30.6.07

O dinheiro era para subornar

Joaquim Roriz usou dinheiro de Nenê Constantino para pagar propina a juízes


Diego Escosteguy

Celso Junior/AE

A nota fiscal que Roriz apresentou para explicar a compra da bezerra: informações desencontradas, datas que não batem e valores diferentes

O senador Joaquim Roriz, flagrado em uma conversa telefônica combinando a partilha de 2,2 milhões de reais, finalmente subiu à tribuna para explicar-se na semana passada. Com um discurso pronunciado à semelhança de Odorico Paraguaçu, o inesquecível personagem de folhetim que encarnava o aspecto folclórico da política, Joaquim Roriz repetiu o que dissera antes – só que, da tribuna, adicionou algumas lágrimas e muita retórica. "Quem em sua vida nunca pediu um empréstimo a um amigo?", disse. "Será que um senador não poderia pedir um empréstimo a um amigo de longa data?", repetiu. "Imaginem se pedir dinheiro emprestado é falta de decoro. Meu Deus! A que ponto chegamos?" No discurso, Roriz disse que pediu 300.000 reais ao seu amigo e empresário Nenê Constantino, dono da Gol Linhas Aéreas, para pagar uma bezerra. Constantino entregou um cheque de 2,2 milhões, Roriz sacou o dinheiro, reteve 300.000 reais e devolveu o restante, 1,9 milhão, ao empresário. A novidade é que, se parte do dinheiro foi mesmo usada para pagar uma bezerra, outra parte teve destino explosivo – serviu para subornar juízes do Tribunal Regional Eleitoral que livraram Roriz de cassação em 2006.

Na semana passada, VEJA conversou com um político que priva da intimidade do senador e que ouviu a confissão do pagamento da propina do próprio senador – e não de terceiros. Ele conta que, no começo de fevereiro passado, Joaquim Roriz recebeu seu suplente, o ex-deputado distrital Gim Argello, em sua casa. Conversaram sobre os boatos de que a decisão pró-Roriz do TRE teria sido comprada. A certa altura, travou-se o seguinte diálogo:

Argello – O Agnelo (refere-se a Agnelo Queiroz, ex-ministro e candidato derrotado ao Senado) me disse que a decisão foi comprada. É isso mesmo?

Roriz – É isso mesmo. Achei que o processo não ia dar em nada, mas tivemos de resolver. Tivemos de comprar dois.

Conforme o relato do político que detalhou o assunto a VEJA sob a condição de manter-se anônimo, "comprar dois" significa subornar dois juízes do TRE. Na mesma conversa, Roriz lembrou ao interlocutor que o mandato de senador também lhe pertencia. "O mandato também é seu, você precisa me ajudar", apelou. "Tem de levantar 1,2 milhão", detalhou. Roriz não explicou se 1,2 milhão de reais era o valor total da propina dos dois juízes ou se era a parte que faltava pagar. A solução não demorou a surgir. No dia 13 de março, conforme aparece no diálogo telefônico capturado pela polícia, Roriz descontou o cheque de 2,2 milhões de Nenê Constantino e, sabe-se agora, repassou pelo menos 1,2 milhão aos juízes subornados. Isso explica por que, na conversa grampeada, Roriz se recusa a receber o dinheiro em sua própria casa, num carro-forte, e explica que a partilha dos recursos envolve outras pessoas. "O dinheiro é de muita gente", diz ele.

Paulo de Araujo/CBPRESS
O suplente Gim Argello ouviu a confissão de suborno: nada a comentar sobre propina


O caso que livrou Roriz da cassação foi julgado em 23 de outubro, mas começou no dia 19 de setembro, quando o Ministério Público o acusou de uso político da máquina pública do governo do Distrito Federal. Na época, Roriz deixara o cargo de governador para concorrer ao Senado, e a estatal de abastecimento de água, a Caesb, mudara em propagandas seu número de atendimento telefônico de 115 para 151 – número de Roriz nas urnas. O placar do julgamento no TRE estava em 3 a 2 contra Roriz. Um juiz pediu vistas e, dias depois, quando a sessão foi retomada, votou a favor de Roriz, cravando um empate em 3 a 3. Antes que o presidente do tribunal desse seu voto de Minerva, um dos juízes que votaram contra Roriz subitamente mudou de idéia. Com isso, Roriz livrou-se da cassação por 4 a 2. A virada no placar teria custado pelo menos 1,2 milhão de reais. Procurado por VEJA, o suplente Gim Argello confirmou o encontro com Roriz, mas disse que não faria comentários a respeito de pagamento de propina.

Na versão oficial de Roriz, a sobra de 1,9 milhão não virou propina para ninguém. Foi devolvida ao empresário Nenê Constantino. VEJA perguntou ao empresário o que ele fez com o 1,9 milhão de reais, mas o empresário não respondeu. Roriz, por sua vez, alega que os 300 000 reais foram usados para pagar uma bezerra, de 271 000 reais, e a sobra de 29 000 reais foi emprestada a Benjamin Roriz, seu primo, que estava com problemas de saúde na família. O problema de Roriz é que a nota fiscal que supostamente comprova o pagamento de 271.000 pela bezerra está crivada de mistérios. A nota foi emitida no dia 1º de março, o bicho foi entregue no dia 3 e o pagamento foi feito apenas no dia 14. Por que alguém entrega a mercadoria e a nota antes de receber o dinheiro? Além disso, a nota informa a venda de "04" animais, mas na versão de Roriz foi apenas uma bezerra.

Mais: na nota consta o pagamento de 532.000 reais, mas Roriz diz que obteve um desconto de 50%. O vendedor confirma. "Ele chorou muito e eu dei o desconto de 50%", diz o pecuarista Márcio Serva. Mas fica a pergunta: por que o vendedor faz uma nota com um valor superior ao real? Para pagar mais imposto? Márcio Serva não soube explicar. Por fim, a nota fiscal distribuída à imprensa vem com um cabeçalho de fax em que se lê a data de 30 de maio de 2005. Com base nessas informações, deduz-se que nessa data a nota foi enviada da empresa de Roriz para algum outro lugar – o que sugere que a nota, apresentada como sendo de agora, é muito mais antiga. Isso é fraude. Os assessores de Roriz dizem que o fax estava com defeito e informava data e hora incorretas. Apesar do acúmulo de inconsistências a respeito da nota fiscal, ainda assim não há evidência concreta de que o negócio de 271.000 reais não tenha sido feito. O que parece certo é que a parte do leão do dinheiro, o 1,9 milhão de reais restantes, não foi para as mãos do empresário Nenê Constantino, mas acabou azeitando o propinoduto de Roriz. Haverá mais lágrimas e mais retórica.

O Mercosul e Chávez

A maior parte da conta ficou de novo para o Brasil, na reunião de cúpula do Mercosul, em Assunção, encerrada na sexta-feira. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou na noite anterior com um mimo para o presidente paraguaio, Nicanor Duarte Frutos: a Medida Provisória 380, destinada a regularizar a atividade dos sacoleiros, principais clientes do comércio de Ciudad del Este, vizinha de Foz do Iguaçu. Horas antes, chanceleres e ministros de Fazenda haviam aprovado a criação de um fundo para financiamento de pequenas e médias empresas do bloco. É fácil adivinhar de onde sairá a maior parte do dinheiro. Em contrapartida, o Paraguai vetou a aprovação, na conferência de cúpula, de uma tarifa comum mais alta para conter a invasão de sapatos e roupas importados da China. O assunto ficou para depois. Além disso, o presidente brasileiro teve de ouvir um discurso do boliviano Evo Morales contra a produção de etanol - um dos programas defendidos com maior empenho pelo governo brasileiro. Morales não teve o cuidado, sequer, de escolher palavras macias. “O senhor Castro”, disse ele, citando o presidente cubano, “advertiu contra a sinistra idéia de converter alimentos em combustível.”
Editorial Estadão

O coronel Hugo Chávez, da Venezuela, outro guru do presidente boliviano, também brilhou em Assunção, embora tenha faltado à reunião para visitar a Rússia, a Belarus e o Irã. O vice-presidente venezuelano, Jorge Rodríguez, esbravejou contra os “grupos da direita reacionária” contrários à incorporação de seu país no Mercosul. Um dia antes, o vice-ministro venezuelano de Relações Exteriores para a América Latina e o Caribe, Rodrigo Sanz, havia sido mais explícito, condenando a Confederação Nacional da Indústria (CNI) por sua resistência à admissão da Venezuela como sócia do bloco. A CNI protesta contra o ritmo de liberalização comercial pretendido pelo governo venezuelano. Além disso, alerta para o perigo de subordinar à opinião de Chávez qualquer negociação do Mercosul com as grandes potências.

O governo da Venezuela não ficou sozinho em sua investida contra os industriais brasileiros. Teve o apoio do assessor especial para Assuntos Internacionais do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia. Segundo Garcia, o governo leva em conta a opinião dos empresários e dos sindicalistas, mas deve zelar, antes de tudo, “pelo interesse nacional”.

Nesse caso, é difícil dissociar o interesse nacional dos objetivos apontados pelos dirigentes e técnicos da CNI e também da Fiesp. Eles não estão pedindo medidas protecionistas, freqüentemente passíveis de contestação. Também não estão pedindo favores ao Tesouro Nacional. Estão simplesmente chamando a atenção para dois pontos: 1) o governo venezuelano pretende condições e prazos muito diferenciados para ajustar seu país às normas do Mercosul; e 2) o Mercosul precisa de maior integração no mercado global, por meio de acordos bilaterais e inter-regionais, e não tem sentido sujeitar a diplomacia do bloco aos objetivos políticos de Hugo Chávez.

Essas opiniões são simplesmente sensatas. O comércio entre Brasil e Venezuela tem crescido sem depender de alianças políticas ou de acordos complexos entre os dois países. Poderá continuar em expansão com ou sem Mercosul, desde que o governo venezuelano não opte pela adoção de barreiras políticas.

Esses são os interesses comerciais e econômicos. Não há outros em jogo, neste momento, nem pode haver, se o governo brasileiro não estiver disposto a seguir o presidente Chávez na escolha de seus desafetos. Se esse for o caso, o presidente Lula e seus assessores devem explicar ao público brasileiro, com urgência, sua concepção de interesse nacional.

O presidente Lula disse em Assunção ser preciso fortalecer o Mercosul como “interlocutor internacional”, especialmente se fracassar a Rodada Doha de negociações internacionais. De fato, ou se prepara o bloco para negociar com os parceiros mais importantes ou o melhor será dissolver a união aduaneira e retornar à condição de zona de livre-comércio. Nesse caso, cada qual ficará livre para se entender com quem quiser, sem ter de levar em conta uma tarifa externa comum.

A incorporação da Venezuela não contribuirá para o fortalecimento do bloco para essa finalidade, a não ser que o grande objetivo venha a ser a negociação de acordos Sul-Sul. Dado o lamentável currículo da diplomacia petista, essa hipótese não é totalmente descartável.

Veja - Silvinho Land Rover Pereira

PT
O bem-sucedido Silvinho Land Rover Pereira
Denunciado pelo MP por formação de quadrilha, peculato e corrupção, Silvinho tornou-se empresário. E os negócios vão de vento em popa.

