31.8.06

As ilusões do programa petista

O programa para um eventual segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva padece dos piores males que a política brasileira costuma exibir: compromissos vagos, promessas irrealizáveis, ataques gratuitos aos adversários, desprezo aos próprios equívocos e fuga calculada das principais questões que atormentam a economia. O Brasil já conhece este enredo. Mas não está cego de tanto vê-lo.

Os redatores do programa de governo do PT, divulgado segunda-feira, recorreram à mesma esperteza de 2002. Num mesmo texto, conseguem a proeza de combinar discursos dissonantes destinados a múltiplas platéias. Trata-se do resultado mais evidente de uma conjunção de fatores tipicamente petista: a fragmentação do partido, somada aos desencantos promovidos desde o desembarque no Palácio do Planalto, em janeiro de 2003.

Com a habitual superficialidade e distância da realidade, documentos eleitorais do gênero não costumam ser muito levados a sério. Mas, como fundamenta a disposição do presidente Lula de manter-se no poder nos próximos quatro anos, o texto sugere debates relevantes. O mais grave é a contradição de suas premissas econômicas e fiscais. Se reeleito, Lula manterá um superávit primário de 4,25% do Produto Interno Bruto. Simultaneamente, descarta a redução das despesas permanentes do governo e promete expandir os investimentos públicos e, em particular, os programas sociais.

Tal conta só fecha em aritméticas ilusórias, para as quais o PT parece especialmente vocacionado. Com a contradição, compreende-se por que o programa ignora a possibilidade de uma nova reforma da Previdência e despreza qualquer compromisso com a reforma tributária. Os redatores aspiram ainda "reconstruir a capacidade de gestão, indução e coordenação do Estado", mas não se preocupam em citar as margens para redução de juros e impostos, com o crescimento acelerado sugerido pelo texto.

É risível para um país que atingiu a marca recorde de carga tributária - 37,5% do PIB - saber que o presidente deseja alcançar um "padrão de financiamento não baseado no endividamento público ou em pesada carga tributária". Significa contentar-se com a mediocridade esperar que "programas seletivos de desoneração tributária" permitam ao setor produtivo brasileiro alcançar vôos mais notáveis.

Não há indicadores de mudança na carta de intenções do presidente-candidato. Mas o documento apresenta alguns pontos positivos. Poucos, convém ressaltar. Já é um avanço, por exemplo, evitar metas numéricas muito ambiciosas. O programa sublinha ainda um bem-vindo compromisso com a inclusão social e com a reforma política - temas especialmente caros ao eleitor.

Mesmo os méritos, contudo, acabam turvados pelos equívocos petistas. O PT recorre, por exemplo, à prática de empurrar a responsabilidade da mais séria crise ética e moral que abateu o país desde o impeachment de Collor. Ignora o mensalão. Não explica como fará para corrigir as trilhas que levam à corrupção. Insiste na tese de que Lula recebeu uma herança maldita do governo anterior e adere à fantasia presidencial, segundo a qual a história do Brasil recomeçou com a chegada de Lula ao Palácio do Planalto.

A bem-vinda continuidade de projetos governamentais, ressalte-se, não precisa conduzir os partidos abrigados no poder a sugerir programas anódinos. O presidente eleito, seja petista ou tucano, terá de comandar uma agenda de reformas, sem as quais o próximo governo se reduzirá ao marasmo. O desafio implicará projetos convergentes e viáveis no Congresso. Que Lula se prepare para a tarefa - algo que seus redatores não fizeram.
Editorial JB

Petrobras superfaturou contrato com GDK

Petrobras superfaturou contrato com GDK, diz TCU.

Tribunal ordena que estatal suspenda repasse de US$ 5,3 milhões a empreiteira.

Empresa que teve supostos benefícios irregulares em contratos com estatal deu um Land Rover a Silvio Pereira, ex-dirigente do PT.

O TCU (Tribunal de Contas da União) determinou ontem à Petrobras a suspensão do pagamento de pelo menos US$ 5,3 milhões (mais de R$ 11 milhões, no câmbio de ontem) à GDK, empreiteira baiana que deu um jeep Land Rover ao ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira.
O valor representa uma parcela do maior contrato fechado pela GDK com a estatal no governo Lula, no valor de US$ 88,1 milhões (cerca de R$ 188,5 milhões), para a adaptação da plataforma de petróleo P-34 ao campo de Jubarte, no Espírito Santo. Após sucessivos atrasos, a plataforma deve ficar pronta no final do mês, diz a Petrobras.
Segundo o TCU, os pagamentos suspensos referem-se a supostos superfaturamentos ou irregularidades no contrato.
A Petrobras informou ontem que vai seguir a determinação do tribunal, mas avalia que novos esclarecimentos a serem encaminhados ao tribunal permitirão a liberação dos pagamentos à GDK. O diretor da área de serviços da estatal, Renato Duque, que ontem respondia pela presidência da empresa, nega que a Petrobras tenha tido prejuízo no negócio e disse que a estatal recorrerá da multa de R$ 10 mil aplicada a quatro funcionários responsáveis pelo contrato. A decisão do TCU não prevê mais recursos.
Segundo a equipe de auditoria do TCU, haveria indícios de superfaturamento no contrato com a GDK em mais de US$ 14 milhões. "Não bastasse isso, a equipe também aponta que as irregularidades no gerenciamento e fiscalização do contrato também teriam gerado pagamentos indevidos da ordem de US$ 2,9 milhões, evidenciando, ainda, potenciais prejuízos a Petrobras", diz o texto votado ontem no plenário do TCU.
A GDK já prestava serviços à Petrobras no governo Fernando Henrique Cardoso. Com a posse de Lula, os negócios entre a empreiteira e a estatal registraram queda, recuperada a seguir, supostamente com o apoio dos petistas Sílvio Pereira e Jaques Wagner, dizia relatório preliminar de auditoria enviado à CPI dos Correios.
Sílvio Pereira foi denunciado pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, como um dos 40 integrantes da "quadrilha" destinada a garantir a permanência do PT no poder.
Folha

30.8.06

Lula, o Bêbado!!!

Livro mostra presidente xingando Kirchner, após beber três doses de uísque

O "Lulinha paz e amor", essa hábil construção do marketing político, desaparece entre a terceira e a quarta dose de uísque e se transforma em uma catarata de palavrões e ofensas a presidentes e países supostamente aliados.
É o que contam Eduardo Scolese e Leonencio Nossa, que cobrem o Palácio do Planalto para, respectivamente, a Folha e "O Estado de S. Paulo", no livro "Viagens com o Presidente - Dois Repórteres no Encalço de Lula do Planalto ao Exterior".
Scolese e Nossa relatam jantar na embaixada do Brasil em Tóquio, no final de maio de 2005, presentes cerca de 20 pessoas, todos brasileiros, no qual, após beber três doses de uísque e com a quarta ao meio, o presidente diz coisas como:
"Tem horas, meus caros, que eu tenho vontade de mandar o Kirchner para a puta que o pariu".
"Aquele lá [referindo-se a Jorge Battle, então presidente do Uruguai] não é uruguaio porra nenhuma. Aquele lá foi criado nos Estados Unidos. É filhote dos americanos."
"O Chile é uma merda. O Chile é uma piada. Eles fazem os acordos lá deles com os americanos. Querem mais é que a gente se foda por aqui. Eles estão cagando para nós."
Sobrou também para os fazendeiros: "Tem que acabar com essa porra de fazendeiros que toda hora vem pedir dinheiro ao governo".
O discurso, se é que pode se dizer assim, de Lula em Tóquio se deu no exato momento em que fracassavam os esforços do governo para impedir a CPI dos Correios, aquela que acabou expondo o mensalão e levou o presidente a dizer-se traído, sem no entanto apontar os traidores.
O livro de Scolese e Nossa, que acompanham o dia-a-dia palaciano há dois e três anos, respectivamente, relata uma brincadeira dos repórteres: perguntar, nas poucas vezes em que podiam se aproximar do presidente, quem era o traidor.
"Viagens com o Presidente" tem o grande mérito de tratar Lula -e, de quebra, uma porção de ministros e assessores- como pessoa física, ao contrário do que ocorre, habitualmente, no noticiário a respeito das atividades presidenciais.
O presidente (qualquer que seja) é apresentado apenas como a pessoa que faz discursos, assina atos, inaugura obras, reúne-se com seus pares e assim por diante. Dá a impressão de que não come, não bebe, não faz pipi, sexo ou qualquer outra atividade inerente ao ser humano.
Já na sua segunda página (fora os agradecimentos, o sumário e a apresentação), os dois repórteres contam, por exemplo, o primeiro diálogo entre Lula e Fernando Henrique Cardoso, no dia seguinte à vitória do petista em 2002.
Lula: "Fernando, como você faz para dar uma escapadinha?"
FHC: "É impossível, Lula...impossível...Aqui tem ajudante-de-ordens para todos os lados".
O Lula-pessoa-física que emerge do livro tem pouco ou nada a ver com o "paz e amor" do marketing. Ironiza auxiliares, pode ser bastante ríspido com eles e usa palavrões com uma freqüência fora do comum. Os auxiliares parecem não se incomodar. Ao contrário: "Ouvir um palavrão [do presidente] pode significar status" perante Lula, contam os dois repórteres.
O livro não é nem pretende ser um retrato acabado de Lula. Até porque as conhecidas dificuldades de acesso ao presidente permeiam boa parte das páginas. Mas mostra, sim, bastidores do funcionamento da Presidência que, no cotidiano do jornalismo, acabam sendo, na melhor das hipóteses, pé de página nos jornais.
Folha

Delúbio desviou R$ 15 mi da Saúde

Delúbio desviou R$ 15 mi da Saúde, sugerem grampos.

Relatório da PF diz que ex-tesoureiro e ex-ministro Humberto Costa lideravam esquemas


Investigações sobre fraudes em licitações indicam que irregularidades ocorriam também no governo de Fernando Henrique Cardoso

Relatório da Polícia Federal sobre a Operação Vampiro afirma que o esquema de fraudes a licitações instalado no Ministério da Saúde era comandado por dois grandes grupos: um ligado ao ex-ministro Humberto Costa e outro ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Encaminhado ao Ministério Público no dia 15 de agosto, o relatório reproduz trechos de conversas telefônicas, gravadas com autorização judicial, sugerindo que o grupo de Delúbio "efetivamente alcançou, aproximadamente, R$ 15 milhões com o esquema".
Numa das gravações, afirma o relatório, os lobistas Eduardo Passos Pedrosa e Laerte de Arruda Correa fazem comentários, em fevereiro de 2004, sobre "a prestação de contas de valores arrecadados junto às empresas licitantes por intermédio de lobistas consorciados". Laerte e Pedrosa estão entre os 17 empresários e servidores que foram presos pela PF em maio de 2004, como resultado da Operação Vampiro, que investigou denúncias de fraudes em licitação para compra de hemoderivados -medicamentos para hemofílicos- no Ministério da Saúde. Na época, a investigação foi feita a pedido do próprio ministério, depois de receber uma denúncia de uma empresa do setor.
Entre os 130 depoimentos colhidos pela PF, há várias referências sobre as relações entre o lobista Laerte e Delúbio. Para o também lobista Francisco Danúbio Honorato, outro dos presos na Operação Vampiro, Laerte teria autorização do ex-tesoureiro para arrecadar recursos para os petistas na campanha presidencial de 2002.
O relatório da PF cita uma carta, apreendida pelo órgão na casa de Luiz Cláudio Gomes da Silva, ex-coordenador de Logística do ministério, nomeado por Costa. Nela, um empresário de Brasília "faz reclamação de extorsão praticada pelos lobistas Francisco Danúbio Honorato e Pedro Henrique [Macedo, também indiciados], que solicitaram 10% do faturamento do contrato para uma espécie de fundo para pagar dívidas de campanha do PT ou do atual ministro da Saúde, Humberto Costa." Na carta, segundo o relatório da PF, o empresário diz que sofreu ameaças de represálias caso não pagasse a propina.
Costa e Delúbio estão entre as 42 pessoas indiciadas pela PF sob acusação de praticar fraude a licitações, crimes contra a ordem econômica, corrupção ativa e passiva, violação de sigilo funcional, tráfico de influência e formação de quadrilha, entre outros delitos, no âmbito da Saúde.
O relatório registra que as fraudes não se limitaram ao governo petista, apontando também na lista de indiciados os empresários Platão Fischer Puhler e Edilamar Gonçalves, ex-funcionários do Ministério da Saúde durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Ele era diretor do Departamento de Programas Estratégicos em Saúde. Ela, coordenadora-geral de Gestão de Programas da Secretaria Executiva do órgão.
Para a PF, tais atribuições lhes permitiam "direcionar os procedimentos de compra, beneficiando as empresas associadas ao grupo". Depois de deixar o ministério, teriam prestado consultoria a empresas, "visando a subsidiar a manutenção do plano [de irregularidades] montado".
Em depoimento à PF, Edilamar afirmou que, em viagem à Alemanha para visitar a fábrica da Octapharma, ela e Platão "ouviram de Paulo Lalanda [funcionário da empresa] que Delúbio ou um emissário do governo haviam visitado a empresa para negociar fornecimentos de produtos no Brasil".
Na ocasião, o grupo dava os passos finais, segundo a PF, para obter comissão ilegal sobre uma compra de medicamentos de R$ 15 milhões pelo Ministério da Saúde, da empresa Novo Nordisk. Ainda com base nas escutas, teria havido o seguinte parcelamento da propina:
1) 10% de comissão sobre o valor bruto da compra ficaria para os lobistas Laerte e Lourenço Rommel;
2) Outros 6%, calculados sobre o valor do negócio descontado o ICMS, seriam divididos para o restante da organização -cerca de R$ 724 mil.
3) Uma parcela de R$ 120 mil "foi repassada ao grupo ligado ao tesoureiro do Partido dos Trabalhadores".
A PF monitorou a chegada do dinheiro a Brasília, em 22 de janeiro de 2004. No mesmo dia, ainda com base no relatório policial, a parcela de R$ 120 mil "foi entregue no endereço comercial de Laerte", um apartamento no bairro da Asa Sul, na capital federal.
E-mail apreendido pela PF na sede da Novo Nordisk confirma os percentuais de 10% e de 6% destinados a pagar comissão ao grupo.
Folha

29.8.06

Site de Lula infla promessa para Rodoanel

Site de Lula infla promessa para Rodoanel

Texto na internet diz que governo começou a liberar R$ 1,16 bilhão para trecho sul, mas Orçamento prevê R$ 33,9 milhões


Ministério e Dersa divulgam valores diferentes para obra em São Paulo, que recebeu comprometimento público federal de R$ 700 milhões

