31.5.06

Lula é cruel

LULA É CRUEL COM PENSIONISTAS E INJUSTO COM SERVIDORES
Greve no INSS demonstra insensibilidade do Governo com aposentados


Lula é responsável pela nova greve dos funcionários do INSS – que pipocou ontem em vários pontos do país e se generalizará na próxima semana – com o fechamento de postos de atendimento a aposentados e trabalhadores acidentados. Embora o PT tenha o controle sindical das organizações dos servidores (o que facilitaria a abertura de canais de negociação) e o Governo tenha condições de resolver as justas reivindicações dos funcionários, a questão foi deixada até atingir a situação de “estado de greve”.

O desprezo pelos pensionistas e segurados da Previdência – que atingiu seu nível mais alto quando o atual Presidente do PT, Ricardo Berzoini, era Ministro da Previdência, obrigando velhinhos de 80 anos, em macas e cadeiras de roda a comparecer às filas dos postos de INSS – é uma das marcas do Governo Lula e será lembrada na campanha eleitoral.

Ao contrário da propaganda oficial, o Governo Lula é campeão em matéria de desprezo aos pensionistas e segurados do INSS, além de algoz dos funcionários da Previdência.

Não foi por acaso que o senador José Jorge (candidato a vice de Alckmin) lançou em 2004 o “Prêmio Berzoini de Crueldade Popular” para condenar governistas insensíveis.

Petrobras

Petrobras é acusada de sabotagem

O presidente da YPFB (a estatal boliviana de petróleo e gás), Jorge Alvarado, acusou a Petrobras de sabotar o fornecimento de combustíveis ao país vizinho. Além disso, ele afirmou também que a promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de conquistar a auto-suficiência em gás até 2008 é um “conto de fadas”. Além de possuir empresas para a exploração de gás na Bolívia, a Petrobras também tem refinarias que abastecem de combustíveis o país vizinho, inclusive com a importação de diesel. Segundo Alvarado, a empresa teria deixado de importar o combustível nos últimos dias. “Eu interpreto a atitude da Petrobras como um ato de sabotagem ao nosso país. Eu não posso entender isso de outra maneira”, disse.
O presidente da YPFB afirmou que o atraso do governo boliviano em efetivar os pagamentos à Petrobras pode ter levado a empresa a suspender as importações. Além disso, segundo ele a estatal brasileira já aguardou quatro meses para cobrar da Bolívia. Mas a Petrobras é a única empresa que suspendeu as importações de diesel, observou Alvarado.
O Tesouro da Bolívia informou ontem ter efetuado o pagamento de 25,2 milhões de pesos bolivianos (US$ 3,12 milhões) para as distribuidoras Copenac e Petrobras, visando a reduzir o preço do diesel importado nos postos de gasolina da Bolívia. O Tesouro já pagou 405 milhões de pesos em subsídios do diesel esse ano.
Consultada, a direção da Petrobras não quis falar sobre as declarações. A empresa, no entanto, não escondeu o mal-estar criado pelo governo boliviano com a decisão de nacionalizar as reservas de petróleo e gás do país vizinho, anunciada dia 1º. Além de ter de repassar o controle de suas empresas à Bolívia, a Petrobras também é pressionada a negociar um aumento do preço do gás fornecido ao Brasil. A empresa rejeita esse reajuste e ameaça acionar uma câmara internacional de arbitragem. As negociações ainda podem durar mais cinco meses.

AUTO-SUFICIÊNCIA A decisão boliviana deve aumentar os investimentos brasileiros na exploração de gás dentro do país. Segundo Lula, o Brasil pode se tornar auto-suficiente em gás até 2008. De acordo com o jornal Opinión, no entanto, a auto-suficiência brasileira seria um “conto de fadas”, segundo Alvarado. Para ele, o Brasil tenta assustar a Bolívia, de quem não deixará de depender para o abastecimento de gás.
Estado de Minas

Novos amigos para Chávez

Idolatrado pela esquerda latino-americana, favoritíssimo para vencer a disputa presidencial da Venezuela em dezembro e permanecer no poder até 2012, Hugo Chávez, chefe de Estado desde 1999, também amplia sua coleção de desafetos. Depois de se desentender com toda a Comunidade Andina de Nações (CAN), menos a Bolívia, e decretar a morte do bloco, ele busca acelerar sua inclusão definitiva no Mercosul. Mas consolidar novas amizades não será fácil.
Chávez é acusado de enterrar de vez a candidatura do populista Ollanta Humala no segundo turno da disputa presidencial peruana, no próximo domingo. Atacou tanto o adversário de Humala, o ex-presidente Alan García, que os eleitores se cansaram das ingerências. Nas últimas três semanas, a troca de xingamentos entre o líder venezuelano e García despejou o candidato nacionalista do noticiário. Caso seja mesmo vencedor, o social-democrata peruano formaria com o colombiano Álvaro Uribe, reeleito há três dias, um eixo pró-Estados Unidos na CAN.
O atual presidente equatoriano, Alfredo Palacio, também está jogando duro com Chávez. Pouco antes da visita do venezuelano a Quito, ontem, rejeitou o convite para que a Petroecuador faça parte da empresa sul-americana de petróleo, a Petrosur — liderada pela Petróleos de Venezuela (PDVSA) e a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB). Palacio aceitou apenas acordos bilaterais no setor de energia.
Na Bolívia, parlamentares de oposição ao presidente Evo Morales aumentam o tom das críticas à presença de militares venezuelanos em território nacional. Alegando que só o Congresso pode autorizar a entrada de soldados estrangeiros no país, convocaram os ministros de Governo e da Defesa a dar explicações no Senado.
De saída da CAN, Chávez busca agora reformular o Mercosul. Começou pisando no calo de brasileiros e argentinos ao impulsionar a nacionalização dos hidrocarbonetos bolivianos. Ao mesmo tempo, apóia Uruguai e Paraguai em suas reclamações de que o bloco do Cone Sul é injusto com os dois países. Nesse ritmo, ou o dirigente venezuelano se isola, ou a desintegração sul-americana será uma questão de tempo, pouco tempo.
Correio Brasiliense

30.5.06

Verbas para eleição

PT E SEVERINO DIVIDEM R$ 890 MILHÕES
Verbas federais carimbadas para fins eleitorais


Um preposto do ex-deputado Severino Cavalcanti dividiu R$ 890 milhões de verbas entre prefeituras petistas (que farão o repasse através de empreiteiros às campanhas de Lula e aliados) e feudos eleitorais do ex-Presidente da Câmara e aliados.

O dinheiro era, teoricamente, destinado à melhoria de assentamentos precários e à construção de habitações para famílias de baixa renda, e foi liberado em 7 de fevereiro de 2006, através da MP 279. Em maio foi aberto crédito para 28 prefeituras do PT e 13 do PP.

O Ministério das Cidades – controlado por Severino, que em contrapartida garante ao Governo os votos do PP na Câmara – terá que se explicar ao Tribunal de Contas e ao Ministério Público.

O Ministério das Cidades criou uma série de cálculos absurdos, que os funcionários chamam de “roleta viciada”, uma vez que só favorecem as prefeituras indicadas pelo Palácio do Planalto. Os levantamentos realizados até agora revelam, por exemplo, que foi dado um cala-boca à Prefeita petista de Fortaleza, considerada “rebelde” pelo partido e que queria apoiar o irmão do ex-Ministro Ciro Gomes a Governador do Ceará. Depois de receber seu quinhão do derrame do Ministério das Cidades ela mudou de opinião.

29.5.06

Exportações podem cair

Meirelles: exportações podem cair
Para presidente do BC, vendas externas do País correm risco com a desaceleração na economia mundial

GOIÂNIA - A economia mundial poderá entrar em uma fase de desaceleração, alertou o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. "Não acredito num arrefecimento muito grande da atividade", afirmou. "O mais provável é que ocorra um arrefecimento moderado." Para o Brasil, a conseqüência poderá ser a queda nas receitas com exportações. "Os mercados já sinalizaram na semana passada que os preços de algumas commodities poderão cair", comentou. Se essa é uma tendência, porém, é algo que ainda não se pode avaliar. "Os mercados podem ter feito alguma antecipação", comentou Meirelles, no Conselho Regional de Contabilidade de Goiás.

Para Meirelles, o País tem de estar preparado para enfrentar esse quadro não tão favorável. Para isto, será necessário, de acordo com o presidente do BC, manter as principais linhas da política econômica conduzida pelo governo. "Não é porque está tudo dando certo que podemos relaxar e gastar um pouco mais", alertou. "Não podemos ser complacentes."

Os compromissos com uma política monetária responsável, a austeridade fiscal e o câmbio flutuante garantiram, na visão de Meirelles, uma melhora dos fundamentos econômicos do País nos últimos três anos. "Se compararmos a evolução da semana passada com o que aconteceu em 2002, vamos ver que o Brasil melhorou muito", afirmou. Ele lembrou que, no passado, os efeitos de uma crise internacional sobre o Brasil eram muito mais fortes. "Agora não. Quem sabe uma gripe forte lá fora possa até ser uma gripe mais fraca aqui."