O ex-secretário-geral do PT: agora, empresário de eventos


O verbete Silvio Pereira ocupa lugar de destaque na enciclopédia dos escândalos que marcaram o primeiro mandato do presidente Lula. Secretário-geral do PT até 2005, ele deixou o posto depois que se descobriu que havia aceitado um carro da marca Land Rover de presente da empreiteira GDK. A empresa tinha contratos com a Petrobras, então notória área de influência do grupo do ex-ministro José Dirceu, do qual Silvinho, como é conhecido, fazia parte. Denunciado pelo Ministério Público por formação de quadrilha, peculato e corrupção, Silvinho (que a partir daí ganharia o sobrenome gaiato de "Land Rover Pereira") foi apontado pelo procurador-geral da República Antonio Fernando Souza como peça-chave no esquema de "indicações políticas espúrias" para altos cargos no governo federal. Hoje, o ex-secretário-geral do PT é um empresário. Em julho do ano passado, ele abriu uma firma no ramo de eventos, chamada DNP, juntamente com sua mulher e um irmão. O negócio vai de vento em popa.

VEJA teve acesso a documentos que mostram que, de janeiro a abril deste ano, mais da metade do faturamento da DNP, de cerca de 90.000 reais, veio, indiretamente, da... Petrobras. Como Silvinho operou esse milagre? Os 55.000 reais que a DNP embolsou da estatal nos primeiros meses do ano se referem a uma suposta participação no projeto Cinemostra de Verão, patrocinado pela petrolífera. O evento, uma exibição de filmes nacionais ao ar livre, ocorreu em fevereiro, na Praia de Camburi, em Vitória, no Espírito Santo. Oficialmente, as empresas que o idealizaram e executaram foram a TGS Consultoria e a Central de Eventos e Produções, ambas de propriedade de um mesmo dono, Julio Cesar dos Santos. Foi em nome dessas duas empresas que a DNP emitiu as notas fiscais que lhe permitiram receber, em três parcelas, os 55.000 reais da Petrobras. Nas notas, atribuem-se à empresa de Silvinho a "coordenação e produção" da mostra. A Petrobras, por meio de sua assessoria de imprensa, informa que não tinha conhecimento da participação da DNP de Silvinho na mostra e adianta não possuir "ingerência sobre profissionais ou empresas contratados para execução de projetos patrocinados pela empresa".

O empresário Julio Cesar dos Santos, dono da TGS e da Central de Eventos, foi diretor da empresa municipal de São Paulo Anhembi Turismo, hoje SPTuris, na gestão da ex-prefeita Marta Suplicy. As conexões entre as suas empresas e a de Silvinho não se resumem à mostra de cinema bancada pela Petrobras. O restante do faturamento da DNP até abril deste ano também foi resultado de serviços prestados à Central de Eventos e à TGS. Além das relações comerciais, existem outros indícios que apontam para uma estreita proximidade entre as três empresas: a gerente administrativa da Central de Eventos, Vivian Perpétuo, acumula o posto de secretária de Silvio Pereira. Além disso, durante pelo menos oito meses, a Central de Eventos e a DNP compartilharam a mesma sede. Por último, há o fato de que Deborah Neistein, mulher de Silvinho e sócia apenas da DNP, contratou serviços gráficos em nome da Central de Eventos.





Lula Marques/Folha Imagem


Marcelo Min/Ag. Fotogarrafa
Roberto Setton
Julio Cesar dos Santos, dono da Central de Eventos, que repassou dinheiro da Petrobras para a DNP (à dir.)

Três especialistas em direito comercial ouvidos por VEJA afirmam que esses detalhes sugerem que as empresas são, na verdade, uma só. Ou que, pelo menos, são sócias – apesar de o nome de Silvio Pereira figurar formalmente apenas no contrato social da DNP. Os especialistas ouvidos explicam que esse tipo de "arranjo comercial" pode ser feito com as seguintes intenções: 1) burlar o Fisco, para pagar menos impostos; 2) fraudar ou obter vantagens em processos de licitação, já que, para impedir favorecimento, os processos públicos de concorrência costumam estabelecer valores máximos de contrato com uma única empresa; 3) manter no anonimato um sócio que, por interdições legais ou éticas, não deve aparecer em determinados contratos. Pelo menos no último caso, é certo que a situação interessaria a Silvinho.

Os bons negócios do ex-secretário-geral do PT no ramo empresarial já têm reflexos no patrimônio da família. Quando deixou o cargo no partido, com um salário de 9.000 reais mensais, Silvio Pereira se viu obrigado a devolver o Land Rover que havia ganhado de presente da GDK. Agora, sua mulher, Deborah, chega para trabalhar na DNP (sempre depois das 14 horas, nunca além das 18 horas) a bordo de um Corolla Fielder prata, ano 2007 – carrão que custa 70.000 reais. Há outros dois automóveis em nome de Deborah. O casal mantém o apartamento que já possuía em São Paulo e a casa de praia de Ilhabela, avaliada em 650.000 reais. Ao desfiliar-se do PT, depois do caso do Land Rover, Silvinho anunciou que se tornaria apenas "um lutador social e um militante das causas populares" e que, para sobreviver, transformaria sua casa de Ilhabela numa pousada. Até agora, no entanto, nada indica que o ex-secretário-geral do PT esteja interessado em se dedicar ao ramo da hotelaria ou das causas populares. Bom mesmo, ao que parece, é cuidar de eventos em causa própria.

Ag. Globo
Land Rover: o presente motivou a saída de Silvinho do PT

29.6.07

Bola da vez

Ao rasgar a alma, expor as vísceras e se dizer vítima de tentativa de assassinato moral, o senador Renan Calheiros pode até ser muito inteligente, como diz sua ex-amada Mônica, mas o estilo é brega demais.
O veterano senador Gilvan Borges foi direto ao ponto, com autoridade: "Se for investigar todos os senadores a fundo e levá-los ao Conselho de Ética, não sobra um".
Mas não é verdade: sobram todos.
Só os idiotas não perceberam que os conselhos de ética não foram criados para punir os parlamentares, mas para protegê-los. Se julgados pela Justiça, mesmo em seus foros privilegiados, eles estão submetidos às mesmas leis e critérios que todos os cidadãos. No conselho, são julgados pelos colegas, entre o espírito de corpo e o de porco, a solidariedade corporativa e a formação de quadrilha. Não pode mesmo dar certo, na verdade é feito para não dar certo. Sabe como é, brasileiro é muito sentimental.
Com Renan e Roriz sob os holofotes -um tentando provar que tinha, e o outro que não tinha dinheiro-, o Senado passou à bola da vez, e a turma da Câmara está festejando: é um duplo alívio nas atribulações de boa parte de seus membros. A cada novo escândalo, os envolvidos no anterior comemoram: já quase nem se fala em Zuleido e na Operação Navalha. Ninguém se lembra mais dos nomes dos sanguessugas. A imprensa e o público estão viciados em escândalos, querem sempre mais, mais fortes. E os envolvidos também.
Ao se solidarizar com Roriz, Renan estava principalmente agradecendo ao correligionário e colega pecuarista por ter dividido o fogo da imprensa com ele. Sabe como é, uma mão suja a outra.
Roriz, depois de muito chorar, rezar e pedir compaixão a seus pares, aguarda sereno e confiante o próximo escândalo.
Nelson Motta FSP

28.6.07

Contraponto de si mesmo

A cada vez que sai uma pesquisa de opinião registrando bons índices de popularidade para o presidente Luiz Inácio da Silva há, nas rodas mais bem informadas, um frisson de perplexidade seguido de uma busca frenética por explicações, como se se configurasse absurda a realidade dos números.

A justificativa mais em voga, porque ao alcance da mão, é a de que Lula é um fenômeno de comunicação. De fato, mas convém registrar que essa capacidade só se tornou fenomenal mesmo depois que Lula teve acesso aos instrumentos de poder. O mais poderoso deles, a presença garantida no centro da cena política em decorrência do cargo.

Até 2002, essa capacidade estonteante de se comunicar com as massas não conseguira evitar três derrotas consecutivas na eleição presidencial e mais um fracasso na eleição para o governo de São Paulo em 1982. Na própria campanha ao fim da qual se elegeu presidente da República, Lula não foi desde o começo o favorito.

O eleitor primeiro ensaiou encanto por Roseana Sarney, depois se aproximou de Ciro Gomes e, como queria mesmo era distância dos tucanos e percebeu que Anthony Garotinho seria um pouco demais para a paciência do freguês, resolveu ir de Lula que, uma vez eleito, ascendeu à posição de unanimidade nacional bastante ajudado por um misto de falta de senso crítico dos meios de comunicação, deslumbramento ante o simbolismo do presidente-operário e alívio pelo abandono da irracionalidade no trato de questões objetivas como a economia.

Daí em diante, a manipulação de um discurso desprovido de compromisso com a realidade, com a coerência, com os padrões aceitáveis de conduta, o uso do aparelho de Estado a serviço do culto à personalidade e da sujeição da maioria do Parlamento às conveniências do Planalto e, esta sim fenomenal, a capacidade do presidente da República de se valer de seus anos de treinamento na oposição para governar aparentando revolta contra “tudo isso que está aí” fizeram o resto.

Por essa técnica, Lula consegue se manter distante dos fatos quando lhe interessa. Cobra solução de problemas como se as soluções não fossem da responsabilidade dele.

Repudia a falta de ética, o fisiologismo, condena malfeitorias e, ainda que os antiéticos, os fisiológicos e os malfeitores sejam, na sua maioria, freqüentadores do palácio, que privem de sua confiança ou tenham com ele laços de amizade ou parentesco, Lula se mantém à distância, aí sim, com surpreendente sucesso na capacidade de convencer de que não tem nada a ver com coisa alguma.

O episódio da crise aérea é o exemplo pronto e acabado disso. O presidente da República deixou a crise se agravar porque desautorizou o comando da Aeronáutica, prestigiou a banda sindical-ideológica de seu aparato governamental - Dilma Rousseff à frente -, enquanto, para efeito externo, cobrava providências, mas não tomava nenhuma.

Quem viu de longe - e a pesquisa mostra que a maioria viu, pois não se sentiu prejudicada pela pane no transporte aéreo - interpretou o cenário como pôde: à luz (ou à sombra) das meias-verdades, das veemências simuladas e, por conseqüência, das conclusões equivocadas.

A aprovação de um presidente, nessas condições, não é de forma alguma surpreendente. Deve-se também em boa medida à oposição, que não tem proposta, não tem líder e não atua porque morre de medo da popularidade do presidente Lula. No vácuo, Lula faz todos os papéis, inclusive o de oposicionista de si mesmo.

Dora Kramer

Cerca de R$ 1 mi foi sacado dentro da Câmara

Cerca de R$ 1 milhão, parte do dinheiro desviado pelo esquema de corrupção envolvendo funcionários de bancos estaduais, a Asbace (Associação Nacional dos Bancos) e a ONG Caminhar, foi sacado de uma agência do Banco do Brasil localizada na Câmara dos Deputados.
A constatação da Polícia Civil e da Promotoria do DF aumenta as suspeitas de envolvimento de parlamentares. Ao menos outros três congressistas e ex-congressistas aparecem na investigação, conforme a Folha publicou ontem. Entre eles estão o deputado Antonio Bulhões (PMDB-SP) e o ex-deputado Marcos Abramo (PP-SP). Ambos não foram encontrados para comentar o caso.
O esquema funcionava da seguinte forma: os bancos (BRB e Nossa Caixa) firmavam contratos para pesquisas de satisfação em caixas de auto-atendimento com a Asbace, que contratava a Caminhar para realizá-las -o que não acontecia de fato.
Após receber o dinheiro, a ONG distribuía cartões do BB -com saque máximo de R$ 50 mil- aos envolvidos. Segundo a apuração, 80 cartões foram distribuídos, totalizando cerca de R$ 3,7 milhões. Vinte deles, cerca de R$ 1 milhão, foram sacados na agência 3596 do BB, na Câmara. Entre os que sacaram, está Weliton Carvalho, ex-assessor do ex-deputado Coriolano Sales (DEM-BA), segundo a assessoria da Casa. Carvalho, denunciado pela Procuradoria no caso sanguessuga, não foi encontrado até o fechamento da edição.