O site da candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à reeleição inflou os investimentos prometidos por sua gestão às obras do Rodoanel, projeto viário que pretende interligar as principais rodovias que passam por São Paulo.
Um texto disponibilizado na internet a partir de 4 de agosto na página do petista faz propaganda dos investimentos do governo federal no Estado, dizendo que "já começa a ser liberado R$ 1,16 bilhão para as obras do trecho sul do Rodoanel".
O valor é 65% superior aos R$ 700 milhões que foram comprometidos publicamente pelo governo Lula a essa etapa da construção -em cinco parcelas anuais de R$ 140 milhões.
Mesmo essa verba prometida ainda não foi liberada. Há no Orçamento deste ano só R$ 33,9 milhões para a obra.
O texto do site de Lula foi modificado na semana passada, depois de a Folha ter questionado a assessoria do candidato. A expressão "já começa a ser liberado" foi substituída por "as obras [...] receberão R$ 1,16 bilhão nos próximos anos", com a ressalva de que a verba deste ano é de só R$ 33,9 milhões.
O total de R$ 1,16 bilhão, porém, segue errado, segundo informações tanto da Dersa, empresa do governo estadual que cuida da obra, como do próprio Ministério dos Transportes.
O trecho sul do Rodoanel, com 61 km, vai ligar a rodovia Régis Bittencourt ao ABC paulista, passando pela Anchieta e Imigrantes, para onde vão os caminhões que se dirigem ao porto de Santos, no litoral sul.
No total, desde que assumiu, Lula repassou ao Rodoanel R$ 34 milhões -R$ 8,75 milhões para a alça sul (0,34% da previsão da obra) e R$ 25,28 milhões para a oeste (1,8% do total).
O contrato da obra foi firmado pelo valor de R$ 2,58 bilhões, mas ela depende ainda de uma licença de instalação, para a qual falta um aval do Ibama, órgão federal. Mas há gastos com projetos e licenciamento. A Dersa afirma que já desembolsou R$ 64 milhões.
O Ministério dos Transportes chegou a confirmar a promessa de apenas R$ 700 milhões. Mas depois disse que a alça sul do Rodoanel teria um custo total de R$ 2,75 bilhões, dos quais R$ 915,5 milhões seriam repassados pela União. A Dersa nega a veracidades dos valores. A assessoria da campanha de Lula diz que as informações do site foram recebidas de integrantes do ministério.
Folha

Nossa morte anunciada

Os laboratórios de idiotia instalados em algum rincão do Palácio do Planalto acabam de produzir a mais recente tolice: um anteprojeto de "democratização" dos meios de comunicação.
Nem vou comentar o espírito da coisa, que é o de fabricar uma imprensa "complacente", nos termos expostos dias atrás pelo presidente da República.
O problema principal é de outra natureza: revela desinformação colossal do jornalismo "chapa-branca" que gravita em torno do lulo-petismo e dos "comunicólogos" a serviço do governo. A democratização da informação, verdadeira, já se deu, via internet.
Hoje, há uma miríade de fontes de informação e análise à disposição de quem tenha acesso à rede mundial de computação, que, não demora, será tão ou mais universal que a TV, até no Brasil.
A mídia impressa, que é o que verdadeiramente incomoda governos, não precisa ser "democratizada", porque é espécie em via de extinção, conforme matéria de capa do número mais recente da revista britânica "The Economist" ("Quem matou o jornal?").
Tem até data para acabar, segundo um certo Philip Meyer: o ano de 2043. Fico feliz, porque é o ano em que eu completaria 100 anos. Morrerei antes do jornal, portanto. O problema dos meios de comunicação é saber se são um bem público que interessa preservar e, em caso positivo, como fazê-lo (sem subsídios governamentais, ao contrário do que prevê a mais recente estupidez palaciana).
A "Economist" reproduz frase de Arthur Miller, segundo quem "um bom jornal é a uma nação falando a si mesma".
Se é isso mesmo -e aqui há vasto espaço para polêmica-, vale conservar os bons jornais ou, então, dar um jeito para que o jornalismo eletrônico exerça idêntico papel. Essa é a verdadeira tarefa para os democratas.
Clovis Rossi - crossi@uol.com.br

Lula diz que ainda é "vermelho" e associa crise a "jogo real da política"

"Se tem alguém que não precisa de estrela no peito para dizer que é petista sou eu", afirma presidente.

Intelectuais convidados pelo PT para debater idéias para um possível segundo governo eximiram Lula de participação no escândalo.

Após ouvir a lamentação de intelectuais sobre a crise ética do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu ontem à noite sua relação com o Congresso Nacional, marcada pelo escândalo do mensalão, ao "jogo real da política".

"Política a gente faz com que a gente tem. Não com o que a gente quer", disse, justificando:"Maioria a gente constrói pelo o que a gente tem ao nosso lado. Não pelo que a gente pensa que tem. Esse é o jogo real da política que precisou ser feito em quatro anos para que chegássemos a uma situação altamente confortável".
Uma semana depois de artistas ligados ao PT minimizarem a importância da ética na política - sob a alegação de que é preciso "meter a mão na merda" para governar - Lula disse, num encontro com intelectuais, que só concordou com uma "transição pacífica" em 2003 porque não achava correto "futucar o passado" e depois não conseguir "governar o Brasil porque a correlação de forças não era favorável".
Sem querer discutir a essência do mensalão, o presidente admitiu que o governo ficou imobilizado pela crise.

"Não vamos discutir se era verdade ou mentira, mas era uma crise que truncou praticamente todo o ano de 2005 e uma boa parcela de 2006. Por que sobrevivemos e como sobrevivemos?", questionou ele, creditando seu desempenho ao fato de os pobres se sentirem representados por ele.

No evento, realizado pelo PT num hotel de São Paulo, Lula negou que, após os escândalos de corrupção, esteja se distanciando da sigla. "Dizem que o vermelho está sumido. O vermelho sou eu. Se tem uma pessoa que não precisa de estrela no peito para dizer que é petista sou eu", afirmou.

Lula disse que o "PT pagou o preço". Citando siglas de esquerda da Europa, afirmou que "só não pagou quem não chegou ao poder".

O PT reuniu cerca de cem intelectuais, alguns dizendo-se convidados pelo cerimonial da Presidência. Embora dissessem que Em defesa de Lula, alguns disseram considerar que a figura do presidente paira acima dos escândalos.
"É possível que no governo dele pessoas tenham feito coisas que o envergonham, mas acredito que ele não sabia. Conheço Lula e sei que é um homem honrado", declarou o escritor Ariano Suassuna.

Ele contou que não acompanhou a repercussão das declarações do ator Paulo Betti, que disse que "não se faz política sem sujar as mãos", e do músico Wagner Tiso, que afirmou não se preocupar "com a ética do PT ou com qualquer tipo de ética". "Não vi, mas não concordo. Acho que política tem a ver com a ética, claro. Sei que a política é a arte do possível. Mas passar do limite da ética, não. E acho que ele [Lula] nunca passou."

Leonel Itaussu de Almeida Mello, professor de ciência política da USP, também saiu em defesa de Lula. "Escândalos são coisas passageiras. Não são ligados às pessoas, mas às instituições. O presidente Lula é um político ético por excelência. Ele é maior do que o partido."
Folha

28.8.06

Mais uma do MEC

Bolsa do MEC beneficia 237 cursos ruins.
Governo concede bolsas de estudo a alunos carentes de 48% das instituições privadas que obtiveram as piores notas no Enade


Para especialistas, ministério da Educação deveria analisar a qualidade do ensino antes de permitir a adesão ao Prouni

O Programa Universidade para Todos, uma das bandeiras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha à reeleição, oferece bolsas de estudo a alunos carentes em 237 cursos de ensino superior que tiveram os piores conceitos em avaliação nos últimos dois anos.
Eles representam 48% dos 492 cursos de instituições privadas com as notas mais baixas -1 e 2- no Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) de 2004 e 2005. Também foram os que menos agregaram conhecimento aos alunos nos anos da graduação -índice chamado de IDD.
A partir dos resultados do Enade divulgados neste mês, a Folha fez um cruzamento com as instituições que aderiram ao Prouni, como é chamado o programa de bolsas.
Pela lei do Prouni, os cursos com baixo rendimento só poderão ser fechados se tiverem três desempenhos insatisfatórios no Sinaes, sistema de avaliação do ensino superior do qual o Enade faz parte e que conta também com visita de comissões às universidades. A primeira "rodada" do Sinaes se completa só no ano que vem, quando as avaliações de cursos e instituições ficam prontas.
Enquanto isso, as instituições vão usufruir de isenção de tributos fiscais, que é a contrapartida pela concessão de bolsas. Em 2005, o primeiro ano do programa, o governo deixou de arrecadar R$ 105,6 milhões e beneficiou 112.275 alunos com renda mensal per capita de até três salários mínimos (total da renda familiar dividida pelo número de integrantes) em 1.142 instituições.
O número de vagas do Prouni é quase o mesmo que o oferecido pelos vestibulares de todas as universidades federais do país -cerca de 120 mil ao ano.

Controle
Para especialistas e representantes dos estudantes, o governo federal deveria analisar a qualidade do curso antes de permitir a adesão ao Prouni. "Faltou o governo debater mais a qualidade das instituições", diz Romualdo Portela, professor de políticas públicas da Faculdade de Educação da USP.
Para Portela, dar benefício a um curso com baixa qualidade é desperdício de dinheiro. "Esse recurso poderia ser destinado às instituições públicas."
Avaliação parecida tem João Cardoso Palma Filho, professor livre-docente pela Unesp em políticas educacionais. "O projeto tem seu mérito, que é atender os alunos de baixa renda. Mas o governo não se preocupou muito com a qualidade."
"O governo tem de ser rígido, há alunos sendo vítimas de propaganda enganosa", critica o presidente da UNE, Gustavo Petta. "O estudante cria uma expectativa para entrar na universidade e depois vê que o curso não tem qualidade."
Já o coordenador do Movimento dos Sem Universidade, Sérgio Custódio, cobra a atuação do Conselho Nacional de Acompanhamento e Controle Social do Prouni, criado em janeiro e que até agora só teve três reuniões. "Sem o acompanhamento da sociedade civil, problemas como a falta de qualidade nos cursos seguirão."

Bons
O ministro da Educação, Fernando Haddad, diz que o governo adotou uma série de medidas para melhorar a qualidade não só dos cursos do Prouni como de todo o ensino superior.
Se de um lado há 237 cursos com notas baixas, o cruzamento feito pela Folha detectou que na outra ponta estão 196 cursos do Prouni que tiveram os conceitos mais altos -4 e 5- no Enade e no IDD. São 55% dos 358 particulares que atingiram essas notas nas avaliações de 2004 e 2005.
Nesses dois anos, já prestaram o Enade alunos de 7.695 cursos particulares e públicos.
Em cinco áreas -física, medicina, medicina veterinária, odontologia e terapia ocupacional- não houve cursos particulares ruins.
Folha

27.8.06

A quem Lula derrota? Visão petralha!!

Há quem diga que derrota a ''ética na política''. Se disseminou, como em nenhuma campanha de denúncias anteriores de corrupção, a imagem do mensalão pegada ao PT e ao governo. Os efeitos parecem ter se restringido a setores de classe média e especialmente dos estratos mais ricos da população. O efeito formador da opinião por parte da mídia parecia arrasador, mas quando o circuito de opinião pública se alargou, com o início da campanha eleitoral, a massa pobre da população desequilibrou, de forma extremada, a favor de Lula, que não apenas obtém dados que fazem esperar sua vitória no primeiro turno, como assentada em um impressionante caudal de votos populares, que se afirmam como sólido apoio para o presidente.

A campanha contra Lula não o derrotou, embora tenha provocado desgastes significativos na imagem do PT e tenha concentrado os votos do presidente em áreas populares que o partido tem dificuldades grandes em organizar e em transformar em votos petistas. Daí o destaque da liderança de Lula - ''populismo'', ''lulismo'', para as análises tradicionais e conservadoras - em contraste com o enfraquecimento do PT.

Pode-se dizer que Lula derrota, assim, a capacidade de formação de opinião pública por parte da grande mídia. O voto que pode reeleger Lula é sobretudo um voto social, pelo efeito de suas políticas sociais que, pela primeira vez na história do Brasil, fazem reverter - ainda que tenuamente - o ponteiro da desigualdade na direção da igualdade.

Mas pode-se também dizer que Lula derrota especialmente a elite tradicional brasileira. Suas políticas sociais não seguem as propostas históricas do PT de universalização de direitos, são políticas assistenciais. Porém, sua escala, nunca conhecida no Brasil, permite um processo de redistribuição de renda e de acesso a bens - de que da eletrificação rural é um exemplo claro - que dificilmente poderia ser reduzida a ''assistencialismo''.

Longe de ser uma política revolucionária, que reverta estruturalmente a desigualdade brasileira - para o que seria necessário, entre tantas outras iniciativas, uma política sólida de emprego - ela revela como os governos anteriores nem sequer isso fizeram. Todo o discurso ''social'' do governo FH, materializado no que se promoveram como as políticas levadas a cabo pela então primeira dama, Ruth Cardoso, durante oito anos, não impediram que o ex-presidente tenha ficado para a história e para a consciência popular como um governante dos ricos. O selo mais marcante do governo FH, do ponto de vista social, foi o da acentuação da concentração de renda, pela retração das responsabilidades estatais na área social, pelos processos de privatização e de precarização das relações de trabalho.

A eventual vitória de Lula - até mesmo no primeiro turno - se volta assim contra dois pilares do poder no mundo contemporâneo: o monopólio da palavra e o monopólio da riqueza. A consciência disso pode levar a um segundo governo com uma consciência social clara do projeto de que o Brasil precisa para superar o principal estigma herdado - a verdadeira ''herança maldita'': as desigualdades, as exclusões e as injustiças sociais. emir sader

E a Polícia Federal???

Exército não está preparado e tarefa é da Polícia Federal, diz general

Um insólito trânsito de carroças puxadas por mulas congestiona o leito do Rio Quaraí, a 590 quilômetros de Porto Alegre. As águas, correndo sobre o leito pedregoso, separam a cidade brasileira de Quaraí, com 23 mil habitantes, da uruguaia Artigas, com 36 mil. As carroças enfrentam a correnteza para levar e trazer contrabando, mercadorias proibidas que podem ser apreendidas por fiscais aduaneiros na Ponte da Concórdia. São bebidas, carnes, combustível, madeira e, eventualmente, armas e drogas.


Às vezes, 4 ou 5 carroças cruzam o rio ao mesmo tempo, 100 metros abaixo do prédio da Receita Federal, à vista dos agentes e, mais raramente, de policiais dos dois países que fiscalizam o trânsito sobre a ponte. "É pura hipocrisia. Enquanto eles tiram mercadorias das sacolas de donas de casa lá em cima, aqui embaixo passa de tudo", diz Marco Aurélio Goulart, que construiu uma casa sob a ponte. Os carroceiros cobram R$ 5 de frete e fazem, juntos, mais de 100 viagens por dia. O comando da Brigada Militar de Quaraí informou que a competência, na fronteira, é da Polícia Federal. No ano passado, a Brigada apreendeu espadas uruguaias que teriam passado pelo rio.

As carroças de Quaraí expõem a vulnerabilidade da fronteira no sul do País. O Uruguai não tem fábricas de armas, mas faz poucas restrições a seu comércio e ao de munições. A facilidade para transpor a fronteira tornou o país uma rota alternativa para a entrega de encomendas do crime organizado no Brasil, segundo o major Márcio Roberto Galdino, responsável pelo patrulhamento aéreo da Brigada Militar de Uruguaiana. "Os traficantes mudam a rota sempre que há repressão. Agora, em vez de entrar por Mato Grosso do Sul, seguem pela Argentina até o Uruguai e entram pelo Rio Grande do Sul, entre Livramento e Bagé."

