Comício de Osasco mostra filme de campanha em que presidente dá testemunho de admiração pelo deputado
"Eu já falei, vou repetir, é Lula lá, João Paulo aqui", brada a marchinha de campanha de João Paulo Cunha 1325 federal, a todo volume, na noite gelada do Jardim Conceição, periferia sul de Osasco, à beira da Rodovia Raposo Tavares, onde sua gente persegue há duas décadas o sonho dourado que são as escrituras e a posse definitiva dos terrenos e das casas que eles ergueram por essas ruas que sobem o morro.
Daqui a pouco João Paulo vai chegar - são 21 horas, quarta-feira -, para mais um Diálogo Cidadão, que tem jeito e formato de comício dos novos tempos, por ele criado para substituir o showmício agora sob veto da legislação eleitoral. Ao abrigo da tenda de plástico montada na Rua Nossa Senhora Aparecida, 150 militantes e moradores, muitos em roupas carcomidas e com os pés em chinelos de dedo, acomodam-se nas cadeirinhas brancas enfileiradas.
Os santinhos do candidato - João Paulo está bem na foto com Lula - correm de mão em mão enquanto são distribuídas cópias do Prestação de Contas, documento com dados sobre "propostas e realizações de um mandato popular e democrático". Todos cantam ao ritmo das duas caixas de som: "Eu já falei..."
Antes que João apareça, enfim, o jingle dá lugar a um filme e todos pregam os olhos na tela. O filme dura uns 7 ou 8 minutos e é revelador, porque ajuda a esclarecer o enigma do palanque do Pombal Santo Antônio, do outro lado da cidade, onde no domingo passado o presidente Lula fez comício para 6 mil e aparentemente deu as costas a João Paulo, em seus próprios domínios.
Ainda no palanque o presidente alertou sobre a importância de eleger uma bancada petista forte no Congresso, quando foi interrompido pela multidão que muito gritou por João Paulo. Lula esquivou-se e devolveu: "Se eu tivesse tanta gente gritando meu nome, já estaria eleito." Mas nem assim pronunciou o nome do ex-presidente da Câmara, talvez para não ter seu ligado a um personagem do mensalão.
João Paulo foi absolvido por seus pares, mas o Ministério Público Federal o denunciou formalmente à Justiça. Ele teria sacado R$ 50 mil do valerioduto, em setembro de 2003. O processo judicial está no início e o deputado terá oportunidade de se defender. A seus eleitores, explica que o Diretório Nacional do PT disponibilizou aquela quantia para contratar pesquisas de opinião relativas às eleições municipais de 2004.
O filme da campanha de João Paulo desmorona o faz-de-conta de Lula porque mostra que o presidente e o deputado continuam bons parceiros. São imagens da trajetória de João Paulo, desde a infância difícil até virar metalúrgico, ainda na adolescência, e depois vereador, deputado estadual e federal, e presidente da Câmara, em 2003, primeiro ano do governo Lula.
ELOQÜÊNCIA
É uma história comovente, apoiada em depoimentos, e o mais eloqüente deles da boca de quem? "Certamente a história saberá julgar o importante presidente da Câmara dos Deputados que você foi", declara o presidente Lula para, em seguida, cobrir de afagos o parlamentar. "Se tivesse um título de revelação política com certeza você o receberia, por seu comportamento e lisura, liderando a Câmara nos momentos mais difíceis."
A encenação de Lula no palanque do Pombal também cai por terra à medida que a campanha de João Paulo toma as ruas de Osasco e de outras 15 cidades ao redor - uma região que aloja 2 milhões de habitantes -, associando a imagem do presidente e a do deputado como velhos e bons companheiros, fundadores da agremiação, daqueles que não rezam a deslealdade.
É pujante a campanha de João, nas ruas desde julho com a Caminhada do Vermelho, que mobilizou 2 mil pessoas. Lideranças locais manifestaram seu apoio. Também deram o ar da graça Aloizio Mercadante, candidato do PT ao governo do Estado, Eduardo Suplicy, que busca a reeleição para o Senado, e o prefeito da cidade, Emídio de Souza (PT). Uma campanha digna de político com borderô que não sabe o que é o vermelho - a estimativa de valor máximo de gastos com ele chega a R$ 2,5 milhões, segundo declaração do PT ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
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