Nossa Caixa
A contratação de uma pesquisa para medir a satisfação do cliente é o principal elemento que leva o Ministério Público e a Polícia Civil a dizer que há "fortes indícios" de desvio de recursos públicos na Nossa Caixa.
A Operação Aquarela diz ter reunido provas de que essa pesquisa, além de ter sido superfaturada, nunca existiu. A suspeita contra o banco de São Paulo surgiu durante operação de busca e apreensão na sede da Asbace.
Dois investigadores presentes ao depoimento da funcionária da ONG Jeovana Silva, que foi presa, disseram à Folha que ela confirmou ter preenchido, com a ajuda da irmã e do namorado, os questionários das pesquisas da Nossa Caixa e do BRB, seguindo ordem da ONG.
Em relação ao BRB, o contrato para a pesquisa teria custado ao menos R$ 9 milhões, apesar de investigadores terem apurado que, no mercado, trabalho semelhante sai por R$ 300 mil.
Sobre a Nossa Caixa, os investigadores não têm número fechado. Em nota, o banco disse que possui três contratos com a Asbace, de 2004 e 2005, que valem até 2008 e cujos pagamentos são feitos com a entrega dos serviços e após eles serem auditados.
Folha

Inflação de trapalhadas

Editorial Estadão

O Brasil já tem emprego informal, empresa informal e um presidente da República avesso a formalidades. A última novidade é a meta de inflação informal, anunciada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, depois da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), na terça-feira. A meta para 2009 foi fixada oficialmente em 4,5%, de acordo com a indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas não é para valer. “Não há uma orientação”, disse Mantega, “para que a inflação venha a convergir para 4,5%.” Se não é para “convergir”, para que escolher aquela meta como centro do alvo?

É inútil buscar alguma coerência nas palavras do ministro da Fazenda. Coerência não é seu forte e, além do mais, a decisão do CMN foi tomada pelo método confuso. Alguns dias antes da reunião, ele havia convencido o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a defender a manutenção, em 2009, da meta em vigor para este e para o próximo ano. Mantega, é justo dizer, não foi o único a fazer campanha por essa decisão.

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP), alguns empresários e economistas do setor industrial defenderam o mesmo ponto de vista, como se um alvo pouco mais ambicioso forçasse o Banco Central (BC) a interromper a redução dos juros ou mesmo a elevá-los. O presidente acreditou na conversa. Segundo ele, seria melhor evitar novos “sacrifícios” e dar mais atenção ao crescimento econômico de agora em diante.

Mas não tem sentido falar em sacrifícios, quando a inflação projetada para este ano está em torno de 3,5% e a do próximo está estimada em 4%. Os autores das projeções levam em conta a perspectiva de juros declinantes. Arriscado é baixar a meta quando o setor privado espera inflação em alta. Mas não há novidades importantes nem previsão de grandes mudanças no cenário dos preços, apesar de algumas pressões no mercado internacional.

Se o ambiente é tão favorável, por que fixar como objetivo, para 2009, uma inflação maior que a estimada pelos empresários e pelos técnicos do setor privado? Pelo sádico prazer de atirar no próprio pé? O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, já havia defendido publicamente a escolha de 4% como centro do alvo. O presidente do BC, Henrique Meirelles, terceiro membro do conselho, não se havia manifestado, mas era fácil adivinhar sua preferência. Se o assunto se resolvesse por votação, o ministro da Fazenda seria vencido por 2 a 1. Mas, como o presidente Lula já havia definido sua posição, foi preciso escolher outro caminho.

Alguém tentou, certamente, mostrar ao ministro Mantega a insensatez de escolher os 4,5%. Não se sabe se teve êxito, mas deve ter conseguido, no mínimo, fazê-lo duvidar da própria opinião. Mesmo assim, restaria o problema político. O CMN é um órgão do Executivo e deve obediência, formalmente, ao presidente da República. O ministro Paulo Bernardo havia chamado a atenção para esse detalhe antes da reunião. Seria preciso decidir de forma consensual, segundo explicou, e não por votação. Mas qual poderia ser o consenso, depois de conhecida a opinião de Lula?

Se não fosse preciso atender o presidente, a solução teria sido muito mais simples. O CMN escolheria 4% como objetivo central, mantendo a margem de tolerância de 2 pontos para cima e para baixo. O BC, responsável pela execução da política, teria, como sempre teve, um amplo espaço para acomodar possíveis choques de preços. Todos teriam uma idéia clara do objetivo central, o governo passaria ao mercado a mensagem mais positiva - o combate à inflação continua - e não haveria sacrifícios inúteis, pois sobraria espaço de manobra.

A solução escolhida foi a mais complicada. Adotou-se a meta mais inconveniente, 4,5%, e a mensagem transmitida ao público foi a mais estranha: “Não é de se supor”, disse o ministro do Planejamento, “que o BC vá trabalhar para aumentar a inflação prevista pelo mercado e que nós achamos que está em linha com o que o BC está fazendo.” A explicação do ministro Paulo Bernardo é sensata e expõe o assunto nos termos corretos. Mas, sendo sensata, ressalta a insensatez da decisão oficializada pelo CMN.

O presidente errou de novo, desta vez duplamente. Acatou maus conselhos, ignorando os fatos, e falou publicamente sobre um assunto que não domina, impondo uma restrição política inútil a uma decisão técnica. Quanto ao ministro da Fazenda, acrescentou uma façanha ao seu saboroso anedotário.

"Fedendo"

BRASÍLIA - Sabe o que o plenário do Senado parecia ontem à tarde, durante o discurso de renúncia do senador Sibá Machado da presidência do Conselho de Ética? Parecia uma arena, com petistas, tucanos, democratas, peemedebistas etc. no centro, prontos para serem devorados pelos leões -ou pelos próprios erros.
A perplexidade, a humilhação, a vergonha pairavam no ar. Renan Calheiros, o pivô da crise, presidia a sessão. Sibá, a terceira baixa do conselho, discursava, simples, coloquial, um tanto desfocado. E vieram os elogios de praxe, típico nhenhenhém de quando não há o que dizer, só lamentar.
Até que... o senador Jarbas Vasconcelos botou o dedo na ferida, ou nas feridas, com a tarimba de dois mandatos de governador em Pernambuco, a coragem de ex-""autêntico" do velho MDB e a independência de dissidente do atual PMDB. Doeu, mas fez bem.
Ele se referiu ao processo contra Renan como "trapalhada", disse que o Senado está com a imagem "maculada" e indo para o "imponderável". "Como instituição, está-se estrangulando." "Não pode ficar sangrando e, mais do que isso, fedendo." "O Congresso não pode mergulhar na lama." Silêncio, troca de olhares, discreta aprovação.
Quando a situação se deteriorou (há dias, ou semanas?), Jarbas não pediu nem a renúncia nem a cassação de Renan, mas, sim, que ele se afastasse da presidência -""para não nos causar constrangimento, inclusive o que causa hoje, presidindo a sessão".
Sentado à mesa principal, Renan Calheiros, envelhecido, sem energia, tinha cadeiras vazias à sua esquerda e à sua direita a maior parte do tempo. Será que os senadores estavam com vergonha de serem fotografados ao lado dele? O constrangimento era imenso, doído, quase palpável. De Renan e também do Senado, que se transformou em arena porque quis.
ELIANE CANTANHÊDE - FSP

27.6.07

Bush inaugura monumento

Bush inaugura en Washington un monumento en recuerdo de las Víctimas del Comunismo
De esta manera el presidente de Estados Unidos recuerda en Washington, que no poseía ningún monumento de este registro, a ‘las víctimas del comunismo, que se tomó la vida de más de 100 millones de hombres mujeres y niños inocentes’.

El Presidente de Estados Unidos, George W. Bush, presidió la inauguración de un nuevo monumento en Washington dedicado a las víctimas del comunismo, oportunidad en que comparó la guerra fría a la actual ‘guerra contra el terrorismo’. El lugar escogido para el monumento es muy céntrico y visible, a poca distancia del Capitolio.

De esta manera el presidente de Estados Unidos recuerda en Washington, que no poseía ningún monumento de este registro, a ‘las víctimas del comunismo, que se tomó la vida de más de 100 millones de hombres mujeres y niños inocentes’. El presidente Bush aseguró que ‘nunca sabremos los nombres de todos los que perecieron; pero en esta sagrada plaza las víctimas desconocidas del comunismo serán consagradas para la historia y serán recordadas para siempre…

Dedicamos este memorial porque tenemos la obligación con aquellos que han muerto, para el reconocimiento de sus vidas y el honor a su memoria”. Ante la estatua inaugurada, el presidente comparó el comunismo con la actual lacra internacional, el terrorismo, de manera que aseguró que ‘igual que los comunistas, los seguidores de la violencia radical islámica están condenados a fracasar”, dijo Bush quien ha comparado repetidas veces a los islamistas extremistas con los nazis y los comunistas soviéticos.

Además, el presidente estadounidense agregó que se mantendrá firme en la causa de la libertad para asegurarse de que ‘un futuro presidente estadounidense no tenga que pararse en un lugar como éste y dedicar un monumento a los millones de asesinados por radicales y extremistas en el siglo XXI’.

La estatua ha sido modelada siguiendo el modelo de la ‘Diosa de la Democracia’ de papel maché que fue levantada por los manifestantes de la Plaza de Tiananmen hace 18 años.

Mais que obras, PAC traz ganho político a Lula

No lançamento do PAC, em janeiro, prometeu-se um investimento de R$ 40 bilhões em saneamento básico. Cinco meses depois, o número já passou para R$ 50 bilhões -e, dependendo da conta, vai a R$ 75 bilhões.
As obras, porém, estão longe de conseguir acompanhar a aceleração das cifras. O saneamento teve de ficar escondido no balanço oficial de cem dias do Programa de Aceleração do Crescimento, porque os projetos nem sequer haviam saído da análise.
Com a soma heterodoxa de previsões orçamentárias diversas, expectativas de empréstimos com recursos dos trabalhadores e projeções de investimentos privados, tudo isso multiplicado por quatro anos, o PAC produz números que a experiência recente recomenda duvidar.
Na campanha de 2006, por exemplo, o presidente Lula gabava-se nos primeiros debates de ter investido R$ 10 bilhões em saneamento no primeiro mandato -e o valor já estava superfaturado.
Em meio a empecilhos burocráticos, legislação confusa e limites legais para o endividamento de Estados, o desembolsado no primeiro governo petista não chegou à metade do total previsto.
Mesmo providências mais simples ainda estão por ser tomadas. Nem sequer foi incluída no Orçamento, até o momento, a previsão de gastos a fundo perdido de R$ 1,8 bilhão anunciada em janeiro.
Mas só a promessa de verbas torna o PAC um sucesso político, como mostram os acordos com os tucanos José Serra e Aécio Neves.
Folha

O maior culpado pelo apagão

Quando o técnico deixa o time jogar como sabe - diria o presidente Lula se quisesse recorrer, ainda outra vez, às suas insopitáveis metáforas futebolísticas - o resultado é quase sempre a vitória. De fato, foi só ele deixar de impedir que a Aeronáutica fizesse o que desde a primeira hora ela sabia ser a coisa certa para combater o apagão aéreo - e a normalidade voltou a prevalecer no sistema da aviação comercial brasileira. Iniciada com a reação corporativa dos controladores de vôo, 80% dos quais sargentos da FAB, ao diagnóstico de que um erro humano no setor foi a causa do acidente de 29 de setembro que matou 154 ocupantes de um Boeing da Gol, a crise chegou ao auge com o motim de 30 de março, diante do qual a conduta do presidente foi simplesmente desastrada.

