O Ministério da Educação (MEC) está a pleno vapor na campanha eleitoral. Enquanto Lula não vai a debates, com medo da democracia, a boca do ministro da Educação é transformada em megafone em tablado de comício. Foi anunciada por tal boca a soma de R$ 300 milhões para a ampliação do ensino superior da rede federal, em 2007. Quem não entende de educação pode acreditar que isso seja uma coisa boa para o País. Mas não é. Ao contrário, é dinheiro jogado fora.
As razões para esta minha afirmação são técnicas, mas aqui vou colocá-las de maneira simples.
A estratégia do governo atual é a de continuar seguindo uma lei absurda, que é a de gastar, no ensino superior, na ampliação e construção de universidades, e não de faculdades. Mais de dois terços do dinheiro anunciado não vão para o ensino e a pesquisa, como iria se o País optasse pela ampliação do ensino superior nos moldes em que faculta para a iniciativa privada, que é a ampliação por meio de cursos em faculdades, e não em universidades. O dinheiro vai para a construção de "elefantes brancos", que são gigantescas estruturas universitárias dispendiosas, as quais, uma vez instaladas, rapidamente se transformam e focos de greves, pois não podem ser mantidas de acordo com os seus projetos originais. Digo e repito: nenhum país que teve sucesso no seu modelo de ensino superior público optou por essa via brasileira. Ela é para país milionário. E estúpida.
Quando percorremos o mapa dos investimentos anunciados, percebemos claramente a velha idéia de construir algo no "nada", bem pertinho do "lugar nenhum". As ampliações e construções são feitas onde a infra-estrutura local não sustentará o que está sendo construído. E, mais do que isso, em locais que não poderão apresentar uma demanda cultural para o que está sendo feito. Dou um exemplo. O que ocorre em muitos lugares no Brasil é possível de ser analisado observando o fenômeno do Orkut. Às vezes, numa cidade pequena (no Estado de São Paulo!), muitos jovens estão se comunicando pela internet, no Orkut. Mas, quando se investiga com quem conversam, se percebe que 90% deles não saíram do círculo de amizades que, antes da internet, era formado na praça ou no barzinho da cidade. Ou seja, a falta de cultura básica e do inglês coloca esses jovens de volta a uma internet que não passa de um telefone local, nada além disso. Esse mesmo processo é o que ocorre nessas novas universidades de lugares sofridos, que já foram criadas. Nas que vão ser criadas, então, nem se fale! Há um número grande de universidades federais que já são provincianas por causa disso. O governo não se preocupa com elas. Deixa-as isoladas. Há reitores nessas universidades de periferia que são iletrados. O governo, no entanto, não quer saber disso, não faz nenhum investimento para resolver esses problemas. Mas dirige esforços para ampliar a rede e, portanto, ampliar as dificuldades. No limite, o que ele quer é satisfazer pequenas oligarquias locais, na busca da satisfação daqueles pedidos dos que irão trabalhar para a "base popular" de Lula.
A forma como o governo contrata o pessoal docente nesses "elefantes brancos" está falida. Trata-se do chamado Concurso Público de Provas e Títulos. Nome pomposo para uma "maracutaia" (lembram-se de como essa palavra veio a público?). Ora, sabemos que não haverá ensino de ponta nessas universidades, pois nas existentes, mesmo em grandes centros, isso já é difícil. Então, elas serão "universidades alfabetizadoras" - "colegiões". Qual a razão, portanto, de não se aplicar um concurso público geral para a contratação de professores, como o que é feito para o ingresso em outras carreiras públicas, como para o Banco do Brasil, por exemplo? (Nos Estados Unidos há um exame geral para os que fizeram mestrado poderem pleitear o doutorado.)
Se uma universidade precisa de um professor de Cálculo Integral, não serve um professor de Matemática? O professor de Matemática não sabe Cálculo Integral? Ah, mas há especificidades, não podemos contratar apenas clínicos gerais para a Medicina, não é mesmo? Mas isso não é uma objeção, pois um exame geral, básico, classificatório, eliminaria essa situação que temos hoje: vários "jovens doutores" completamente despreparados do ponto de vista do saber geral, mas que foram contratados por vícios de nepotismo, favoritismo político, amizades, ligações com o orientador, ligações como o sindicato ou mesmo com núcleos de poder tradicionais, etc. As denúncias são tantas a respeito desses concursos que não adianta mais ficar gritando, individualmente: "O meu foi sério!" Ninguém mais acredita nisso. E depois, uma vez vendo o professor atuando, acreditamos menos ainda. Então, o dinheiro investido pelo MEC teria de ser, antes, no sistema de seleção dos professores das universidades que já existem.
O resultado do Enade, já mostrado aqui, no Estadão, deixa claro que temos um sistema universitário falido, tanto público quanto privado (pois a iniciativa privada, quando cria universidades, imita o erro da pública!). O que faz o governo de Lula? Amplia o erro. Caminha na mesma direção do dispêndio de somas enormes de dinheiro e que até agora, como os exames indicam, não trouxeram benefício. Tudo indica que a estratégia de Lula no governo, ampliando a burocracia do serviço estatal por meio do ensino superior, é a mesma de Getúlio Vargas na criação de cargos públicos para alimentar a sua base eleitoral, então formada pelo PSD e pelo PTB. A diferença é que Vargas, com todo o seu populismo, ainda apostava nos partidos. Lula não aposta mais. Aposta só nisso que o seu ministro da Educação está fazendo, e que outros ministros deverão copiar.
É algo triste.
Paulo Ghiraldelli Jr. é filósofo
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