A fronteira sul tem 720 quilômetros, mais de 500 sem obstáculos geográficos e quase toda sem nenhuma fiscalização. O tráfico "pesado" de armas e drogas, segundo Galdino, pode entrar por terra ou pelo ar. Muitas fazendas da região têm pistas de pouso para aviões. O único radar, em Santa Maria, não pega naves em vôo baixo. A linha internacional passa dentro das fazendas e divide cidades.

Em Santana do Livramento, a 504 quilômetros de Porto Alegre, os 90.849 brasileiros têm forte convivência com os 63.365 uruguaios de Rivera. As duas cidades compõem um só núcleo urbano. No centro, a linha internacional, uma grande avenida com marcos de cimento no canteiro central, fica congestionada de veículos e pedestres dos dois países. Rivera é uma zona franca, tem cassino e recebe sacoleiros de vários Estados. Na periferia, a fronteira divide quadras urbanizadas e confunde até moradores locais. "Fica difícil saber em que país se está", diz Jonas Burim, que se desloca a cavalo pela periferia.

A poucas quadras da linha internacional, nas lojas de armas uruguaias, não faltam clientes brasileiros. "Vendemos principalmente armas de caça", diz Roberto Fernandez Silva, da Guns&Ammo. "Arma para brasileiro é proibido, munição pode-se comprar à vontade." Alerta, porém, que portar munição é crime no lado brasileiro. "Se a polícia te pega, é teu problema."

No Gaúcho Free Shop, o funcionário que se identificou como Rogério vendeu três caixas de munição calibre 12 mm e 9 mm para dois brasileiros. "Tu escondes bem que passa", recomendou a um dos compradores. O pacote foi colocado numa bolsa de couro. Os dois homens entraram num Corolla com placas de Videira (SC) e passaram para o Brasil, sem problemas.

No lado brasileiro, é fácil conseguir uma arma: um guardador de carros ofereceu-se para intermediar a compra de uma pistola 7.65, seminova e municiada por R$ 700. O delegado-chefe da PF, Luiz Eduardo Telles Pereira, diz que é difícil controlar a entrada de armas pequenas - revólveres e pistolas. "Mas estamos em cima", afirma. Na terça-feira, a PF apreendeu três espingardas calibre 22, um revólver 32 e munições no bairro Armour.

Ele se preocupa com o grande tráfico - drogas e armas pesadas. Há seis meses, um subtenente do Exército foi preso levando, num ônibus de linha, um fuzil AR-15 e um AK-47, de fabricação russa. "Nem nós podemos usar uma dessas."

"CARROS"

Foi Pereira quem ouviu, na semana passada, o comerciante Oscar Xavier de Fontoura Mulatieri, de Rivera, que teve gravadas conversas com o traficante José Roberto Tavares, acusado de abastecer quadrilhas na Grande São Paulo, e contrabandistas de armas: Alexandre Moraes da Silva, que seria responsável pela distribuição na capital paulista e Grande São Paulo, e Celso Cortez, que atenderia o litoral sul paulista e o Rio.

Desconfiados de que estavam sendo monitorados, os criminosos, segundo a PF, criaram um código no qual a arma virava modelo de carro. Pequenos "escorregões" durante as conversas deram à PF a certeza de se tratar de tráfico de armas. Ao encomendar "automóveis" Golf, BMW e Tempra 16 válvulas, Tavares se referiu a um Pálio com "pente". Em outro trecho, pergunta se o veículo tem "coronha de madeira". Chamado a depor na PF de Santana do Livramento, Mulatieri insistiu nos negócios com carros. Ele é dono de um clube de tiro em Rivera e tinha, até o início do ano, uma loja de armas.

Na terça-feira, a PF prendeu integrantes de quadrilha suspeita de fornecer drogas e armas para o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e facções criminosas do Rio. Os agentes apreenderam 16 quilos de pasta base de cocaína e 7 quilos de lidocaína. A droga teria sido encomendada pelo empresário Denílson Leseux, que foi preso. Segundo o delegado Ildo Gasparetto, da Delegacia de Combate ao Crime Organizado, o acusado faz parte de uma quadrilha que contrabandeia armas da Argentina e do Paraguai pela fronteira gaúcha. O bando abasteceria com fuzis assaltantes de carros-fortes.

SEM FISCALIZAÇÃO

O tráfico terrestre é facilitado pela ausência de fiscalização em pontos críticos, como a tríplice fronteira em Barra do Quaraí, a 720 quilômetros de Porto Alegre. A única fiscalização na ponte internacional, que liga Barra à uruguaia Bella Unión, é da Receita Federal - os dois agentes trabalham desarmados e só abordam caminhões. No lado uruguaio, os veículos que entram têm o porta-malas revistado, mas só durante o dia.

A ligação com Monte Caseros, na Argentina, é feita por balsa e a aduana só verifica cargas. O comerciante Ubirajara de Carvalho Londero diz que é intenso o contrabando de pneus, mais baratos no Uruguai, e combustíveis da Argentina. "Os fiscais uruguaios só revistam para pegar propina." O contrabando "mais grosso", segundo ele, é feito de barco - nas margens há dezenas de atracadouros improvisados. A cidade, minúscula, tem três postos de combustível, boa malha viária e nenhuma presença da polícia. "É tudo o que o traficante quer", diz Londero. Além de armas, ele conta que passam pelo rio pedras semipreciosas brasileiras, levadas "a rodo" para o Uruguai.

Em Uruguaiana, maior porto seco do País, a 650 quilômetros de Porto Alegre, o tráfego na ponte internacional é intenso e escapa de controle. A ponte sobre o Rio Uruguai liga a cidade a Paso de Los Libres, na Argentina, porta de entrada para o Mercosul. São pelo menos 500 caminhões de carga e cerca de 2.500 automóveis por dia.

A Receita vistoria as cargas por amostragem, parando apenas 5% das carretas. A polícia aduaneira argentina fiscaliza com excessivo rigor a entrada dos carros brasileiros - exige documentos originais do veículo e dos ocupantes e ainda cobra taxa de ingresso de R$ 4 por pessoa. Em Los Libres, pelo menos três lojas vendem armas de todo tipo, inclusive fuzis. O trânsito no sentido inverso, para Uruguaiana, não tem fiscalização. A cidade entrou na mira da CPI do Tráfico de Armas, que chegou a ouvir pessoas conhecidas no fim do ano passado.

Estadão

Ordens por telefone

Por telefone, filial recebe ordens do chefe preso em SP.

Nas áreas de fronteira, lei diz que militares têm poder de polícia.


Num simples telefonema da cidade de Pedro Juan Caballero para uma central telefônica, o integrante do PCC consulta seu "chefe", preso em São Paulo, sempre que necessário. As negociações são feitas sem passar pelas fronteiras. Dessa forma, sistematicamente planejam-se a compra e o tráfico de armas e drogas, a proteção de fugitivos e a lavagem de dinheiro nas casas de câmbio do Paraguai. A grave crise de segurança paulista tem, sim, um pé fincando a quilômetros de distância da capital e muito pouco tem sido feito para coibir essas ações.

A Polícia Federal é a principal responsável pela segurança das fronteiras, diz o artigo 144 da Constituição. Sabe muito sobre a movimentação das facções criminosas no lado paraguaio, age quando possível, mas confirma que só evita uma fração dos crimes transnacionais. "Duvido que se acabe com o crime nas fronteiras", admite o delegado Mauro Sposito, coordenador de Operações Especiais nas Fronteiras da Polícia Federal. "Os Estados Unidos têm 30 mil homens para vigiar 3 mil quilômetros com o México e mesmo assim eles não dão conta do recado."

O Exército poderia ajudar. Sua função essencial é garantir a soberania nacional, reza o artigo 142 da Carta. Qualquer mudança de rota, só sob ordens do presidente. A exceção é o artigo 17A da Lei Complementar 117 de 2004, que dá poderes de polícia aos militares nas áreas de fronteira. "A Lei 117 é autorizativa, está aí para ser usada, não preciso receber ordem de ninguém", diz o general Luiz Cesário da Silveira Filho, comandante Militar do Oeste. "Reúno a força de contingência e posso colaborar com as autoridades constituídas."

Se os militares podem atuar, por que não o fazem mais vezes?, questiona o juiz federal Odilon de Oliveira, com o gabarito de atuar há 15 anos no combate aos narcotraficantes da fronteira e ter condenado 114 deles. "Porque desmobilizaria a missão e descaracterizaria o Exército", explica o general Cesário. Segundo ele, o Comando Militar do Oeste, que protege uma extensão de 2.300 quilômetros de fronteira com o Paraguai e a Bolívia, tem atuado como força policial na medida certa com operações eventuais. O juiz Odilon contesta: "O Exército na fronteira não pode ficar aquartelado. Se houvesse barreiras fixas e volantes com soldados, os traficantes iriam se arriscar a passar?"

Por enquanto, o que ocorre marca a vida de pessoas como Marcos Dias de Barros, de 31 anos. Desempregado, aceitou ser mula para uma carga de 7 quilos de cocaína. Foi pego num posto da Polícia Rodoviária Federal, que não levou mais de 5 minutos para encontrar a droga escondida na lateral do carro. Estava com a mulher, os três filhos e o irmão. Acredita ter sido um "boi de piranha".

Enquanto o flagrante era feito, o que levou mais de duas horas, centenas de carros e caminhões circularam livremente pela rodovia. Iria receber R$ 1.500. Bem menos que os R$ 20 mil de outro caminhoneiro, que foi preso transportando 5,5 toneladas de maconha. Este último decidiu entregar os donos da carga e agora reza para ser transferido para bem longe dali.

Estadão

Lula e João Paulo

Na periferia, João Paulo exibe um Lula sem medo de ser companheiro

Comício de Osasco mostra filme de campanha em que presidente dá testemunho de admiração pelo deputado

"Eu já falei, vou repetir, é Lula lá, João Paulo aqui", brada a marchinha de campanha de João Paulo Cunha 1325 federal, a todo volume, na noite gelada do Jardim Conceição, periferia sul de Osasco, à beira da Rodovia Raposo Tavares, onde sua gente persegue há duas décadas o sonho dourado que são as escrituras e a posse definitiva dos terrenos e das casas que eles ergueram por essas ruas que sobem o morro.

Daqui a pouco João Paulo vai chegar - são 21 horas, quarta-feira -, para mais um Diálogo Cidadão, que tem jeito e formato de comício dos novos tempos, por ele criado para substituir o showmício agora sob veto da legislação eleitoral. Ao abrigo da tenda de plástico montada na Rua Nossa Senhora Aparecida, 150 militantes e moradores, muitos em roupas carcomidas e com os pés em chinelos de dedo, acomodam-se nas cadeirinhas brancas enfileiradas.

Os santinhos do candidato - João Paulo está bem na foto com Lula - correm de mão em mão enquanto são distribuídas cópias do Prestação de Contas, documento com dados sobre "propostas e realizações de um mandato popular e democrático". Todos cantam ao ritmo das duas caixas de som: "Eu já falei..."

Antes que João apareça, enfim, o jingle dá lugar a um filme e todos pregam os olhos na tela. O filme dura uns 7 ou 8 minutos e é revelador, porque ajuda a esclarecer o enigma do palanque do Pombal Santo Antônio, do outro lado da cidade, onde no domingo passado o presidente Lula fez comício para 6 mil e aparentemente deu as costas a João Paulo, em seus próprios domínios.

Ainda no palanque o presidente alertou sobre a importância de eleger uma bancada petista forte no Congresso, quando foi interrompido pela multidão que muito gritou por João Paulo. Lula esquivou-se e devolveu: "Se eu tivesse tanta gente gritando meu nome, já estaria eleito." Mas nem assim pronunciou o nome do ex-presidente da Câmara, talvez para não ter seu ligado a um personagem do mensalão.

João Paulo foi absolvido por seus pares, mas o Ministério Público Federal o denunciou formalmente à Justiça. Ele teria sacado R$ 50 mil do valerioduto, em setembro de 2003. O processo judicial está no início e o deputado terá oportunidade de se defender. A seus eleitores, explica que o Diretório Nacional do PT disponibilizou aquela quantia para contratar pesquisas de opinião relativas às eleições municipais de 2004.

O filme da campanha de João Paulo desmorona o faz-de-conta de Lula porque mostra que o presidente e o deputado continuam bons parceiros. São imagens da trajetória de João Paulo, desde a infância difícil até virar metalúrgico, ainda na adolescência, e depois vereador, deputado estadual e federal, e presidente da Câmara, em 2003, primeiro ano do governo Lula.

ELOQÜÊNCIA

É uma história comovente, apoiada em depoimentos, e o mais eloqüente deles da boca de quem? "Certamente a história saberá julgar o importante presidente da Câmara dos Deputados que você foi", declara o presidente Lula para, em seguida, cobrir de afagos o parlamentar. "Se tivesse um título de revelação política com certeza você o receberia, por seu comportamento e lisura, liderando a Câmara nos momentos mais difíceis."

A encenação de Lula no palanque do Pombal também cai por terra à medida que a campanha de João Paulo toma as ruas de Osasco e de outras 15 cidades ao redor - uma região que aloja 2 milhões de habitantes -, associando a imagem do presidente e a do deputado como velhos e bons companheiros, fundadores da agremiação, daqueles que não rezam a deslealdade.

É pujante a campanha de João, nas ruas desde julho com a Caminhada do Vermelho, que mobilizou 2 mil pessoas. Lideranças locais manifestaram seu apoio. Também deram o ar da graça Aloizio Mercadante, candidato do PT ao governo do Estado, Eduardo Suplicy, que busca a reeleição para o Senado, e o prefeito da cidade, Emídio de Souza (PT). Uma campanha digna de político com borderô que não sabe o que é o vermelho - a estimativa de valor máximo de gastos com ele chega a R$ 2,5 milhões, segundo declaração do PT ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

26.8.06

Dinheiro jogado fora

O Ministério da Educação (MEC) está a pleno vapor na campanha eleitoral. Enquanto Lula não vai a debates, com medo da democracia, a boca do ministro da Educação é transformada em megafone em tablado de comício. Foi anunciada por tal boca a soma de R$ 300 milhões para a ampliação do ensino superior da rede federal, em 2007. Quem não entende de educação pode acreditar que isso seja uma coisa boa para o País. Mas não é. Ao contrário, é dinheiro jogado fora.

As razões para esta minha afirmação são técnicas, mas aqui vou colocá-las de maneira simples.

A estratégia do governo atual é a de continuar seguindo uma lei absurda, que é a de gastar, no ensino superior, na ampliação e construção de universidades, e não de faculdades. Mais de dois terços do dinheiro anunciado não vão para o ensino e a pesquisa, como iria se o País optasse pela ampliação do ensino superior nos moldes em que faculta para a iniciativa privada, que é a ampliação por meio de cursos em faculdades, e não em universidades. O dinheiro vai para a construção de "elefantes brancos", que são gigantescas estruturas universitárias dispendiosas, as quais, uma vez instaladas, rapidamente se transformam e focos de greves, pois não podem ser mantidas de acordo com os seus projetos originais. Digo e repito: nenhum país que teve sucesso no seu modelo de ensino superior público optou por essa via brasileira. Ela é para país milionário. E estúpida.