O pretexto para o levante foi a transferência de um sargento do Cindacta-1, de Brasília, para um destacamento na cidade gaúcha de Santa Maria. Os revoltosos alegaram que se tratava de uma retaliação do comando da Aeronáutica à greve dos controladores, ocorrida no ano passado. Em viagem aos Estados Unidos, Lula desautorizou o então comandante da Força, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, que pretendia enfrentar a situação como se enfrentam, em qualquer instituição militar do mundo, graves atentados à disciplina e à hierarquia. Mandou revogar a ordem de prisão dos amotinados e instruiu o então ministro do Trabalho, Luiz Marinho, a negociar com eles, como se o problema fosse de natureza sindical - um conflito entre empregadores e empregados - e não a primeira sublevação militar no País desde as que precederam o golpe de 1964.

Não bastasse isso, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, nas próprias palavras do presidente, “foi lá dizer que é preciso voltar a trabalhar, que nós estamos dispostos a negociar e o governo não vai punir ninguém, não vai punir mesmo, até porque longe de mim punir alguém”. Depois dessa licença para desacatar a autoridade, surpreende que os controladores tenham esperado dois meses e meio até voltar à carga, na espécie de operação tartaruga iniciada na última terça-feira, quando se puseram a apontar defeitos fictícios nos consoles que monitoram o tráfego aéreo, obrigando ao espacejamento das decolagens que causou atrasos superiores a uma hora em até 80% dos vôos comerciais. Agora, porém, Lula mudou de atitude, autorizando o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, a fazer o que “tivesse de ser feito para botar a casa em ordem”. O resultado foi quase imediato - embora seja prematuro dizer que se voltou definitivamente à situação anterior à tragédia de 29 de setembro. O afastamento de 14 controladores, substituídos por operadores do Núcleo de Controle de Defesa Aérea, e a ordem de prisão de dois deles criaram as condições necessárias para acabar com o inferno nos aeroportos e para adequar a gestão do tráfego comercial ao seu adensamento dos últimos anos. A nova situação, além disso, esclareceu muita coisa. A primeira delas, que precisa ser dita em alto e bom som, é que o Brasil não tem problemas de segurança de vôo.

Segundo a insuspeita Organização Internacional de Aviação Comercial, nesta matéria o País figura no topo - categoria 1. A qualidade dos equipamentos de controle está dentro dos padrões mundiais. O Brasil é um dos raros países com tecnologia própria no setor. Os controladores, ao contrário do que desejam fazer crer, não estão preocupados com a segurança de passageiros e tripulantes. O que eles querem é ganhar mais e desmilitarizar o sistema. Isso, em si, é legítimo - desde que não se violem as normas da carreira escolhida nem se torçam os fatos, “passando terrorismo para a sociedade”, como disse Lula no seu programa de rádio das segundas-feiras. Mas ele que tampouco os escamoteie, contando-os pela metade.

A julgar por sua manifestação - irretocável quando se refere aos deveres dos controladores e à importância do Inquérito Policial Militar (IPM) aberto para apurar “quem tentou fazer os passageiros sofrerem o que sofreram nesses últimos nove meses” -, o panorama se desanuviou porque ele permitiu que a Aeronáutica agisse, restabelecendo o respeito à autoridade e à ordem constituída que tem estado ausente neste país de Lula. Faltou dizer que ela não agiu antes porque ele o impediu. O que o torna o maior culpado pelo apagão aéreo.
Estadão

Gastos excepcionais

Governo Lula mantém a tendência de elevar despesas de manutenção da máquina pública, em prejuízo do investimento

O PRESIDENTE Lula não perde ocasião de repetir que a economia do país atravessa um momento excepcional. A taxa de juros básica vem caindo, embora não no ritmo desejável, e a aceleração da atividade tampouco pode ser qualificada de exuberante. As avaliações do risco-país também melhoram, mas de excepcional mesmo observa-se só o aumento das despesas correntes na administração federal. O custo disso é mais que conhecido: expansão da carga tributária e garrote no investimento.
O governo federal falha clamorosamente naquele que seria um procedimento básico para tornar sustentável o crescimento hoje favorecido pela conjuntura internacional. Excluídas as despesas financeiras e os investimentos, os gastos correntes avançam ao ritmo de cinco pontos percentuais acima da previsão de crescimento do PIB e da inflação. Foi o que mostrou domingo reportagem desta Folha.
De janeiro a abril, só a despesa com pessoal observou elevação de 11,8%, na comparação com o primeiro quadrimestre de 2006. Os gastos com Previdência expandiram-se 13,6%, no cotejamento dos mesmos períodos. E isso antes de computado o impacto do reajuste de 140% para 21.563 servidores e da criação de 626 cargos de confiança.
Em paralelo, sobe também a arrecadação. O economista Amir Khair projeta acréscimo de 1,4 ponto percentual à carga tributária, que chegaria a 35,7% do PIB em 2007 -ou 130 dias do ano só para pagar impostos. Em 2006, já havia aumentado 1,9%.
Decerto não foi Lula quem inventou essa tendência a sufocar a modernização da economia, carreando para a máquina da administração recursos que seriam mais úteis como investimento, em especial na infra-estrutura. Nos últimos dez anos, a fatia disponível para tais dispêndios de capital do governo encolheu de 21% dos gastos não-financeiros para meros 3%.
Contribuir para a moléstia corrosiva do Estado brasileiro não chega a ser mérito. E não é possível desconsiderar que, sob Lula, as despesas correntes foram de 16,1% (2003) para 18,5% do PIB (2006). Nada há de "atípico", portanto, no padrão deste primeiro quadrimestre, como tentou argumentar Luiz Pereira, da assessoria econômica do Ministério do Planejamento.
Tampouco se pode esquecer que Legislativo e Judiciário têm parte considerável no descontrole. Se na década passada as despesas com salários progrediram 12% em termos reais no Executivo, no Legislativo foram 63%, e 133% no Judiciário.
O governo diz que até o final do ano esse quadro deverá mudar. Não se divisa seu empenho, porém, para fazer avançar no Congresso a única medida de sensatez fiscal incluída no PAC, que prevê limitar aumentos para o funcionalismo a 1,5% por ano acima da inflação. Uma omissão, esta sim, excepcional.
Folha

26.6.07

Dois na gangorra!!!

Quando se trata dos seus, o Parlamento não gosta de agir. No máximo reage à pressão de fora para dentro, mas se agarra como a um bote salva-vidas à menor chance de mudar de assunto.

Prova é que o aparecimento de denúncias contra outro senador do PMDB, o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz, não suscitou ações de imediato e instalou uma discussão tão inútil quanto paralisante sobre o efeito que o caso Roriz teria sobre o episódio Renan Calheiros.

Como se o essencial não fosse estabelecer o mais rápido possível a convicção de culpas ou inocências e sim saber se o fato de o ex-governador ter sido gravado em conversas telefônicas sobre partilhas de dinheiro facilita ou complica a vida do presidente do Senado, sob suspeita de fraudar documentos e ter suas despesas pessoais pagas por dinheiro de origem incerta.

A simulação de perplexidade e confusão nos procedimentos a serem adotados é só uma maneira de postergar providências, esperar que tome conta da cena a cortina de fumaça do “todos são farinha do mesmo saco” e aguardar que prevaleça o esquecimento produzido pelo aparecimento de novos escândalos.

Objetivamente, só o PSOL se mexeu, providenciando uma representação contra Roriz, da mesma forma como havia feito contra o presidente do Senado.

Se dependesse dos outros partidos, as denúncias contra Renan Calheiros não teriam tomado o caminho do Conselho de Ética num primeiro momento e talvez nem mesmo depois, quando a TV Globo fez o que deveria ser feito: checou a veracidade dos documentos apresentados pelo próprio senador, que agora invoca suas prerrogativas para escapar das investigações nos âmbitos parlamentar e policial.

Evidente que só se levanta a hipótese de as denúncias contra Roriz amenizarem a situação de Calheiros porque existe internamente uma grande disposição de manipular o cenário de forma a desviar o foco das atenções.

Não fosse isso, prevaleceria de imediato o óbvio: há duas complicações sub judice no tocante ao decoro parlamentar, mas, a não ser a identidade partidária dos dois senadores, não há interligação entre uma e outra. Agora, se o cotejo entre a facilitação e a complicação é realmente necessário, digamos que as denúncias contra Roriz em nada facilitam a resolução das acusações contra Calheiros.

Primeiro, porque aumenta a cobrança da opinião pública por providências enérgicas, já que são dois e não apenas um senador sob suspeita. Segundo, cresce o desgaste sobre todo o colegiado. Terceiro, empurra o partido de ambos (PMDB) para as cordas. Quarto, abre espaço para o PT - inimigo de morte de Roriz - descer do muro, partindo para o ataque sem poder fazê-lo com dois pesos e duas medidas.

Finalmente, é tolice pensar que uma figura nacionalmente menor como Roriz tenha o poder de atrair para si todas as atenções voltadas para alguém que ocupa a presidência do Senado; se Calheiros tivesse se afastado do cargo, até teria uma chance de se igualar; na cadeira de presidente, jamais.

O que se poderia tentar em favor dele já está sendo feito: a embromação em torno da escolha do novo relator com a intenção de deixar a história patinando. Na lama, evidentemente.

O Senado recorre ao velho truque de cobrar “fatos novos” - como se os “velhos” não fossem suficientes - na esperança de que não apareçam. Com toda a grande imprensa com enviados especiais a Alagoas será difícil, pois ali, a História já comprovou, quem procura acha.
Dora Kramer

STF decide não julgar classificação de TV

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Ellen Gracie, deu ontem o voto decisivo em ação que discute a classificação indicativa e, com isso, ficou decidido, por seis votos a cinco, que o tribunal não pode julgar as portarias do Ministério da Justiça que impõem regras às emissoras de televisão e casas de espetáculos.

Para Ellen, a discussão sobre a classificação indicativa não é constitucional e, por isso, não deve ser julgada pelo STF. Trata-se de um assunto legal: a contestação de uma portaria do Ministério da Justiça.

O STF ainda não se manifestou sobre a portaria atual, de fevereiro passado. No julgamento de ontem, os ministros julgaram ação proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) contra a portaria 796, de setembro de 2000, que impôs regras para a classificação de programas às emissoras de televisão. A maioria dos ministros concluiu que o STF não pode julgar ação de inconstitucionalidade contra portaria do governo.

O julgamento começou em fevereiro passado. Na ocasião, cinco ministros (Marco Aurélio Mello, Eros Grau, Carmen Lúcia Antunes Rocha, Ricardo Lewandowski e Joaquim Barbosa) entenderam que a portaria entrou no campo da liberdade de expressão e, portanto, deveria ser derrubada pelo tribunal por ser inconstitucional. Outros cinco ministros (Cezar Peluso, Carlos Ayres Britto, Celso de Mello, Sepúlveda Pertence e Gilmar Mendes) concluíram que a portaria é um ato regulamentar e, por isso, não é assunto constitucional capaz de ser decidido pelo STF. Eles votaram pelo arquivamento da ação da OAB contra a portaria.

Ellen Gracie resolveu pedir vista, antes de desempatar a questão. Ela ouviu representantes das emissoras de TV e do governo e definiu o seu voto na segunda corrente.

