SEQÜESTRO DO EMBAIXADOR AMERICANO
Ano: 1969
"Tôda a Segurança Nacional encontra-se hoje mobilizada a fim de descobrir o paradeiro do embaixador norte-americano Elbrick, seqüestrado por terroristas, ontem à tarde, em Botafogo. Inicialmente os seqüestradores entraram no próprio carro diplomático - que é à prova de bala e não tem maçanetas externas - onde esta a diplomata norte-americano e depois obrigaram-no a passar para a Kombi, já distante do ponto em que efetuaram a captura do embaixador.
Durante a tarde de ontem, à noite e esta madrugada, foi grande a movimentação na Embaixada dos Estados Unidos, pois até então não havia a menor notícia a respeito do paradeiro de Elbrick.
Por sua vez, o governador Negrão de Lima, tão logo teve conhecimento do fato, dirigiu-se ao Ministério do Exército onde se manteve durante algum tempo em conferência com o general Syseno Sarmento, num encontro que teve caráter secreto, nada sendo divulgado. A essa hora já havia sido mobilizado um sistema de segurança nunca antes utilizado, pois dêle participam os Serviços Secretos do Exército, Marinha, Aeronáutica e Serviço Nacional de Informações, o Centro de Informações das três Fôrças, além da Polícia Federal e do DOPS.
No local do seqüestro os terroristas deixaram dois documentos: o primeiro, um manifesto que, segundo afirmam, deveria ser divulgado para conhecimento do País inteiro; o segundo, uma espécie de instrução de resgate, pois os seus autores pretendem que 15 elementos que são partidários seus e que estão presos, deverão ser conduzidos em segurança à Argélia, Chile ou México. Afirmam os seqüestradores que sòmente assim o embaixador Elbrick poderá ser libertado. Caso contrário o representante norte-americano no Brasil "será justiçado"." Correio da Manhã, 5 de setembro de 1969.
"Na tarde de ontem, no Itamarati, os ministros Magalhães Pinto e Gama e Silva revelaram oficialmente que o Govêrno brasileiro aceitava a exigência dos seqüestradores, decidindo soltar todos os quinze presos políticos exigidos para o resgate do embaixador Burke Elbrick.
Os titulares das Relações Exteriores e da Justiça distribuíram nota oficial, afirmando "estarmos decididos a fazer o que estiver a nosso alcance para evitar que se sacrifique mais uma vida humana e sobretudo um representante diplomático". Grande número de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas estava aglomerado no Itamarati, quando os ministros Magalhães Pinto e Gama e Silva anunciaram a solução, depois de reunião, a portas fechadas, que durou três horas.
Dos quinze presos políticos, cuja libertação é o preço do resgate do embaixador dos Estados Unidos, 8 são de São Paulo, 5 da Guanabara, 1 de Pernambuco e outro de Minas Gerais.
São os seguintes os presos a ser colocados em liberdade e transportados para fora do País: Gregório Bezerra, Vladimir Gracindo Soares Palmeira, José Ibraím, João Leonardo Silva Rocha, Ivens Marchetti de Monte Lima, Flávio Aristides Freitas Tavares, Ricardo Villas Boas de Sá Rêgo, Mário Roberto Galhardo Zaconato, Rolando Fratti, Ricardo Zaratini, Onofre Pinto, Maria Augusta Carneiro Ribeiro, Agnaldo Pacheco da Silva, Luiz Gonzaga Travassos da Rosa e José Dirceu de Oliveira e Silva.
Por intermédio da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, o secretário de Estado norte-americano, Sr. William Rogers, enviou mensagem ao chanceler Magalhães Pinto afirmando que, "em meu nome e em nome do govêrno dos Estados Unidos da América, desejo expressar a Vossa Excelência os nossos agradecimentos pelas medidas que Vossa Excelência e o Govêrno brasileiro têm tomado para conseguir a restituição a salvo do embaixador Burke Elbrick".
Dom Umberto Manzzoni, Núncio Apostólico no Brasil, entregou ontem carta ao ministro Magalhães Pinto, manifestando "a profunda satisfação do Corpo Diplomático ao constatar que o Govêrno faz de sua parte todos os esforços possíveis para salvar a vida do ilustre colega, o senhor embaixador dos Estados Unidos.
