Compadre de Lula está envolvido ‘até o pescoço’, diz diretor da PF
Polícia Federal estuda pedir prisão preventiva de Morelli e considera irmão do presidente apenas “inocente útil”
A Polícia Federal vai concentrar as investigações sobre o petista Dario Morelli Filho, preso na Operação Xeque-Mate, e já estuda pedir sua prisão preventiva, por considerar que ele é sócio do empresário Nilton Cezar Servo, suposto chefe da máfia dos caça-níqueis, desmantelada na semana passada. “Ele está envolvido até o pescoço com o chefe da organização”, disse o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, ao Estado. Lacerda quer que Morelli fique mais tempo detido a fim de facilitar a apuração.
As investigações da PF indicam que ele foi o aliciador de Genival Inácio da Silva, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, indiciado por envolvimento com a quadrilha. Morelli teria tido no grupo um papel mais relevante do que se imaginava.
Apanhado na operação, Morelli - que é compadre de Lula - teve a prisão temporária de cinco dias renovada por mais cinco dias na sexta-feira. Com a decretação de prisão preventiva, que ainda precisa ser submetida à Justiça, ele ficará preso pelo tempo que for conveniente ao inquérito. O mesmo pedido é estudado para Servo e outros membros centrais da quadrilha. A PF descarta, por enquanto, a hipótese de pedir a prisão de Vavá, porque as investigações feitas até agora o mostram cada vez mais como um “inocente útil”, usado pela quadrilha em pequenas tarefas.
Em diálogos interceptados pela PF, membros da quadrilha tratavam Vavá como um “lobista pé-de-chinelo”, que insinuava uma importância que não tinha para embolsar uns trocados. Num desses diálogos, captado no começo deste ano, Servo orienta Morelli a não dar muita conversa para Vavá, para que ele não atrapalhe o negócio milionário do grupo com ninharias.
“Não deixa o Vavá ficar conversando muito. Esse bobão vai pedir 10... 20 mil... e queimar um esquema de milhões”, alerta Servo. Morelli concorda e diz “pode deixar”.
Já Morelli, conforme as investigações, se valia de suas ligações com o PT e das amizades dentro do governo federal para blindar a quadrilha e ampliar os negócios. No depoimento à PF e por meio dos advogados, o petista negou a acusação, mas foi delatado por outros membros da quadrilha presos, que concordaram em colaborar com as investigações em troca de benefícios penais.
Ex-deputado estadual do PSB, Servo, segundo a PF, tem uma longa ficha e já era velho conhecido de outras investigações. As apurações mostram que ele tinha como método aproximar-se de autoridades. “Era uma figura carimbada nos meios policiais”, disse Lacerda. Assim, Servo cooptou Morelli e com ele estruturou o esquema criminoso. Ambos eram sócios na exploração de máquinas caça-níqueis e outros negócios ilícitos que incluiriam até tráfico de drogas, conforme apontam as investigações.
Lacerda negou categoricamente que tenha havido algum vazamento político da operação. A cautela que alguns recomendam quanto ao uso de telefone e o medo que demonstram de estar grampeados, para o diretor-geral da PF, é natural em qualquer pessoa envolvida em atividade delituosa.
“É um temor óbvio ante o rigor das operações da PF e tornou-se paranóico falar ao telefone desde a Operação Furacão. Está claro que a atuação da PF é republicana e ninguém está imune à investigação pelo cargo que ocupa ou por ser parente de autoridade”, disse o delegado.
Estadão
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