"Se tem alguém que não precisa de estrela no peito para dizer que é petista sou eu", afirma presidente.
Intelectuais convidados pelo PT para debater idéias para um possível segundo governo eximiram Lula de participação no escândalo.
Após ouvir a lamentação de intelectuais sobre a crise ética do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu ontem à noite sua relação com o Congresso Nacional, marcada pelo escândalo do mensalão, ao "jogo real da política".
"Política a gente faz com que a gente tem. Não com o que a gente quer", disse, justificando:"Maioria a gente constrói pelo o que a gente tem ao nosso lado. Não pelo que a gente pensa que tem. Esse é o jogo real da política que precisou ser feito em quatro anos para que chegássemos a uma situação altamente confortável".
Uma semana depois de artistas ligados ao PT minimizarem a importância da ética na política - sob a alegação de que é preciso "meter a mão na merda" para governar - Lula disse, num encontro com intelectuais, que só concordou com uma "transição pacífica" em 2003 porque não achava correto "futucar o passado" e depois não conseguir "governar o Brasil porque a correlação de forças não era favorável".
Sem querer discutir a essência do mensalão, o presidente admitiu que o governo ficou imobilizado pela crise.
"Não vamos discutir se era verdade ou mentira, mas era uma crise que truncou praticamente todo o ano de 2005 e uma boa parcela de 2006. Por que sobrevivemos e como sobrevivemos?", questionou ele, creditando seu desempenho ao fato de os pobres se sentirem representados por ele.
No evento, realizado pelo PT num hotel de São Paulo, Lula negou que, após os escândalos de corrupção, esteja se distanciando da sigla. "Dizem que o vermelho está sumido. O vermelho sou eu. Se tem uma pessoa que não precisa de estrela no peito para dizer que é petista sou eu", afirmou.
Lula disse que o "PT pagou o preço". Citando siglas de esquerda da Europa, afirmou que "só não pagou quem não chegou ao poder".
O PT reuniu cerca de cem intelectuais, alguns dizendo-se convidados pelo cerimonial da Presidência. Embora dissessem que Em defesa de Lula, alguns disseram considerar que a figura do presidente paira acima dos escândalos.
"É possível que no governo dele pessoas tenham feito coisas que o envergonham, mas acredito que ele não sabia. Conheço Lula e sei que é um homem honrado", declarou o escritor Ariano Suassuna.
Ele contou que não acompanhou a repercussão das declarações do ator Paulo Betti, que disse que "não se faz política sem sujar as mãos", e do músico Wagner Tiso, que afirmou não se preocupar "com a ética do PT ou com qualquer tipo de ética". "Não vi, mas não concordo. Acho que política tem a ver com a ética, claro. Sei que a política é a arte do possível. Mas passar do limite da ética, não. E acho que ele [Lula] nunca passou."
Leonel Itaussu de Almeida Mello, professor de ciência política da USP, também saiu em defesa de Lula. "Escândalos são coisas passageiras. Não são ligados às pessoas, mas às instituições. O presidente Lula é um político ético por excelência. Ele é maior do que o partido."
Folha
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