio responsável pela construção do aeroporto de Vitória e fechou vários contratos com a Petrobras para a construção de tubulações e manutenção industrial. Tal como a Gautama, a Mendes Júnior também orbita no Ministério de Minas e Energia, do qual foi demitido o ministro Silas Rondeau. Foi a partir desse ministério que Gontijo estendeu sua área de influência a outros setores do governo nos últimos anos. Com a ajuda de Renan, chegou a indicar nomes para cargos públicos, como o do engenheiro Aloísio Vasconcelos Novais, que assumiu a Eletrobrás quando Rondeau deixou o cargo para ser ministro de Minas e Energia.

Fotos O Jornal e André Dusek/AE




O clã Calheiros: à esquerda, o prefeito de Murici, em Alagoas, Renan Filho, filho do senador Renan Calheiros; no centro, o deputado Olavo Calheiros, irmão do senador; à direita, o vereador Robson Calheiros, outro irmão do senador


O senador Renan Calheiros caiu nas graças do lobista. Nos últimos três anos, a pedido de Renan, o lobista pagou os 4.500 reais de aluguel do apartamento de quatro quartos. No imóvel, até recentemente, morava a jornalista Mônica Veloso, com quem o senador tem uma filha de 3 anos, que recebe a pensão do lobista. Todos os meses, a jornalista ia ao escritório da Mendes Júnior, no 11º andar do Edifício OAB, situado na Asa Sul, onde pegava um envelope branco, timbrado, com o endereço, os telefones e o nome de Cláudio Gontijo. O envelope era identificado com suas iniciais – MV. Dentro havia sempre 16.500 reais. Era o aluguel mais a pensão de 12.000 reais para a criança. VEJA teve acesso ao contrato de locação do imóvel. Nele, Gontijo assina como fiador. Seguindo orientação do senador, o lobista contratou uma empresa de vigilância para garantir a segurança de Mônica Veloso e sua filha. A direção da Mendes Júnior diz que isso tudo é "questão pessoal" de Gontijo e que desconhece esses pagamentos. Procurada por VEJA, Mônica Veloso preferiu não se manifestar.

Cláudio Gontijo também cedia ao senador um flat no hotel Blue Tree, em Brasília. A VEJA, ele confirmou que conhece Renan Calheiros. "Ele é meu amigo, nada mais." Ele diz que classifica como maldade as insinuações de que freqüenta a casa do senador e que, por interesse, lhe presta favores. "Parei de ir à casa dele desde que ele virou presidente do Senado para evitar problemas", disse Gontijo. O lobista admite que entregava dinheiro para quitar as despesas de Mônica Veloso, mas ressalva que o dinheiro não era nem dele nem da empreiteira. De quem era? "Só posso dizer que não era meu", responde. O senador Renan Calheiros diz que ele mesmo era o dono dos recursos. "O dinheiro era meu", afirmou. Se era seu, por que o lobista fazia a intermediação? Nesse ponto, Renan diz que não falará mais sobre um assunto que está sob segredo de Justiça. Renan ganha 12.700 reais brutos por mês como senador, que complementa, nas palavras dele, com "rendimentos agropecuários". Pensão e aluguel, como se viu anteriormente, somam 16.500 reais. A vida íntima do senador Renan Calheiros diz respeito apenas a ele próprio. Não é um assunto público. Mas, quando essas relações se entrecruzam com pagamentos feitos por um lobista, o caso muda de patamar.

Fotos Celso Junior/AE e Cristiano Mariz

Guilherme Palmeira, membro do Tribunal de Contas da União, e o edifício onde o lobista pagava aluguel de 4 500 reais para o senador Calheiros: uma explicação tortuosa