Permito-me acrescentar que, na vida dos povos, especialmente nos tempos atuais, há casos, como o presente, em que a concessão não é sinal de debilidade, nem acarreta perda do próprios prestígio moral de quem a faz."
O embaixador Elbrick dirigiu, ontem, dois bilhetes à sua espôsa, o primeiro dizendo estar bem e que poderiam ser perigosas tentativas para localizá-lo, e o segundo manifestando sua satisfação por ter o Govêrno brasileiro aceitado as exigências dos seqüestradores, "pois significa que serei libertado tão logo os 15 prisioneiros cheguem ao México". o primeiro bilhete foi encontrado às 12h15min na caixa de donativos da Igreja de Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado, junto com um manifesto dos raptores, e o segundo numa caixa de sugestões do Mercado Disco, no Leblon.
Revelou-se aos primeiros minutos de hoje que já se encontravam no Aeroporto do Galeão dois aviões preparados para conduzir os presos liberados para o exterior, não se sabendo ainda para qual país seriam levados (México, Chile ou Argélia). Informou-se também que dois dos presos não desejavam deixar o País: Ricardo Villas Boas de Sá Rêgo e Maria Augusta Carneiro Ribeiro, que entretanto seriam transportados de qualquer forma.
O México concedeu asilo aos 15 presos políticos brasileiros, segundo informou ontem à noite a Secretaria de Relações Exteriores. Em Santiago do Chile, porta-voz oficial do ministério d6esse país anunciou, também, a disposição de seu govêrno em conceder o asilo. Chegou-se a informar que alguns dos presos chegariam ainda na noite de ontem a Santiago. Disse o porta-voz que "realmente ignoramos quantos virão, e quem são, mas o asilo é extensivo a todos os que chegarem". (...)" Correio da Manhã, 6 de setembro de 1969.
"A posição do Govêrno diante do seqüestro do Embaixador Charles Elbrick será divulgada hoje em nota oficial redigida pelos Ministros Magalhães Pinto e Gama e Silva. A decisão foi tomada ontem à noite em reunião com a Junta do Govêrno, no Itamarati.
Nessa reunião se resolveu liberar a mensagem deixada pelos seqüestradores, mas nada foi dito sôbre uma das exigências para que o Embaixador dos Estados Unidos seja pôsto em liberdade: a libertação de 15 presos políticos, ainda não nomeados, que devem ser conduzidos ao México, Chile ou Argélia como asilados.
O seqüestro do Sr.Charles Elbrick deu-se depois do almôço, quando o diplomata voltava de sua residência oficial para a sede da Embaixada, no Centro. Quando seu Cadillac prêto dobrou da Rua São Clemente para a Rua Marques, em baixa velocidade, foi fechado por um Volkswagen. Logo três rapazes com revólveres renderam o motorista e o Embaixador, forçando-os a seguir até a Rua Caio Melo Franco, onde uma Kombi já os esperava. Cloroformizado, o Embaixador Charles Elbrick foi mudado de carro, enquanto o motorista, liberado, corria ao telefone mais próximo para comunicar o seqüestro.
Tôda a operação dos seqüestradores, antes e logo depois da abordagem ao Cadillac, foi acompanhada pela Sra. Elba Souto maior, espôsa de um capitão-de-mar-e-guerra. Desconfiada da movimentação, ela telefonara à Delegacia de Furtos de Automóveis dando a placa dos carros; o policial disse que os carros não eram roubados; pouco depois os carros foram usados no seqüestro. E mais tarde confirmou-se que pelo menos uma placa era roubada.
Ainda ontem o Itamarati divulgou nota oficial afirmando que o seqüestro é "um ato de puro e símples terrorismo em detrimento do prestígio internacional do Brasil." Nos Estados Unidos, o Presidente Richard Nixon convocou o Secretário de Estado, William Rogers, para uma conferência, assim que foi informado do seqüestro do Embaixador Charles Burke Elbrick."
"O Embaixador Elbrick dispensou pessoalmente há cêrca de duas semanas a proteção especial que recebia de agentes da Secretaria de Segurança, alegando que estava há pouco tempo no Brasil e era pouco conhecido.
Apesar de a Embaixada americana ter seu próprio corpo de segurança, a segurança pessoal do Embaixador era feita também com a colaboração de agentes estaduais, até que êle mesmo solicitasse a sua desmobilização. O Sr. Elbrick, segundo funcionários da Embaixada, gostava de andar sozinho, principalmente quando saía pelo centro da cidade para ir ao barbeiro ou fazer compras.