O debate sobre a classificação indicativa deverá ser retomado nas instâncias inferiores da Justiça. A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert) conseguiu, em abril, liminar para suspender os efeitos da classificação indicativa no STJ. Com isso, as regras atuais estão suspensas. A portaria atual vincula os horários da programação à faixa etária. Apenas o horário das 6h às 20h é livre para todas as idades.
Valor

25.6.07

MST e Lula = jogo de cena!!!

Modo de emprego
Denis Lerrer Rosenfield

Não se iluda. O suposto rompimento do MST com o governo Lula é mero jogo de cena. Se não fosse, o financiamento dessa organização política seria cortado, a lei relativa à não-desapropriação das terras invadidas seria cumprida e o Incra e a Funai seriam desaparelhados. Enquanto isso não ocorrer, trata-se apenas de desavenças internas, próprias de um casamento cujos cônjuges têm uma visão diferente no que diz respeito à radicalização do processo político. Nada que conduza a um divórcio.

Há um modo único de operação nas ações de MST, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Fundação Palmares e PT, coordenados com o Incra e a Funai. De um lado, temos os ditos 'movimentos sociais', apoiados pelo PT, e, de outro, os órgãos do Estado, aparelhados pelo próprio PT e por esses mesmos 'movimentos'. Estabelece-se uma sincronia de atividades que responde a uma mesma agenda política. Sob esta ótica, o Incra e a Funai funcionariam, dentro do mesmo Estado, como respondendo a uma 'causa', consistente em voltar-se contra a iniciativa privada, a economia de mercado e o Estado de Direito.

O Estado deu um exemplo de como opera esse esquema. Na página A10 de 10/6, foi anunciado que o congresso do MST, 'o maior de sua história', teria como preocupação central 'como o capital estrangeiro, por meio de associação com empresas brasileiras, está comprando terras no Brasil', no dizer de João Pedro Stédile. 'Achávamos que isso era coisa do período colonial, mas a sanha deles é insaciável.' O objetivo é claro: as empresas estrangeiras, tanto individualmente quanto em sociedade com empresas nacionais. Na página A11 foi dada a notícia de que o Incra 'quer rever as leis que regulam a compra de terras por estrangeiros'. Já estaria quase pronta uma 'portaria' e seria constituído um grupo de trabalho com o intuito de analisar o assunto e apresentar uma proposta ao Congresso Nacional. Na verdade, os estudos estariam bem adiantados, com toda uma discussão jurídica envolvendo o conceito de empresa nacional. Observe-se:

A suposta coincidência entre ambas as iniciativas, em que um estudo do Incra, sobre o 'capital estrangeiro' no agronegócio, aparece simultaneamente a um 'encontro' do MST; coincidências desse tipo ocorrem normalmente entre 'estudos' e 'portarias' do Incra (poderia ser a Funai) e ações dos movimentos ditos sociais; o mesmo tema orienta tanto os 'estudos' e a 'portaria' quanto a ação do MST, prelúdio de novas invasões.

Esquema análogo opera em outros órgãos de Estado ou no mesmo em diferentes momentos. Já há 'vazamentos' de que os 'índices de produtividade' deverão ser revistos, conforme uma promessa feita por Lula. O presidente não estaria cumprindo a sua 'promessa', de modo que novas invasões serão provavelmente feitas segundo os novos critérios. Anuncia-se, ao mesmo tempo, que o Incra já possui estudos que atualizam os índices de produtividade, estabelecendo regiões prioritárias para assentamentos. O mesmo ocorre com a Funai, onde os 'estudos' antropológicos realizados são concomitantes às invasões e às propostas de 'portarias'. Os 'índios' invadem as propriedades, com o apoio do Cimi e do MST, criando o problema, que é, então, apresentado à mídia como uma luta entre uma grande empresa, apenas preocupada com o seu 'lucro', e os pobres injustiçados por uma exploração de 500 anos. Exemplos do mesmo tipo poderiam ser apresentados no que diz respeito aos quilombolas, à Fundação Palmares, ao Incra e às invasões.

Há um mesmo roteiro. Vejamos os seus passos:

O primeiro consiste na determinação do alvo a ser atingido, segundo uma decisão que envolve o PT, as pastorais da Igreja (CPT e Cimi), o MST, setores da CUT e órgãos do Estado (Incra e Funai);

o segundo consiste em que tal decisão só pode ser possível por envolver pessoas que defendem a mesma causa. Ocorre o aparelhamento do Estado pelo PT e por esses movimentos sociais, sem o que não poderia haver tal sincronia;

o terceiro se desdobra em dois: o do estudo, de um lado, e o das invasões e dos congressos, do outro, de tal maneira que esses dois lados da mesma moeda apareçam para a opinião pública como se fossem distintos;

o quarto reside em notícias que são plantadas ou vazadas para os jornais, segundo as quais há estudos em andamento que mostram a injustiça vigente numa determinada área tanto geográfica quanto social, racial, indígena ou de meio ambiente. Simultaneamente a essas notícias começam as invasões que comprovariam a veracidade dos estudos;

o quinto é o da apresentação da 'questão social' assim criada, que captura adesões na opinião pública, de modo que se crie uma legitimidade tanto para a publicação da 'portaria', que regulariza tal problema em nome da justiça social, quanto para as invasões;

o sexto se traduz pelo começo de três relativizações da propriedade privada: as funções social, racial e indígena. A propriedade privada é, então, relativizada em razão dos problemas sociais, raciais e indígenas do campo e das cidades. O seu resultado reside nos processos de desapropriações, dependendo do caso, com ou sem indenizações;

o sétimo é o do comparecimento do Estado como instância capaz de equacionar os problemas sociais, cumprindo, assim, sua finalidade distributiva. Intervém o imaginário do resgate de uma 'dívida histórica', o que tende a ser bem aceito pela população, já capturada por essas idéias;

o oitavo consiste no fortalecimento dos movimentos ditos sociais, que ganham para si uma parte desse financiamento, continuando com suas atividades. Cabe salientar que essas organizações políticas se legitimam para novas invasões e novos financiamentos, fortalecendo-se, enquanto organizações, num círculo vicioso que se repete indefinidamente.

24.6.07

Elas sabem do dinheiro

Mulheres de políticos conseguem acordos com pensões milionárias na hora da separação

IANO ANDRADE/PHOTO AGÊNCIA/ ROBSON FERNANDJES/AE

Um espectro paira sobre a República: o espectro das disputas por pensões e espólios de figurões do mundo político e empresarial que se viram envolvidos em escândalos recentes. Depois do rocambolesco affair Mônica Veloso/Renan Calheiros, duas outras histórias folhetinescas vieram à tona nesta semana, revelando a fragilidade de certas relações amorosas, principalmente quando elas vivem à sombra do poder. No primeiro caso, um divórcio resultou para a mulher na maior pensão já estipulada pela Justiça no Brasil. No segundo, a esposa furiosa busca pôr a mão em parte dos milhões de dólares do marido depositados num paraíso fiscal.

IANO ANDRADE/PHOTO AGÊNCIA/ ROBSON FERNANDJES/AE
BOCA NO TROMBONE Christina diz que quer 50% do que Valdemar tem no Exterior, desde que seja “lícito”

A personagem felizarda é uma rica advogada paulista que, depois de viver casada por muitos anos com o primogênito da família dos Maluf, terminou tudo e, com o fim do casamento, embolsará uma pensão mensal de R$ 217 mil. Jacqueline de Lourdes Torres Maluf, 42 anos, dois filhos, era casada com Flávio Maluf, presidente da Eucatex e o filho mais velho do deputado federal e ex-prefeito de São Paulo Paulo Salim Maluf. A ex-nora de Maluf, segundo as autoridades da Ilha de Jersey – paraíso fiscal no Canal da Mancha –, aparece como uma das beneficiárias de uma fortuna de US$ 200 milhões depositada em uma conta ligada ao político paulista. Há quem diga que um divórcio de luxo como o pactuado por Flávio e Jacqueline guarda muitos segredos inconfessáveis sobre o clã Maluf. Procurada, ela não toca no assunto.

O certo é que Jacqueline continua a morar na mansão da família, no sofisticado bairro de Cidade Jardim, na capital paulista. “É um drama familiar como outro qualquer. O que muda é o sobrenome”, defende o advogado dos Maluf, José Roberto di Francesco. O patrimônio do sogro de Jacqueline há muito intriga o Ministério Público (MP) paulista. A família é acusada por promotores de formação de quadrilha, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Por conta dessas suspeitas, em 2005 o então marido de Jacqueline amargou, junto com o pai, 41 dias na carceragem da PF em São Paulo.

IANO ANDRADE/PHOTO AGÊNCIA/ ROBSON FERNANDJES/AE/ WELLNGTON CERQUEIRA
ACORDO GENEROSO A ex de Flávio Maluf, Jacqueline, vai receber a maior pensão já paga no País: R$ 217 mil. Ela é uma das beneficiárias de uma fortuna de R$ 200 milhões na Ilha de  Jersey (Reino Unido)

Já a socialite Maria Christina Mendes Caldeira, 41 anos, ex-mulher do deputado federal Valdemar Costa Neto (PRB-RJ), não teve tanta sorte. Ou pelo menos ela não revela a ninguém o que realmente pretende do ex-marido. Homem poderoso da política nacional e expresidente do Partido Liberal, há dois anos ele vê suas entranhas sendo expostas em rede nacional. A união do casal não resistiu à crise do mensalão, quando Christina resolveu botar a boca no trombone e denunciar Valdemar. Ao revelar detalhes sobre contas em paraísos fiscais, recebimento de dinheiro em malas y otras cositas más, Christina implodiu a vida política do parceiro. Em 2005, ele renunciou ao mandato de deputado federal para não ser cassado. Acabou sendo eleito novamente em 2006.

E a lavagem de roupa suja continua. Dias atrás, fiscais da Receita Federal procuraram Maria Christina para que ela os auxiliasse no rastreamento do dinheiro de Valdemar. Ela não se fez de rogada e expôs vários documentos que podem afundar de vez o ex-marido. Valdemar, até então, insistia que movimentara “só” R$ 6,6 milhões no esquema do mensalão. Isso apesar de o empresário Marcos Valério insistir que tinha entregue a ele R$ 10,8 milhões. Com a ajuda da ex-esposa, agora a PF, a Receita e o MP já têm os recibos dos R$ 4,3 milhões restantes.

Assim com fez Flávio Maluf, Valdemar tentou um acordo com a ex-mulher, mas não deu certo, não se sabe bem por quê. “Ele ofereceu tudo o que eu quisesse: carro novo, apartamento de luxo, viagens ao Exterior”, diz ela. Mas Christina não aceitou. “Se o dinheiro que está lá fora for lícito, eu quero 50%”, disse. “Na verdade, eu só quero uma coisa: que ele me deixe em paz. É mais fácil me ver abraçando o capeta do que a ele”, emendou. O coração tem razões que a razão desconhece. A bolsa também.

IstoÉ

Incitatus melior senator quam Renan fuit

Incitatus melior senator quam Renan fuit
Fritz Utzeri

Conta a História que Calígula (Gaius Caesar Germanicus), terceiro imperador romano, nomeou seu cavalo favorito, Incitatus, para o Senado. O ato provocou profundo mal-estar entre os senadores e o patriciado de Roma, mas a idéia do imperador louco não era tão ruim assim. Incitatus jamais atentou contra o erário, não consta que conhecesse um só lobista de empreiteira, não tinha fazendas nem traficava com vacas de qualquer espécie e não forjava papéis (em seu tempo o papel ainda não existia).

Tratava-se de senador honesto, exemplar, sem agenda oculta, caixa 2 ou qualquer fato que o incriminasse. Seu único defeito era não ter tido um só voto para ganhar o mandato de senador, mas isso também não o deixaria mal no Senado, onde cinco dos 16 membros da Comissão de Ética também não precisaram de um único sufrágio para chegar ao Senado, a começar pelo presidente, o senador Sibá e o relator-brucutu, Wellington Salgado.