Quando percorremos o mapa dos investimentos anunciados, percebemos claramente a velha idéia de construir algo no "nada", bem pertinho do "lugar nenhum". As ampliações e construções são feitas onde a infra-estrutura local não sustentará o que está sendo construído. E, mais do que isso, em locais que não poderão apresentar uma demanda cultural para o que está sendo feito. Dou um exemplo. O que ocorre em muitos lugares no Brasil é possível de ser analisado observando o fenômeno do Orkut. Às vezes, numa cidade pequena (no Estado de São Paulo!), muitos jovens estão se comunicando pela internet, no Orkut. Mas, quando se investiga com quem conversam, se percebe que 90% deles não saíram do círculo de amizades que, antes da internet, era formado na praça ou no barzinho da cidade. Ou seja, a falta de cultura básica e do inglês coloca esses jovens de volta a uma internet que não passa de um telefone local, nada além disso. Esse mesmo processo é o que ocorre nessas novas universidades de lugares sofridos, que já foram criadas. Nas que vão ser criadas, então, nem se fale! Há um número grande de universidades federais que já são provincianas por causa disso. O governo não se preocupa com elas. Deixa-as isoladas. Há reitores nessas universidades de periferia que são iletrados. O governo, no entanto, não quer saber disso, não faz nenhum investimento para resolver esses problemas. Mas dirige esforços para ampliar a rede e, portanto, ampliar as dificuldades. No limite, o que ele quer é satisfazer pequenas oligarquias locais, na busca da satisfação daqueles pedidos dos que irão trabalhar para a "base popular" de Lula.

A forma como o governo contrata o pessoal docente nesses "elefantes brancos" está falida. Trata-se do chamado Concurso Público de Provas e Títulos. Nome pomposo para uma "maracutaia" (lembram-se de como essa palavra veio a público?). Ora, sabemos que não haverá ensino de ponta nessas universidades, pois nas existentes, mesmo em grandes centros, isso já é difícil. Então, elas serão "universidades alfabetizadoras" - "colegiões". Qual a razão, portanto, de não se aplicar um concurso público geral para a contratação de professores, como o que é feito para o ingresso em outras carreiras públicas, como para o Banco do Brasil, por exemplo? (Nos Estados Unidos há um exame geral para os que fizeram mestrado poderem pleitear o doutorado.)

Se uma universidade precisa de um professor de Cálculo Integral, não serve um professor de Matemática? O professor de Matemática não sabe Cálculo Integral? Ah, mas há especificidades, não podemos contratar apenas clínicos gerais para a Medicina, não é mesmo? Mas isso não é uma objeção, pois um exame geral, básico, classificatório, eliminaria essa situação que temos hoje: vários "jovens doutores" completamente despreparados do ponto de vista do saber geral, mas que foram contratados por vícios de nepotismo, favoritismo político, amizades, ligações com o orientador, ligações como o sindicato ou mesmo com núcleos de poder tradicionais, etc. As denúncias são tantas a respeito desses concursos que não adianta mais ficar gritando, individualmente: "O meu foi sério!" Ninguém mais acredita nisso. E depois, uma vez vendo o professor atuando, acreditamos menos ainda. Então, o dinheiro investido pelo MEC teria de ser, antes, no sistema de seleção dos professores das universidades que já existem.

O resultado do Enade, já mostrado aqui, no Estadão, deixa claro que temos um sistema universitário falido, tanto público quanto privado (pois a iniciativa privada, quando cria universidades, imita o erro da pública!). O que faz o governo de Lula? Amplia o erro. Caminha na mesma direção do dispêndio de somas enormes de dinheiro e que até agora, como os exames indicam, não trouxeram benefício. Tudo indica que a estratégia de Lula no governo, ampliando a burocracia do serviço estatal por meio do ensino superior, é a mesma de Getúlio Vargas na criação de cargos públicos para alimentar a sua base eleitoral, então formada pelo PSD e pelo PTB. A diferença é que Vargas, com todo o seu populismo, ainda apostava nos partidos. Lula não aposta mais. Aposta só nisso que o seu ministro da Educação está fazendo, e que outros ministros deverão copiar.

É algo triste.

Paulo Ghiraldelli Jr. é filósofo

25.8.06

Ong de amigo

Governo pagou a ONG de amigo de Lula R$ 7,4 milhões.

Entidade firmou convênios com o Ministério do Trabalho para capacitar 4.000 jovens inexperientes em Guarulhos.

Organização é a 3ª entre as que mais receberam recursos do Programa Primeiro Emprego, que distribuiu R$ 122,5 milhões.


O Programa Primeiro Emprego, do Ministério do Trabalho, pagou R$ 7,4 milhões à ONG Oxigênio Desenvolvimento de Políticas Públicas e Sociais, que tem entre seus dirigentes o petista Francisco Dias Barbosa, o Chicão, ex-companheiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no sindicato dos metalúrgicos.
O valor coloca a entidade em terceiro lugar no ranking das organizações não-governamentais que mais receberam recursos públicos do programa, segundo pesquisa do site Contas Abertas. O Primeiro Emprego é uma das principais ações do governo para treinamento e capacitação de jovens sem experiência no mercado de trabalho. Até a última segunda, as ONGs haviam recebido um total de R$ 122,5 milhões.
Barbosa aparece como responsável pela Oxigênio na assinatura de dois convênios com o ministério, em dezembro de 2004 e novembro de 2005. Ele responde pela secretaria de finanças, mas nega que a entidade tenha sido favorecida em conseqüência das ligações com Lula, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, ou o PT.
De acordo com o ministério, a ONG foi escolhida como uma das entidades "âncoras" dos Consórcios Sociais da Juventude com base em critérios técnicos. Essas entidades são escolhidas sem licitação.
Os convênios previam o treinamento de 4.000 jovens em Guarulhos (SP). Dos primeiros 2.000, 1.182 teriam conseguido emprego com carteira assinada, segundo Martha Del Bello, presidente da ONG. Dos demais 2.000, só 203 obtiveram vagas no mercado de trabalho -um terço da meta fixada pelo Ministério do Trabalho.
A ONG também assinou convênio para a implantação de uma rede de recondicionamento de computadores por R$ 500 mil, ainda não liberados pelo governo. O site da Oxigênio mostra que a entidade tem entre suas parceiras empresas estatais -são citadas Infraero, Eletrobrás e Banco do Brasil.
Outra entidade dirigida por amigo de Lula, a Ágora, teve contrato rompido com o ministério por determinação do TCU (Tribunal de Contas da União), após serem constatadas irregularidades nos convênios. Na ocasião, a Ágora havia recebido R$ 7,5 milhões.
Folha

23.8.06

PCC + PT

Inquérito investiga se há ligação entre PCC e petistas.
Em conversa telefônica sobre os ataques de maio, presos afirmam que os alvos são "políticos, qualquer um, menos do PT".

Escutas foram feitas com autorização da Justiça; diretório estadual do partido em SP não quis se manifestar sobre o assunto

Com base em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, a polícia de São Paulo abriu inquérito para investigar se existe ligação entre presidiários do PCC (Primeiro Comando da Capital) e militantes do PT. A investigação foi motivada por um grampo telefônico feito na noite de 12 de maio deste ano -data do início da primeira onda de ataques do PCC- no qual presidiários foram flagrados ordenando os ataques. As gravações telefônicas, obtidas pela Folha, mostram diversas conversas entre dois presos -Magrelo e Moringa. Após manifestarem dúvidas sobre os alvos, Magrelo disse que ligou para outros membros do grupo criminoso e recebeu deles a seguinte ordem: "Prioridade: azul [agentes penitenciários], acima do azul, políticos, qualquer um, menos do PT, entendeu, irmão?" Em outro trecho, Magrelo deixa claro que o alvo preferencial seriam políticos do PSDB. "Civil, funcionários e diretores do partido P-S-D-B." As gravações foram feitas por uma autoridade da região oeste do Estado e entregues recentemente ao atual secretário da Administração Penitenciária, Antonio Ferreira Pinto, que, por sua vez, repassou ao da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho. Saulo, que foi nomeado para o cargo pelo hoje presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB), determinou que o chefe da Polícia Civil, Marco Antonio Desgualdo, investigasse as escutas. A Folha apurou que o governador Cláudio Lembo (PFL) foi avisado à época pelo então secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, sobre a ordem do PCC para atacar políticos tucanos, mas optou por não fazer alarde com a notícia. Deputados do PSDB foram, então, avisados por delegados, já na manhã de 13 de maio, sobre o grampo, e a segurança deles foi reforçada. Segundo o Ministério Público de São Paulo, Anderson de Jesus Parro, 29, o Moringa, é hoje um dos principais chefes do PCC e está no CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes (589 km de SP), onde vigora o RDD. RDD é um regime de isolamento no qual o preso fica 22 horas trancado, sem direito a TV, jornais ou visita íntima. O sistema foi criado pelo PSDB em 2001 e motivou manifesto do PCC transmitido pela Globo para libertar um repórter seqüestrado pela facção. A polícia acredita que Magrelo seja Rone Clayton Garcia, preso na cela 502 da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. Nos próximos dias, Moringa e Magrelo serão interrogados por policiais do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado).

Campanha política
Delegados e policiais do Denarc (departamento de narcóticos) dizem que o grampo com a ordem dos homens do PCC para "matar todos os políticos, menos os do PT" seria mantido em segredo até as vésperas das eleições de outubro. As gravações, ainda segundo esses policiais, serviriam como uma espécie de "carta na manga" para as candidaturas tucanas de Geraldo Alckmin (Presidência) e José Serra (Governo de SP). Seriam usadas pelo partido, de acordo com os policiais, no caso de as candidaturas sofrerem desgastes por conta da crise na segurança pública. O presidente do PSDB-SP, deputado Sidney Beraldo, disse, após ler parte das transcrições do grampo, que, por ele, "isso não será utilizado na campanha política" e que "seria uma irresponsabilidade acusar o PT de ligação com o PCC". Para Beraldo, os membros do grupo criminoso têm "simpatia" pelos petistas porque eles, quase sempre, estão à frente dos movimentos de defesa dos direitos humanos. Em depoimento à CPI do Tráfico de Armas, Furukawa, afastado da secretaria após os ataques do PCC, deu um cunho político aos ataques da facção. Disse ter obtido informações do serviço secreto da Secretaria da Segurança Pública de que as rebeliões e os ataques de maio feitos pelo PCC tinham o objetivo de prejudicar Alckmin. O presidente estadual do PT, Paulo Frateschi, foi procurado pela Folha no começo de julho -quando a reportagem recebeu as fitas- e novamente ontem -quando o jornal soube da abertura do inquérito, mas não comentou o assunto. Sua assessoria disse que ele só falaria se a reportagem respondesse a sete perguntas, entre elas, uma sobre a fonte da informação.
Folha

MST AMEAÇA

MST faz ameaça em resposta a prisão de líder.
Jaime Amorim tem habeas corpus negado pelo TJ e movimento diz que militância de PE está "em alerta"
A direção estadual do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em Pernambuco promete realizar manifestações em todo o Estado contra a decisão tomada ontem pela Justiça de manter a prisão do coordenador nacional do movimento Jaime Amorim.
De manhã, em nota, o MST exigiu a libertação de Amorim e fixou prazo "até o final do dia" para a soltura. À tarde, o pedido de habeas corpus foi negado pelo desembargador do Tribunal de Justiça do Estado Gustavo Augusto Lima. A decisão revoltou o movimento. "Toda a militância do MST em Pernambuco está, desde já, em alerta", ameaçaram, na nota, os sem-terra.
No fim da tarde, os líderes estaduais se reuniram para definir estratégias. A Folha apurou que, entre as mobilizações em estudo, estava um protesto simultâneo nas 14 regionais do MST estadual. Ações rápidas, como bloqueios de rodovias, tinham preferência a invasões.
Amorim foi preso anteontem, em Itaquitinga (a 84 km de Recife), após acompanhar o enterro de um dos dois dirigentes estaduais do MST mortos na manhã de domingo em um acampamento em Moreno (PE). A causa da prisão é um processo que apura a depredação do consulado dos EUA em Recife, em novembro passado.
O juiz da 5ª Vara Criminal de Recife, Joaquim Pereira Lafayete Neto, autor do pedido de prisão, argumenta que, em liberdade, o líder do MST "poderá colocar em risco a paz e a segurança de cidadãos de bem".
Inativo desde a invasão e depredação da Câmara, o MLST (Movimento de Libertação dos Sem-Terra) anunciou adesão às manifestações. "Já comuniquei à direção do movimento que estaremos ao lado deles", disse o coordenador nacional do MLST, Bruno Maranhão.
Entidades ligadas aos direitos humanos também manifestaram solidariedade. Em nota assinada por 25 instituições, a prisão de Amorim foi classificada de "política". O MST acusa o governo de perseguir dirigentes e militantes sem-terra para tentar criminalizá-los.
O governo não quis se manifestar. O presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Fausto Freitas, disse que a Justiça não trata os processos sob os focos emocional e político, mas de acordo com a legislação vigente.
Folha

22.8.06

Lula e os artistas

Encontro de Lula com artistas na casa de Gil
Artistas de diferentes áreas manifestam apoio a Lula

Mais de 100 artistas das mais diversas categorias manifestaram o seu apoio à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro realizado esta noite (21), na casa do ministro da Cultura, Gilberto Gil, no Rio de Janeiro. O clima foi informal, com vários presentes dialogando com Lula, mas como ressaltou Gil não se tratou apenas de uma reunião de amigos, “mas de uma reunião de trabalho pela reeleição do presidente”.

Em encontro na casa de Gil, presidente reclamou de falta de "condescendência" da imprensa e chorou ao lembrar do auge da crise
Em reunião ontem com artistas na casa do ministro Gilberto Gil (Cultura), no Rio, o presidente Lula disse que foi atacado por uma elite que queria fazê-lo "sangrar", mas que quem fará "sua vingança" será o povo. O presidente se emocionou e chegou a chorar ao lembrar do ápice da crise em seu governo.

Lula começou seu discurso lembrando que, na década de 80, conheceu os "artistas famosos" do Rio numa reunião na casa da atriz Dina Sfat, quando pediu apoio para as Diretas-Já. "Estávamos eu e o FHC. Não estava só o Lula."
Ao falar da crise política, reclamou da imprensa. "Se a imprensa desse para mim 10% da condescendência que deu para outros presidentes, eu teria hoje 70% dos votos."

Segundo o petista, parte da elite política "se deu conta" de que era preciso "impedir" a continuidade de seu governo.
"O que aconteceu com Getúlio Vargas? Foi levado à morte. O que aconteceu com João Goulart? E com o JK? Ele foi achincalhado pelo Carlos Lacerda e por outros que ainda hoje o representam. A elite queria fazer o Lula sangrar. Eis que todo mundo ficou surpreso quando saíram as pesquisas e as pessoas que eles queriam destruir estavam crescendo. Esqueceram de um componente chamado povo brasileiro. E houve um antagonismo das pessoas que escreviam com sabedoria infinita com o povo que provavelmente não lê o que eles escrevem."