Tôda a polícia carioca foi colocada de sobreaviso ontem a noite, por ordem expressa do Secretário de Segurança, General Luís de França Oliveira, através de telex enviado a todos os órgãos policiais que se mantém mobilizados intensamente na busca dos seqüestradores do Embaixador dos Estados Unidos no Brasil.
Ao mesmo tempo, o Secretário de Segurança determinou a mobilização dos 50 integrantes do Grupo Especial de Operações, recentemente criado, para se integrar nas investigações e busca dos raptores em cooperação com as autoridades militares. Paralelamente, tôdas as radiopatrulhas e o Departamento Motorizado da Secretaria recebeu instruções para informar ao comando policial qualquer informação que possa levar à prisão dos seqüestradores.
O General Luís de França Oliveira não quis comentar o rapto do Embaixador Charles Elbrick, afirmando apenas que o caso estava mais no âmbito policial, e que todo o organismo policial do Estado sôb o seu contrôle, estava mobilizado para a busca.
Por medida de segurança, 15 presos políticos que estavam no DOPS foram removidos ontem à noite para a Polícia do Exército. Policiais da Secretaria de Segurança acreditavam que os seqüestradores tivessem se dirigido para São Paulo.
Tôdas as barreiras entre a Guanabara e o Estado do Rio estão guardadas por policiais armados, conforme determinação dada pelo diretor-geral do Departamento da Polícia Federal.
Mais de 4200 homens, em todo o país, e cêrca de 450 apenas na Guanabara, com 120 viaturas mobilizadas e em permanente contato pelo rádio - cuja estação receptora está no 4o andar do prédio 70 da Rua da Assembléia - foram mobilizados poucos minutos depois que a Polícia Federal recebeu a comunicação do seqüestro do Embaixador Burke Elbrick, logo após às 15 horas. (...)" Jornal do Brasil, 5 de setembro de 1969.
"O Chanceler Magalhães Pinto caracterizou como "inominável atentado" o seqüestro do Embaixador dos Estados Unidos e, em nome do povo brasileiro e do Govêrno do Brasil, manifestou a repulsa do País a êsse "ato de puro e símples terrorismo".
Todos os dispositivos de segurança estavam, ontem, mobilizados para deter os subversivos que, à tarde, seqüestraram o Sr. Charles Burke Elbrick, deixando no local da investida dois documentos: um de crítica ao Govêrno e outro fazendo descabidas e insultosas exigências, como a de libertação e da divulgação de um manifesto nitidamente subversivo. A partir das 21 horas, realizava-se, no Itamarati, uma reunião com a presença dos Ministros Augusto Rademaker, Lira Tavares, Sousa Melo, Magalhães Pinto e Gama e Silva, presentes ainda os Generais Siseno Sarmento e Jaime Portela.
O Presidente Nixon, em sua residência de verão, já tomou conhecimento do atentado e recebeu do Govêrno brasileiro a informação de que tudo está sendo feito para localizar o Sr. Elbrick e punir os criminosos."
"Às 13h50min de ontem. o Embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick saía, no Cadillac CD-23, da residência oficial, na Rua Sào Clemente, 288. Logo depois de passar pelo Largo dos Leões, o carro foi interceptado pelos ocupantes de dois automóveis Volkswagen - SP 40-05-61 e ES 96-35-8. Os homens, armados de metralhadoras, ordenaram ao motorista Custódio Abel da Silva que se dirigisse a uma ladeira nas proximidades. O Embaixador foi transferido para a Kombi ES 9-51-58, sendo liberado o motorista, depois de retirado o rádio e a chave de ignição do carro diplomático. Abel, mais tarde, declarou que os bandidos usaram narcóticos. Outro detalhe: um homem viu, da janela de sua casa, os primeiros lances do seqüestro. Não pôde impedi-lo.
O Cadillac CD-23 foi interceptado justamente quando atingia a Rua Marques. Os ocupantes dos dois carros entraram no automóvel de diplomata e, imediatamente, arrancaram o rádio, ordenando ao motorista que dirigisse o veículo a um dos morros vizinhos, onde já se encontrava estacionada a Kombi. Após terem retirado a chave do carro, transferiram o Embaixador Charles Elbrick para a Kombi, partindo para lugar ignorado.