Para Meirelles, se forem mantidas as linhas da atual política econômica, o Brasil estará pronto para suportar uma eventual elevação dos juros nos Estados Unidos em níveis acima do esperado. "O Brasil hoje tem do comercial acumulado em 12 meses de US$ 45 bilhões, uma conta corrente positiva e reservas internacionais em quase US$ 64 bilhões", disse. É uma situação confortável. No passado recente, o País teve de se financiar em mercado mesmo em condições desfavoráveis por não ter os recursos necessários para enfrentar uma conjuntura adversa.

CRESCIMENTO

Mantido o rumo da política econômica, o País poderá crescer acima de 4% em 2007, disse Meirelles. Para este ano, ele mantém a previsão otimista de uma expansão de 4%.

Para alcançar esses resultados, insistiu, será necessário o cumprimento da meta de superávit primário de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB). "Mantendo a disciplina fiscal é que o Brasil continuará crescendo", afirmou.

Meirelles, porém, evitou dar indicações sobre a decisão que será tomada nesta semana pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

Apenas admitiu que o Copom levará em conta a atual conjuntura econômica. "Vamos analisar toda essa questão", disse. Para alguns analistas de mercado, o Copom poderá ser mais conservador na redução das taxas em função do agravamento do quadro internacional e da conseqüente alta do dólar.

O presidente do Banco Central confirmou ainda que o governo continua empenhado nas mudanças da atual legislação cambial. "A legislação cambial será modernizada. Como em todos os países do mundo, esta é uma tendência natural", afirmou. As alterações em discussão, segundo Meirelles, poderão ser profundas.

Ele não descartou sequer a possibilidade do fim da chamada cobertura cambial, que obriga os exportadores a trazerem para o Brasil os dólares obtidos com a venda de produtos no exterior. Essa é uma questão polêmica.

Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo não pretende acabar com a cobertura cambial, mas buscar uma solução "híbrida". A idéia, explicou Mantega, é criar algum mecanismo que garanta este benefício apenas para as empresas que fazem grandes volumes de exportações e importações. Com isso, seria possível reduzir custos. A medida também ajudaria a conter a queda da cotação do dólar ante o real. Com menos dólares ingressando no País, cairia a oferta de dólares no mercado interno.
Estadão

'Aceitem caladinhos', diz Evo

Grandes produtores resistem à 'revolução agrária'
O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse que os proprietários de terras no país deveriam aceitar "caladinhos" a redistribuição de terras entre indígenas e camponeses. "Se eles não aceitarem a redistribuição das terras vazias, seremos obrigados a retirar dos proprietários suas terras", ameaçou, durante a inauguração de um centro oftalmológico cubano ao norte do Departamento de Potosí, informou a Agência Boliviana de Informação.

O governo propôs há duas semanas uma reforma nas leis do Instituto Nacional de Reforma Agrária (Inra), que prevê a redistribuição de terras que sejam identificados como produtivos ou à margem de sua função econômica e social. A expectativa é que 4,7 milhões de hectares sejam redistribuídos para pequenos produtores. Mas a reforma agrária enfrenta a resistência dos grandes produtores, muitos deles brasileiros, que temem perder as terras.

Morales anunciou ainda que o governo estuda subsidiar a produção de pequenos e médios agricultores, como parte de uma "revolução agrária". Na sexta-feira, o governo da Venezuela se comprometeu a construir unidades de processamento de soja, café e folha de coca na Bolívia, com o objetivo de agregar valor à produção agrícola local. Um fundo de US$ 100 milhões vai apoiar os pequenos produtores bolivianos.

A oposição às medidas anunciadas por Morales, que tem base em Santa Cruz de La Sierra, pede que a questão das terras só seja definida na Assembléia Constituinte que será convocada em julho, onde poderia ser discutida com mais responsabilidade e sem prejuízos ideológicos, nas palavras de parlamentares do Poder Democrático Social (Podemos). Representantes do governo, por outro lado, pedem agilidade na redistribuição das terras ociosas, seguindo os conceitos apresentados pelo Executivo no projeto de reforma da lei do Inra.

Uma das principais mudanças propostas pelo governo é a reclassificação de terras que não cumprem sua função econômico-social. Até agora, o pagamento de impostos é o critério usado para avaliar uma propriedade - se não paga impostos há dois anos, significa que não cumpre o seu papel. O governo quer que a avaliação passe a levar em conta a produtividade das terras.
Estadão

Mais perto da hora da prova

Os defeitos econômicos do Brasil vão ficar mais nítidos daqui para frente
As disfunções da economia brasileira vão ficar mais evidentes nos próximos meses. E, tudo indica, ao invés de enfrentá-las, o governo tende a piorá-las. A instabilidade vivida pelos mercados financeiros mundiais na semana passada — bolsas em queda, dólar em alta —, mesmo estancada momentaneamente na sexta-feira, vai retornar. E o Brasil, é claro, vai ser arrastado pelo turbilhão, pois só estaria protegido se estivesse em outro planeta.
Começam a se intensificar os movimentos que vão encerrar o período de bonança que predominou nos últimos anos na economia mundial. Temos tratado com freqüência do tema neste espaço, a última vez no final de abril. Por enquanto, os economistas não apontam uma ruptura abrupta, mas a piora do quadro geral deve prosseguir. O país aproveitou uma onda muito favorável nos últimos anos, com abundância de capitais em busca de alta rentabilidade e disposição em assumir risco elevados, comércio mundial acelerado e forte demanda por matérias-primas, das quais somos grandes produtores.
O que ficou evidente nos últimos dias é que o Brasil ainda é um lugar aonde os investidores só vêm para receber grandes prêmios: juros elevados altíssimos, ações em alta acentuada etc. Qualquer tremor e os capitais levantam vôo. O medo vem das fragilidades da nossa economia. Na fronteira externa, com o resgate de grande parte dos débitos externos — inclusive o pagamento antecipado dos empréstimos com o Fundo Monetário Internacional —, a eliminação dos papéis atrelados à variação cambial, o enorme fluxo de dólares provenientes das exportações e o aumento das reservas formaram um muro que proporciona uma segurança inédita. Mas não existe nada 100% seguro.

Declínio
Os problemas não costumam vir sozinhos, reconhece a sabedoria popular. E no campo econômico caminhamos para receber uma seqüência, uma má notícia puxando outra. A instabilidade dos mercados desestimula os investidores e os consumidores. A produção mundial pode declinar e, portanto, a demanda pelas nossas commodities pode recuar. Já há quem duvide que as exportações atinjam os US$ 132 bilhões projetados para este ano. Menos exportações implicam balança comercial menos folgada.
Apesar do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, comemorar um saldo esperado de US$ 45 bilhões entre importações e exportações (leia matéria ao lado), em um cenário de desaceleração o resultado pode não se realizar. E o próprio Meirelles admite um provável arrefecimento moderado da atividade mundial.
Saldo menor da balança significa menos abundância de dólares no mercado doméstico. Bom para apreciar a moeda norte-americana frente ao real, mas elevará o custo de formação das reservas nacionais. O aspecto positivo é que o governo aproveitou os tempos de bonança para erradicar dois pontos de vulnerabilidade: a dívida externa e os títulos públicos atrelados ao câmbio.

Inércia
Mas as outras fraquezas — ou disfunções, como chamei — permanecem praticamente inalteradas. Ou vêm se deteriorando. O desequilíbrio fiscal é, de longe, o mais grave. Quando o governo fala em superávit, trata do resultado das contas públicas antes de pagar a dívida que vence. É o resultado primário, cuja meta para 2006 é de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB), algo em torno de R$ 90 bilhões. Mas o gasto só com o pagamento dos juros é muito superior a essa cifra. A diferença é incorporada à dívida pública, que vai crescendo, crescendo, crescendo… e está em R$ 1 trilhão atualmente. É o déficit nominal, ou seja, o Estado não consegue pagar suas despesa correntes e os juros do que deve à praça.
Fernando Henrique Cardoso não conseguiu domar o desequilíbrio fiscal em seu primeiro mandato. Só depois de três intensas crises externas — do México, em 95, a asiática, em 97 e a russa, em 98. Só na última, depois de recorrer ao FMI, a questão foi realmente enfrentada pela equipe do então ministro Pedro Malan, que executou um superávit no último trimestre do ano e o manteve a partir de 1999. Mesmo assim, o país foi a bola da vez e, no começo de 99, mudou o regime cambial e trocou a diretoria do BC.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se aproxima de um momento de teste equivalente ao vivido pelo antecessor. Até agora, com um clima mundial favorável, foi fácil. O difícil está por vir. A mudança no cenário mundial exige dele encarar os problemas de governar um país vulnerável em momento desfavorável. Se mantiver o padrão de comportamento atual, Lula não mexe no que realmente precisa ser tocado: os gastos públicos. Vivemos três anos de expansão das despesas abençoadas com o dinheiro dos impostos cobrado das pessoas e das empresas, com carga e valores cada vez maiores. E engrenamos o quarto no mesmo ritmo. Na semana passada essa atitude ficou clara. Nas contas entre janeiro e abril, o governo gastou R$ 14,5 bilhões a mais do que no mesmo período de 2005.
Quando a instabilidade piorar, vai depender de Lula e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, tomar as decisões difíceis e impopulares no interesse do próprio país. Estão prontos?
Correio Brasiliense