Mais uma vez os brasileiros assistem a um festival de cinismo, que se não fosse trágico poderia fazer parte de um roteiro do Cassseta & Planeta, tal é o volume de besteiras que ali são ditas. Não escapou nem Joana D'arc que morreu numa fogueira "que lhe consumiu os cabelos" (certamente morta por causa dessa perda capilar). O relator-brucutu insistia em "relatar meu relatório" e fazia cara de mau durante toda a sessão do Conselho, cruzando os braços e dizendo que renunciaria (como renunciou). A seu lado, Sibá mirradinho e muito mais esperto, propunha o adiamento da sessão, novas perícias e cavava um pouco a cova de Renan (ele já foi coveiro e deve entender de morto). Brucutu insistia em "relatar meu relatório" e dava a impressão de que a qualquer momento faria picadinho de Sibá. Incitatus relincharia envergonhado...

Algumas ilhas de integridade como Suplicy, Simon e Peres não bastariam para salvar o Senado se Jeová resolvesse destruí-lo, como fez com Sodoma. Abraão (como bom semita) negociou com Deus, que exigia 50 justos para poupar Sodoma, e este se comprometeu a deixar por 10 e não arrasar a cidade. Não havia 10 justos. Haverá no Senado?

O país economizaria dinheiro e paciência se adotasse o sistema unicameral, como a maioria das democracias. A Inglaterra está extinguindo a Câmara dos Lordes. O Senado seria, por definição, uma câmara revisora, um hemiciclo de políticos experientes, sábios, maduros, preparados para evitar e corrigir abusos, erros e desatinos dos deputados. Mas o que se vê é uma associação de semiletrados com indivíduos de caráter duvidoso e não raro folhas corridas. Qual é o objetivo dessa casa? Sibá demonstrou, na sessão da quarta-feira, não ser tão idiota quanto Renan acreditava que fosse, ao entregar-lhe o julgamento "ético" do affair. O presidente do Senado estava tão certo da absolvição que sequer se preocupou em dar a mínima verossimilhança a seus papéis e vacas fajutas. Bastou a Globo fazer um pouco de jornalismo e a vaca foi para o brejo...

Quando penso em senador, penso em alguém como Afonso Arinos, Paulo Brossard, Petrônio Portella, Santiago Dantas, Darcy Ribeiro, mas certamente não em alguém como a imensa maioria dos parlamentares hoje naquela casa, que não tem qualificação nem para vereador de cidade de quinta categoria. Do jeito que vem caindo, o melhor é acabar de vez com o Senado na reforma política que deveria já estar sendo discutida, mas que mais uma vez cede lugar a mais um (e certamente não o último) escândalo desta República podre.

PS - Renan avisou que não cai só; teremos Roberto Jefferson II? Imaginem-o dizendo: "Aqui ninguém é melhor do que eu! Todos têm vaca...".

Tradução do título: Incitatus foi melhor senador que Renan.

"Homem é mesmo muito besta!", diz Verônica Calheiros

"Homem é mesmo muito besta!", diz Verônica Calheiros

Três relatores, 12 horas de debates e 15 representantes de 7 partidos não foram suficientes na semana passada para desempatar as dúvidas que rondam o Conselho de Ética do Senado sobre o decoro parlamentar do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). Em compensação, o decoro conjugal do senador produziu comentários animados entre os parlamentares. Da casa oficial onde mora em Brasília, a mulher de Renan, Maria Verônica Calheiros, observou a espiral política que paralisou a pauta do Congresso Nacional e reduziu tudo em uma notável reflexão doméstica: “Não sei como meu marido caiu nessa... Homem é mesmo muito besta!”

Verônica Calheiros é uma mulher de 43 anos. Fala com um timbre de voz infantil e prefere frases longas. Fez faculdade de Artes Plásticas, é evangélica e gosta de cuidar de suas mais de mil matrizes de orquídeas. Integra a crise no papel da esposa que perdoou uma retumbante traição do marido - uma espécie de Hillary Clinton tropicalizada. “Escolhi lutar pela minha família e faço o que for preciso para isso”, disse ela ao Estado, em conversa por telefone.

O presidente do Senado está com o escalpo à prova sob suspeita de ter recebido dinheiro do lobista de uma empreiteira para pagar a pensão da filha que teve com a ex-amante, a jornalista Mônica Veloso. Como a acusação veio à tona por conta do caso extraconjugal, o Brasil foi convidado a acompanhar os detalhes de um novelão político-conjugal.

A primeira-dama do Senado assumiu seu papel por conta própria, há um mês. No dia em que Renan Calheiros fez seu pronunciamento no Senado, ela saiu às pressas da ginástica, passou em casa para colocar um terninho preto e sentou na primeira fila para vê-lo falar. Depois, foi abraçá-lo. “Ninguém nunca foi para a tribuna fazer o que ele fez. Ele foi inédito. E eu também fui inédita.”

Há quem diga no Congresso que Verônica defende o marido publicamente para ajudá-lo a tirar o foco do escândalo político e transformá-lo em mero bafafá extraconjugal. Ela afirma que simplesmente enxerga o caso de alcova que abalou o Congresso como uma daquelas tentações que rondam o poder em Brasília. “Renan foi a maior vítima nisso tudo. Ele e a criança. Ele, claro, também tem culpa, porque todo ser humano é falho. Mas todos sabem que existe um assédio em cima dos representantes do poder. Fiquei surpresa por ele ter caído...”

A BATALHA DE VERSÕES

O novelão dos Calheiros que atinge o Senado conta com capítulos tão complicados que às vezes a coisa fica meio barroca. E a guerra de versões pega fogo.

No estofo de suas denúncias, Mônica Veloso disse que testemunhou muita coisa porque teve uma relação de três anos com o senador. Verônica diz que é mentira. “Durmo com meu marido toda noite! Isso foi uma coisa rápida, no período em eu estava viajando, me preparando para ajudar na campanha política do meu filho (Renan Calheiros Filho, eleito em 2004 prefeito da cidade de Murici, em Alagoas).”

Mônica disse que foi ameaçada, a tal ponto que precisou registrar boletins de ocorrência. Verônica afirma que é mentira. “Eu soube dessa história toda por uma carta anônima e acredito que foi ela quem mandou. Perguntei a Renan e ele me contou tudo, antes de a criança nascer. Depois disso recebi telefonemas anônimos. Cheguei a mudar o número do telefone de casa, mas ela descobria. E quando ela soube que esperava uma menina ainda telefonou para me contar, porque eu só tive filhos homens... Fiquei tão abalada com tudo isso que engordei mais de 20 quilos.”

Mônica disse que resolveu denunciar o ex-amante só porque estava sendo apontada como “pessoa desclassificada”. Verônica afirma que é mentira. “Depois que ela engravidou, sumiu e só reapareceu com quatro meses. Renan assumiu a criança depois de um teste de DNA e pagou pensão, mas ela queria mais dinheiro. Ele me disse que ela estava ameaçando fazer chantagem, procurar a imprensa e contar tudo. Ela não fez nada por amor, fez por interesse. No primeiro encontro já estava gravando tudo.”

E, por fim, Mônica disse que todas as suas despesas foram pagas em dinheiro vivo pelo lobista da construtora Mendes Júnior Claudio Gontijo. Mas nesse ponto Verônica já é mais econômica: “Eu não sabia quanto nem como ele dava dinheiro para ela. Mas o Cláudio é só nosso amigo, eu que fiz a aproximação. Quando Renan era deputado federal, convidei Cláudio e a mulher dele na época para jantar com a gente. Com o tempo nós fomos nos aproximando.”

BOBOS E CHATAS

Na semana em que Mônica Veloso mandou seu advogado contar no Senado como Renan Calheiros lhe mandava dinheiro vivo por meio do representante de uma construtora que toca obras públicas, a primeira-dama Verônica Calheiros seguiu sua rotina de ginástica e orquidários, mas continuou a defender a tese de que seu marido “pode até ter sido ingênuo”, mas foi vítima de uma mulher capaz de usar o poder do útero contra a República.

“Ele não é promíscuo, apenas errou, contou tudo a quem devia ter contado e se desculpou. Eu escolhi perdoar, mas antes disse a ele: ‘Se você estiver apaixonado por ela, eu seguro a barra, meu filho’. A princípio, sou contra separações. Mas não vou segurar um vaso todo colado porque uma hora as peças se soltam. Tenho base, tenho história política, tenho tradição de esquerda, atuei no PC do B. Casei aos 17 anos com o homem que amava e entre nós existe amor e companheirismo.”

Mas e as denúncias de que ele recebia dinheiro de lobista?

“Não existe nada disso. Ela fez isso para me desestabilizar, desestabilizar meu casamento. Mas estou aqui, do lado dele.”

Estadão

Entrevista/Mônica Veloso

Jornalista que hoje é "terror de Brasília" diz que amava demais

Pivô da crise que ameaça derrubar o presidente do Senado afirma que sociedade condena mulheres com casos extraconjugais; ela não descarta voltar à televisão

Pivô da crise que ameaça derrubar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a jornalista Mônica Veloso, 38, pensa em se mudar de Brasília: "Virei o terror da cidade".
Com uma filha de três anos, fruto do relacionamento com o senador, Mônica nega que tenha chantageado Renan e afirma que amou o peemedebista. "Amei, amei muito." Ela diz que os dois nunca procuraram se esconder e que, no início, Renan dizia que estava separado.
Após o escândalo, passou a ser reconhecida na rua. Diz ter apoio da família e dos amigos, mas afirma que "a sociedade, em geral, tende a recriminar" a mulher em casos extraconjugais. Ela nega que, antes de Renan, tenha namorado outros políticos. "Não sou alpinista social", diz a mineira de Nanuque, criada em Belo Horizonte.
Com 1,70 m e 58 kg, ela começou a carreira fazendo comerciais em Cuiabá (MT), mas não gosta do rótulo de modelo. Não descarta posar nua e gostaria de comandar um programa de entrevistas na TV. Questionada se é uma mulher bonita, desconversa: "Fotografo bem".
Mônica faz questão de se dizer "extremamente religiosa" -embora, em seguida, admita que vá pouco a cultos. Ela se diz evangélica, batista, apesar de ser adepta do Vale do Amanhecer: "Sou crente nova".
A jornalista diz que não está namorando e que tem preferido se dedicar às duas filhas. Freqüenta a academia de duas a três vezes por semana, gosta de sair para jantar e diz que dispensa festas e dança mal.
Está relendo o best-seller "Quando Nietzsche Chorou", de Irvin D. Yalom. Cinéfila, inclui "Os Infiltrados", de Martin Scorsese, entre os preferidos: "Adoro filme inteligente".
Diz que adora moda, jóias e maquiagem, mas não é do tipo que "desconta o emocional" no shopping: "Vou para a análise".

"As coisas que começam errado não têm como dar certo'

FOLHA - Você teve um relacionamento com um político casado. Foi estigmatizada por isso?
MÔNICA VELOSO - A sociedade de uma maneira geral tende a recriminar, sim, mas tem os dois lados. Recebi muita crítica mas também muito apoio.

FOLHA - Como é esse apoio? É reconhecida na rua?
MÔNICA - Sou, as pessoas comentam umas com as outras. Mas não é isso. A solidariedade que eu recebi veio dos meus amigos, da minha família, que sabem a minha história de vida, sabem que eu não sou uma alpinista social. Eu não precisava em hipótese nenhuma me envolver em um relacionamento para me beneficiar.