O motorista Custódio Abel da Silva, depois de descer o morro a pé, telefonou para a Embaixada dos EUA, relatando a ocorrência.
Um dos automóveis utilizados para interceptar o carro do diplomata foi localizado, pela RP 8-192, estacionado na Rua Ministro João Alberto, 191. Em seu interior foi encontrado um objeto estranho, levado para exame pericial.
No carro da Embaixada, foram deixados dois documentos. O primeiro é um manifesto de crítica ao Govêrno brasileiro. O outro é simplesmente uma exigência de que o manifesto subversivo fosse entregue a um dos Ministros militares e fosse lido por autoridades constituídas, em tôdas as rádios brasileiras. Davam um prazo de 24 horas para a libertação de 15 presos políticos, cuja relação seria enviada posteriormente, para que fôssem entregues, pelo govêrno, nas Embaixadas do Chile, México e Argélia. Ameaçaram não libertar o diplomata a não ser que todos esses itens fôssem atendidos.
Todo o dispositivo de segurança entrou imediatamente em ação. Além das autoridades estaduais, foram mobilizados a Polícia Federal e até o Corpo de Bombeiro. Foi expedida ordem para fechamento das barreiras com adoção de contrôle do máximo rigor.
O Chanceler Magalhães Pinto, acompanhado do General Siseno Sarmento e do Chefe da Casa Militar do Palácio Guanabara, Coronel Alcir Miranda, estêve no Laranjeiras e dirigiu-se, a seguir, à Embaixada dos Estados Unidos.
O motorista Abel da Silveira foi levado à Secretaria de Segurança e, depois de prestar declarações, foi encaminhado aos arquivos do DOPS, na tentativa de se conhecer, entre as fotos de subversivos, os autores do seqüestro. Abel chegou a declarar que, pelo jeito, os bandidos usaram narcótico, durante a operação.
Mais tarde o motorista foi levado ao I Exército. Êle trabalha na Embaixada há cinco anos e foi, por sua conduta exemplar, escolhido para as funções de motorista do Sr.Charles Elbrick." Diário de Notícias, 5 de setembro de 1969.
"O govêrno brasileiro, em comunicado dado à divulgação às 13h30min de ontem, pelo chanceler Magalhães Pinto, concordou com a transferência para o exterior, dos 15 presos políticos, cuja libertação foi exigida pelos seqüestradores do embaixador Charles Burke Elbrick.
Cêrca de duas horas antes, um telefonema anônimo comunicara que numa das caixas de esmolas da Igreja de Nossa Senhora da Glória existia um bilhete do próprio punho do embaixador à sua espôsa, bem como um manifesto às autoridades.
Realmente, tais documentos foram encontrados no lugar indicado e levados a quem de direito, sucedendo-se logo uma reunião de cúpula, no decorrer da qual ficou acertado que seriam aceitas as condições impostas pelos seqüestradores.
Enquanto desde a véspera todo o dispositivo de segurança do Estado da Guanabara era movimentado no sentido de se conseguir uma pista que levasse aos autores do seqüestro, com participação do Departamento de Polícia Federal e, já na manhã de ontem, com o concurso de agentes do FBI, era dado um aviso por parte dos seqüestradores a respeito da caixa de esmolas da Igreja de Nossa Senhora da Glória.
Constatou-se a veracidade da informação e, no bilhete, do próprio punho do embaixador Charles Burke Elbrick, êle avisava à sua espôsa de que estava fisicamente bem, esperando que sua libertação não demorasse muito, para poder vê-la em breve. Dizia ainda estar tentando não ficar preocupado e que as autoridades deviam tentar localizá-lo, para evitar mal maior, já que o pessoal que o havia seqüestrado era verdadeiramente decidido.
No manifesto encontrado junto, os elementos da ALN referiam-se ao bilhete e exigiam que as autoridades suspendessem as diligências no sentido de localizá-los., bem como o pronunciar-se publicamente até às 14h50min, concordando com a libertação de 15 prisioneiros, cujos nomes oportunamente fariam chegar ao seu conhecimento. Só depois que as agências noticiosas informassem que os 15 elementos já se encontravam em plena segurança no estrangeiro, é que se procederia à libertação do embaixador, mantido como refém.