1 milhão de sem-terra acampados

Sem-terra acampados já somam 1 milhão sob Lula
Número de famílias em barracos de lona subiu de 60 mil, em 2002, para 230 mil


Ministério não comenta levantamento da Ouvidoria Agrária Nacional; aumento mostra "incapacidade do governo", afirma MST

A quantidade de sem-terra acampados explodiu neste ano eleitoral. Levantamento recente feito pelo governo federal revela que cerca de 1 milhão deles está espalhado pelo país morando debaixo de barracos de lona à espera de um lote de terra da reforma agrária.
Ao lado das invasões de terra, a criação e o inchaço dos acampamentos são os principais instrumentos de pressão dos movimentos que representam trabalhadores sem terra contra o Palácio do Planalto.
Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito, em outubro de 2002, a contabilidade oficial apontava 60 mil famílias acampadas. Hoje está em 230.813 famílias, o equivalente a 1 milhão de homens, mulheres e crianças.
Ao chegar ao Planalto, a primeira promessa de Lula aos sem-terra foi justamente priorizar o assentamento dos acampados. Neste ano, ao concluir sua gestão, terá mais sem-terra nessas condições do que quando assumiu a Presidência da República.

Assunto proibido
O resultado do último levantamento da Ouvidoria Agrária Nacional obtido pela Folha é assunto proibido no Ministério do Desenvolvimento Agrário, a quem a ouvidoria é subordinada. Na pasta, a informação oficial é que não existe um número atualizado.
Segundo o ministério, valeria o censo realizado no final de 2003, que apontou 162 mil famílias acampadas.
Na prática, a preocupação do governo com a divulgação do número é que o aumento dos acampados somente reforce o discurso do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em torno da ineficiência de sua política de reforma agrária, que, de fato, tem privilegiado o assentamento de agricultores na Amazônia Legal (Estados do Norte, além de Maranhão e Mato Grosso), onde o movimento atua com timidez e os projetos carecem de água tratada, energia elétrica, rede de esgoto e estradas de acesso.
Até dezembro, para cumprir integralmente a meta do Plano Nacional de Reforma Agrária, o governo terá de assentar pelo menos 155 mil famílias.
No ano passado, diz ter assentado 127 mil. Em 2006, porém, além de uma greve de servidores do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), o Planalto vê o pior ritmo de desapropriação de terra da gestão.

"Incapacidade"
"Esse número [230 mil famílias] mostra que os trabalhadores se organizaram nos acampamentos com a esperança de que Lula fosse resolver os problemas da reforma agrária. Mostra ainda a incapacidade e os limites do governo Lula de cumprir as suas promessas", disse Marina Santos, da coordenação nacional do MST.
Essas 230.813 famílias representam o tamanho da clientela da reforma agrária. Nem todos, porém, vivem de fato debaixo da lona preta. É prática comum manter as famílias morando nas periferias das cidades e fazê-las seguir para os barracos somente quando são chamadas pelos líderes dos movimentos.
Todas as famílias acampadas e cadastradas por uma das 30 superintendências regionais do Incra recebem uma cesta de alimentos do Ministério do Desenvolvimento Social. No ano passado, o governo distribuiu 1,3 milhão de cestas a 226,2 mil famílias acampadas.
Neste ano, 213,7 mil famílias foram beneficiadas com o recebimento de pelo menos uma cesta de alimentos, que tem oito itens e custa R$ 45.
Folha

28.5.06

Executivo denuncia extorsão

Executivo diz que jornalista procurou extorqui-lo para não divulgar grampo

O ex-presidente da Ford no Brasil, Antonio Maciel Neto, afirmou, em ofício enviado ao Ministério Público Federal, que o jornalista Gilberto Luiz di Pierro, o Giba Um, 60, tentou extorqui-lo. A razão: evitar a publicação da transcrição de uma conversa telefônica que teria sido grampeada pela empresa de espionagem Kroll, contratada pela Brasil Telecom e pelo banco Opportunity.
A transcrição trataria de "assuntos privados" e não revelaria crime ou irregularidade.
No decorrer das negociações para o possível pagamento da extorsão, a assessoria de Maciel recebeu e-mails e gravou uma conversa com Giba Um. O material foi anexado na denúncia enviada à procuradora da República que atua no caso Kroll, Ana Carolina Kano. No início de maio, a procuradora enviou o caso para a Procuradoria Geral de Justiça de São Paulo.
A jornalista Fernanda Carvalho, ex-assessora de Maciel, gravou a conversa por telefone com Giba Um no dia 16 de janeiro. Giba Um diz na gravação, à qual a Folha teve acesso, que precisa receber US$ 20 mil para não divulgar a transcrição, além de "garantir" que um jornal e uma revista também desistiriam de veicular notas em troca do pagamento.

"Tranqueira da Kroll"
Ao ser indagado sobre a garantia que teria de que a publicação seria abortada, Giba Um respondeu: "Você tem a minha absoluta garantia, que é o aval. O aval é esse".
Em outro trecho da conversa, Giba Um revela a origem da transcrição: "Essa tranqueira é extraída das gravações de lá. Você entendeu? É extraída das gravações que a Kroll fez".
Segundo o jornalista, estão em circulação outras conversas captadas pela Kroll. "Eles grampearam Deus e o mundo e têm conversas de todos os tipos e tamanhos", diz o jornalista.
A transcrição usada por Giba Um se refere à suposta conversa entre Maciel e o empresário Luis Roberto Demarco, um desafeto de Daniel Dantas (dono do Opportunity) e um dos principais focos do "Projeto Tóquio", montado pela Kroll sob encomenda da Brasil Telecom, então sob controle do banco Opportunity, para investigar petistas e autoridades do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Demarco é amigo de Maciel.
Ambos negam ter mantido a conversa mencionada pelo jornalista. Demarco disse que a transcrição pode ter sido montada para atingi-lo.
Na conversa com a assessora do ex-presidente da Ford, Giba Um atribui o vazamento da transcrição à briga de Dantas com Demarco. "Sempre há pessoas absolutamente cafajestes que, penso eu, querem vazar esse tipo de coisa para sacanear, repito, o amigo [Demarco], não o [executivo]", diz o jornalista.
Giba Um apresenta programa diário num canal local da provedora de TV paga TVA e mantém um site na internet sobre política e generalidades.
A assessora do executivo também assinou uma declaração na qual relata uma outra conversa não gravada com Giba Um, ocorrida em dezembro. "Perguntei de que forma ele poderia nos ajudar a segurar a gravação -e ele foi literal: "Eu converso, ajeito, me comprometo e tento lucrar no processo."'
A assessora também relatou que os primeiros contatos de Giba Um ocorreram em janeiro de 2005. Ele pediu um encontro com o presidente da montadora para tratar de um "assunto privado", mas a reunião não ocorreu e os contatos cessaram. No meio do ano, o jornalista pediu uma contribuição para uma ONG de apoio a portadores da Síndrome de Down. O executivo decidiu então fazer uma doação, em valor não revelado, do próprio bolso.
Folha

Lobby do bingo

Lobby do bingo tenta aliciar deputados
Lobista orienta empresários a financiar campanhas eleitorais de políticos que apoiarem projeto de legalização do setor
Jogo foi proibido há dois anos no país; relator da CPI dos Bingos estuda propor regulação subordinada a referendo popular em 2008

Com escritório instalado em um prédio luxuoso de Brasília, um ex-secretário da Receita Federal contratado como advogado e a promessa de ajuda financeira a candidatos aliados à causa nas eleições de outubro, empresários de bingos apostam em que a liberação do jogo ganhará neste mês o aval da CPI que leva o nome do setor.
O presidente da Abrabin (Associação Brasileira dos Bingos), Olavo Sales, diz ter orientado empresários do bingo associados a apoiar candidatos que defendam a atividade. "Essa é a nossa orientação: não existe restrição nem indicação de partido, o importante é que o doador tenha acesso ao candidato."
Ao lado da Febrabingo (Federação Brasileira dos Bingos), a Abrabin patrocina o Movimento Pró-Bingo, instalado numa sala alugada por R$ 1.900 por mês, no centro de Brasília. É a face mais visível do lobby em favor do jogo.
As atenções dos empresários estão voltadas para o relatório final da CPI dos Bingos, cujos trabalhos terminam em menos de um mês. O relator da comissão, Garibaldi Alves (PMDB-RN), já antecipou que a tendência é propor a regulação da atividade sob controle da União e subordinada a um referendo popular em 2008. A proposta é aplaudida por bingueiros.
"O setor não agüenta ficar na semi-clandestinidade até 2008", diz o presidente da Febrabingo, Carlos Eduardo Canto. A hipótese de a CPI proibir o bingo está descartada.
A expectativa dos empresários é semelhante à que mantinham no início do governo Lula, até que os planos de liberar as casas de bingos e máquinas caça-níqueis foram atropelados pelo escândalo Waldomiro Diniz, no início de 2004. Entre o flagrante de cobrança de propina pelo ex-assessor do então chefe da Casa Civil José Dirceu e o relatório da CPI, terão se passado quase dois anos e meio.
Como naquela época, casas de bingos funcionam hoje de forma clandestina ou com base em liminares concedidas pela Justiça. O Estado de São Paulo concentra metade dos cerca de 600 estabelecimentos abertos, segundo os empresários.

