Quando se trata dos seus, o Parlamento não gosta de agir. No máximo reage à pressão de fora para dentro, mas se agarra como a um bote salva-vidas à menor chance de mudar de assunto.
Prova é que o aparecimento de denúncias contra outro senador do PMDB, o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz, não suscitou ações de imediato e instalou uma discussão tão inútil quanto paralisante sobre o efeito que o caso Roriz teria sobre o episódio Renan Calheiros.
Como se o essencial não fosse estabelecer o mais rápido possível a convicção de culpas ou inocências e sim saber se o fato de o ex-governador ter sido gravado em conversas telefônicas sobre partilhas de dinheiro facilita ou complica a vida do presidente do Senado, sob suspeita de fraudar documentos e ter suas despesas pessoais pagas por dinheiro de origem incerta.
A simulação de perplexidade e confusão nos procedimentos a serem adotados é só uma maneira de postergar providências, esperar que tome conta da cena a cortina de fumaça do “todos são farinha do mesmo saco” e aguardar que prevaleça o esquecimento produzido pelo aparecimento de novos escândalos.
Objetivamente, só o PSOL se mexeu, providenciando uma representação contra Roriz, da mesma forma como havia feito contra o presidente do Senado.
Se dependesse dos outros partidos, as denúncias contra Renan Calheiros não teriam tomado o caminho do Conselho de Ética num primeiro momento e talvez nem mesmo depois, quando a TV Globo fez o que deveria ser feito: checou a veracidade dos documentos apresentados pelo próprio senador, que agora invoca suas prerrogativas para escapar das investigações nos âmbitos parlamentar e policial.
Evidente que só se levanta a hipótese de as denúncias contra Roriz amenizarem a situação de Calheiros porque existe internamente uma grande disposição de manipular o cenário de forma a desviar o foco das atenções.
Não fosse isso, prevaleceria de imediato o óbvio: há duas complicações sub judice no tocante ao decoro parlamentar, mas, a não ser a identidade partidária dos dois senadores, não há interligação entre uma e outra. Agora, se o cotejo entre a facilitação e a complicação é realmente necessário, digamos que as denúncias contra Roriz em nada facilitam a resolução das acusações contra Calheiros.
Primeiro, porque aumenta a cobrança da opinião pública por providências enérgicas, já que são dois e não apenas um senador sob suspeita. Segundo, cresce o desgaste sobre todo o colegiado. Terceiro, empurra o partido de ambos (PMDB) para as cordas. Quarto, abre espaço para o PT - inimigo de morte de Roriz - descer do muro, partindo para o ataque sem poder fazê-lo com dois pesos e duas medidas.
Finalmente, é tolice pensar que uma figura nacionalmente menor como Roriz tenha o poder de atrair para si todas as atenções voltadas para alguém que ocupa a presidência do Senado; se Calheiros tivesse se afastado do cargo, até teria uma chance de se igualar; na cadeira de presidente, jamais.
O que se poderia tentar em favor dele já está sendo feito: a embromação em torno da escolha do novo relator com a intenção de deixar a história patinando. Na lama, evidentemente.
O Senado recorre ao velho truque de cobrar “fatos novos” - como se os “velhos” não fossem suficientes - na esperança de que não apareçam. Com toda a grande imprensa com enviados especiais a Alagoas será difícil, pois ali, a História já comprovou, quem procura acha.
Dora Kramer
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