Cientificado o fato às autoridades superiores, antes da hora marcada, 14h50min, o chanceler Magalhães Pinto fêz de público a seguinte comunicação:
"São do conhecimento público as circunstâncias ligadas ao seqüestro do embaixador dos Estados Unidos da América, Sr. C. Burke Elbrick, por terroristas empenhados na subversão da ordem pública nacional.
Em manifesto lançado na ocasião do delito, os terroristas exigem, sob ameaça de matar o embaixador Elbrick, que o govêrno faça divulgar na íntegra aquêle manifesto e envie para o exterior 15 indivíduos atualmente detidos por atividade subversiva.
Convencido de interpretar com fidelidade os sentimentos profundos e autênticos do povo brasileiro, o govêrno decidiu fazer o que está a seu alcance para evitar que se sacrifique mais uma vida humana, sobretudo quando se trata da pessoa de um representante diplomático, ao qual o Estado brasileiro, tradicionalmente hospitaleiro, deve proteção especial.
O govêrno já autorizou a divulgação do manifesto e determinará a transferência para o exterior dos 15 detidos cujos nomes lhe forem indicados.
Dêsse modo, recairá totalmente sôbre os seqüestradores a responsabilidade por qualquer dano à incolunidade da pessoa do embaixador C. Burke Elbrick." (...)" Luta Democrática, 6 de setembro de 1969.
"Com desembarque previsto para as 14 horas (hora do Rio), chegam hoje ao México os 15 asilados cuja libertação foi exigida pelos terroristas que seqüestraram o embaixador norte-americano Burke Elbrick. O embarque no Rio, a que não tiveram acesso os reporteres, foi precedido de forte dispositivo de segurança, até que o Hércules da FAB, prefixo 2456, levantou vôo às 17,10, com destino a Recife, onde deveria recolher o ex-deputado Gregório Bezerra. O Itamarati viveu ontem outro dia de intenso nervosismo, que atingiu climax quando o chanceler Magalhães Pinto foi informado de que, contràriamente ao que êle já havia anunciado à imprensa, o avião ainda nào levantara vôo, por "motivos técnicos". O Departamento de Estado dos EUA confessou-se preocupado pela possibilidade do seqüesto provocar uma onda de atentados similares no mundo."
"Com chegada prevista para às 17 horas (14 horas do Rio) desembarcam hoje no México os 15 ex-prisioneiros cuja liberdade foi exigida pelos terroristas que seqüestraram o embaixador norte-americano Burke Elbrick.
Às 17h05m o "Hércules" C-130.2456 da Força Aérea Brasileira decolou rumo ao México do Aeroporto Militar do Galeão levando em seu interior os prisioneiros políticos exigidos pelos seqüestradores para libertarem o embaixador norte-americano Burke Elbrick.
Soldados da Aeronáutica exerceram severa vigilância não permitindo a penetração da imprensa. Os presos foram conduzidos para o Aeroporto Militar de helicópteros e carros blindados da radiopatrulha. Ricardo Villas Bôas Sá Rêgo foi o primeiro a chegar."
"A imprensa manteve-se durante a manhà de ontem em constante expectativa esperando a chegada dos prisioneiros ao Galeão. Às 12,02 horas Ricardo Villas Bôas Sá Rêgo conduzido por policiais do DOPS e Secretaria de Segurança Pública chegou ao local de embarque. Os carros de rádiopatrulha entraram pela pista comercial e ali permaneceram durante alguns minutos.
Uma ordem dada fez com que o prisioneiro fosse transportado imediatamente para a Base Aérea. Ali a imprensa não penetrou ficando há cêrca de 1.200 metros dos aviões parados na pista de pouso. Dois aviões da Força Aérea Americana estavam sendo abastecidos.
Às 12h25 minutos informava-se ter sido determinado o abastecimento do avião da FAB que levaria os prêsos para o México. A movimentação na Base Aérea do Galeão continuou e os repórteres permaneciam na sacada do Aeroporto Internacional utilizando teleobjetivas possantes.
Mais três carros da radiopatrulha chegavam às 12,28 horas dêles desembarcando algumas pessoas. Dez minutos depois um helicóptero pousava na pista da Base Aérea e segundo as informações teria conduzido o jornalista Flavio Tavares.