Lula citou uma frase de Fidel Castro -"A história me absolverá"- e concluiu: "Nós não vamos precisar da história. O povo vai mostrar quem é quem neste país". Afirmou ainda: "Que não mexam comigo: estou com 60 anos, não me irrito com nada. Minha vingança quem vai fazer é o povo".
Sobre a crise, Lula afirmou: "Foi triste? Foi. O PT errou? Errou. O PT, não, teve companheiros que erraram. Como posso julgar o PT por erros que alguns companheiros cometeram?"
No fim do discurso, o ator José de Abreu pediu uma "homenagem" a José Dirceu, José Mentor e José Genoino, todos envolvidos no escândalo do mensalão. O presidente aplaudiu. Na saída, Abreu perguntou a Lula: "Estraguei a festa?". E o presidente: "Não, não. Não podemos renegar as amizades que temos".
Após o discurso, Lula chorou ao abraçar o compositor Wagner Tiso, lembrando de entrevista em que ele defendeu o presidente no auge da crise.
O presidente reclamou com a reportagem de notícia de ontem da Folha sobre ele não ter querido aparecer no palanque ao lado do deputado federal João Paulo Cunha, outro envolvido com o mensalão. "Foi uma sacanagem da Folha. Em todos os meus comícios, tem separação entre deputados, prefeitos e candidatos majoritários. Eu não tinha visto o João Paulo."
Diversos dos presentes declararam voto em Lula - entre outros, Luiz Carlos Barreto, Tonico Pereira, Alcione, Lecy Brandão e Tassia Camargo. Também foram ao jantar, entre outros, os atores Paulo Betti, Renata Sorrah e Letícia Sabatella e os cantores Zeca Pagodinho, Sandra de Sá e Fernanda Abreu. Não compareceram Chico Buarque, que já declarou voto em Lula.


Boa parte do encontro foi dedicada ao debate sobre a política cultural do governo Lula, com os artistas manifestando o seu apoio à democratização da produção e do acesso à cultura. “O Minc finalmente deixou de ser um ministério de burocratas para se tornar um ministério de artistas”, destacou o ator Sérgio Mamberti. Já o teatrólogo Augusto Boal ressaltou a criação dos Pontos de Cultura, através do qual o governo distribui aparelhos multimídia para que comunidades registrem as suas atividades culturais. “O povo agora também é artista e pode fazer a sua própria arte”, afirmou.

A cantora Leci Brandão destacou o apoio do governo Lula à população negra, traduzida em ações como a criação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a regularização fundiária de comunidades quilombolas e o ProUni. O ator Tônico Pereira, por sua vez, foi direto: “O povo está fechado com Lula. E eu fecho também”.
A cantora Alcione, a atriz Tássia Camargo, o produtor cinematográfico Luiz Carlos Barreto e o cartunista Aroeira foram outros artistas que manifestaram o seu apoio tanto à política cultural do governo quanto à reeleição de Lula.

Na sua fala, Lula relembrou que o seu primeiro contato com a classe artística brasileira aconteceu em 1985, quando arregimentava apoios para a campanha das Diretas Já. E destacou que, no seu governo, a cultura passou por um vigoroso processo de valorização, que incluiu desde a criação de programas específicos até o aumento do orçamento do Ministério da Cultura e a ampliação dos recursos liberados através das leis de incentivo fiscal.

Mas Lula falou principalmente sobre o processo de mudanças em curso no Brasil, viabilizado após muito trabalho. “Quando assumi o governo, o Brasil parecia uma casa semi-abandonada. Sei que as pessoas estavam ansiosas por mudanças rápidas, mas não foi fácil arrumar uma casa onde o risco-país batia recordes, a inflação crescia e o orçamento era limitado por dívidas e restos a pagar a dívidas”.

Lula lembrou também que muitas áreas essenciais para o país estavam totalmente desestruturadas. “O Incra e o Ibama estavam desfalcados de técnicos, de gente pra trabalhar”. Hoje, depois de realizar concursos nessas duas áreas, os resultados já aparecem. “Não foi por acaso que, nesse governo, o desmatamento na Amazônia foi reduzido em 31%”, exemplificou.

Para Lula, o governo já fez o mais difícil e, devido à conquista da estabilidade econômica e da eficiência dos programas sociais em curso, “o Brasil tem tudo para crescer de forma excepcional nos próximos quatro anos. E nós temos tudo para fazer um segundo governo melhor que o primeiro”. Segundo ele, é exatamente isso o que mais incomoda os seus opositores. Lula disse que, assim como Getúlio Vargas e JK, ele é atacado por governar para o povo e não para as elites. “Eles (a oposição) só não contavam com a reação do povo”.

Rebatendo a crítica de que criou ministérios desnecessários, Lula desafiou a oposição a apontar quais seriam esses ministérios e, num dos momentos mais aplaudidos do encontro, afirmou: “O Brasil tem uma diversidade enorme. Não dava para continuar misturando esporte e turismo num mesmo ministério. Não dava para não ter secretarias especiais de promoção da igualdade racial e dos direitos da mulher. O governo do Brasil tem que refletir a pluralidade do Brasil”.

No final, em um momento de grande emoção, Lula chamou Wagner Tiso para o seu lado e agradeceu o apoio que o músico mineiro manifestou ao seu nome, durante uma entrevista para o jornal O Globo, no auge da crise política.

O encontro reuniu artistas de cinema, teatro, moda, televisão e música. Entre outros, Marcos Winter, Sandra de Sá, Paulo Betti, Luiza Brunet, José de Abreu, Letícia Sabatella, Rosemary, Jorge Mautner, DJ Marlboro, Jards Macalé, Amir Haddad e Sérgio Machado. Também marcaram presença a ex-ministra Benedita da Silva e os ministros Tarso Genro (Relações Institucionais) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência).
Folha

21.8.06

Campanha paga pelo povo

PT dá "jeitinho" para fazer campanha de Lula com dinheiro do povo
Estratégia do Planalto ajuda PT a reduzir gastos com viagens de Lula

Para diminuir os gastos do PT com a campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Palácio do Planalto passou a agendar eventos oficiais nas mesmas cidades em que o petista tem compromissos como candidato. O uso da estratégia faz com que despesas com o combustível da aeronave presidencial sejam pagas pela União, e não pelo partido.

Um exemplo disso acontece hoje. À noite, na condição de candidato à reeleição, Lula participa de jantar na casa do ministro Gilberto Gil (Cultura), no Rio de Janeiro. Antes disso, também no Rio, marcará presença, como presidente, em um congresso mundial de saúde.

Dessa forma, todos os custos do traslado de ida e volta do petista entre Brasília e o Rio de Janeiro serão pagos pelo Planalto. A legislação eleitoral autoriza o uso de aeronave oficial, mas diz que gastos de viagem (combustível, transporte terrestre e hospedagem) serão pagos pelo comitê do candidato.

Nos últimos dias, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, tem reclamado do alto custo dessas viagens. Em prestação de contas entregue no início do mês ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o comitê de Lula afirmou ter gasto R$ 206,3 mil com transporte ou deslocamento --sendo R$ 156 mil no ressarcimento à Presidência.

A estratégia do Planalto tem sido aguardar a definição da agenda petista para, em seguida, encaixar algum evento oficial no próprio município.

Na semana passada, por exemplo, a Presidência modificou a rota de Lula ao Sul do país para adequar a agenda oficial a um comício em Criciúma (SC).

O PT também consegue poupar quando a agenda oficial é em cidade próxima à de campanha. Em 11 de agosto, como presidente, Lula teve evento em São Paulo, de onde seguiu ao Rio de Janeiro para comícios. Neste caso, a União bancou o trajeto Brasília-São Paulo, enquanto o PT arcou com São Paulo-Rio de Janeiro-Brasília.
Folha

Lulismo no ar

Em Pernambuco, até o candidato ao governo pelo PFL, Mendonça Filho, exibe imagens de Lula em seu programa de TV. Na Bahia, os candidatos locais se anunciam como membros do "time do Lula". Em São Paulo, Mercadante desfila na TV para lá e para cá agarrado à barba do pai salvador. Todos querem tirar uma lasquinha.
O lulismo, como se diz, está bombando. Mas não o PT. Fernando Henrique resumiu bem: "O PT é o Lula. E o Lula não é o PT", disse à "Playboy" deste mês. É porque não quer aceitar esse divórcio de fato que Berzoini, investido de ânimo vingativo, pode anunciar aos gritos, como fez no sábado, num comício com Lula, que a vitória será dedicada aos "companheiros atacados".
O gesto da véspera de desagravo aos mensaleiros contrastou com a omissão de Lula, que ontem em Osasco escondeu João Paulo atrás do palco em seu comício. É difícil saber qual dos escárnios é pior: o de quem fala ou o de quem cala.
O lulismo não deriva só do carisma do presidente ou das ações anestésicas de seu governo contra a miséria extrema. Mais do que isso, o lulismo é resultado do esfacelamento do PT e da anarquização fisiológica do sistema político e partidário. O mensalão é ao mesmo tempo sua causa e sua conseqüência.
Lula sobreviveu à base podre que ele mesmo gestou, descolou do PT e saiu da crise fortalecido. Mas está solto no ar. Em caso de vitória, o que o espera depois de outubro?
O PT, se tanto, deve conquistar três Estados bem periféricos: Acre, Sergipe e Piauí. E a bancada do partido, além de encolher, deve ser mais lulista do que petista: é nos grotões do Nordeste que o PT ainda tem chance de reduzir suas perdas.
Como então governar? Reforma política? Constituinte? Nem Lula acredita. Seu vice, vale lembrar, é do PRB. No final, tudo conspira para o casamento à moda antiga do lulismo com o PMDB. Saem o PL de Valdemar, o PTB de Jefferson e o PP de Janene. Entra o PMDB de Jader, Newtão e Renan. Afinal, se hoje no ministério cabe um Hélio Costa, por que não quatro ou cinco?
FERNANDO DE BARROS E SILVA - Folha

20.8.06

Entrevista com Saulo

ISTOÉ – Por que o sr. se irrita quando o governo federal oferece a ajuda do Exército para São Paulo?
Saulo de Abreu Filho –
Porque essa oferta não é séria. Primeiro o presidente oferece o Exército e depois diz que São Paulo não precisa do Exército. É inacreditável. Se ele sabe que é assim, por que oferece as tropas? Porque é um desonesto intelectual. Ele sabe que não
é verdade, antecipadamente, e de uma forma maquiavélica vai procurando nos desgastar. Na verdade, ele não está sendo desonesto apenas com São Paulo. Isso serve para o Pará, para o Rio Grande do Sul, serve para o País inteiro. O Lula, quando diz o que está dizendo, está sendo desonesto com o País. Em todos os sentidos, está faltando honestidade a ele.

ISTOÉ – O sr. pode ser mais específico?
Saulo –
Nós temos o Fundo Constitucional de Segurança, com recursos de todos os Estados, administrado pela União. É um dinheiro importante, porque a segurança gasta muito. Mas São Paulo recebeu
zero centavo desse fundo, apesar de termos R$ 380 milhões em projetos lá.
Mesmo recursos pequenos, que estávamos recebendo desde 2002, foram estancados. A gente vai ao Siaf e vê assim: “Em análise.” Mas como em
análise se estávamos recebendo? Quando eu pergunto a verdadeira explicação,
me falam em superávit primário.

ISTOÉ – O que mais está errado?
Saulo –
O presidente da República tem exclusividade constitucional para mudar a legislação penal e processual penal no Brasil. Mas nada foi feito nessa área. O presidente nunca tratou a segurança como uma política pública, porque de iniciativa dele nessa área nunca houve nada, nenhum projeto. Nem o conceito do que é crime organizado ele definiu. No caso do ministro da Justiça, isso é ainda mais grave.

ISTOÉ – Em que aspecto?
Saulo –
Na questão da videoconferência entre os presos e o juiz. Isso é uma unanimidade no Judiciário, no Ministério Público, na OAB. Com a videoconferência,
nós teríamos cinco mil policiais a mais nas ruas. Esse é o contigente que temos de mobilizar em São Paulo para escoltar os presos, o dia inteiro, das cadeias até os fóruns. Mas o ministro mandou um projeto de lei proibindo a videoconferência. Não
é razoável. Hoje nós temos a videoconferência, mas porque nós fizemos o lobby
contra a intenção do ministro.

ISTOÉ – O presidente e seu ministro não entendem de segurança pública, é isso?
Saulo –
O ministro parece ser um tradicionalista, que defende leis da década de 1940. O presidente é um desonesto intelectual. Em lugar de oferecer o Exército, se ele acha
a situação tão gritante assim, que declare o Estado de Defesa e faça a intervenção.
Eu não sei o que está por trás disso. Às vezes acho que o presidente usa a retórica da empulhação. Sabe quem faz a segurança do presidente quando ele vem a São Paulo? Vinte e quatro dos nossos policiais militares. E isso porque é a PM que conhece quem são os bandidos, as esquinas, as situações perigosas daqui. Não é o Exército. Já há uma movimentação de oficiais superiores meio que revoltados em relação a essa intenção do governo federal. Eu mesmo recebi uma carta de um general da ativa com fortes críticas a isso.

ISTOÉ – Uma insubordinação?
Saulo –
Seria, mas é um texto enviado a poucos amigos, sem a intenção dele em torná-lo público. Eu diria, se quisesse brincar com as palavras, que o presidente tem de ser mais sóbrio ao tratar desse assunto. O presidente não está sendo honesto
com o País, com a Constituição, com as pessoas. Por que essa história de intervenção aqui em São Paulo? No sábado, quando a sua revista sair, essa questão já estará desmoralizada. As pessoas já estão começando a questionar isso.

ISTOÉ – A crise do PCC passou?
Saulo –
Não temos nada, nenhuma informação em nossa rede de que haverá mais ataques. Aposte, isso sim, no surgimento de uma terceira força dentro dos presídios.
O PCC já está desfalecendo. Você acha que não há criminosos que hoje estão nos contando como as coisas funcionam? Eles perderam as expectativas, tanto que a idade de quem está cometendo atentados é cada vez menor. Já há até serviços terceirizados. Prendemos um garoto que tocou fogo num ônibus e confessou ter recebido R$ 1 mil para fazer aquilo. Os bandidões ou foram presos ou foram mortos.

ISTOÉ – O sr. disse no passado que São Paulo não tem bandido famoso, mas
hoje todos sabemos que é Marcola.
Saulo –
Mas ele está preso. Qual o problema?

19.8.06

Lula sabia

Lula sabia e mandou cometer crimes
É o que garante o jurista Hélio Bicudo, em entrevista ao jornal Tribuna da Imprensa, do Rio

O ex-petista Hélio Bicudo, que acompanha a trajetória do candidato-presidente há 25 anos, declarou em entrevista ao jornal Tribuna da Imprensa, do Rio de Janeiro, que "Lula nunca delegou o poder a ninguém, ele sempre exerceu o poder dentro do partido", quando questionado sobre o responsável pela onda de corrupção.

