Grampo indica que PCC deu ordem para matar vereador
O vereador do PSDB, Paulo Sérgio Batista, da Câmara Municipal de Mairinque, no interior de São Paulo, foi assassinado no dia 13 de maio a mando da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). É o que apontam escutas feitas pela Polícia Civil, acompanhadas pelo Ministério Público, onde Valdeci Francisco Costa, o Cei ou Notebook, uma das principais lideranças da facção no interior do Estado, fala com outro criminoso não identificado sobre o assassinato no dia seguinte ao crime. "O primeiro ataque que teve xeque mate é ... referente a político aí, partiu de nóis, irmão.. . não foi escolhido à toa, entendeu? Mas é do PSDB. Presidente da Câmara e do PSDB mesmo, entendeu?"
Conhecido como Paulinho da Lanchonete, o parlamentar foi assassinato no sábado da primeira onda de ataques do PCC enquanto esperava por outros vereadores que lhe dariam carona para ir a um congresso em Piedade. Às 8 horas, dois homens chegaram em um Fiesta prata, desceram e dispararam seis tiros à queima-roupa antes de fugir. Na sexta-feira, antes do começo dos ataques, o Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) já havia obtido uma escuta em que Orlando Mota Júnior, o Macarrão, outro cabeça do PCC, determinava: "Matem o pessoal do PSDB."
Na escuta do assassinato do vereador, Notebook conversa também com o outro criminoso sobre o significado do "salve" de Macarrão. Eles discutem se os políticos do PCdoB também devem ser alvos de atentados. "O PCdoB, os dois é vermelho, é oposição, né, irmão?... É partido de esquerda... E tanto um quanto outro são coligados, né? Os dois são partidos do trabalhador aí tal... Mas o salve falou todos, menos o PT, né meu..."
Paulinho estava em seu segundo mandato de vereador. No primeiro, foi eleito pelo PMDB. Mudou de partido no segundo. Baiano, de 35 anos, natural de Morro do Chapéu, Paulinho era tido como um homem esquentado. Chegou na cidade no começo dos anos 1980, quando abriu uma lanchonete e subiu de vida. Montou um restaurante e uma pizzaria no bairro onde mora, o Dona Catarina.
Decidiu se candidatar levantando a bandeira da segurança pública. O Dona Catarina tem sérios problemas com o tráfico de drogas. Paulinho mantinha contatos permanentes com a Secretaria da Segurança Pública para discutir os problemas do bairro. Há cerca de dois anos, chegou a negociar a realização de uma blitz da polícia no Dona Catarina. Vieram oito viaturas. Os policiais, depois de feito o trabalho, almoçaram em seu restaurante. Paulinho disse na ocasião: "Vou morrer".
O caso era considerado pelos moradores do bairro como o provável motivo do assassinato de Paulinho. Era citado também um assalto ocorrido havia oito anos ao supermercado do irmão do vereador. Dias depois do roubo, um dos assaltantes foi morto pela polícia e os moradores acreditavam que a família de Paulinho sofreria vingança. Quando o vereador morreu, próximo do Dia das Mães, o comentário era de que a vingança demorou, mas foi feita para que outra mãe viesse a chorar.
"Se fosse briga de vizinho, disputas por terra ou qualquer outro motivo mais corriqueiro, ficaríamos mais aliviados. Mas a ligação com o PCC vai deixar a cidade apreensiva", afirma o presidente da Câmara, Ricardo Almeida Souza, o Ricardo veterinário.
Com as escutas e a prisão de Notebook, ocorrida em junho, a solução do homicídio começou a caminhar para a ligação do PCC. Notebook tinha o apelido por ser inteligente e ter uma boa memória. Ele é considerado o coordenador e o articulador das atividades do PCC no interior. Notebook distribui as tarefas determinadas pelas principais lideranças aos soldados da facção e repassa os "salves" vindos de dentro das penitenciárias. Também era encarregado pela arrecadação de dinheiro na região de Campinas.
Os vereadores de Mairinque estão apreensivos. A segurança foi reforçada, mas as sessões continuam normalmente. "Não podemos deixar de cumprir os compromissos", diz o presidente da Câmara. A bancada de vereadores é formada por integrantes do PTB, PFL, PSC, PV e PSDB.
EStadão
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