A movimentação de veículos policiais foi intensa. Novas viaturas chegavam, mas, em virtude da distância em que estavam os repórteres não foi possível identificar ninguém. Dois "Hércules" permaneciam parados e já estavam abastecidos. Soldados da Aeronáutica guarneciam tôda a área adjacente. (...)
Às 16,35 horas pousava junto ao avião "Hércules" um helicóptero. Dêle desceram, segundo apurou-se, quatro pessoas, uma das quais foi embarcada no avião. A partir daí os carros que ainda permaneciam na pista foram se retirando gradativamente.
Precisamente às 16,46 horas a primeira hélice da asa direita do "Hercules" começou a girar. Seguiram-se as outras e logo depois o avião acionava todos os motores. Permaneceu parado durante 2 minutos e às 16,52 horas dirigiu-se à cabeçeira da pista, decolando às 17,05 horas."
"Foi encontrada na escultura localizada em frente ao edifício da revista "Manchete", na Praia do Russel, nova mensagem do embaixador norte-americano e de seus seqüestradores. São os seguintes os textos:
"Nota da Ação Libertadora Nacional e do Movimento Revolucionário 8 de Outubro -
Tomamos conhecimento das declarações do Chanceler Magalhães Pinto segundo as quais nossos 15 companheiros partiram para o México. Solicitamos às emissoras de rádio que confirmem no Ministério das Relações Exteriores e na Embaixada do México se os que partiram são os constantes na lista já divulgada. Aguardamos, como nos comprometemos, apenas a confirmação da chegada através das agências internacionais para liberar o ombaixador dos Estados Unidos, que envia sua mensagem final até o momento de reencontrar a família. Rio, 6/9/69 - ALN - MR8"
A nota dos raptores está acompanhada da seguinte carta do embaixador Burke, à sua espôsa, escrita em inglês:
"Estou bem ansioso para vê-la brevemente. Li nos jornais de hoje que você recebeu minhas duas cartas de ontem e fui informado pelos que me prendem, que êles estão esperando confirmação do Govêrno brasileiro e da Embaixada mexicana sôbre o nome dos 15 presos, que foram libertados e que estão agora presumivelmente a caminho do México. Espero que receba uma confirmação para que eu possa ser libertado a qualquer momento, amanhã. Com todo o meu amor, Burke."
"Falando, cêrca das 22,30 horas de ontem, o Chanceler Magalhães Pinto confirmou que treze elementos subversivos, libertados no Rio, já haviam partido com destino ao México, além de um de Recife, devendo o outro ser apanhado em Belém.
A declaração do Ministro constituiu uma resposta a nova mensagem dos raptores do Embaixador Burke Elbrick ao Govêrno que reclamavam esclarecimentos sôbre o embarque. As palavras do Sr. Magalhães Pinto foram préviamente gravadas e em seguida, irradiadas para conhecimento dos terroristas." O Jornal, 7 de setembro de 1969.
"77 horas e 55 minutos depois de haver sido seqüestrado, o Embaixador norte-americano Charles B. Elbrick regressou ontem a sua residência oficial, num táxi, apanhando inteiramente de surprêsa a Embaixada, sua família e os jornalistas de plantão na Rua São Clemente. Fôra abandonado momentos antes próximo ao Largo da Segunda-Feira, na Tijuca.
Tão logo as autoridades tomaram conhecimento do regresso do diplomata, foi desencadeada uma vasta operação de cêrco, na tentativa de localizar os seqüestradores. Tôdas as barreiras nas estradas foram fechadas e a Polícia passou a investigar.
O Embaixador, ao regressar, trajava terno cinza escuro, camisa azul clara, sem gravata, e apresentava um ferimento na testa, produzido por uma coronhada. Segundo seu relato, foi a única violência física dos seqüestradores, que o trataram "muito bem". Eram todos jovens, segundo disse, e não usavam disfarces."
"Às últimas horas da noite de ontem, o Secretário de Imprensa da Presidência da República, Sr. Carlos Chagas, informou sôbre o teor de uma carta em que o Presidente Richard Nixon agradece ao Presidente Costa e Silva e aos três Ministros militares no exercício do govêrno os esforços desenvolvidos para a libertação do diplomata: "Desejo expressar - diz a carta - a minha mais profunda gratidão, e a de meu govêrno, pelos bem sucedidos esforços a fim de assegurar a liberação do Embaixador Elbrick. Estou plenamente ciente da complexidade da tarefa e das difíceis decisões adotadas."