O jornalista Luiz Nogueira havia perguntado ao jurista se ele acreditava que José Dirceu era o maior responsável pela formação da quadrilha organizada para tentar garantir a continuidade no poder, conforme denúncia do procurador geral da República ao Supremo Tribunal Federal.

Bicudo, que já foi procurador de Justiça do Estado de São Paulo, acrescentou que não acredita que José Dirceu tivesse a autonomia para atuar como ele atuou. Dirceu só teria atuado da forma que atuou porque Lula teria conhecimento do que ele estava fazendo. "Não só conhecimento como participação no Lula naquilo que ele estava fazendo."

O conceituado jurista afirmou ainda que "o presidente Lula foi o mandante e o beneficiário de parte da corrupção denunciada pelas CPIs". E foi além: "o Procurador Geral da República deveria ter denunciado também o presidente Lula porque no regime presidencial, o presidente não pode alegar ignorância dos fatos da administração".

Para ele, está claro o "conluio entre o Lula e o José Dirceu, para que o José Dirceu assumisse a responsabilidade, fosse ele punido e os outros não, que também participaram, para que o Lula parecesse como uma pessoa virginal, que ignora tudo e que é traído pelos amigos".

Hélio Bicudo não se conforma com o fato de o escândalo das ambulâncias acontecer num país democrático e questiona como o Procurador-Geral da República pôde denunciar todos aqueles que foram acusados de atos de corrupção no mensalão e deixar o presidente da República de fora.

O jurista aponta também a estratégia do PT para tentar a reeleição. Bicudo lembra que há alguns anos, durante uma conversa com José Dirceu, ele disse que a grande estratégia para a reeleição do Lula seria usar o Bolsa Família: "Então, isto tudo foi arquitetado não para que o Lula administrasse o país, mas para que o Lula recebesse as benesses da administração e fosse reeleito mais quatro anos".

Lula diz que ganhará

Lula diz que ganhará a eleição no primeiro turno
Reuters - Pela primeira vez na atual campanha eleitoral, o presidente Lula da Silva (PT), candidato à reeleição, afirmou que vai ganhar no primeiro turno. Previu também novos ataques dos adversários e recomendou usar "caneleiras" para enfrentar os chutes daqueles que estão perdendo.

"Um general que tem a tropa que eu tenho, representada por vocês, não tem que ter medo da disputa. A luta poderá ser até difícil, mas a vitória é certa. Muito obrigado companheiros e até a vitória, se Deus quiser, em primeiro de outubro", disse Lula.

A declaração foi feita no final de discurso dirigido a uma platéia de sindicalistas de várias tendências que participaram de ato de apoio à candidatura do petista em um ginásio na zona leste de São Paulo.

Todas as pesquisas de intenção de voto apontam a vitória de Lula no primeiro turno, que será realizado em 1o de outubro. O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, seu principal adversário, aparece em segundo lugar e perdeu pontos nas enquetes divulgadas na semana passada.

No resultado do Ibope anunciado na noite desta sexta-feira, Lula subiu um ponto para 47 por cento e Alckmin se manteve nos 21 por cento.

No mesmo discurso, o presidente, muito à vontade diante de seu tradicional nicho de apoio, disse que está preparado para enfrentar os ataques da oposição e que terá uma atitude respeitosa na campanha.

"Eu trato todo mundo bem, vocês já viram eu falar mal de algum governador, de algum prefeito, dos meus adversários?", indagou.

Ele usou então as costumeiras metáforas de futebol para classificar os adversários.

"Eu sei que eles vão vir para cima de nós dando canelada, porque time que está perdendo parte para o ataque, chuta, quer dar cabeçada. O meu papel é ficar tranquilo, não fazer falta, não agredir ninguém, não sofrer pênalti.... Pode colocar caneleira que eles vão vir com tudo", afirmou.

18.8.06

COMUNICADO Nº 154

AO FUTURO CHEFE SUPREMO DAS FORÇAS ARMADAS

Rio de Janeiro, RJ, 18 de agosto de 2006

Em contato pessoal com ex-Governador e candidato à Presidência da República, Dr. GERALDO ALCKMIN, no dia 2 de agosto, fiquei de apresentar-lhe subsídios sobre alguns assuntos relacionados com as Forças Armadas.

Como se sabe, o silêncio ensurdecedor que vem da tropa é inversamente proporcional à quantidade de problemas enfrentados pelos militares.

Somente o elevado número de demissões, a pedido e ex officio, comprova a desmotivação de muitos pela falta de perspectiva para a carreira. Aqueles que nos deixam, com média de 10 anos de serviço, certamente não o fazem por que, agora, “descobriram” serem desvocacionados, mas sim para continuar servindo à Pátria, sem farda, mas com melhores condições de trabalho e vida para si e sua família.

Lula, Alckmin ou Heloisa Helena, com toda certeza, um destes três será o próximo Presidente da República e, por este motivo, o melhor agora é buscarmos uma aproximação sadia junto àquele(a) que nos governará a partir do ano vindouro.

A pauta anexa, ofertada ao Dr. Geraldo Alckmin, é de nossa inteira responsabilidade. Tenho convicção de que, havendo um compromisso público pelo candidato, caso eleito, a mesma será cumprida em sua gestão. Assunto como auxílio-invalidez não consta na mesma por acreditar na sua solução no corrente ano.

Desta forma, tenho convicção de estar contribuindo para proporcionar melhores condições aos militares, às Forças Armadas e ao Brasil.

JAIR BOLSONARO – CAP-R/1
Deputado Federal
www.bolsonaro.com.br

PAUTA DE ASSUNTOS DE INTERESSE DOS MILITARES, PENSIONISTAS E EX-COMBATENTES

TSE multa Lula

TSE condena Lula a pagar R$ 900 mil
Presidente, que vai recorrer, foi considerado responsável por jornal de caráter eleitoral distribuído em janeiro

Multa tem de ser paga com dinheiro do candidato; se mantida, advogado afirma que tentará transferir pagamento para comitê

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) condenou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao pagamento de multa de R$ 900 mil pela distribuição de um jornal tablóide de caráter eleitoral pela Casa Civil da Presidência, em janeiro último.
A maioria dos ministros considerou Lula diretamente responsável pela publicação, que tinha 36 páginas e 1 milhão de exemplares. Por quatro votos contra dois, o tribunal afirmou que houve propaganda de sua candidatura à reeleição antes do prazo legal, que é 6 de julho.
Os dois votos favoráveis ao presidente foram de Gerardo Grossi e Henrique Lewandowski. Para eles, o jornal "Brasil, Um País de Todos" não fez promoção pessoal do presidente, só comparou o governo atual com o anterior. Na corrente pela condenação, o relator, José Delgado, afirmou: "É uma cartilha com louvor aos feitos do chefe do Executivo, longe de se caracterizar como propaganda de cunho educativo."
O jornal foi feito pela Casa Civil, em parceria com o Ministério do Planejamento e Secretaria Geral da Presidência.
O advogado de Lula, José Antonio Toffoli, disse que recorrerá ao Supremo Tribunal Federal alegando que a tramitação do processo no TSE violou princípios constitucionais como o devido processo legal. Também afirmará que o valor da multa, que o candidato tem de pagar do próprio bolso, é excessivo -supera o patrimônio declarado por Lula ao TSE.
Ele disse que, em tese, Lula poderá transferir a multa ao comitê, dando-lhe tratamento de despesa de campanha. O valor equivale ao custo estimado com a produção do tablóide.
O presidente do TSE, Marco Aurélio de Mello, não votou sobre a condenação -só precisaria se manifestar em caso de empate. Ele fez, porém, defesa veemente do prosseguimento do processo quando Gerardo Grossi sugeriu o arquivamento, alegando motivo processual.

17.8.06

Sobre a violência

Pronunciamento do Sr. Deputado Estadual Coronel Ubiratan na 115ª Sessão Ordinária da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo em 16 de agosto de 2006

Sr. Presidente, Srs. Deputados, funcionários desta Casa, aqueles que nos assistem das galerias, nossos policiais militares sempre presentes, assomo à tribuna mais uma vez para falar do aspecto da segurança pública do Estado de São Paulo.

Temos visto o crescimento do crime organizado. Temos visto o crescimento do crime nos presídios e agora estamos presenciando atos de verdadeiro terrorismo. Verdadeiro terrorismo quando se seqüestra um jornalista e seu assistente para obrigar - esta é a palavra - uma rede de televisão a expor o que pretende, o que quer uma organização criminosa. Isso foi feito no tempo do terrorismo no nosso Estado, no país todo e nós conseguimos vencer. Essa é a grande verdade. E eu me enquadro naqueles que conseguiram vencer, que lutaram contra seu Carlos Lamarca, Mariguela, Genoíno e outros. Participei da luta, porque como oficial da ativa da Polícia Militar fui destacado para atuar no Vale do Ribeira e aqui em São Paulo no combate a essa guerrilha. Se os vencemos sem saber quem eram, grande parte deles camuflados, porque não vamos vencer agora, já que sabemos quem são? Sabemos quem são e onde estão. Por que perder essa guerra? Por que não retornarmos à disciplina, ao cumprimento das ordens?

Posso falar muito do sistema prisional, porque conheço quase todas as cadeias, CDPs deste Estado e fora dele. Tenho na minha lembrança, quando jovem ainda - segundo-tenente, com 20 anos, servindo no Regimento de Cavalaria -, fui fazer um serviço que me fora designado na Casa de Detenção. O diretor da Casa era o Sr. Fernão Guedes. Eu vi o que vou relatar. Fernão Guedes entrava a qualquer hora em qualquer lugar do presídio sozinho. Eu o acompanhei numa dessas inspeções. Aonde ele chegava o preso mais velho, que tinha um apito, apitava e todos paravam o que estivessem fazendo, levantavam-se e diziam: “Bom dia, Sr. Diretor!”, “Boa noite, Sr. Diretor!” Hoje, diretor de presídio não entra no seu presídio nem com a tropa de choque. E quando entra, arrisca-se a morrer, como morreu aquele delegado diretor do presídio de Jaboticabal. O que houve de lá para cá? A quebra da disciplina. Os presos, naquela época, não eram maltratados e nem violentados, havia disciplina. E se não houver disciplina, nada funciona, a exemplo da casa da gente. Se cada filho chega na hora que bem entende, a mulher vai e não volta, vira uma verdadeira anarquia. É exatamente o que aconteceu no sistema prisional. Por que cresceram? Porque deixaram. Por que estão dando ordens, matando e fazendo barbaridades? Porque não houve o devido enfrentamento e sim uma acomodação no combate à criminalidade.

Como já disse aqui inúmeras vezes, e faço questão de repetir, bandido só respeita uma coisa: força maior do que a dele. Não respeita discurso, não respeita palestra “sou da paz”, vou soltar pombinha, vou vestir branco, vou desarmar São Paulo. Ele não respeita nada. Só respeita força maior do que a dele. E quando essa força não é utilizada para enfrentá-lo, acontece o que estamos vendo agora: o nosso povo sofrendo atemorizado e nossos policiais morrendo. Alguma coisa séria e enérgica tem de ser feita para podermos voltar à tranqüilidade anterior. Muito obrigado, Sr. Presidente

Gabinete Deputado Estadual Coronel Ubiratan
Av. Pedro Álvares Cabral, 201 - Sl. 5013 - Ibirapuera - São Paulo - SP CEP 04097-900 Telefones: (11) 3884-0120 3886-6852 3886-6843
Site: www.coronelubiratan.com.br
Email: coronelubiratan@al.sp.gov.br

Ministro exalta lucro de banco

Ministro esquece o que PT escreveu e exalta lucro de banco
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou ontem o Banco do Brasil e elogiou seu "lucro extraordinário" no primeiro semestre, de R$ 3,9 bilhões, bastante superior ao dos demais bancos do País. Segundo Lula, quanto mais lucro o BB tiver, mais forte estará para atuar na política social do governo.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, funcionário licenciado do BB, acompanhou o presidente na visita. Questionado sobre o discurso de Lula e se o PT, velho crítico da elevada lucratividade dos bancos, tinha mudado de idéia, ele garantiu que o partido nunca foi contra lucro de banco. "Se você encontrar um papel do PT assinado dizendo isso, eu terei o prazer de comê-lo com azeite e sal porque não existe isso", provocou.

Segundo Bernardo, o que o PT sempre defendeu foi a conciliação necessária entre a ocupação de um espaço no mercado e a missão de governo. "O Banco do Brasil tem a obrigação de disputar de igual para igual com os bancos, mas tem que ter também uma missão social", frisou.

Mas no próprio site do PT há documentos que contestam as declarações do ministro. Na seção de artigos, o próprio Lula critica em pelo menos dois textos a lucratividade dos bancos.

Em um deles, de 17 de março de 2002, antes de ser eleito, Lula discorre sobre medidas protecionistas dos Estados Unidos no setor siderúrgico. Diz que a "submissão do governo ao neoliberalismo" é uma opção política e serve ao capital financeiro. E emenda: "São inacreditáveis os extraordinários lucros dos bancos no nosso país."

Em artigo de 25 de março do mesmo ano, Lula afirma que o governo FHC parecia fazer de tudo para eleger seu candidato a presidente, José Serra, e garantir a continuidade de suas políticas neoliberais. "Basta observar a lucratividade absurda dos bancos no nosso país - como não há em nenhum lugar no mundo - para que se tenha idéia do que está em jogo."

O presidente do PT e coordenador da campanha de Lula, deputado Ricardo Berzoini (SP), também tem um artigo no site em que critica os lucros dos bancos. É de 26 de abril de 2002, quando ele ainda não presidia o PT. Ao analisar os balanços financeiros das instituições, avaliava que "o lucro recorde dos bancos destoa da realidade da economia nacional".