Jogo de cena
O próximo movimento programado pelo lobby dos bingos é a entrega oficial à CPI de pacotes contendo supostamente 400 mil assinaturas de apoio à atividade -a acontecer na próxima sessão da comissão, numa tentativa de conquistar o apoio da maioria de seus membros.
Técnicos da CPI têm pronto um modelo em que os jogadores terão de se identificar, e as apostas serão feitas online, para maior controle de uma agência federal ainda não definida. O modelo é diferente do apresentado pelo ex-secretário da Receita Federal Osiris Lopes Filho à CPI, em nome do Movimento Pró-Bingo. Só para acompanhar as negociações, Osiris tem contrato que lhe rende R$ 20 mil por mês.
Como principal argumento favorável à liberação dos bingos, Osiris apresentou um potencial de arrecadação de tributos de R$ 2,6 bilhões por ano: dinheiro a ser dividido entre União, Estados e municípios.
Folha

Indenizações a anistiados

Governo pagará conta de R$ 2 bi de indenizações a anistiados

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assina nos próximos dias uma medida provisória que vai assegurar o pagamento das milionárias indenizações que o governo deve a cerca de 6.700 anistiados políticos. A conta chega a R$ 2,2 bilhões só de retroativos, os passivos acumulados ao longo dos anos. Esses anistiados já recebem pensão mensal. Do total de beneficiados, 155 têm direito, cada um, a atrasados que ultrapassam R$ 1 milhão. O Executivo pretende pagar os benefícios num prazo de nove anos.

O governo fechou um acordo com as várias entidades que representam os anistiados civis e militares, que elogiaram a proposta do Ministério do Planejamento. Os anistiados que recebem até R$ 2 mil de prestação mensal receberão o total dos atrasados a que têm direito ainda este ano. Pelo acordo, há uma tabela de escalonamento e a dívida com cada anistiado vai sendo amortizada ao longo dos anos.

Pelos critérios previstos na medida provisória, a União quitará, até o sexto ano, 75% de toda a dívida com os anistiados. A maioria dos anistiados, 63% deles, tem direito a retroativo que varia entre R$ 100 mil a R$ 300 mil. Mas os que têm indenização na casa do milhão, somente no último e nono ano é que irão receber todo o dinheiro.

Não bastasse a milionária indenização a que têm direito, os 155 anistiados recebem prestação mensal que varia de R$ 7 mil a R$ 20 mil. Na lista, há um anistiado que tem direito a uma indenização de R$ 3,4 milhões, além de receber prestação mensal de R$ 18,4 mil. Os “milionários” da anistia são criticados por entidades de anistiados.

27.5.06

Eleição na Previ!!!

Eleição na Previ tenta reduzir influência política
Seis das sete chapas que brigam pelo comando da entidade falam em independência


O maior fundo de pensão do País, a Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), de longe também o maior investidor individual do mercado brasileiro, elege até segunda-feira sua nova diretoria, em processo que envolve 158,5 mil eleitores.

Só este contingente já colocaria a Previ em pé de igualdade com municípios de grande porte. Mas o patrimônio do fundo, de R$ 86,7 bilhões, o posiciona num patamar acima e acirra a disputa a ponto de reunir sete chapas e 133 candidatos.

Tudo isso para que funcionários e aposentados do banco escolham representantes para metade dos cargos, da diretoria aos conselhos. A outra metade será nomeada pela direção do Banco do Brasil, que deve reconduzir o petista e ex-sindicalista Sérgio Rosa à presidência do fundo, com mandato até 2010. No início de 2007, numa eventual troca de governo, a direção deve mudar, como ocorreu no início da gestão do PT, quando o então presidente Luiz Tarquínio foi substituído por Rosa.

A eleição deste ano é marcada pelo mote da independência político-partidária, defendido por seis das sete chapas.

Acusado de servir a interesses do governo, o fundo está dividido. "A gestão da Previ tem de ser profissional, isenta da pressão de grupo de interesses", diz Bernardo Gonzales, representante da Chapa 5. "As ligações político-partidárias vêm sendo reproduzidas nos modelos da Previ, Petros (Petrobrás) e Funcef (Caixa) desde a década de 90. Isso ficou evidenciado na época das privatizações. Muitas operações não tão convenientes aos fundos de pensão foram impostas", faz coro Reinaldo Loureiro Rocha, da Chapa 4.

Os candidatos da situação rebatem as críticas dizendo que nada ficou comprovado contra os fundos das estatais durante as investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito que apura denúncias de corrupção no governo. "Não existe ingerência do governo. E a Previ tem o atestado disso. A CPI do Mensalão dizia que tinha de tudo na Previ e, depois, tiveram que admitir que não há nenhum negócio errado", defende Francisco Alexandre, da Chapa 1.

Segundo ele, a campanha de sua chapa custou cerca de R$ 150 mil, além d a colaboração de mais de cem sindicatos. Há rumores de que algumas campanhas estão movimentando mais de R$ 700 mil. Não à toa.

Acionista de mais de 200 empresas nacionais, a Previ tem assento nos conselhos de administração de 86 companhias e faz parte do bloco de controle de 19 delas. A lista inclui Vale do Rio Doce, Petrobrás, Banco do Brasil, Perdigão e Brasil Telecom.

A votação ocorre desde o último dia 15, e o quórum mínimo para efetivar a eleição já foi alcançado. Os eleitores votam pelo site interno da instituição, por telefone e pessoalmente.
Estadão

Carta à nação

CARTA À NAÇÃO

Em 1973, em plena efervescência da ditadura militar e tendo um “linha dura” – o general Emílio Garrastazu Médici na presidência da República, o MDB – Movimento Democrático Brasileiro, único partido da oposição, indica o deputado federal Ulisses Guimarães e o jornalista e presidente da ABI – Associação Brasileira de Imprensa, Barbosa Lima Sobrinho a também disputar, como candidatos a presidente e vice, as eleições indiretas do Colégio Eleitoral.

Àquela época, a eleição era um jogo de cartas marcadas, pois o Colégio Eleitoral era composto pelos senadores e deputados das duas Casas Legislativas e tinha ampla e folgada maioria do partido da situação – a ARENA – Aliança Renovadora Nacional.

Assim, a candidatura daqueles dois personagens singulares da história pátria – Ulisses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho – patriotas de velha e robusta cepa, era meramente figurativa.

Na expressão do guerreiro Ulisses (que algum tempo depois seria chamado de “Senhor Diretas Já” por encarnar esse movimento democrático), tratava-se apenas de uma Anti-Candidatura, para mostrar ao povo brasileiro, as falsidades do regime ditatorial.

Claro está que, apesar dos dois candidatos percorrerem vários estados em campanha, quem venceu as eleições indiretas no Colégio Eleitoral foram os generais Ernesto Geisel e Adalberto Pereira dos Santos, respectivamente para presidente e vice.

Mas o exemplo saudável de mostrar ao povo brasileiro o rosto verdadeiro da pseudo democracia, e levá-lo a lutar pela restauração da eleição dos governantes, através do voto universal para presidente da República, estava plantado e frutificou em alguns anos, na explosão nacional de cidadania: o movimento das DIRETAS JÁ!

Nestes escuros tempos que atravessamos, quando os mais lídimos valores morais são aviltados e corroídos pela Infâmia e pela Corrupção, fomos buscar nos exemplos de nossos antigos líderes, a bússola que irá nortear nossa caminhada.

Assim, de tanto ver grassar a mentira e o cinismo, não apenas neste governo abjeto, mas também nos partidos – ditos – de oposição; de tanto ver imperar a desfaçatez e a desonra; de tanto ver prosperar a infâmia e a covardia, - decido – após demoradas consultas a amigos fiéis e acompanhando manifestações espontâneas e sinceras, nas ruas e através da internet, lançar minha anti-candidatura à
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA,
para concorrer ao pleito de 2006.