"Os quinze prisioneiros libertados pelo govêrno brasileiro em troca da devolução do Embaixador chegaram ao México ontem à tarde e foram encaminhados a um hotel."
"Num táxi Volkswagen, placa GB 5-11-43, o Embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick regressou à sua residência às 19h45m de ontem, exatamente 78 horas e 55 minutos depois de haver sido seqüestrado próximo à Rua São Clemente.
Cercado imediatamente pelos reporteres e fotógrafos de plantão, o Sr. Elbrick entrou imediatamente em sua casa, onde falou com a esp6osa. Quinze minutos mais tarde pelo telefone, fêz um relato completo ao Presidente Nixon, a quem disse que "felizmente acabou tudo bem".
Logo em seguida, ainda pelo telefone, foi cumprimentado pelo Ministro Magalhães Pinto, que a seguir mandou à Rua São Clemente o Secretário Geral do Itamarati, Embaixador Gurgel Valente. Em todos os relatos, disse o Embaixador que não foi cloriformizado, como se anunciara. Recebeu uma coronhada na cabeça, que sangrou um pouco.
- Mas a partir daí fui muito bem tratado. Êles até me deram charutos e lavaram minha camisa.
Revelou ainda o Embaixador que durante todo o tempo em que permaneceu seqüestrado foi mantido num quarto pequeno, com pouca luz. E tanto no trajeto de ida para esse refúgio, como quando de lá foi retirado mantiveram-no de olhos vendados. Por isso, não pode precisar onde estêve.
As primeiras palavras do Embaixador, ao chegar à sua residência, foram estas:
- Sinto-me feliz por estar de volta. Alegra-me que meus captores tenham mantido a palavra, deixando-me partir. Estou muito grato ao Govêrno brasileiro por haver tomado tôdas as medidas necessárias para levar a cabo minha libertação.
O Sr. Elbrick foi deixado pelos seqüestradores em frente ao número 40 da Rua Eduardo Ramos, próximo à Rua Conde de Bonfim e Largo da Segunda-Feira, na Tijuca. Recebeu ordens para aguardar quinze minutos, mas aproveitou a passagem do táxi para voltar à sua residência. O motorista José Mateus de Sousa, que o recolheu imediatamente, perguntou-lhe se não era o Embaixador norte-americano. E acrescentou:
- Pobrezinho... (...)"
"A notícia da libertação do Embaixador Burke Elbrick foi recebida na sede da Embaixada por volta das 20 horas. O Encarregado de Negócios, Sr. William Belton, e o Conselheiro John Mowinckel, tomaram imediatamente o carro placa CD-818 e seguiram para a residência do Embaixador, na Rua São Clemente.
Dez minutos depois, um funcionário do Setor de Informações transmitia aos jornalistas as primeiras declarações do Embaixador Burke e sua explicação para o ferimento que mostrava no lado direito da testa:
- Êles não tinham a intenção de me fazer mal algum, mas eu ignorava isto e por êste motivo resisti quando me disseram para fechar os olhos enquanto me transferiram para outro carro. Eu não estava disposto a fechar meus olhos para ninguém naquele momento.
O Embaixador resistiu e tentou afastar as armas apontadas para êle e nesse momento foi fortemente atingido. (...)" Última Hora, 8 de setembro de 1969.
AS MANCHETES
Govêrno Faz Mobilização Geral Para Salvar Embaixador Dos EUA
(Correio da Manhã)
Govêrno Libera Presos Políticos E Preserva Vida Do Embaixador
(Correio da Manhã)
Govêrno Fixa Hoje Sua Posição Sôbre O Seqüestro (Jornal do Brasil)
Elbrick Dispensara Segurança Pessoal Oferecida Pelo Estado Há Duas Semanas (Jornal do Brasil)
Seqüestro De Embaixador É Inominável: País Revoltado
(Diário de Notícias)
Govêrno Salva Vida Do Embaixador - Terroristas Atendidos - Tudo Agora Depende Dos Raptores (Luta Democrática)
Só Falta Agora A Volta De Elbrick - Asilados Hoje À Tarde No México
(O Jornal)
Raptores Só Aguardam Chegada Dos 15 Presos (O Jornal)
Embaixador Salvo E Terror Cercado (Última Hora)
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