O lobista Gontijo nega que a Mendes Júnior tenha se beneficiado da proximidade com Renan Calheiros para conseguir contratos com o governo: "Não temos nenhuma obra sendo executada no governo federal". Lembrado de que tem contratos com Infraero, Petrobras e Eletrobrás (todas áreas sob influência do senador), o lobista retruca: "Para nós, isso é obra privada". Perguntado sobre o flat que empresta ao senador, encerra a conversa: "Não vou responder mais nada". O lobista também ajudou a família Calheiros em campanhas políticas. Nas eleições de 2004, sempre por trás da contabilidade oficial, contribuiu com as campanhas de Renan Calheiros Filho (filho do senador), de Robson Calheiros (irmão do senador) e de José Wanderley (afilhado político do senador). Certa vez, o lobista chegou a reclamar que os pedidos financeiros de Renan Calheiros estavam exagerados. "Cláudio, arruma aí, pede emprestado", solicitava o senador, de acordo com a versão contada pelo lobista a um interlocutor que conversou com VEJA. Não se sabe o tamanho da ajuda que o lobista deu. Renan Filho foi eleito prefeito de Murici, Robson Calheiros ganhou a suplência de vereador e o médico José Wanderley não se elegeu. No ano passado, emplacou como vice do tucano Teotonio Vilela, governador de Alagoas.
As relações empreiteiro-familiares do clã Calheiros também envolvem o deputado Olavo Calheiros, outro irmão de Renan. No âmbito da Operação Navalha, a polícia captou um diálogo entre Zuleido e Fátima Palmeira, diretora da Gautama, em que eles conversam sobre uma emenda que teria sido oferecida pelo deputado Calheiros, que beneficiaria a empresa. "É o seguinte: aqui, o Olavinho passou aquela emenda que ele tem para a gente", diz Zuleido. "Empreiteiro é bravateiro, quer vender prestígio", justifica Olavo Calheiros, informando que a emenda foi apresentada há dez anos. Pode ser mesmo uma bravata, mas o deputado Olavo Calheiros sempre atuou como uma espécie de abre-alas para empreiteiros amigos. Zuleido, quando tinha dificuldades para se encontrar com ministros para tratar de licitações de obras e liberações de recursos, acionava Olavo Calheiros. O deputado marcava audiência com o ministro e levava o empreiteiro na bagagem. Dois ex-ministros de Lula relataram a VEJA que receberam Olavo Calheiros em audiências às quais ele, de surpresa, apareceu acompanhado pelo empreiteiro Zuleido Veras.

Fotos reprodução



Na imagem à direita, Fátima Palmeira, diretora da Gautama, flagrada pela Polícia Federal em um aeroporto; na foto à esquerda, ela aparece na posse do parente Guilherme Palmeira, no TCU

As investigações sobre a Gautama de Zuleido Veras também mostram que os tentáculos do empreiteiro chegavam ao Tribunal de Contas da União. Em uma conversa captada pela polícia, Zuleido insinua ter acesso privilegiado a pelo menos dois ministros do TCU – Augusto Nardes e Guilherme Palmeira, parente de uma personagem importante do escândalo, Maria de Fátima Palmeira, diretora comercial da Gautama. Renan Calheiros também é íntimo de Guilherme Palmeira. Em 2004, Palmeira chegou a informar o senador a respeito do curso do processo que tramitava no Tribunal Superior Eleitoral sobre a cassação do então governador de Alagoas, Ronaldo Lessa – assunto que interessava a Renan Calheiros. A VEJA, o ministro Guilherme Palmeira confirma que é amigo de Renan, conhece Zuleido Veras, mas diz que nunca atuou em processos de interesse da Gautama. "Ao menos que eu me lembre, não!" Conta que chegou até a receber algumas vezes Fátima no gabinete, mas encaminhou-a ao relator dos processos. O ministro, de fato, tem memória fraca. Ele foi relator do processo número 008 887/2002, que apura irregularidades num contrato da Gautama com a prefeitura de Porto Velho. Consultado por VEJA, mas sem conhecer o caso concreto, o advogado Roberto Caldas, membro da Comissão de Ética Pública da Previdência, diz que a relação financeira entre um parlamentar e um lobista de empreiteira é condenável. Diz ele, falando em tese: "Evidentemente, esse tipo de relação é inaceitável para alguém que ocupe um cargo público".

Renan, mais uma vez!

Grampo revela lobby em que Renan seria acionado, afirma PF
Funcionário diz que precisa de senador para manter dirigente na Integração Nacional; Geddel promete demitir diretor citado


Presidente do Senado diz que não vai se pronunciar sobre gravações feitas pela Polícia Federal por não ter tido acesso aos diálogos

Presos na Operação Navalha, o então secretário e o subsecretário de Infra-estrutura de Alagoas foram flagrados numa gravação falando abertamente em recorrer ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e seu irmão, deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), para que conseguissem manter no Ministério da Integração Nacional o diretor de Recursos Hídricos da pasta, Rogério Menescal.
No diálogo, Adeilson Teixeira Bezerra e Denisson de Luna Tenório afirmam que Menescal é indicação do senador e do deputado e que seria importante mantê-lo na função por ser ele o responsável pela liberação de recursos para a obra do rio Pratagy, em Maceió, orçada inicialmente em R$ 77,8 milhões.
A construção da barragem é uma das licitações investigadas pela PF que teriam sido fraudadas pela empreiteira Gautama. A preocupação de Adeilson e Denisson era que o novo ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), tirasse Menescal.
"Denisson pergunta se Adeilson está no fixo. Adeilson diz que não, que está indo para o gabinete de Olavo [Calheiros]. Denisson diz que dá para falar porque não é nada de mais e pergunta se Adeilson lembra quem é Rogério Menescal, diretor", informa o inquérito. A conversa foi no dia 14 de março.
"Denisson diz que Rogério ligou para ele dizendo que tem muito interesse em ficar mais um ou dois anos no ministério [...]. Denisson diz que vai precisar do apoio do senador (Renan Calheiros). Denisson diz que seria uma pessoa do próprio Renan ou do próprio Olavo dentro do ministério."