Brasília /2006 ___________________________
Yves Hublet

26.5.06

Guerrilheiro das Farc

Decisão sobre refúgio de guerrilheiro das Farc pode sair em junho
Os sete membros do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), deve decidir em junho se concede ao porta-voz das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Olivério Medina, também conhecido por Padre Camilo, sua condição de refugiado. O Conare já realizou três reuniões para decidir o caso do guerrilheiro, mas não se chegou a uma decisão. A condição de refugiado é concedida por maioria simples, mas não há consenso em torno da situação de Medina que aguarda o desfecho preso na Polícia Federal. Partidos políticos como PCdoB, PSOL, PT, PSB, PMDB e PL, já fizeram chegar ao Comitê, listas de apoio a libertação de Medina. Além disso, centrais sindicais como a CUT e a CGT, aprovaram moções em defesa do colombiano. A Igreja católica também tem pressionado para que Olivério Medina não seja entregue ao governo colombiano. Por outro lado, a embaixada colombiana no Brasil e a associação das vítimas do terror na Colômbia, querem a extradição de Medina, que poderá ser entregue aos Estados Unidos. Medina ainda conta com uma rede de apoio no exterior que faz chegar ao governo brasileiro e aos integrantes do Conare, informações acerca das verdadeiras intenções do governo de Álvaro Uribe. De acordo com essas informações, Medina poderia ser usado como moeda de troca em relação aos mais de 60 seqüestrados pelas Farc. O Comitê Pela Libertação de Olivério Medina no Distrito Federal, lançou manifesto em que declara apoio ao pedido de refúgio solicitado por Olivério Medina ao Conare, no entanto, o órgão trabalha para evitar quaisquer pressões e manter sua independência. As análises dos processo no Comitê são técnicas e não políticas, fazem questão de afirmar seus integrantes. O Conare é integrado pelos ministérios da Justiça, que o preside; Relações Exteriores, Trabalho e Emprego; Saúde; Educação e Esporte, além do Departamento de Polícia Federal; Cáritas Arquidiocesana de São Paulo e Rio de Janeiro e pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que não tem direito a voto. O Conare já concedeu o status de refugiado a pessoas que participaram do governo de Saddam Hussein, no Iraque; paramilitares colombianos e acusados de seqüestros em outros países.
www.inforel

STF não acha Dirceu

Dirceu vai a todo lugar, mas STF diz que não o encontra
Dois meses após denúncia do MP, há acusados ainda não notificados


Dois meses após o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, ter denunciado 40 pessoas suspeitas de envolvimento com o mensalão, o Supremo Tribunal Federal (STF) ainda não conseguiu notificar todos os investigados. Entre os que não foram encontrados até agora está o deputado cassado e ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que esteve ontem em Brasília para se reunir com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e freqüentemente dá palestras e participa de eventos públicos. Além de Dirceu, os oficiais de Justiça também não conseguiram notificar o deputado José Janene (PP-PR) e os ex-deputados Pedro Corrêa e Paulo Rocha.

A informação de que o paradeiro de Dirceu era "desconhecido" foi dada ontem pelo relator dos dois inquéritos que tramitam no STF sobre o mensalão, ministro Joaquim Barbosa. Ele também contou que, antes de apresentar a denúncia, o procurador pediu a prisão de pessoas ligadas ao esquema, incluindo o publicitário Marcos Valério, sua mulher e sócios. Indagado se também teria sido requisitada a prisão de Dirceu, Barbosa acenou afirmativamente com a cabeça. Em seguida, questionado se realmente havia sido pedida essa prisão, ele disse que não fulanizaria.

Barbosa adiantou, porém, que rejeitou todos os pedidos de prisão. Segundo ele, a prisão preventiva não pode ser utilizada como uma antecipação de cumprimento de pena.

Ele observou que é necessário que existam de fato motivos para a prisão, como risco de fuga ou de cometimento de novos crimes. "Os requisitos (de prisão preventiva) são muito rigorosos", disse. "A prisão cria dificuldades processuais. Se decretar a prisão de um grupo desses, imagina o inferno que viraria (o tribunal). O plenário não faria outra coisa a não ser julgar habeas corpus", afirmou.

ENDEREÇO

Segundo Barbosa, "as notificações não foram realizadas porque as pessoas mudaram de endereço. Ele (Dirceu) é um deles", afirmou o ministro. O ministro do STF disse que caberá ao procurador-geral, o autor da denúncia, localizar os investigados e, se eles não forem encontrados pelos oficiais de Justiça, serão notificados por edital. Se não aparecerem mesmo assim, o inquérito tramitará à revelia.

Entre as 40 pessoas denunciadas há 11 que moram ou já moraram em Brasília. Outras 29 residem em 7 Estados e estão sendo notificadas pela Justiça. Informados oficialmente sobre a denúncia, terão um prazo de 15 dias para apresentar a defesa ao Supremo.

A grande quantidade de denunciados é um dos motivos para o atraso na tramitação do inquérito, que tem cerca de 40 mil páginas. Cada pessoa que é notificada também recebe uma cópia do inquérito.
Estadão

25.5.06

Inversão de valores

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB – AL) – Concedo a palavra ao Senador Arthur Virgílio, Líder do PSDB.

O SR ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM). Como Líder. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srsª e Srs. Senadores, a inversão de valores está chegando a um ponto efetivamente culminante.
Leio a notícia de que o Ministro da Justiça se teria encontrado com o Sr. Daniel Dantas para algum tipo de acerto em relação à postura do Sr. Dantas no que concerne ao Governo do Presidente Lula.

Muito bem. A CPI dos Bingos e do Crime Organizadoresolveu, hoje, pelo voto – e respeito essa decisão –, não acatar meu requerimento para que ouvíssemos o Sr. Daniel Dantas, e sua irmã. Ela disse que o PT e líderes do Governo, a começar por Lula, haviam tentando extorquir dezenas de milhões de dólares – ela disse isso em Nova Iorque, na Corte Distrital Sul – do Grupo Opportunity. Eu queria ouvir também o outro lado, o Grupo Citibank. A CPI achou que não, que não devia.

Muito bem. Eu pergunto: o que faz o PT conseguir encontrar foro íntimo, razão moral para se recusar a ouvir o Sr. Daniel Dantas?

Não estou me envolvendo nessa história de conta, mas a revista Veja publica que o Presidente Lula e o Ministro da Justiça, e fulano e mais o grego e mais o troiano tinham contas no exterior.

Se é verdade que o Ministro da Justiça se encontrou com o Sr. Daniel Dantas, é a renovação de uma decepção. Eu imaginava o Ministro indignado, vilipendiado, ultrajado, caluniado e processando o Sr. Dantas. O Governo optou por processar a Veja e não demonstrou coragem de processar o Sr. Daniel Dantas. Ou seja, parece-me, realmente, que continua funcionando o esquema jurídico fundamental desta República do rabo preso.

Portanto, Sr. Presidente, estou apresentando requerimento de informações ao Ministro da Justiça, para que negue ou confirme esse tal encontro.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL – BA) – V. Exª me permite um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Com muita alegria, Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL – BA) – Eu não entendo por que o Governo votou hoje contra a vinda do Sr. Daniel Dantas. Evidentemente, se dúvida havia se Daniel Dantas sabia e sabe alguma coisa, na minha consciência, essa dúvida desapareceu. Acho que ele sabe. Eu estava na dúvida e queria saber. O Dr. Márcio me telefonou, dizendo que não havia nada. Mas, com a votação de hoje, há. Um governo não iria se mobilizar, como se mobilizou, para impedir a vinda do Sr. Daniel Dantas, logo eles que atacavam diariamente o Sr. Daniel Dantas, que diziam que o Sr. Daniel Dantas fazia isso e aquilo. Como é que, hoje, negam, depois da reportagem da Veja? Isso é muito estranho. V. Exª faz bem em explorar esse assunto ao máximo, porque a verdade tem de aparecer.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Obrigado, Senador Antonio Carlos Magalhães. É muito forte o seu raciocínio. Falavam cobras e lagartos do Sr. Dantas, figura que eu não conheço, que não admiro e por isso recomendo aos meus filhos que procurem não serem parecidos. Por que não se ouvir aquele que era acusado de tudo que era mal feito no Governo anterior, neste Governo e no Governo de Pedro Álvares Cabral?

Ouvi-lo era um dever do PT, sim, era um dever do Governo, sim, e o Governo, na verdade, articulou sua Base para que nós não ouvíssemos aquele que poderia, quem sabe, esclarecer – até em favor do Governo – ser ele, Dantas, o mentiroso, o caluniador, e não o Governo o culpado da falcatrua que passa pela extorsão ou da falcatrua que passa até pelas tais contas ilegais detectadas e denunciadas por Veja.

Concedo um aparte ao Senador Antero Paes de Barros. (Pausa.)

Concedo um aparte ao Líder Romero Jucá.

