14.8.06

Norambuena

Desta vez o cérebro é Norambuena
Esta é a principal suspeita da polícia; grupo do criminoso também exigiu acesso à imprensa em seqüestro no Chile


Um seqüestro ocorrido no Chile em 1987 pode estar por trás da tática utilizada pelo Primeiro Comando da Capital ao seqüestrar o jornalista Guilherme Portanova e o auxiliar técnico Alexandre Coelho Calado. Trata-se do seqüestro do coronel Carlos Carreño, diretor da Fábrica de Armas do Exército do Chile. O motivo dessa suspeita da polícia paulista é o fato de Maurício Hérnandez Norambuena, o Comandante Ramiro, ter participado dessa ação.

Líder dos seqüestradores do publicitário Washington Olivetto, Norambuena é um dos principais suspeitos de ter articulado a ação do PCC neste fim de semana. Preso desde 2002, ele cumpre pena no Centro de Readaptação Penitenciária de Presidente Bernardes, onde está a cúpula do PCC. Quando foi preso, Norambuena era o comandante militar da Frente Patriótica Manoel Rodrigues (FPMR).

O coronel Carreño foi seqüestrado pela FPMR, pouco depois de o grupo esquerdista ter rompido com o Partido Comunista do Chile, de quem havia sido o braço armado. Mantido 92 dias em cativeiro no Brasil, Carreño foi libertado em São Paulo depois que o regime do general Augusto Pinochet atendeu às exigências da FPMR, distribuindo alimentos em uma favela de Santiago e permitindo a divulgação de comunicados do grupo na imprensa daquele país.

Em entrevista ao Estado em 2002, a única até hoje concedida por Norambuena, ele confirmou ter participado da Operação Príncipe, o seqüestro de Carreño. "Essa operação teve o objetivo de trazer ao conhecimento do país a posição da frente com a publicação pela imprensa de declarações da FPMR." Norambuena disse ainda que "a libertação são e salvo do coronel produziu uma grande simpatia pela frente".

Delegados da Divisão Anti-Seqüestro (DAS) e do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap) consideram provável a participação de Norambuena no plano do seqüestro dos funcionários da TV Globo e discutiram isso ontem em reunião na Secretaria da Segurança Pública.

A polícia suspeita que o próximo passo da facção possa ser seqüestrar uma autoridade para exigir a libertação de líderes do PCC presos em troca da vida do refém. Isso porque a imagem de Carreño com a bandeira da FPMR ao fundo publicada à época remete à do ex-premiê italiano Aldo Moro, presidente da Democracia Cristã, no cativeiro diante de uma bandeira das Brigadas Vermelhas. Moro foi seqüestrado em 1978. Como o governo não aceitou libertar brigadistas presos, ele foi executado.

Em 2002 e 2003, a polícia paulista apreendeu com integrantes do PCC planos de seqüestro de autoridades, que nunca se consumaram. Agora, essa é uma possibilidade voltou a ser levada em conta.
Estadão

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