Outro lado
Por meio de sua assessoria, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) informou que não vai se pronunciar sobre declarações captadas pela Polícia Federal por não ter tido acesso ao conteúdo dos diálogos. A Folha não conseguiu localizar o deputado Olavo Calheiros.
Geddel disse que não foi procurado nem pelo senador nem pelo deputado, mas afirmou que vai demitir Menescal. Disse que já tinha tomado a decisão, mas que ainda não tinha tido tempo de executá-la por estar há pouco tempo na pasta.
Rogério Menescal disse que é um técnico, com mestrado e doutorado na área de recursos hídricos. Disse que manteve contato com Adeilson e Denisson porque eram as pessoas com que tinha de tratar no governo de Alagoas sobre a obra. Falou que não conhece nem o senador Renan nem o deputado Olavo e afirmou que não pediu ajuda a ninguém para permanecer no cago. "Mas talvez tenha insinuado que temia ser retirado da função com a mudança de ministro", admitiu.
Folha

26.5.07

CONTRA O “ESTADO POLICIALESCO”

Uma cópia do inquérito 544-BA, referente à Operação Navalha, foi exibida hoje, da tribuna do Senado, pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio, que permaneceu na tribuna por mais de três horas, eletrizando o plenário. Recebeu apartes praticamente de todos os senadores que se encontravam na Casa. Ele disse que o documento chegou à sua casa anonimamente e, dado os seguidos vazamentos, a conta-gota, de informações nele contidas, não se sentia obrigado a respeitar o “segredo de Justiça”. O “segredo”, a seu ver, tornou-se seletivo, expondo alguns e protegendo outros. Virou instrumento político.

Assinalou o senador que do documento que lhe chegou às mãos, algumas páginas foram extraídas e, mais grave: trechos, com nomes, estão cobertos por tarja preta. Por exemplo, começa assim: “O segundo nome...” , porque o primeiro está coberto pela tarja preta. É verdade, observou, que a ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça, determinou que fossem retirados da peça elementos que não tivessem nada a ver com o objeto das investigações. “Mas, então – perguntou o líder tucano – o que esses nomes estavam fazendo lá?” O Congresso Nacional, frisou Arthur Virgílio, precisa dispor dessas informações. E pediu ao presidente do Senado, Renan Calheiros, que requisite a peça policial completa, pois a cópia que lhe chegou às mãos – além de falta de páginas e de tarjas pretas – está desfalcada de tomos inteiros.
“Precisamos saber – disse – o que essas tarjas pretas encobrem, se estão vazando nomes de desafetos e protegendo outros.” Ele quer saber se a Polícia Federal está disposta a cumprir a lei e a Constituição, a prender corruptos no País todo ou se a intenção é a de perseguir desafetos e proteger corruptos dentro do governo.

Criticou especialmente o vazamento do nome Gilmar Mendes, para parecer que se tratava do ministro, de mesmo nome, do Supremo Tribunal Federal, “quando sabiam perfeitamente que nada tinha a ver com ele”. O objetivo, a seu ver, foi o de atingir o ministro.
São ações, no seu entender, de uma polícia que se tem mostrado política. Afirmou não ser absolutamente contra a prisão e a punição de corruptos, mas condenou a “espetaculosidade” de certas ações, até por falta de coerência. Em alguns casos, os presos são algemados e a televisão acompanha as operações. Em outros não. Nenhum dos 40 indiciados no caso do “mensalão” apareceu de algemas. Nenhum dos “aloprados” do PT, apanhados com R$1,7 milhão, em São Paulo , também apareceu algemado. Nenhum está preso. Nem se sabe a origem daquela dinheirama.