O Sr. Romero Jucá (PMDB – RR) – Senador Arthur Virgílio, V. Exª pergunta se o Ministro confirmaria se se reuniu ou não com Daniel Dantas. O Ministro já se posicionou quanto a isso. O Ministro se reuniu com o Daniel Dantas, acompanhado de alguns parlamentares que participaram da conversa. Na conversa, segundo a palavra do Ministro e dos presentes, foi informado pelo Daniel Dantas que não teria nenhum dossiê, que não teria feito nenhuma acusação desse tipo. E ele teria perguntado também sobre a questão do inquérito. O Ministro confirmou que já existe inquérito aberto na Polícia Federal e que esse inquérito será apurado, não será sustado, e que não há nenhuma condição de ser paralisado esse tipo de investigação. Portanto, se o Sr. Daniel Dantas tem algo a declarar ou tem alguma lista a entregar, ele terá oportunidade, no inquérito da Polícia Federal, de entregar esse material e de as coisas serem esclarecidas. Essa é a posição do Governo.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Senador Romero Jucá, sou uma pessoa recomposta pessoalmente com o Ministro da Justiça, e isso me dá alegria. Tenho estima por S. Exª. Agora, sinceramente, entendo que o foro adequado seria a CPI, onde, aliás, nasceu a acusação que envolvia o Governo.

Não considero legítimo que o Ministro da Justiça, cercado de alguns parlamentares, vá sondar as intenções daquele que supostamente teria documentos-bomba do Presidente da República a todos os principais integrantes deste Governo.

Agradeço-lhe o aparte.

Concedo um aparte ao Senador Antero Paes de Barros.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB – MT) – Senador Arthur Virgílio, primeiro, quero cumprimentá-lo pela oportunidade do pronunciamento. Aliás, o Ministro da Justiça vem fazendo coisas inadequadas faz tempo! Ele é o orientador de todos os que cometem crimes dentro daquilo que o Procurador da República chamou de “organização criminosa”. As pessoas se aconselham com ele. Recentemente, houve o episódio do Ministro Palocci: o Ministro Márcio Thomaz Bastos esteve junto com o Ministro Palocci– alguns dias antes da saída do Ministro Palocci – para orientar o Ministro Palocci sobre qual advogado S. Exª deveria ter. Depois, o advogado esteve aqui, e o Ministro Márcio Thomaz Bastos esteve com o Ministro Palocci e com o advogado dele e disse que não falou nada! Na certa ele foi lá para discutir com o Ministro Palocci a escalação do Brasil para a estréia contra a Croácia na Copa do Mundo! Não tratou de assunto jurídico um homem com a capacidade jurídica do Sr. Márcio Thomaz Bastos! Não cabia ao Ministro indicar advogado para defender um crime de invasão do sigilo do caseiro Francenildo, como não cabia ao Ministro encontrar-se com Daniel Dantas. Se quer saber se foi o Daniel ou não, interpele-o! Ele sabe mais do que nós todos que poderia ter feito, primeiro, a interpelação judicial e, depois, o processo. Ele não fez a interpelação. A Polícia Federal, que é uma Polícia de Estado, está sendo tratada como Polícia de Governo. A Polícia Federal reagiu a esse encontro, Senador Arthur! E houve um órgão de imprensa que divulgou algo estranhíssimo: uma viagem ao exterior do ex-Ministro José Dirceu! Aliás, é estranhíssimo esta Casa assistir ao Sr. José Dirceu viajar de jato sem salário! Ele viaja para lá e para cá, no Brasil e no exterior, para conversar sobre esse assunto. Há um adágio na política que diz o seguinte: “Jaboti não sobe no pau”. Para o Ministro da Justiça ir se encontrar com Daniel Dantas, aí tem, Líder Arthur Virgílio! Muito obrigado pelo aparte.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Muito bem. A não ser que o José Dirceu seja – eu perguntava ao Senador Tasso Jereissati o nome daquele personagem das histórias em quadrinhos, o primo sortudo do Pato Donald, o primo Gastão – o primo Gastão! Não precisa explicar nada, tem sorte, enfim, passa o tempo todo tomando a Margarida do Pato Donald!

Não somos crianças e sabemos quanto tempo se leva para a implantação honesta de um escritório de advocacia ou de um escritório de consultoria. Se é um jovem que se forma em uma cidade como o Rio de Janeiro, Senador Jereissati, se esse jovem não tem tradição jurídica na família, ele matura o seu escritório em dez anos no mínimo. Uma pessoa com nome, desde que seja um bom nome, levaria menos tempo para maturar. Mas, mal começa a trabalhar, já tem toda essa liquidez, Senador Pontes, para viajar para lá e para cá? Só sendo – já que não sou malicioso – o primo Gastão, aquele que ganha todas na disputa com o pobre do Pato Donald – isso foi bom porque me rejuvenesceu, Senador Ramez Tebet, voltei aos melhores tempos da minha infância!

Senador José Agripin, concedo-lhe um aparte com muita alegria.

O Sr. José Agripino (PFL – RN) – Senador Arthur Virgílio, deixe-me voltar à questão Daniel Dantas. Creio que ele ficou mal. O Daniel Dantas deu uma entrevista ao Diogo Mainardi, publicada em espaço nobilíssimo da Veja, na qual declarou que foi peitado...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Foi peitado...?

O Sr. José Agripino (PFL – RN) – Este telefone não pára hoje, Senador! É o mal do dia de aniversário!

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Mas hoje é um dia em que todos devemos homenagear V. Exª, pois faz aniversário e V. Exª merece as homenagens por ter toda essa vida brilhante e posta a serviço do seu País e das suas causas. Nada melhor do que, neste momento, poder oferecer-lhe o meu afeto público, os meus parabéns, à frente da Nação e de todo o Senado.
O Sr. José Agripino (PFL – RN) – Essa ligação pelo menos ensejou a manifestação tão simpática do Colega fraterno e que considero um dos melhores Parlamentares do Congresso Nacional, que é V. Exª, Senador Arthur Virgílio. O Dr. Daniel Dantas, hoje, foi, na verdade, ultrajado duplamente. Primeiro, porque o Governo impediu, por meio da negativa ao requerimento do seu comparecimento à CPI dos Bingos, que ele desse ou confirmasse a sua versão dada ao jornalista Diogo Mainardi, numa entrevista concedida em espaço nobre da Veja, quando ele disse que foi peitado por Delúbio Soares, que pediu US$40 milhões ou US$50 milhões para facilitar a vida do Banco Opportunity. Na medida em que o Governo, que teve um encontro com ele, por intermédio do Ministro Márcio Thomaz Bastos, votou contra o comparecimento do Dr. Daniel Dantas, temos todo o direito de entender que o Governo tem algo a esconder e que tem de ser esclarecido. Perguntei sobre isso a Delúbio Soares. Vem, então, o segundo ultraje: Delúbio Soares afirma que jamais pediu um real sequer ao Banco Opportunity. O Dr. Daniel Dantas ficou na conta de mentiroso hoje e foi-lhe negada a oportunidade de dar uma explicação pública sobre a entrevista que concedeu e sobre a peitada que recebeu do Sr. Delúbio Soares. Com este registro, faço a observação de que V. Exª, em muito boa hora, recolhe esse assunto, porque ele não pode morrer no depoimento de hoje. Esse assunto tem de ser esclarecido, porque ele é parte de um fio da meada, que, custe o que custar, vai terminar aparecendo.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Muito obrigado, Senador José Agripino. É isso mesmo.

Afinal de contas, volto a bater na tecla de que tentaram fazer confusão com o processo de privatizações. Certamente deve ter havido irregularidades e um jogo de propinas, evidentemente não partindo do terceiro andar do Palácio do Planalto, mas que significou ganhos que hoje servem para que o Presidente, de maneira até tola, vanglorie-se quanto aos resultados econômicos, como se tais resultados não tivessem nada a ver com o processo de modernização da economia, de ganho sistêmico de produtividade. Hoje, há saldos na balança comercial. Pergunto se tais saldos têm ou não a ver com, por exemplo, o processo de privatizações.

Mais ainda, Senador José Agripino: corre à boca pequena que o nosso inquilino da CPI – inquilino porque já é íntimo, vai a toda hora lá, enfim, o Sr. Delúbio; sempre para não dizer nada, mas sempre se faz presente. É aquela história: ele não é bom depoente porque não basta ser depoente, tem que participar. E ele não participa, ele só comparece.

Mas imaginem se, nesse esquema, de que ele era um títere – e que tinha o Sr. Valério, tinha o Sr. Dirceu, tinha essa turma toda –, não houvesse sido privatizada a Companhia Vale do Rio Doce? Imaginem se nesse jogo de valerioduto houvesse mais a Companhia Vale do Rio Doce, houvesse mais as teles? Realmente, não dá para confundir roubo de dinheiro público com algo que tem a ver com a visão ideológica de Estado, que é entender que foi bom – e alguns entendem que não foi – ter havido as privatizações.

