23.6.07

O bicheiro e Renan

Bicheiro diz que financiou clã Calheiros e teme por sua vida

Um bicheiro com pesada ficha criminal veio agravar as denúncias contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ex-chefe do jogo em Maceió e Murici, Plínio Batista conta que financiou as campanhas eleitorais da família Calheiros, incluindo a de Renan, em 1994. Afirma, ainda, que fez empréstimos à Prefeitura de Murici, então comandada por Remi Calheiros, irmão do senador, e exibe cópias de cheques.

Tentando demonstrar que tinha intimidade com o clã, ele relata que foi à posse de Renan no Ministério da Justiça, em 1998. Segundo a sua versão, o ministro nunca teve o menor constrangimento em recebê-lo e até indagava: “Como vai o nosso zoológico?” Batista, que garante ter deixado a contravenção, teme pela própria vida por ter enfrentado Renan.

O advogado do senador, Eduardo Ferrão, garante que são apenas acusações requentadas da campanha eleitoral. “O senador tem processado os autores de denúncias a respeito desses temas”, afirmou.

Ao longo do dia, Renan tentou mostrar tranqüilidade e reiterou que não renuncia. Ele conhece bem o regimento - em 2001, era líder do PMDB e viu de perto a crise que levou Jader Barbalho (PA) a abrir mão do mandato para salvar os direitos políticos.
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'Era só o Renan dar a ordem que eu fazia'

O bicheiro Plínio Batista, que comandou o jogo ilegal em Maceió e Murici, do fim dos anos 90 até 2002, afirma ter financiado a campanha eleitoral de 1994 do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), atual presidente do Senado. Batista garante ainda ter participado, sem nenhum embaraço, da cerimônia de posse de Renan no Ministério da Justiça em 1998. “O ministro da Justiça não tinha qualquer constrangimento em receber um bicheiro. Ele sempre me perguntava: ‘Como vai o nosso zoológico?’ Eu é que evitava causar problemas”, diz Batista, que declara estar atualmente fora da contravenção.

Ele tem em seu poder cheques das agências do Banco do Brasil, Produban e da Caixa Econômica em Murici, assinados por Remi Calheiros, ex-prefeito da cidade-natal da família de Renan, que supostamente demonstrariam uma relação de proximidade entre ele, o senador e seu clã. O bicheiro, que exibe uma ficha criminal pesada - a qual inclui prisões e acusação de assassinatos -, encabeça a lista dos ex-aliados que se tornaram adversários políticos do presidente do Senado. Ainda assim, ele sustenta que, a pedido de Renan, chegou a fazer empréstimos para a prefeitura de Murici para o pagamento dos funcionários.

“Dei dinheiro até para pagar pessoal. Era só o Renan dar a ordem que eu fazia. Ele e os irmãos foram todos financiados pelo jogo do bicho”, afirma, sem revelar o montante. Parte do dinheiro, supostamente emprestado, teria sido devolvido por Remi, irmão de Renan e na época beneficiário dos empréstimos concedidos pelo bicheiro. Ele conta com pelo menos dez cheques que não foram compensados por falta de fundos e o registro dos que foram pagos.

CÓPIAS

O Estado recebeu cópia de alguns deles. Assinados por Remi e nominais a Batista, os cheques são datados dos anos de 1996, 1998 e 2000 . “Uns voltaram por falta de fundos, mas muitos foram compensados”, conta.

Por dispor de muitas informações do passado do senador, Batista diz que teme pela própria vida. Ele escreveu uma carta para a mulher e gravou uma declaração atribuindo a responsabilidade a Renan por qualquer acidente ou atentado que venha sofrer.

“Qualquer coisa que acontecer comigo, um acidente de trânsito, um assassinato, o responsável é o senador Renan Calheiros. Eu o responsabilizo pelas denúncias que eu estou fazendo, pelas provas que eu tenho, por tudo que eu tenho contra ele. Já estou sendo seguido há uma semana”, disse ao Estado. Seu filho, o vereador de Murici Plínio Junior, confirma que o pai financiou as campanhas dos Calheiros quando comandava o jogo do bicho. “Depois, nós rompemos e fomos para a oposição.”

Amigo de Renan desde 1978, Benezido Rodrigues, dono da extinta gráfica Idéia, atesta que o bicheiro fez inúmeros pagamentos na campanha de 1994 do senador: “O Plínio pagava a propaganda, santinhos de campanha, camisetas, além de abastecer os carros, essas coisas. O Renan não tinha dinheiro para o material de campanha. O Plínio é quem mandava fazer.”

PRISÃO

Como Batista, Rodrigues também já foi preso. Em fevereiro deste ano, foi pego pela Operação Rio Nilo da Polícia Federal e está sendo processado por formação de quadrilha e sonegação fiscal, entre outros crimes. Ele assegura que, embora esteja afastado do senador, foi um de seus melhores amigos. Em 1990, derrotado na eleição para o governo de Alagoas, Renan costumava ligar de madrugada, conta ele. “Dê um pulo aqui. Estou com depressão, vamos conversar”, convidava o senador, segundo relato de Rodrigues.

Já Batista diz que, com apoio de Renan, chegou a ganhar uma concorrência em 2002 para comandar o jogo de bicho em Alagoas no momento em que sua legalização foi aprovada. Nas reuniões, ele se apresentava como “sócio informal” do senador e acabou sendo o principal beneficiado com a legalização. Ele passou a comandar o bicho estatal de Maceió e Arapiraca. “Eu não sei se ele teve o apoio de Renan, mas se o senador fosse contrário certamente Plínio não teria ganho a loteria de bichos estadual”, argumenta Rodrigues.

O bicheiro Leonildo Nunes de Oliveira, sócio de Batista no período que o jogo era ilegal, assegura que nunca houve sociedade com Renan. “Isso nunca existiu. Não posso levantar uma lebre que nunca existiu. Não vi qualquer transação entre Renan e o Plínio”, afirma Oliveira.

Expedito Filho para Estadão

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