FOLHA - Há uma insinuação de que você estaria chantageando Renan. Você gravou conversas com ele?
MÔNICA - Acho muito estranha essa história de chantagem. Nunca apareceu um laudo que fosse seguro, não tem nenhum material que eu possa ouvir para saber se a voz é minha...

FOLHA - Reconhece aquelas conversas na transcrição?
MÔNICA - Não reconheço. Não posso garantir que talvez o telefone dele não estivesse grampeado, como ele comentou. Mas eu não reconheço aqueles termos, parece um negócio meio de novela mexicana.

FOLHA - Como se conheceram?
MÔNICA - Trabalhando na Globo, eu fui gravar com ele. Depois eu voltei a encontrá-lo porque a [minha] produtora fez um programa para o horário eleitoral gratuito do PMDB. Nas duas ocasiões foi uma coisa bastante formal.

FOLHA - Você não se interessou logo de cara por ele, então?
MÔNICA - Não. Nem eu por ele, nem ele por mim.

FOLHA - Quando começaram o relacionamento, vocês tomavam cuidado para não serem vistos?
MÔNICA - De jeito nenhum, por isso em Brasília essa história não é nenhuma novidade. Jantávamos em restaurantes, íamos a lançamentos de livros, a eventos no próprio Senado. Até porque inicialmente ele me disse que estava separado.

FOLHA - Você se arrepende?
MÔNICA - As coisas que começam errado não têm como dar certo. Eu acho que aprendi muito, porque sofri demais. Não vou dizer que foi a relação ideal, mas a minha filha é uma bênção para mim.

FOLHA - Você pode dizer que amou o presidente Renan?
MÔNICA - Claro que sim. Amei, amei muito. Ele é um homem extremamente inteligente.

FOLHA - Engravidou por descuido?
MÔNICA - Não vou responder.

FOLHA - Teve que se esconder durante a gravidez?
MÔNICA - Não, o que aconteceu é que nós achamos mais conveniente que eu me mudasse. Apesar de eu não estar mais no vídeo, ainda era uma pessoa que, no meio dos jornalistas, era conhecida, porque Brasília é uma cidade provinciana.

FOLHA - Recebeu ameaças?
MÔNICA - Foi em 2004, eram ameaças por telefone.

FOLHA - Era uma voz feminina?
MÔNICA - Variava.

FOLHA - Desconfia de quem estava por trás dessas ameaças?
MÔNICA - Não.

FOLHA - Você teve relacionamentos com outros políticos?
MÔNICA - Não, inventaram toda sorte de relações. Eu virei o terror da cidade.

FOLHA - Nem o Luís Eduardo Magalhães [morto em 1998]?
MÔNICA - Não. Eu o conhecia, estive com ele em várias ocasiões, mas nunca houve nada.

FOLHA - Acha que está queimada na profissão?
MÔNICA - Tenho certeza que sim. Não sei se vou reativar a produtora, enveredar por outra seara, porque na política...

FOLHA - Não pensa em voltar à TV, talvez em um talk show ou em um programa de variedades?
MÔNICA - Não descarto, gosto muito de televisão. Talk show não é uma coisa que eu descarte não, acho que seria muito legal.

FOLHA - Pensa em deixar Brasília?
MÔNICA - Penso, porque a exposição foi muito grande e muito negativa.

FOLHA - Você se acha uma mulher bonita, sexy?
MÔNICA - Faz uma pergunta mais fácil [risos]. Acho que não tenho perfil de sex symbol. Acho que fotografo bem.

FOLHA - Recebeu alguma proposta para posar nua? Aceitaria?
MÔNICA - Até agora ninguém me ligou. Para eu poder fazer um comentário precisaria ser uma coisa oficial, mostrando como seria feito. Sem isso não dá nem para fazer conjectura.

FOLHA - Você se preocupa muito com a imagem?
MÔNICA - Hoje em dia não. Quando eu trabalhava na televisão, aí tinha uma preocupação maior. Mas não sou do tipo que desconta o emocional no shopping. Vou para a análise.

FOLHA - Que tipo de análise você faz? Há muito tempo?
MÔNICA - Freudiana. Faz pouco tempo. Acho que muita coisa que era mal resolvida a análise me ajuda a trabalhar melhor. Mas essa coisa do emocional para mim tem duas linhas. Uma é a análise. A outra é que sou extremamente religiosa.

FOLHA - Segue qual religião?
MÔNICA - Evangélica, batista, da Vale do Amanhecer.

FOLHA - Freqüenta cultos?
MÔNICA - Não vou demais, vou às vezes. Sou crente nova.

FOLHA - Está namorando?
MÔNICA - Não. Não estou namorando há muito tempo.

FOLHA - Por quê?
MÔNICA - Assim que a relação acabou, preferi ficar próxima das meninas [suas filhas], me reorganizar. E não apareceu ninguém que valesse a pena.

FOLHA - Está trabalhando?
MÔNICA - Não.

FOLHA - Nunca estranhou receber tanto dinheiro de Cláudio Gontijo?
MÔNICA - Não. Quando você tem um relacionamento com um homem e vocês têm um filho, você não vai ficar questionando se o pagamento de sua pensão é ou não em espécie. Isso parece óbvio agora, mas na época não me preocupava.

FOLHA - O que achou do discurso de defesa de Renan no Senado? E de ele ter se referido a você como "a gestante", sem falar seu nome?
MÔNICA - Ele escolheu uma linha e se manteve nela. Faz um certo tempo que não consigo reconhecê-lo.

FOLHA - Você sabia que ele era um produtor de gado bem-sucedido?
MÔNICA - Falava mais da fazenda, de pescaria. Às vezes ele falava de gado, mas não sei dizer se era do tamanho A, B ou C.

FOLHA - Ele disse que repassou R$ 100 mil para um fundo de educação.
MÔNICA - Foi acerto de pensão.

FOLHA - Gosta de política?
MÔNICA - Gostava muito. As circunstâncias me levaram a não ter mais muito interesse. Fiquei muito exposta e não vou dizer que hoje seja meu assunto predileto. Fiquei triste com a forma como exploraram minha intimidade, quando disseram o nome de minha filha no Conselho de Ética. Não precisava.

FOLHA - Acha que Renan pode ficar na presidência do Senado?
MÔNICA - Não gostaria de me manifestar sobre isso. Essa é uma questão que cabe aos pares dele decidir.

Folha

23.6.07

Gautama

Gautama deu R$ 840 mil a 3 deputados, informa PF

Irmão de Renan recebeu R$ 400 mil, diz relatório enviado ao procurador-geral

Olavo Calheiros e Paulo Magalhães não foram localizados para falar sobre o caso; Maurício Quintella negou ter recebido dinheiro


Em relatórios encaminhados ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, a Polícia Federal informou que os deputados Paulo Magalhães (DEM-BA), Maurício Quintella (PR-AL) e Olavo Calheiros (PMDB-AL) teriam cobrado R$ 840 mil para intermediar interesses do empreiteiro Zuleido Veras.
Veras é o dono da Gautama, empresa por meio da qual funcionou um esquema nacional de fraude a licitações com a conivência de servidores públicos e políticos, segundo investigação da Operação Navalha.
Antonio Fernando abriu procedimentos administrativos por meio dos quais os deputados passaram a ser alvo de apuração do Ministério Público.
Segundo a PF, dos três, Olavo, irmão de Renan Calheiros, é o que teria recebido a maior quantia: R$ 400 mil, pelo que se descobriu até o momento.
As informações enviadas pela PF foram colhidas nas escutas e com o cruzamento de dados sobre a tramitação de emendas, além de em documentos apreendidos, como a agenda do diretor da Gautama Gil Jacó de Carvalho Santos.
Registra a PF em seu relatório: "Nos manuscritos encontrados na agenda de Gil, há anotações das siglas "Ola" e "Olavinho" ao lado de valores "200", nos dias 30/06/2006 e 01/07/ 2006". A contrapartida seria a apresentação de duas emendas. Documentos relativos a ambas foram apreendidos no escritório da Gautama em Brasília.
Uma emenda, de R$ 10 milhões, vinculada ao Ministério das Cidades, era para um programa em municípios de Alagoas. A outra, de R$ 30 milhões, destinava-se a projeto que é vinculado à Fundação Nacional de Saúde.
Magalhães teria recebido o segundo maior lote de verbas descoberto pela PF até o momento: R$ 320 mil. Sob a orientação de Zuleido, conforme interceptações telefônicas, ele tentou manipular a votação de um processo do TCU (Tribunal de Contas da União) em favor da Gautama.
Contra o deputado Maurício Quintella (PR-AL), pesa a acusação de que teria recebido R$ 120 mil para apresentar uma emenda para destinar R$ 10 milhões a um programa de drenagem em Alagoas.

Outro lado
Por meio de sua assessoria, o deputado Maurício Quintella afirmou que apresentou a emenda em questão em benefício de sua principal base eleitoral. Disse, porém, que o pagamento efetivo nunca ocorreu.
Até o fechamento desta edição, a Folha não obteve resposta a recados deixado no gabinete e com assessores do deputado Paulo Magalhães.
Ninguém atendeu ao telefone no gabinete do deputado Olavo Calheiros.
Folha

O bicheiro e Renan

Bicheiro diz que financiou clã Calheiros e teme por sua vida

Um bicheiro com pesada ficha criminal veio agravar as denúncias contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ex-chefe do jogo em Maceió e Murici, Plínio Batista conta que financiou as campanhas eleitorais da família Calheiros, incluindo a de Renan, em 1994. Afirma, ainda, que fez empréstimos à Prefeitura de Murici, então comandada por Remi Calheiros, irmão do senador, e exibe cópias de cheques.

Tentando demonstrar que tinha intimidade com o clã, ele relata que foi à posse de Renan no Ministério da Justiça, em 1998. Segundo a sua versão, o ministro nunca teve o menor constrangimento em recebê-lo e até indagava: “Como vai o nosso zoológico?” Batista, que garante ter deixado a contravenção, teme pela própria vida por ter enfrentado Renan.

O advogado do senador, Eduardo Ferrão, garante que são apenas acusações requentadas da campanha eleitoral. “O senador tem processado os autores de denúncias a respeito desses temas”, afirmou.

Ao longo do dia, Renan tentou mostrar tranqüilidade e reiterou que não renuncia. Ele conhece bem o regimento - em 2001, era líder do PMDB e viu de perto a crise que levou Jader Barbalho (PA) a abrir mão do mandato para salvar os direitos políticos.
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'Era só o Renan dar a ordem que eu fazia'

O bicheiro Plínio Batista, que comandou o jogo ilegal em Maceió e Murici, do fim dos anos 90 até 2002, afirma ter financiado a campanha eleitoral de 1994 do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), atual presidente do Senado. Batista garante ainda ter participado, sem nenhum embaraço, da cerimônia de posse de Renan no Ministério da Justiça em 1998. “O ministro da Justiça não tinha qualquer constrangimento em receber um bicheiro. Ele sempre me perguntava: ‘Como vai o nosso zoológico?’ Eu é que evitava causar problemas”, diz Batista, que declara estar atualmente fora da contravenção.

Ele tem em seu poder cheques das agências do Banco do Brasil, Produban e da Caixa Econômica em Murici, assinados por Remi Calheiros, ex-prefeito da cidade-natal da família de Renan, que supostamente demonstrariam uma relação de proximidade entre ele, o senador e seu clã. O bicheiro, que exibe uma ficha criminal pesada - a qual inclui prisões e acusação de assassinatos -, encabeça a lista dos ex-aliados que se tornaram adversários políticos do presidente do Senado. Ainda assim, ele sustenta que, a pedido de Renan, chegou a fazer empréstimos para a prefeitura de Murici para o pagamento dos funcionários.