Ouço o Senador Heráclito Fortes. Em seguida, o Senador Tasso Jereissati, Sr. Presidente.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL – PI ) – Senador Arthur Virgílio, desde o início da instalação dessas CPIs, prego e defendo – V. Exª acompanhou em alguns momentos esta minha posição, juntamente com o Senador Antero Paes de Barros – que todos sejam ouvidos sobre essa questão: os representantes e responsáveis pelo Opportunity, os fundos de pensão e, acima de tudo, o Citibank. Certa vez, o Sr. Gushiken disse nesta Casa que, por trás de tudo isso, está envolvida a maior pendência empresarial do Brasil, a maior briga empresarial do Brasil, que é o famoso PUT, que envolve e expõe as vísceras não só dos fundos de pensão como também as do Citibank. Sabe por que isso? Porque a primeira versão que o PT deu para a morte do Sr. Celso Daniel é que se tratava de um crime comum; a primeira versão que deu para a questão do Sr. Toninho do PT, morto em Campinas, é que se tratava de crime comum; a primeira versão dada no caso do conterrâneo do Senador Tasso Jereissati que foi preso no aeroporto de Fortaleza era a de que o dinheiro que estava na cueca era produto do seu trabalho, do seu suor, da venda de maxixe, pimentão, pepinos e outras coisas mais na feira de São Paulo. Quando se anunciou uma lista com Parlamentares da Oposição envolvidos no mensalão, o vice-presidente de uma das Comissões precisou renunciar, porque a lista era falsa. Quando soltaram a lista de Furnas, esta também era falsa. Portanto, tenho o direito de acreditar que essa história não está bem contada. Isso não me remete à ingenuidade de dizer que há santo nessa história, mas é preciso que as partes sejam ouvidas, principalmente, Senador Antonio Carlos Magalhães, quando estamos a poucos dias de uma renovação na Previ. Estão disputando a tapas o fundo de pensão mais rico da América Latina. Os interesses, que não são poucos, estão sendo disputados palmo a palmo e o assunto está sendo desviado. Daí porque eu achar que é fundamental a CPI rever essa posição. Eu até sugiro ao Senador Antonio Carlos Magalhães fazer essa convocação para a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Esse é um assunto que interessa ao País. Não tenho compromisso com erro e não sou procurador de ninguém. Eu disse aqui, desde o começo, que antes dessa CPI eu tinha visto o Sr. Dantas por três ou quatro vezes – sou amigo de um ex-cunhado dele -, mas se há erro, deve ser apurado. Agora, satanizar só um, não. Esse fato precisa ser passado a limpo. E tanto é verdade, Senador Arthur Virgílio, que quando me telefonaram para saber se eu podia receber na minha casa o Sr. Dantas e o Ministro da Justiça, o meu primeiro
raciocínio foi: o Ministro é inteligente e não está engolindo as versões que está recebendo do Governo. Foi o que me passou pela cabeça. E, até por curiosidade de oposicionista, eu queria saber o que ia acontecer nessa conversa. Se havia recuo, de quem era? Não, na realidade, foi para entregar a carta – que está aí. E o mais estranho de tudo foi o vazamento, da maneira como aconteceu. O vazamento foi fogo amigo. É algum interesse contrariado nesse episódio e isso, sim, precisa ser apurado, Senador Arthur Virgílio. Tenho certeza de que vamos chegar a isso, é questão de dias. Mais dia, menos dia, vamos chegar a um esclarecimento que, tenho certeza, será bom para o País. Muito obrigado a V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Senador Heráclito, V. Exª dá uma excelente idéia. Sugiro assinarmos juntos, o Senador José Agripino pelo PFL, e eu pelo PSDB, o requerimento de convocação do Sr. Daniel Dantas e do Citigroup para a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Eu tenho a impressão de que é isso, de que esse é o melhor caminho.

V. Exª talvez tenha cometido, nesse seu aparte tão consistente, um só equívoco: é que a primeira versão não era de crime comum, não. A primeira versão era de crime político. Eles queriam dar a entender que o Governo Fernando Henrique era responsável por um assassinato e pelo outro. Esse é o ponto a ser lembrado, num País que não pode perder a memória. Diziam que os companheiros estavam sendo assassinados; diziam que havia um verdadeiro complô para se matar lideranças petistas. Enfim, foi nesse clima que se realizaram os funerais tanto do Toninho do PT, quanto do Sr. Celso Daniel. Depois, a apuração começou a mostrar envolvimento de figuras ligadas ao Partido a que se filiavam os dois assassinados e, aí, “evoluíram” para a tese do crime comum, a qual não foi engolida pelo Ministério Público Estadual de São Paulo, nem pela polícia de São Paulo. Hoje, está aí o Sr. José Dirceu, indiciado ou apontado como alguém que tivesse a ver com esse episódio de Santo André.

Muito obrigado, Senador.

Sugiro que o Senador José Agripino e eu assinemos esse requerimento para a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, convocando o Sr. Dantas e os big shots, ou o big shot, do Citigroup para procurarmos tirar a limpo isso que, hoje, foi-nos denegado por uma maioria absolutamente assustada que o Governo demonstrou ter na CPI dos Bingos.

Concedo o aparte ao Senador Tasso Jereissati.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB – CE) – Senador Arthur Virgílio, com todo o respeito e admiração, até, que tenho pelo Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, confesso que estranhei profundamente o seu encontro com o banqueiro Daniel Dantas. Quando foi publicada a reportagem da revista Veja em que Daniel Dantas acusava várias figuras importantes do Governo do PT, inclusive o próprio Presidente da República – o que não acredito – e o Ministro Márcio Thomaz Bastos, de terem conta no exterior - sem registro, sem declaração, porque não há problema algum em se ter conta no exterior - e quando a irmã do banqueiro, diretora de suas empresas, Drª Verônica, declarou sob juramento, na Corte de Nova Iorque, que o banqueiro foi achacado pelo PT, que lhe exigia dezenas de milhões de dólares - e não há dúvidas da veracidade dessa declaração, pois existe o seu fac-símile -, o mínimo que se poderia esperar era uma reação indignada, seguida por um processo, ou seja, uma reação, um desmentido e um processo imediato. Aliás, isso não era de se esperar pela dignidade do Governo ou dos homens públicos que estão ali. Acredito que era uma obrigação. O Ministro da Justiça, a bem da transparência pública, tinha a obrigação de responder à altura a uma acusação grave como aquela, de que o Governo achacou o banqueiro - porque está ali, dito claramente pela Drª Verônica, que o Governo criaria embaraços ao banqueiro se aquele dinheiro não fosse dado. Não sei se V. Exª se lembra de que está dito ali. Portanto, seria obrigatória a reação do Governo. Ao invés disso, não há sequer uma ameaça, não há indignação, não há uma resposta clara e, na semana seguinte, somos surpreendidos com outra reportagem da revista dizendo que, isso sim, houve um encontro para uma conversa cordial entre o Ministro da Justiça e o próprio banqueiro acusador. Hoje, na CPI, o mesmo Partido acusado de achacar o banqueiro faz um esforço enorme para evitar que ele venha se explicar ou falar perante o Senado e a Nação brasileira. Isso é triste! É
seriíssimo! Não sei o que se pode pensar, mas acredito que, mais do que nunca, devemos nos esforçar. Esta Oposição deve fazer um esforço para ouvir o banqueiro Daniel Dantas. Está muito claro para todos nós que houve um acordo entre o banqueiro, o Ministro da Justiça, em nome do Governo, e que atrás disso aconteceu algo muito sério. Não podemos deixar isso como ficou.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Senador Tasso Jereissati, V. Exª toca num ponto – encerrei após ouvir outra vez o Senador José Agripino, Sr. Presidente, –, ou seja, essa série de golpes jurídicos aplicados na praça política, que vêm se somar às dezenas de golpes que conhecemos aplicados na praça comercial. Trata-se do mesmo golpe: colocar uma nota valiosa de dinheiro em cima, várias notas sem valor no meio e uma nota valiosa embaixo. Este golpe, por exemplo, no Rio de Janeiro, é chamado de “golpe do paco”; na minha terra, de “golpe do baludo”. Paqueiro é sinônimo de baludeiro. Ou seja, temos dois golpes: em um, os irmãos do Daniel disseram que davam dinheiro a certa pessoa do Palácio para essa pessoa passar o dinheiro para o José Dirceu. Nunca o irmão de Daniel disse que o dinheiro era passado diretamente para o José Dirceu. O que acontece? Essa pessoa não processa o irmão de Daniel; e José Dirceu processa o irmão de Daniel. Por quê? Porque não havia mesmo como se materializar prova nenhuma contra ele. Essa é uma forma de se esquivar. Uma outra forma interessante de se esquivar é a de que o Governo se sente ofendido com o que Dantas disse à Revista Veja, mas opta por processá-la, por processar a Revista Veja. E opta por buscar acordo com o Sr. Daniel Dantas, quando o certo seria processar Dantas pelo que ele disse a Veja e não a Veja por ter acolhido as declarações bombásticas de Daniel Dantas.

Concedo um aparte ao Senador José Agripino, não sem antes deixar de registrar a presença neste Plenário de dois Deputados: meu prezado e dileto amigo, Deputado Átila Lins, e meu prezado e querido amigo, Deputado Paulo Delgado. Ambos, apesar da jovialidade, com toda a pinta e com todo o status senatorial.

Concedo um aparte ao Senador José Agripino.