Na época, 31 bancos brasileiros contabilizavam lucro combinado de R$ 11,1 bilhões para 2001. Seguindo a linha de Lula, Berzoini disse que isso mostrava a "eficácia do governo FHC na defesa dos interesses do setor privilegiado do País, em detrimento do crescimento econômico e da geração de empregos".
Estadão

Mistério Okamotto

É INEGÁVEL que a movimentação de setores do PSDB e do PFL para obter novo depoimento de Paulo Okamotto no Congresso responde a interesses imediatos da oposição. No momento em que buscam munição para enfraquecer a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, os aliados de Geraldo Alckmin não perderiam a oportunidade de explorar o episódio da dívida do presidente da República com o Partido dos Trabalhadores.
É igualmente verdadeiro, porém, que a questão está longe de resumir-se às querelas eleitorais. Um novo depoimento pode ajudar a esclarecer uma transação que aproxima perigosamente as finanças do presidente de movimentações suspeitas. Por vontade própria, Okamotto, presidente do Sebrae, teria quitado uma dívida de R$ 29,4 mil de Lula com o PT. O Planalto afirmou várias vezes desconhecer o pagamento. Okamotto garantiu que o fizera em segredo, esquivou-se de inquirições e conseguiu preservar seu sigilo bancário.
A situação dificilmente assumiria outro rumo não fosse a entrevista concedida pelo presidente na semana passada ao "Jornal Nacional". "Quer pagar, você paga, porque eu não vou pagar, porque não devo ao PT", teria dito Lula a Okamotto, segundo afirmou aos entrevistadores.
A revelação apresenta nova versão para o suposto desconhecimento do Planalto. Na pior hipótese, um novo depoimento de Okamotto contribuiria para trazer mais detalhes a respeito do diálogo -ou para desautorizar a versão do presidente.
De todos os episódios da crise deflagrada no ano passado, a dívida de Lula que Okamotto declara ter pago é o que mais diretamente envolve a Presidência. Elucidar as dúvidas que pairam sobre o assunto é um imperativo. Se a disputa eleitoral favorece essa elucidação, tanto melhor.
Folha

Sequestro - 1969

SEQÜESTRO DO EMBAIXADOR AMERICANO
Ano: 1969

"Tôda a Segurança Nacional encontra-se hoje mobilizada a fim de descobrir o paradeiro do embaixador norte-americano Elbrick, seqüestrado por terroristas, ontem à tarde, em Botafogo. Inicialmente os seqüestradores entraram no próprio carro diplomático - que é à prova de bala e não tem maçanetas externas - onde esta a diplomata norte-americano e depois obrigaram-no a passar para a Kombi, já distante do ponto em que efetuaram a captura do embaixador.

Durante a tarde de ontem, à noite e esta madrugada, foi grande a movimentação na Embaixada dos Estados Unidos, pois até então não havia a menor notícia a respeito do paradeiro de Elbrick.

Por sua vez, o governador Negrão de Lima, tão logo teve conhecimento do fato, dirigiu-se ao Ministério do Exército onde se manteve durante algum tempo em conferência com o general Syseno Sarmento, num encontro que teve caráter secreto, nada sendo divulgado. A essa hora já havia sido mobilizado um sistema de segurança nunca antes utilizado, pois dêle participam os Serviços Secretos do Exército, Marinha, Aeronáutica e Serviço Nacional de Informações, o Centro de Informações das três Fôrças, além da Polícia Federal e do DOPS.

No local do seqüestro os terroristas deixaram dois documentos: o primeiro, um manifesto que, segundo afirmam, deveria ser divulgado para conhecimento do País inteiro; o segundo, uma espécie de instrução de resgate, pois os seus autores pretendem que 15 elementos que são partidários seus e que estão presos, deverão ser conduzidos em segurança à Argélia, Chile ou México. Afirmam os seqüestradores que sòmente assim o embaixador Elbrick poderá ser libertado. Caso contrário o representante norte-americano no Brasil "será justiçado"." Correio da Manhã, 5 de setembro de 1969.

"Na tarde de ontem, no Itamarati, os ministros Magalhães Pinto e Gama e Silva revelaram oficialmente que o Govêrno brasileiro aceitava a exigência dos seqüestradores, decidindo soltar todos os quinze presos políticos exigidos para o resgate do embaixador Burke Elbrick.

Os titulares das Relações Exteriores e da Justiça distribuíram nota oficial, afirmando "estarmos decididos a fazer o que estiver a nosso alcance para evitar que se sacrifique mais uma vida humana e sobretudo um representante diplomático". Grande número de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas estava aglomerado no Itamarati, quando os ministros Magalhães Pinto e Gama e Silva anunciaram a solução, depois de reunião, a portas fechadas, que durou três horas.

Dos quinze presos políticos, cuja libertação é o preço do resgate do embaixador dos Estados Unidos, 8 são de São Paulo, 5 da Guanabara, 1 de Pernambuco e outro de Minas Gerais.

São os seguintes os presos a ser colocados em liberdade e transportados para fora do País: Gregório Bezerra, Vladimir Gracindo Soares Palmeira, José Ibraím, João Leonardo Silva Rocha, Ivens Marchetti de Monte Lima, Flávio Aristides Freitas Tavares, Ricardo Villas Boas de Sá Rêgo, Mário Roberto Galhardo Zaconato, Rolando Fratti, Ricardo Zaratini, Onofre Pinto, Maria Augusta Carneiro Ribeiro, Agnaldo Pacheco da Silva, Luiz Gonzaga Travassos da Rosa e José Dirceu de Oliveira e Silva.

Por intermédio da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, o secretário de Estado norte-americano, Sr. William Rogers, enviou mensagem ao chanceler Magalhães Pinto afirmando que, "em meu nome e em nome do govêrno dos Estados Unidos da América, desejo expressar a Vossa Excelência os nossos agradecimentos pelas medidas que Vossa Excelência e o Govêrno brasileiro têm tomado para conseguir a restituição a salvo do embaixador Burke Elbrick".

Dom Umberto Manzzoni, Núncio Apostólico no Brasil, entregou ontem carta ao ministro Magalhães Pinto, manifestando "a profunda satisfação do Corpo Diplomático ao constatar que o Govêrno faz de sua parte todos os esforços possíveis para salvar a vida do ilustre colega, o senhor embaixador dos Estados Unidos.

Permito-me acrescentar que, na vida dos povos, especialmente nos tempos atuais, há casos, como o presente, em que a concessão não é sinal de debilidade, nem acarreta perda do próprios prestígio moral de quem a faz."

O embaixador Elbrick dirigiu, ontem, dois bilhetes à sua espôsa, o primeiro dizendo estar bem e que poderiam ser perigosas tentativas para localizá-lo, e o segundo manifestando sua satisfação por ter o Govêrno brasileiro aceitado as exigências dos seqüestradores, "pois significa que serei libertado tão logo os 15 prisioneiros cheguem ao México". o primeiro bilhete foi encontrado às 12h15min na caixa de donativos da Igreja de Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado, junto com um manifesto dos raptores, e o segundo numa caixa de sugestões do Mercado Disco, no Leblon.

Revelou-se aos primeiros minutos de hoje que já se encontravam no Aeroporto do Galeão dois aviões preparados para conduzir os presos liberados para o exterior, não se sabendo ainda para qual país seriam levados (México, Chile ou Argélia). Informou-se também que dois dos presos não desejavam deixar o País: Ricardo Villas Boas de Sá Rêgo e Maria Augusta Carneiro Ribeiro, que entretanto seriam transportados de qualquer forma.

O México concedeu asilo aos 15 presos políticos brasileiros, segundo informou ontem à noite a Secretaria de Relações Exteriores. Em Santiago do Chile, porta-voz oficial do ministério d6esse país anunciou, também, a disposição de seu govêrno em conceder o asilo. Chegou-se a informar que alguns dos presos chegariam ainda na noite de ontem a Santiago. Disse o porta-voz que "realmente ignoramos quantos virão, e quem são, mas o asilo é extensivo a todos os que chegarem". (...)" Correio da Manhã, 6 de setembro de 1969.

"A posição do Govêrno diante do seqüestro do Embaixador Charles Elbrick será divulgada hoje em nota oficial redigida pelos Ministros Magalhães Pinto e Gama e Silva. A decisão foi tomada ontem à noite em reunião com a Junta do Govêrno, no Itamarati.

Nessa reunião se resolveu liberar a mensagem deixada pelos seqüestradores, mas nada foi dito sôbre uma das exigências para que o Embaixador dos Estados Unidos seja pôsto em liberdade: a libertação de 15 presos políticos, ainda não nomeados, que devem ser conduzidos ao México, Chile ou Argélia como asilados.

O seqüestro do Sr.Charles Elbrick deu-se depois do almôço, quando o diplomata voltava de sua residência oficial para a sede da Embaixada, no Centro. Quando seu Cadillac prêto dobrou da Rua São Clemente para a Rua Marques, em baixa velocidade, foi fechado por um Volkswagen. Logo três rapazes com revólveres renderam o motorista e o Embaixador, forçando-os a seguir até a Rua Caio Melo Franco, onde uma Kombi já os esperava. Cloroformizado, o Embaixador Charles Elbrick foi mudado de carro, enquanto o motorista, liberado, corria ao telefone mais próximo para comunicar o seqüestro.

Tôda a operação dos seqüestradores, antes e logo depois da abordagem ao Cadillac, foi acompanhada pela Sra. Elba Souto maior, espôsa de um capitão-de-mar-e-guerra. Desconfiada da movimentação, ela telefonara à Delegacia de Furtos de Automóveis dando a placa dos carros; o policial disse que os carros não eram roubados; pouco depois os carros foram usados no seqüestro. E mais tarde confirmou-se que pelo menos uma placa era roubada.

Ainda ontem o Itamarati divulgou nota oficial afirmando que o seqüestro é "um ato de puro e símples terrorismo em detrimento do prestígio internacional do Brasil." Nos Estados Unidos, o Presidente Richard Nixon convocou o Secretário de Estado, William Rogers, para uma conferência, assim que foi informado do seqüestro do Embaixador Charles Burke Elbrick."

"O Embaixador Elbrick dispensou pessoalmente há cêrca de duas semanas a proteção especial que recebia de agentes da Secretaria de Segurança, alegando que estava há pouco tempo no Brasil e era pouco conhecido.

Apesar de a Embaixada americana ter seu próprio corpo de segurança, a segurança pessoal do Embaixador era feita também com a colaboração de agentes estaduais, até que êle mesmo solicitasse a sua desmobilização. O Sr. Elbrick, segundo funcionários da Embaixada, gostava de andar sozinho, principalmente quando saía pelo centro da cidade para ir ao barbeiro ou fazer compras.

Tôda a polícia carioca foi colocada de sobreaviso ontem a noite, por ordem expressa do Secretário de Segurança, General Luís de França Oliveira, através de telex enviado a todos os órgãos policiais que se mantém mobilizados intensamente na busca dos seqüestradores do Embaixador dos Estados Unidos no Brasil.

Ao mesmo tempo, o Secretário de Segurança determinou a mobilização dos 50 integrantes do Grupo Especial de Operações, recentemente criado, para se integrar nas investigações e busca dos raptores em cooperação com as autoridades militares. Paralelamente, tôdas as radiopatrulhas e o Departamento Motorizado da Secretaria recebeu instruções para informar ao comando policial qualquer informação que possa levar à prisão dos seqüestradores.

O General Luís de França Oliveira não quis comentar o rapto do Embaixador Charles Elbrick, afirmando apenas que o caso estava mais no âmbito policial, e que todo o organismo policial do Estado sôb o seu contrôle, estava mobilizado para a busca.

Por medida de segurança, 15 presos políticos que estavam no DOPS foram removidos ontem à noite para a Polícia do Exército. Policiais da Secretaria de Segurança acreditavam que os seqüestradores tivessem se dirigido para São Paulo.

Tôdas as barreiras entre a Guanabara e o Estado do Rio estão guardadas por policiais armados, conforme determinação dada pelo diretor-geral do Departamento da Polícia Federal.

Mais de 4200 homens, em todo o país, e cêrca de 450 apenas na Guanabara, com 120 viaturas mobilizadas e em permanente contato pelo rádio - cuja estação receptora está no 4o andar do prédio 70 da Rua da Assembléia - foram mobilizados poucos minutos depois que a Polícia Federal recebeu a comunicação do seqüestro do Embaixador Burke Elbrick, logo após às 15 horas. (...)" Jornal do Brasil, 5 de setembro de 1969.

"O Chanceler Magalhães Pinto caracterizou como "inominável atentado" o seqüestro do Embaixador dos Estados Unidos e, em nome do povo brasileiro e do Govêrno do Brasil, manifestou a repulsa do País a êsse "ato de puro e símples terrorismo".

Todos os dispositivos de segurança estavam, ontem, mobilizados para deter os subversivos que, à tarde, seqüestraram o Sr. Charles Burke Elbrick, deixando no local da investida dois documentos: um de crítica ao Govêrno e outro fazendo descabidas e insultosas exigências, como a de libertação e da divulgação de um manifesto nitidamente subversivo. A partir das 21 horas, realizava-se, no Itamarati, uma reunião com a presença dos Ministros Augusto Rademaker, Lira Tavares, Sousa Melo, Magalhães Pinto e Gama e Silva, presentes ainda os Generais Siseno Sarmento e Jaime Portela.

O Presidente Nixon, em sua residência de verão, já tomou conhecimento do atentado e recebeu do Govêrno brasileiro a informação de que tudo está sendo feito para localizar o Sr. Elbrick e punir os criminosos."

"Às 13h50min de ontem. o Embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick saía, no Cadillac CD-23, da residência oficial, na Rua Sào Clemente, 288. Logo depois de passar pelo Largo dos Leões, o carro foi interceptado pelos ocupantes de dois automóveis Volkswagen - SP 40-05-61 e ES 96-35-8. Os homens, armados de metralhadoras, ordenaram ao motorista Custódio Abel da Silva que se dirigisse a uma ladeira nas proximidades. O Embaixador foi transferido para a Kombi ES 9-51-58, sendo liberado o motorista, depois de retirado o rádio e a chave de ignição do carro diplomático. Abel, mais tarde, declarou que os bandidos usaram narcóticos. Outro detalhe: um homem viu, da janela de sua casa, os primeiros lances do seqüestro. Não pôde impedi-lo.

O Cadillac CD-23 foi interceptado justamente quando atingia a Rua Marques. Os ocupantes dos dois carros entraram no automóvel de diplomata e, imediatamente, arrancaram o rádio, ordenando ao motorista que dirigisse o veículo a um dos morros vizinhos, onde já se encontrava estacionada a Kombi. Após terem retirado a chave do carro, transferiram o Embaixador Charles Elbrick para a Kombi, partindo para lugar ignorado.

O motorista Custódio Abel da Silva, depois de descer o morro a pé, telefonou para a Embaixada dos EUA, relatando a ocorrência.

Um dos automóveis utilizados para interceptar o carro do diplomata foi localizado, pela RP 8-192, estacionado na Rua Ministro João Alberto, 191. Em seu interior foi encontrado um objeto estranho, levado para exame pericial.

No carro da Embaixada, foram deixados dois documentos. O primeiro é um manifesto de crítica ao Govêrno brasileiro. O outro é simplesmente uma exigência de que o manifesto subversivo fosse entregue a um dos Ministros militares e fosse lido por autoridades constituídas, em tôdas as rádios brasileiras. Davam um prazo de 24 horas para a libertação de 15 presos políticos, cuja relação seria enviada posteriormente, para que fôssem entregues, pelo govêrno, nas Embaixadas do Chile, México e Argélia. Ameaçaram não libertar o diplomata a não ser que todos esses itens fôssem atendidos.

Todo o dispositivo de segurança entrou imediatamente em ação. Além das autoridades estaduais, foram mobilizados a Polícia Federal e até o Corpo de Bombeiro. Foi expedida ordem para fechamento das barreiras com adoção de contrôle do máximo rigor.

O Chanceler Magalhães Pinto, acompanhado do General Siseno Sarmento e do Chefe da Casa Militar do Palácio Guanabara, Coronel Alcir Miranda, estêve no Laranjeiras e dirigiu-se, a seguir, à Embaixada dos Estados Unidos.