“Dei dinheiro até para pagar pessoal. Era só o Renan dar a ordem que eu fazia. Ele e os irmãos foram todos financiados pelo jogo do bicho”, afirma, sem revelar o montante. Parte do dinheiro, supostamente emprestado, teria sido devolvido por Remi, irmão de Renan e na época beneficiário dos empréstimos concedidos pelo bicheiro. Ele conta com pelo menos dez cheques que não foram compensados por falta de fundos e o registro dos que foram pagos.

CÓPIAS

O Estado recebeu cópia de alguns deles. Assinados por Remi e nominais a Batista, os cheques são datados dos anos de 1996, 1998 e 2000 . “Uns voltaram por falta de fundos, mas muitos foram compensados”, conta.

Por dispor de muitas informações do passado do senador, Batista diz que teme pela própria vida. Ele escreveu uma carta para a mulher e gravou uma declaração atribuindo a responsabilidade a Renan por qualquer acidente ou atentado que venha sofrer.

“Qualquer coisa que acontecer comigo, um acidente de trânsito, um assassinato, o responsável é o senador Renan Calheiros. Eu o responsabilizo pelas denúncias que eu estou fazendo, pelas provas que eu tenho, por tudo que eu tenho contra ele. Já estou sendo seguido há uma semana”, disse ao Estado. Seu filho, o vereador de Murici Plínio Junior, confirma que o pai financiou as campanhas dos Calheiros quando comandava o jogo do bicho. “Depois, nós rompemos e fomos para a oposição.”

Amigo de Renan desde 1978, Benezido Rodrigues, dono da extinta gráfica Idéia, atesta que o bicheiro fez inúmeros pagamentos na campanha de 1994 do senador: “O Plínio pagava a propaganda, santinhos de campanha, camisetas, além de abastecer os carros, essas coisas. O Renan não tinha dinheiro para o material de campanha. O Plínio é quem mandava fazer.”

PRISÃO

Como Batista, Rodrigues também já foi preso. Em fevereiro deste ano, foi pego pela Operação Rio Nilo da Polícia Federal e está sendo processado por formação de quadrilha e sonegação fiscal, entre outros crimes. Ele assegura que, embora esteja afastado do senador, foi um de seus melhores amigos. Em 1990, derrotado na eleição para o governo de Alagoas, Renan costumava ligar de madrugada, conta ele. “Dê um pulo aqui. Estou com depressão, vamos conversar”, convidava o senador, segundo relato de Rodrigues.

Já Batista diz que, com apoio de Renan, chegou a ganhar uma concorrência em 2002 para comandar o jogo de bicho em Alagoas no momento em que sua legalização foi aprovada. Nas reuniões, ele se apresentava como “sócio informal” do senador e acabou sendo o principal beneficiado com a legalização. Ele passou a comandar o bicho estatal de Maceió e Arapiraca. “Eu não sei se ele teve o apoio de Renan, mas se o senador fosse contrário certamente Plínio não teria ganho a loteria de bichos estadual”, argumenta Rodrigues.

O bicheiro Leonildo Nunes de Oliveira, sócio de Batista no período que o jogo era ilegal, assegura que nunca houve sociedade com Renan. “Isso nunca existiu. Não posso levantar uma lebre que nunca existiu. Não vi qualquer transação entre Renan e o Plínio”, afirma Oliveira.

Expedito Filho para Estadão

Dois homens bons

Roberto Pompeu de Toledo para Veja

Os estilos são opostos. Um é contido, ascético. Nunca ri. O outro é expansivo, no verbo e nos gestos. O primeiro é até enfadonho, na fisionomia impassível e no discurso monocórdio. O outro faz discursos que parecem performances de artista. Os dois são senadores: Jefferson Péres e Pedro Simon. Na política brasileira, do que mais se fala é de pessoas com reputação dúbia e intenções suspeitas. São os personagens predominantes, que se vai fazer? Abramos uma exceção, por uma vez, para falar de homens bons. Jefferson Péres e Pedro Simon, opostos até na geografia – um é do Amazonas, o outro do Rio Grande do Sul –, compartilham a condição de representar, no problemático panorama da política brasileira, as mais destacadas personificações de homens corretos.

A imagem do Senado, nestas últimas semanas, congelou no espetáculo de degradação encenado na comissão perfidamente chamada "de Ética". Muitas foram as crises do Legislativo brasileiro, mas poucas com a característica tão marcante de levar junto a própria instituição. Ao caso do senador Renan Calheiros, suas contas mal explicadas, seus bois, o recurso ao amigo lobista para acertar as contas com a parceira com quem teve uma filha, somava-se o cerrado cordão protetor formado pelos Romero Jucá, pelos Epitácio Cafeteira, pelas Ideli Salvatti – e isso era "o" Senado. Seguindo o modelo-padrão dos escândalos políticos, desde o Watergate dos americanos, logo o acobertamento tomava mais vulto do que o fato que lhe deu origem. O acobertamento tendia a virar crime maior do que a denúncia primitiva. E o acobertamento, uma ampla e complexa operação em que se acumpliciavam dirigentes da Casa, líderes partidários e outros notáveis, era "o Senado". A crise se transferia da figura de Renan Calheiros para a instituição. É nesse momento que se olha para o lado e – epa – se percebe que Jefferson Péres e Pedro Simon estão em outra.

Desde o primeiro momento, eles estiveram em outra. Os dois, desde a denúncia, nesta revista, de que um lobista de empreiteira pagava contas pessoais de Renan Calheiros, defenderam que era preciso investigar. É uma coisa de palmar simplicidade. Há uma denúncia, claro que se tem de investigar. Mas ser a favor de investigar converte-se em algo excepcional quando se percebe que, ao redor, há uma esmagadora pressão para não investigar. No mesmo momento zero da atual crise, tanto Jefferson Péres quanto Simon defenderam que Renan devia deixar a presidência do Senado enquanto se investigava. Outros senadores, poucos, adotaram depois a mesma posição. Há outros homens bons no Senado. Mas a primazia foi de Péres e Simon. E nem se esperava outra coisa deles. Eles têm uma linha e a seguem. Foi assim neste como em todos os casos anteriores. Eta homens diferentes.

Pena que Jefferson Péres esteja em marcha batida para a desilusão. No meio da crise do mensalão, anunciou que não vê como a política brasileira possa tomar jeito, e que por isso encerrará a carreira em 2010, quando termina seu mandato. Simon é capaz de descrever sua condição solitária com bom humor. Numa entrevista a Carlos Marchi, do Estado de S. Paulo, na semana passada, contou que não é mais indicado para o Conselho de Ética desde que o senador Ney Suassuna virou líder do PMDB, na legislatura passada. "Eu aceitei com humildade, porque o Suassuna, com seu espírito de modernidade, achou que estou superado, com meus 75 anos. Eu defendo umas teses que não são muito atuais – ética, moral, essas coisas. Para o Suassuna, isso é coisa superada." Suassuna, lembre-se, viria a ser tragado no escândalo chamado "dos sanguessugas".

Os sanguessugas do penúltimo escândalo safaram-se. Sobrou o sangue. A moda agora é falar em sangue, nas crises políticas: "Renan sangra", repetia-se. "O Senado sangra", acrescentava-se. Renan falou em vísceras. "Estou com as vísceras à mostra", disse, insistindo no truque malandro de pintar como invasão da vida pessoal uma denúncia que diz respeito à sua atuação pública. Já que é para recorrer a termos médicos...

O médico Aloysio Campos da Paz, idealizador e cirurgião-chefe da Rede Sarah de Hospitais, referência internacional na reabilitação de pacientes com problemas de locomoção, escreveu na semana passada um texto em que resumia assim sua filosofia de trabalho: "Existe uma dicotomia que contribui perversamente para impedir a reabilitação de pessoas que apresentam alguma forma de incapacidade: os médicos julgam os doentes a partir do que a doença lhes fez perder; do que deixou de existir. A verdadeira reabilitação avalia o doente pelo que lhe restou, pelo seu potencial, por onde há espaço para investir". No caso desse organismo doente que é o Senado, Péres e Simon representam o que restou de intacto. Neles, ainda ressoa com o antigo e respeitável significado a palavra "senador". Talvez o exemplo que oferecem ainda sirva para iluminar um caminho para a atividade parlamentar. Ou talvez não. Talvez seja excesso de otimismo. Nesse caso, fica o registro de suas atuações, e a homenagem.

O dicionário de Renan

André Petry para Veja

No universo de lobistas, bois e notas frias em que afunda, o senador Renan Calheiros insiste em manter-se na presidência do Senado e chegou a dizer que a palavra "renúncia" não consta de seu dicionário. É uma boa oportunidade para tentar decifrar o dicionário de Renan. Suas ações públicas, tais como suas palavras públicas, significam sempre o contrário do que parece. Na quinta-feira passada, o senador deu uma entrevista em que disse coisas importantíssimas, mas, para entendê-las corretamente, é preciso interpretá-las pelo avesso. Eis o que o senador falou:

"Não permitirei que levem o Senado a uma crise institucional. Não arredarei pé."

Traduzindo: Renan é, ele próprio, a crise do Senado que poderia ser solucionada caso ele arredasse o pé. Mas, para além disso, a tradução correta do que ele disse é que fará tudo para que o Senado enfrente uma crise institucional, ou pelo menos caia num impasse, caso seja forçado a deixar o cargo. Será sua desforra. Já disse isso claramente a senadores mais próximos. Queria mostrar seu poder de fogo e de chantagem. Afirmou que, se alguém acha que o Senado está enfrentando uma crise institucional, ainda não sabe o que é uma crise institucional. Sugeriu que ele, sim, é capaz de provocar uma crise institucional digna do nome.

"Não vou permitir que devassem a vida de senadores. Expus as minhas vísceras, mas as minhas; as dos senadores não permitirei."

Traduzindo: Renan, se for emparedado e forçado a renunciar, vai empenhar-se com afinco para expor as vísceras do maior número possível de colegas. Já começou a fazer isso quando tentou chantagear os senadores José Agripino e Demostenes Torres. Também já andou falando de sua disposição de atear fogo aos colegas para um círculo mais fechado, razão pela qual o Senado, na semana passada, foi tomado por um certo clima de chantagem. Na baixaria, diga-se, o senador Renan Calheiros deixou prosperar a insinuação de que um certo senador sustenta seus ardores de pedófilo levando adolescentes – meninos e meninas – para Brasília com passagens aéreas pagas pelo Senado. É apenas um exemplo para que o país possa se certificar da dignidade, da hombridade e da categoria de Renan Calheiros.

"Estou disposto a enfrentar qualquer coisa para que prevaleça a verdade."

Traduzindo: Renan está disposto a fazer qualquer coisa para que a verdade permaneça oculta. Tem sido assim desde que se viu engolfado no escândalo de suas relações promíscuas com o lobista da empreiteira Mendes Júnior. Tentou esconder a verdade fazendo um pronunciamento aos senadores e encerrando a sessão para evitar perguntas. Tentou evitar a convocação do Conselho de Ética. Acionou uma tropa de choque formada por suplentes para defender seus interesses. Marcou e desmarcou reuniões do Conselho de Ética. Reuniu senadores em seu gabinete. Fez e aconteceu – até que, agora, com a corda no pescoço, começaram as ameaças e chantagens.

Admite-se que os políticos dissimulem, tergiversem, disfarcem numa certa medida. Mas, no caso de Renan, seu cinismo chegou a um grau nunca antes atingido. Sua falta de compostura é mais um sinal eloqüente – apenas mais um – de que perdeu as condições de ser presidente do Senado.