24.6.07

Elas sabem do dinheiro

Mulheres de políticos conseguem acordos com pensões milionárias na hora da separação

IANO ANDRADE/PHOTO AGÊNCIA/ ROBSON FERNANDJES/AE

Um espectro paira sobre a República: o espectro das disputas por pensões e espólios de figurões do mundo político e empresarial que se viram envolvidos em escândalos recentes. Depois do rocambolesco affair Mônica Veloso/Renan Calheiros, duas outras histórias folhetinescas vieram à tona nesta semana, revelando a fragilidade de certas relações amorosas, principalmente quando elas vivem à sombra do poder. No primeiro caso, um divórcio resultou para a mulher na maior pensão já estipulada pela Justiça no Brasil. No segundo, a esposa furiosa busca pôr a mão em parte dos milhões de dólares do marido depositados num paraíso fiscal.

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BOCA NO TROMBONE Christina diz que quer 50% do que Valdemar tem no Exterior, desde que seja “lícito”

A personagem felizarda é uma rica advogada paulista que, depois de viver casada por muitos anos com o primogênito da família dos Maluf, terminou tudo e, com o fim do casamento, embolsará uma pensão mensal de R$ 217 mil. Jacqueline de Lourdes Torres Maluf, 42 anos, dois filhos, era casada com Flávio Maluf, presidente da Eucatex e o filho mais velho do deputado federal e ex-prefeito de São Paulo Paulo Salim Maluf. A ex-nora de Maluf, segundo as autoridades da Ilha de Jersey – paraíso fiscal no Canal da Mancha –, aparece como uma das beneficiárias de uma fortuna de US$ 200 milhões depositada em uma conta ligada ao político paulista. Há quem diga que um divórcio de luxo como o pactuado por Flávio e Jacqueline guarda muitos segredos inconfessáveis sobre o clã Maluf. Procurada, ela não toca no assunto.

O certo é que Jacqueline continua a morar na mansão da família, no sofisticado bairro de Cidade Jardim, na capital paulista. “É um drama familiar como outro qualquer. O que muda é o sobrenome”, defende o advogado dos Maluf, José Roberto di Francesco. O patrimônio do sogro de Jacqueline há muito intriga o Ministério Público (MP) paulista. A família é acusada por promotores de formação de quadrilha, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Por conta dessas suspeitas, em 2005 o então marido de Jacqueline amargou, junto com o pai, 41 dias na carceragem da PF em São Paulo.

IANO ANDRADE/PHOTO AGÊNCIA/ ROBSON FERNANDJES/AE/ WELLNGTON CERQUEIRA
ACORDO GENEROSO A ex de Flávio Maluf, Jacqueline, vai receber a maior pensão já paga no País: R$ 217 mil. Ela é uma das beneficiárias de uma fortuna de R$ 200 milhões na Ilha de  Jersey (Reino Unido)

Já a socialite Maria Christina Mendes Caldeira, 41 anos, ex-mulher do deputado federal Valdemar Costa Neto (PRB-RJ), não teve tanta sorte. Ou pelo menos ela não revela a ninguém o que realmente pretende do ex-marido. Homem poderoso da política nacional e expresidente do Partido Liberal, há dois anos ele vê suas entranhas sendo expostas em rede nacional. A união do casal não resistiu à crise do mensalão, quando Christina resolveu botar a boca no trombone e denunciar Valdemar. Ao revelar detalhes sobre contas em paraísos fiscais, recebimento de dinheiro em malas y otras cositas más, Christina implodiu a vida política do parceiro. Em 2005, ele renunciou ao mandato de deputado federal para não ser cassado. Acabou sendo eleito novamente em 2006.

E a lavagem de roupa suja continua. Dias atrás, fiscais da Receita Federal procuraram Maria Christina para que ela os auxiliasse no rastreamento do dinheiro de Valdemar. Ela não se fez de rogada e expôs vários documentos que podem afundar de vez o ex-marido. Valdemar, até então, insistia que movimentara “só” R$ 6,6 milhões no esquema do mensalão. Isso apesar de o empresário Marcos Valério insistir que tinha entregue a ele R$ 10,8 milhões. Com a ajuda da ex-esposa, agora a PF, a Receita e o MP já têm os recibos dos R$ 4,3 milhões restantes.

Assim com fez Flávio Maluf, Valdemar tentou um acordo com a ex-mulher, mas não deu certo, não se sabe bem por quê. “Ele ofereceu tudo o que eu quisesse: carro novo, apartamento de luxo, viagens ao Exterior”, diz ela. Mas Christina não aceitou. “Se o dinheiro que está lá fora for lícito, eu quero 50%”, disse. “Na verdade, eu só quero uma coisa: que ele me deixe em paz. É mais fácil me ver abraçando o capeta do que a ele”, emendou. O coração tem razões que a razão desconhece. A bolsa também.

IstoÉ

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