"Homem é mesmo muito besta!", diz Verônica Calheiros
Três relatores, 12 horas de debates e 15 representantes de 7 partidos não foram suficientes na semana passada para desempatar as dúvidas que rondam o Conselho de Ética do Senado sobre o decoro parlamentar do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). Em compensação, o decoro conjugal do senador produziu comentários animados entre os parlamentares. Da casa oficial onde mora em Brasília, a mulher de Renan, Maria Verônica Calheiros, observou a espiral política que paralisou a pauta do Congresso Nacional e reduziu tudo em uma notável reflexão doméstica: “Não sei como meu marido caiu nessa... Homem é mesmo muito besta!”
Verônica Calheiros é uma mulher de 43 anos. Fala com um timbre de voz infantil e prefere frases longas. Fez faculdade de Artes Plásticas, é evangélica e gosta de cuidar de suas mais de mil matrizes de orquídeas. Integra a crise no papel da esposa que perdoou uma retumbante traição do marido - uma espécie de Hillary Clinton tropicalizada. “Escolhi lutar pela minha família e faço o que for preciso para isso”, disse ela ao Estado, em conversa por telefone.
O presidente do Senado está com o escalpo à prova sob suspeita de ter recebido dinheiro do lobista de uma empreiteira para pagar a pensão da filha que teve com a ex-amante, a jornalista Mônica Veloso. Como a acusação veio à tona por conta do caso extraconjugal, o Brasil foi convidado a acompanhar os detalhes de um novelão político-conjugal.
A primeira-dama do Senado assumiu seu papel por conta própria, há um mês. No dia em que Renan Calheiros fez seu pronunciamento no Senado, ela saiu às pressas da ginástica, passou em casa para colocar um terninho preto e sentou na primeira fila para vê-lo falar. Depois, foi abraçá-lo. “Ninguém nunca foi para a tribuna fazer o que ele fez. Ele foi inédito. E eu também fui inédita.”
Há quem diga no Congresso que Verônica defende o marido publicamente para ajudá-lo a tirar o foco do escândalo político e transformá-lo em mero bafafá extraconjugal. Ela afirma que simplesmente enxerga o caso de alcova que abalou o Congresso como uma daquelas tentações que rondam o poder em Brasília. “Renan foi a maior vítima nisso tudo. Ele e a criança. Ele, claro, também tem culpa, porque todo ser humano é falho. Mas todos sabem que existe um assédio em cima dos representantes do poder. Fiquei surpresa por ele ter caído...”
A BATALHA DE VERSÕES
O novelão dos Calheiros que atinge o Senado conta com capítulos tão complicados que às vezes a coisa fica meio barroca. E a guerra de versões pega fogo.
No estofo de suas denúncias, Mônica Veloso disse que testemunhou muita coisa porque teve uma relação de três anos com o senador. Verônica diz que é mentira. “Durmo com meu marido toda noite! Isso foi uma coisa rápida, no período em eu estava viajando, me preparando para ajudar na campanha política do meu filho (Renan Calheiros Filho, eleito em 2004 prefeito da cidade de Murici, em Alagoas).”
Mônica disse que foi ameaçada, a tal ponto que precisou registrar boletins de ocorrência. Verônica afirma que é mentira. “Eu soube dessa história toda por uma carta anônima e acredito que foi ela quem mandou. Perguntei a Renan e ele me contou tudo, antes de a criança nascer. Depois disso recebi telefonemas anônimos. Cheguei a mudar o número do telefone de casa, mas ela descobria. E quando ela soube que esperava uma menina ainda telefonou para me contar, porque eu só tive filhos homens... Fiquei tão abalada com tudo isso que engordei mais de 20 quilos.”
Mônica disse que resolveu denunciar o ex-amante só porque estava sendo apontada como “pessoa desclassificada”. Verônica afirma que é mentira. “Depois que ela engravidou, sumiu e só reapareceu com quatro meses. Renan assumiu a criança depois de um teste de DNA e pagou pensão, mas ela queria mais dinheiro. Ele me disse que ela estava ameaçando fazer chantagem, procurar a imprensa e contar tudo. Ela não fez nada por amor, fez por interesse. No primeiro encontro já estava gravando tudo.”
E, por fim, Mônica disse que todas as suas despesas foram pagas em dinheiro vivo pelo lobista da construtora Mendes Júnior Claudio Gontijo. Mas nesse ponto Verônica já é mais econômica: “Eu não sabia quanto nem como ele dava dinheiro para ela. Mas o Cláudio é só nosso amigo, eu que fiz a aproximação. Quando Renan era deputado federal, convidei Cláudio e a mulher dele na época para jantar com a gente. Com o tempo nós fomos nos aproximando.”
BOBOS E CHATAS
Na semana em que Mônica Veloso mandou seu advogado contar no Senado como Renan Calheiros lhe mandava dinheiro vivo por meio do representante de uma construtora que toca obras públicas, a primeira-dama Verônica Calheiros seguiu sua rotina de ginástica e orquidários, mas continuou a defender a tese de que seu marido “pode até ter sido ingênuo”, mas foi vítima de uma mulher capaz de usar o poder do útero contra a República.
“Ele não é promíscuo, apenas errou, contou tudo a quem devia ter contado e se desculpou. Eu escolhi perdoar, mas antes disse a ele: ‘Se você estiver apaixonado por ela, eu seguro a barra, meu filho’. A princípio, sou contra separações. Mas não vou segurar um vaso todo colado porque uma hora as peças se soltam. Tenho base, tenho história política, tenho tradição de esquerda, atuei no PC do B. Casei aos 17 anos com o homem que amava e entre nós existe amor e companheirismo.”
Mas e as denúncias de que ele recebia dinheiro de lobista?
“Não existe nada disso. Ela fez isso para me desestabilizar, desestabilizar meu casamento. Mas estou aqui, do lado dele.”
Estadão
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