Arthur Virgílio disse que em conversa com um professor e jurista amazonense, seu amigo, Félix Valois, este se mostrou preocupado com o risco de o País estar caminhando rumo a um “Estado policial”. “Não tolero nenhum Estado policial!”, afirmou o senador, acrescentando que lutou contra a ditadura militar e lutará contra qualquer tentativa de se impor restrições às liberdades democráticas. O líder tucano disse também que, em face desses desdobramentos do caso, é preciso ser criada uma CPI para apurar todos os fatos. “Se está faltando assinaturas, na Câmara (no Senado, foram completadas), para se criar CPI mista – assinalou – façamos a CPI no Senado. Vamos fazer uma CPI com escopo mais amplo! Vamos fazer a CPI das empreiteiras, para passar tudo a limpo, no Legislativo e no Executivo! Ou somos um Poder abastardado, que vive com o rabo entre as pernas?”
Arthur Virgílio disse que o Congresso Nacional precisa extinguir a Comissão de Orçamento, foco de tantos problemas. O projeto do Orçamento da União passaria a ser examinado pelas Comissões técnicas das duas Casas. O PSDB, informou, apresentará proposta com esse objetivo, a partir de idéia defendida pelo senador tucano Sérgio Guerra (PE).

O COLAPSO DA AUTORIDADE

Com as labaredas do incêndio da Operação Navalha chamuscando o plenário e a fumaça escurecendo os corredores e gabinetes, a tremedeira da paúra despertou os poucos parlamentares que se preocupam com a crise moral que devasta o Legislativo e para a urgência de medidas para evitar o pior.

Mas ou à imaginação entorpecida pelo estresse dos últimos dias não acudiram idéias novas ou a explicação que salta aos olhos ilumina a evidência de que o desgaste da atividade política, desprezada pela virtual unanimidade da população, espertou a dormência dos privilegiados com um dos melhores empregos do mundo.

A excitação de senadores e deputados encontrou alívio na troca de angústias de reuniões e nas declarações aos repórteres de plantão. No Senado, meia dúzia de ministros e governadores valorizaram o bate-papo a portas fechadas. Do que transpirou dos segredos de Estado, a mesinha mágica para salvar o doente é a reforma política, velha e cansada de esperar. A receita é a mesma: financiamento público das campanhas, para que o povo pague a conta da eleição de suas excelências, fechando-se o ralo do caixa 2, do mensalão e da generosidade da Gautama. Junte-se a fidelidade partidária para acabar com o balcão da troca de legendas e o polêmico voto em lista para espantar de vez o eleitor, proibido de votar no candidato da sua preferência.

Céus! Se os congressistas não querem mirar-se no espelho e olhar em torno, basta ler os jornais, assistir aos noticiários das redes de TV, prestar atenção nas conversas de rua, nos transportes coletivos: o colapso da autoridade infla na desmoralização do Legislativo e enfuna-se na passividade do governo.

A paciência do povo, a sua indignação com a roubalheira impune, a sua decepção com a comédia das denúncias de novas trapaças, apuradas pela Polícia Federal, pela Promotoria Pública, pelas CPIs e que não deram em nada, gritam a advertência da urgência de uma reação para valer.

Como o Congresso quer ser levado a sério se não se dá ao respeito? O Conselho de Ética da Câmara - na verdade o Conselho Antiética - anistiou todos os deputados processados por crime de corrupção no mandato anterior e reeleitos com o pretexto de um cinismo alvar de que foram anistiados pelas urnas. O responsável é o eleitor.

Na mesma toada dos vândalos que invadiram e depredaram o Congresso e estão impunes, as centenas de militantes do MST, do Movimento dos Atingidos por Barragens e da Via Campesina ocuparam a Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, invadiram a sala de controle e a casa de força, ameaçaram incendiar as instalações. O governo enviou tropa para restabelecer a ordem. Com o recado presidencial de que examinará as pretensões dos manifestantes na mesa de negociação.

Milhares de manifestantes do MST bloquearam sete rodovias federais, em Pernambuco, com barreiras de pneus incendiados e provocaram engarrafamentos de mais de três horas na BR-408, a 22 quilômetros de Recife.

No Rio, os sem-terra fecharam por duas horas a BR-393, no Sul Fluminense, e as rodovias federais BR- 101 e BR-356, no Norte do Estado do Rio, e foram dispersos pela tropa policial.

Greves em cascata: na Polícia Federal, com a volta das filas nos aeroportos; dos professores da Universidade de São Paulo, em solidariedade ao protesto dos estudantes e funcionários. Apenas o flagrante do dia.

O Congresso atolado em mais um escândalo; o Poder Judiciário arrastando-se no passo lerdo das leis caducas e o Executivo apostando as fichas da popularidade na demagogia, nos índices estatísticos e na parolagem presidencial compõem o quadro de tintas fortes da falência da autoridade.

Villas-Bôas Corrêa (JB)