É INEGÁVEL que a movimentação de setores do PSDB e do PFL para obter novo depoimento de Paulo Okamotto no Congresso responde a interesses imediatos da oposição. No momento em que buscam munição para enfraquecer a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, os aliados de Geraldo Alckmin não perderiam a oportunidade de explorar o episódio da dívida do presidente da República com o Partido dos Trabalhadores.
É igualmente verdadeiro, porém, que a questão está longe de resumir-se às querelas eleitorais. Um novo depoimento pode ajudar a esclarecer uma transação que aproxima perigosamente as finanças do presidente de movimentações suspeitas. Por vontade própria, Okamotto, presidente do Sebrae, teria quitado uma dívida de R$ 29,4 mil de Lula com o PT. O Planalto afirmou várias vezes desconhecer o pagamento. Okamotto garantiu que o fizera em segredo, esquivou-se de inquirições e conseguiu preservar seu sigilo bancário.
A situação dificilmente assumiria outro rumo não fosse a entrevista concedida pelo presidente na semana passada ao "Jornal Nacional". "Quer pagar, você paga, porque eu não vou pagar, porque não devo ao PT", teria dito Lula a Okamotto, segundo afirmou aos entrevistadores.
A revelação apresenta nova versão para o suposto desconhecimento do Planalto. Na pior hipótese, um novo depoimento de Okamotto contribuiria para trazer mais detalhes a respeito do diálogo -ou para desautorizar a versão do presidente.
De todos os episódios da crise deflagrada no ano passado, a dívida de Lula que Okamotto declara ter pago é o que mais diretamente envolve a Presidência. Elucidar as dúvidas que pairam sobre o assunto é um imperativo. Se a disputa eleitoral favorece essa elucidação, tanto melhor.
Folha
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