O motorista Abel da Silveira foi levado à Secretaria de Segurança e, depois de prestar declarações, foi encaminhado aos arquivos do DOPS, na tentativa de se conhecer, entre as fotos de subversivos, os autores do seqüestro. Abel chegou a declarar que, pelo jeito, os bandidos usaram narcótico, durante a operação.

Mais tarde o motorista foi levado ao I Exército. Êle trabalha na Embaixada há cinco anos e foi, por sua conduta exemplar, escolhido para as funções de motorista do Sr.Charles Elbrick." Diário de Notícias, 5 de setembro de 1969.

"O govêrno brasileiro, em comunicado dado à divulgação às 13h30min de ontem, pelo chanceler Magalhães Pinto, concordou com a transferência para o exterior, dos 15 presos políticos, cuja libertação foi exigida pelos seqüestradores do embaixador Charles Burke Elbrick.

Cêrca de duas horas antes, um telefonema anônimo comunicara que numa das caixas de esmolas da Igreja de Nossa Senhora da Glória existia um bilhete do próprio punho do embaixador à sua espôsa, bem como um manifesto às autoridades.

Realmente, tais documentos foram encontrados no lugar indicado e levados a quem de direito, sucedendo-se logo uma reunião de cúpula, no decorrer da qual ficou acertado que seriam aceitas as condições impostas pelos seqüestradores.

Enquanto desde a véspera todo o dispositivo de segurança do Estado da Guanabara era movimentado no sentido de se conseguir uma pista que levasse aos autores do seqüestro, com participação do Departamento de Polícia Federal e, já na manhã de ontem, com o concurso de agentes do FBI, era dado um aviso por parte dos seqüestradores a respeito da caixa de esmolas da Igreja de Nossa Senhora da Glória.

Constatou-se a veracidade da informação e, no bilhete, do próprio punho do embaixador Charles Burke Elbrick, êle avisava à sua espôsa de que estava fisicamente bem, esperando que sua libertação não demorasse muito, para poder vê-la em breve. Dizia ainda estar tentando não ficar preocupado e que as autoridades deviam tentar localizá-lo, para evitar mal maior, já que o pessoal que o havia seqüestrado era verdadeiramente decidido.

No manifesto encontrado junto, os elementos da ALN referiam-se ao bilhete e exigiam que as autoridades suspendessem as diligências no sentido de localizá-los., bem como o pronunciar-se publicamente até às 14h50min, concordando com a libertação de 15 prisioneiros, cujos nomes oportunamente fariam chegar ao seu conhecimento. Só depois que as agências noticiosas informassem que os 15 elementos já se encontravam em plena segurança no estrangeiro, é que se procederia à libertação do embaixador, mantido como refém.

Cientificado o fato às autoridades superiores, antes da hora marcada, 14h50min, o chanceler Magalhães Pinto fêz de público a seguinte comunicação:

"São do conhecimento público as circunstâncias ligadas ao seqüestro do embaixador dos Estados Unidos da América, Sr. C. Burke Elbrick, por terroristas empenhados na subversão da ordem pública nacional.

Em manifesto lançado na ocasião do delito, os terroristas exigem, sob ameaça de matar o embaixador Elbrick, que o govêrno faça divulgar na íntegra aquêle manifesto e envie para o exterior 15 indivíduos atualmente detidos por atividade subversiva.

Convencido de interpretar com fidelidade os sentimentos profundos e autênticos do povo brasileiro, o govêrno decidiu fazer o que está a seu alcance para evitar que se sacrifique mais uma vida humana, sobretudo quando se trata da pessoa de um representante diplomático, ao qual o Estado brasileiro, tradicionalmente hospitaleiro, deve proteção especial.

O govêrno já autorizou a divulgação do manifesto e determinará a transferência para o exterior dos 15 detidos cujos nomes lhe forem indicados.

Dêsse modo, recairá totalmente sôbre os seqüestradores a responsabilidade por qualquer dano à incolunidade da pessoa do embaixador C. Burke Elbrick." (...)" Luta Democrática, 6 de setembro de 1969.

"Com desembarque previsto para as 14 horas (hora do Rio), chegam hoje ao México os 15 asilados cuja libertação foi exigida pelos terroristas que seqüestraram o embaixador norte-americano Burke Elbrick. O embarque no Rio, a que não tiveram acesso os reporteres, foi precedido de forte dispositivo de segurança, até que o Hércules da FAB, prefixo 2456, levantou vôo às 17,10, com destino a Recife, onde deveria recolher o ex-deputado Gregório Bezerra. O Itamarati viveu ontem outro dia de intenso nervosismo, que atingiu climax quando o chanceler Magalhães Pinto foi informado de que, contràriamente ao que êle já havia anunciado à imprensa, o avião ainda nào levantara vôo, por "motivos técnicos". O Departamento de Estado dos EUA confessou-se preocupado pela possibilidade do seqüesto provocar uma onda de atentados similares no mundo."

"Com chegada prevista para às 17 horas (14 horas do Rio) desembarcam hoje no México os 15 ex-prisioneiros cuja liberdade foi exigida pelos terroristas que seqüestraram o embaixador norte-americano Burke Elbrick.

Às 17h05m o "Hércules" C-130.2456 da Força Aérea Brasileira decolou rumo ao México do Aeroporto Militar do Galeão levando em seu interior os prisioneiros políticos exigidos pelos seqüestradores para libertarem o embaixador norte-americano Burke Elbrick.

Soldados da Aeronáutica exerceram severa vigilância não permitindo a penetração da imprensa. Os presos foram conduzidos para o Aeroporto Militar de helicópteros e carros blindados da radiopatrulha. Ricardo Villas Bôas Sá Rêgo foi o primeiro a chegar."

"A imprensa manteve-se durante a manhà de ontem em constante expectativa esperando a chegada dos prisioneiros ao Galeão. Às 12,02 horas Ricardo Villas Bôas Sá Rêgo conduzido por policiais do DOPS e Secretaria de Segurança Pública chegou ao local de embarque. Os carros de rádiopatrulha entraram pela pista comercial e ali permaneceram durante alguns minutos.

Uma ordem dada fez com que o prisioneiro fosse transportado imediatamente para a Base Aérea. Ali a imprensa não penetrou ficando há cêrca de 1.200 metros dos aviões parados na pista de pouso. Dois aviões da Força Aérea Americana estavam sendo abastecidos.

Às 12h25 minutos informava-se ter sido determinado o abastecimento do avião da FAB que levaria os prêsos para o México. A movimentação na Base Aérea do Galeão continuou e os repórteres permaneciam na sacada do Aeroporto Internacional utilizando teleobjetivas possantes.

Mais três carros da radiopatrulha chegavam às 12,28 horas dêles desembarcando algumas pessoas. Dez minutos depois um helicóptero pousava na pista da Base Aérea e segundo as informações teria conduzido o jornalista Flavio Tavares.

A movimentação de veículos policiais foi intensa. Novas viaturas chegavam, mas, em virtude da distância em que estavam os repórteres não foi possível identificar ninguém. Dois "Hércules" permaneciam parados e já estavam abastecidos. Soldados da Aeronáutica guarneciam tôda a área adjacente. (...)

Às 16,35 horas pousava junto ao avião "Hércules" um helicóptero. Dêle desceram, segundo apurou-se, quatro pessoas, uma das quais foi embarcada no avião. A partir daí os carros que ainda permaneciam na pista foram se retirando gradativamente.

Precisamente às 16,46 horas a primeira hélice da asa direita do "Hercules" começou a girar. Seguiram-se as outras e logo depois o avião acionava todos os motores. Permaneceu parado durante 2 minutos e às 16,52 horas dirigiu-se à cabeçeira da pista, decolando às 17,05 horas."

"Foi encontrada na escultura localizada em frente ao edifício da revista "Manchete", na Praia do Russel, nova mensagem do embaixador norte-americano e de seus seqüestradores. São os seguintes os textos:

"Nota da Ação Libertadora Nacional e do Movimento Revolucionário 8 de Outubro -

Tomamos conhecimento das declarações do Chanceler Magalhães Pinto segundo as quais nossos 15 companheiros partiram para o México. Solicitamos às emissoras de rádio que confirmem no Ministério das Relações Exteriores e na Embaixada do México se os que partiram são os constantes na lista já divulgada. Aguardamos, como nos comprometemos, apenas a confirmação da chegada através das agências internacionais para liberar o ombaixador dos Estados Unidos, que envia sua mensagem final até o momento de reencontrar a família. Rio, 6/9/69 - ALN - MR8"

A nota dos raptores está acompanhada da seguinte carta do embaixador Burke, à sua espôsa, escrita em inglês:

"Estou bem ansioso para vê-la brevemente. Li nos jornais de hoje que você recebeu minhas duas cartas de ontem e fui informado pelos que me prendem, que êles estão esperando confirmação do Govêrno brasileiro e da Embaixada mexicana sôbre o nome dos 15 presos, que foram libertados e que estão agora presumivelmente a caminho do México. Espero que receba uma confirmação para que eu possa ser libertado a qualquer momento, amanhã. Com todo o meu amor, Burke."

"Falando, cêrca das 22,30 horas de ontem, o Chanceler Magalhães Pinto confirmou que treze elementos subversivos, libertados no Rio, já haviam partido com destino ao México, além de um de Recife, devendo o outro ser apanhado em Belém.

A declaração do Ministro constituiu uma resposta a nova mensagem dos raptores do Embaixador Burke Elbrick ao Govêrno que reclamavam esclarecimentos sôbre o embarque. As palavras do Sr. Magalhães Pinto foram préviamente gravadas e em seguida, irradiadas para conhecimento dos terroristas." O Jornal, 7 de setembro de 1969.

"77 horas e 55 minutos depois de haver sido seqüestrado, o Embaixador norte-americano Charles B. Elbrick regressou ontem a sua residência oficial, num táxi, apanhando inteiramente de surprêsa a Embaixada, sua família e os jornalistas de plantão na Rua São Clemente. Fôra abandonado momentos antes próximo ao Largo da Segunda-Feira, na Tijuca.

Tão logo as autoridades tomaram conhecimento do regresso do diplomata, foi desencadeada uma vasta operação de cêrco, na tentativa de localizar os seqüestradores. Tôdas as barreiras nas estradas foram fechadas e a Polícia passou a investigar.

O Embaixador, ao regressar, trajava terno cinza escuro, camisa azul clara, sem gravata, e apresentava um ferimento na testa, produzido por uma coronhada. Segundo seu relato, foi a única violência física dos seqüestradores, que o trataram "muito bem". Eram todos jovens, segundo disse, e não usavam disfarces."

"Às últimas horas da noite de ontem, o Secretário de Imprensa da Presidência da República, Sr. Carlos Chagas, informou sôbre o teor de uma carta em que o Presidente Richard Nixon agradece ao Presidente Costa e Silva e aos três Ministros militares no exercício do govêrno os esforços desenvolvidos para a libertação do diplomata: "Desejo expressar - diz a carta - a minha mais profunda gratidão, e a de meu govêrno, pelos bem sucedidos esforços a fim de assegurar a liberação do Embaixador Elbrick. Estou plenamente ciente da complexidade da tarefa e das difíceis decisões adotadas."

"Os quinze prisioneiros libertados pelo govêrno brasileiro em troca da devolução do Embaixador chegaram ao México ontem à tarde e foram encaminhados a um hotel."

"Num táxi Volkswagen, placa GB 5-11-43, o Embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick regressou à sua residência às 19h45m de ontem, exatamente 78 horas e 55 minutos depois de haver sido seqüestrado próximo à Rua São Clemente.

Cercado imediatamente pelos reporteres e fotógrafos de plantão, o Sr. Elbrick entrou imediatamente em sua casa, onde falou com a esp6osa. Quinze minutos mais tarde pelo telefone, fêz um relato completo ao Presidente Nixon, a quem disse que "felizmente acabou tudo bem".

Logo em seguida, ainda pelo telefone, foi cumprimentado pelo Ministro Magalhães Pinto, que a seguir mandou à Rua São Clemente o Secretário Geral do Itamarati, Embaixador Gurgel Valente. Em todos os relatos, disse o Embaixador que não foi cloriformizado, como se anunciara. Recebeu uma coronhada na cabeça, que sangrou um pouco.

- Mas a partir daí fui muito bem tratado. Êles até me deram charutos e lavaram minha camisa.

Revelou ainda o Embaixador que durante todo o tempo em que permaneceu seqüestrado foi mantido num quarto pequeno, com pouca luz. E tanto no trajeto de ida para esse refúgio, como quando de lá foi retirado mantiveram-no de olhos vendados. Por isso, não pode precisar onde estêve.

As primeiras palavras do Embaixador, ao chegar à sua residência, foram estas:

- Sinto-me feliz por estar de volta. Alegra-me que meus captores tenham mantido a palavra, deixando-me partir. Estou muito grato ao Govêrno brasileiro por haver tomado tôdas as medidas necessárias para levar a cabo minha libertação.

O Sr. Elbrick foi deixado pelos seqüestradores em frente ao número 40 da Rua Eduardo Ramos, próximo à Rua Conde de Bonfim e Largo da Segunda-Feira, na Tijuca. Recebeu ordens para aguardar quinze minutos, mas aproveitou a passagem do táxi para voltar à sua residência. O motorista José Mateus de Sousa, que o recolheu imediatamente, perguntou-lhe se não era o Embaixador norte-americano. E acrescentou:

- Pobrezinho... (...)"

"A notícia da libertação do Embaixador Burke Elbrick foi recebida na sede da Embaixada por volta das 20 horas. O Encarregado de Negócios, Sr. William Belton, e o Conselheiro John Mowinckel, tomaram imediatamente o carro placa CD-818 e seguiram para a residência do Embaixador, na Rua São Clemente.

Dez minutos depois, um funcionário do Setor de Informações transmitia aos jornalistas as primeiras declarações do Embaixador Burke e sua explicação para o ferimento que mostrava no lado direito da testa:

- Êles não tinham a intenção de me fazer mal algum, mas eu ignorava isto e por êste motivo resisti quando me disseram para fechar os olhos enquanto me transferiram para outro carro. Eu não estava disposto a fechar meus olhos para ninguém naquele momento.

O Embaixador resistiu e tentou afastar as armas apontadas para êle e nesse momento foi fortemente atingido. (...)" Última Hora, 8 de setembro de 1969.

AS MANCHETES

Govêrno Faz Mobilização Geral Para Salvar Embaixador Dos EUA
(Correio da Manhã)

Govêrno Libera Presos Políticos E Preserva Vida Do Embaixador
(Correio da Manhã)

Govêrno Fixa Hoje Sua Posição Sôbre O Seqüestro (Jornal do Brasil)

Elbrick Dispensara Segurança Pessoal Oferecida Pelo Estado Há Duas Semanas (Jornal do Brasil)

Seqüestro De Embaixador É Inominável: País Revoltado
(Diário de Notícias)

Govêrno Salva Vida Do Embaixador - Terroristas Atendidos - Tudo Agora Depende Dos Raptores (Luta Democrática)

Só Falta Agora A Volta De Elbrick - Asilados Hoje À Tarde No México
(O Jornal)

Raptores Só Aguardam Chegada Dos 15 Presos (O Jornal)

Embaixador Salvo E Terror Cercado (Última Hora)