O Sr. José Agripino (PFL – RN) – Senador Arthur Virgílio, apenas para reiterar. O discurso de V. Exª já produziu um bom resultado. Aliás, V. Exª sempre fala coisas conseqüentes. Vamos dar uma oportunidade ao banqueiro Daniel Dantas de vir falar a sua verdade na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Estou pronto para assinar o requerimento, juntamente com V. Exª...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Idéia do Senador Heráclito Fortes.

O Sr. José Agripino (PFL – RN) – ... e com o Senador Heráclito Fortes, para que o Sr. Daniel Dantas compareça à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania para prestar o seu depoimento e confirmar, ou desmentir, o depoimento do Sr. Delúbio Soares, prestado na tarde de hoje na CPMI dos Bingos.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Já providenciei, Senador José Agripino, o requerimento e, portanto, com o acatamento do Senador Antonio Carlos Magalhães, e a partir da idéia do Senador Heráclito Fortes, buscaremos trazer o Sr. Daniel Dantas e o presidente do Citigroup para deporem, a fim de esclarecer esse episódio tão tortuoso, que não pode ficar no limbo. Ou esse episódio leva alguns para o céu e outros para o inferno, ou outros para o inferno e uns para o céu. Não dá para deixá-los, a todos, no limbo, porque o limbo me parece o pior estado para se generalizar e se misturar as pessoas, as idéias.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Concedo um breve aparte ao Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – Senador Arthur Virgílio, de maneira consistente ao argumento que foi hoje exposto, inclusive pelo Senador Tião Viana, quero dizer que, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, serei favorável ao requerimento proposto por V. Exª, juntamente com o Senador Heráclito Fortes, para ouvirmos, seja o Sr. Daniel Dantas, sejam os diretores do Citibank. O argumento para não votarmos na CPMI dos Bingos é o de que fugia ao fato determinado. Avalio ser importante porque, tanto da parte do Senador Heráclito

Fortes como da do Ministro Márcio Thomaz Bastos, dos Parlamentares Sigmaringa Seixas e José Eduardo Martins Cardoso, enfim, de todos os participantes, na medida em que essa reunião se deu sobre algo de interesse público, é importante que ela seja colocada com espírito de transparência, que sempre foi defendido pelo Ministro Márcio Thomaz Bastos.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Muito obrigado, Senador Eduardo Suplicy.

V. Exª, com sua independência e com suas atitudes, se um dia for expulso do PT, não assuma contrato com ninguém antes conversar conosco. Dê preferência ao PSDB.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – Felizmente, Senador, hoje à tarde conversei com o Presidente Paulo Frateschi*, do PT de São Paulo, que me confirmou a minha candidatura para o Senado pelo Partido dos Trabalhadores, por São Paulo. Portanto, não há qualquer cogitação a esse respeito, até porque todos os filiados do PT resolveram indicar-me candidato ao Senado. Estou à espera de saber quais serão os meus adversários, inclusive o do PSDB.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Então, vou colocar, de novo, na Comissão dos Bingos, o requerimento, porque agora, candidato e já intocável, V. Exª certamente voltará a ter a independência de sempre na Comissão dos Bingos. Vou apresentar de novo. Acho que desta vez vamos, como dizia o seu...

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – Na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, não é isso? Ouvi V. Exª falar há pouco: na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Sim. Mas como V. Exª, agora, está garantido como candidato ao Senado, não podem mais tocar em V. Exª, agora vou tentar o voto de V. Exª na Comissão dos Bingos outra vez. Aí vai voltar a ter a independência de sempre.

Muito obrigado.

CEF e a MegaSena!!!!

Caixa Econômica, fonte inesgotável de patifaria
Continuará roubando o povo?
Estive revendo datas e publicações: há 9 anos, i-n-i-n-t-e-r-r-u-p-t-a-m-e-n-t-e, escrevo sobre as bandalheiras da Caixa Econômica. Não só nos mais diversos assuntos, mas principalmente as "montagens" feitas com a megasena acumulada. Sempre que o prêmio acumula perto de 40 ou 50 M-I-L-H-Õ-E-S, os magnatas da Caixa Econômica se reúnem e manipulam o resultdao.

Desde 1997 venho revelando os escândalos das diversas direções da Caixa Econômica, todos são muito solidários entre si. Saem demitidos mas não culpados, indiciados ou investigados. Só que deixam para os que entram a chave dessas loterias acumuladas. E a mesma chave para fraudá-las.

A questão é simples e simplista. Toda vez que a megasena acumula, surge 1 ganhador (entendam, "ganhador") de um município bem distante, com um cidadão desconhecido, de uma "autorizada" que ninguém sabe onde fica. Agora foi no Pará, com um "ganhador" inesperado, que surge da floresta da desonestidade e "recebe" o prêmio que não chega ao seu bolso, pois ele não existe.

Apesar do slogan "vem pra Caixa você também", popularizado pelas fabulosas verbas de publicidade, ninguém vai pra Caixa. Ou melhor: só vão os cúmplices e os acumpliciados, que "emprestam o nome" para as roubalheiras que se multiplicam através dos tempos. E ninguém protesta, revela, denuncia, a não ser este repórter.

Agora a repetição do escândalo, que eu decifrei sempre para o cidadão-contribuinte-eleitor: quando a megasena acumula, chega a um total fascinante e sedutor, utilizam os mesmos métodos para executar a fraude contra o apostador: números seguidos, bem juntinhos.

Nesses 39 milhões que "foram" para um desconhecido e isolado apostador do Pará, a mesma técnica da falsificação. Vejam os números da megasena do Pará, exatamente iguais aos números de outras megas acumuladas. Os de agora, "distribuindo" 39 milhões: 03-07-45-47-53-55.

Especialistas a serviço da fraude e da falsificação da Caixa concluíram: com esses números "ligados e apertados" entre si, é impossível haver 1 ganhador ou até mesmo qualquer ganhador. Só com a fraude, a farsa e a falsificação podem "apresentar um ganhador".

Do outro lado, especialistas a serviço da credibilidade e na tentativa de esclarecer e preservar o interesse do povo concluíram: a possibilidade de haver 1 ÚNICO VENCEDOR DA MEGASENA ACUMULADA É DE 1 EM 50 MILHÕES. Nos últimos 9 anos, publiquei várias vezes essa conclusão de matemáticos a serviço da coletividade. E esses números jamais foram contestados.

No caso do Pará ainda houve agravante, e portanto a condenação da direção da Caixa Econômica deveria ser também agravada: por causa da matança-vingança-rebelião de São Paulo, o sorteio foi encerrado com antecedência, o que facilitou a manipulação. Só o cidadão-contribuinte-eleitor não sabia de coisa alguma. E vão continuar sem saber, jogando insensatamente e sendo roubado premeditadamente.

PS - Poderia reproduzir em parte ou no todo as dezenas de artigos publicados. Denunciando as formas que a direção da Caixa usa para enganar e roubar o cidadão.

PS 2 - Preferia que houvesse investigação da polícia, do Ministério Público ou até do Congresso através de uma CPI. Mas a Caixa Econômica é poderosa mesmo. E o dinheiro é muito, podem se proteger.
HÉLIO FERNANDES

Lula = PT vai pagar por erros

Lula diz ao "Le Monde" que PT pagará por seus erros


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, ao jornal Le Monde, em Brasília, que o PT pagará pelos erros que cometeu. Durante a entrevista, publicada ontem, Lula citou ainda dados positivos da economia e de programas sociais do governo, como o Bolsa Família, e se mostrou otimista.

Questionado sobre as lições que extraiu da crise do mensalão, afirmou que "é preciso distinguir entre os erros cometidos (...) e os crimes que os adversários do PT atribuem a ele". Para o presidente, o desfecho dos casos depende de decisão da Justiça, mas disse acreditar que "boa parte" dos envolvidos vai ser absolvida.

Em relação aos ataques promovidos pelo PCC em São Paulo, afirmou que a situação da segurança pública é grave e conhecida dos governantes. Discordou que o plano nacional de segurança pública, sua proposta de campanha, tenha ficado no papel. Citou dados de presídios em construção, a criação de um secretariado de segurança e treinamento de policiais.

"Devemos todos, mais que buscar os culpados, assumir nossas responsabilidades e apresentar uma resposta à sociedade brasileira", disse. Fez crítica velada ao governo de São Paulo, ao salientar que "o problema é que a segurança pública não depende do poder federal: no Brasil, ela é responsabilidade dos Estados".

Sobre tensões recentes entre Brasil, Bolívia e Venezuela, contemporizou. Para o presidente, a decisão do presidente boliviano Evo Morales de nacionalizar o gás do país "não é tão grave" e há espaço para a negociação, "caso o bom senso prevaleça". Diplomático, afirmou que prefere confiar em negociações a "ostentar retórica para impressionar o público".

Na opinião de Lula, para que a integração regional se consolide, é necessário que os países maiores sejam "sempre generosos" com os mais pobres. "O Brasil e a Argentina precisam contribuir (...) porque não temos interesse algum em viver cercados de países mais pobres", disse. "Na América do Sul, de vez em quando é preciso contar até dez antes de tomar uma decisão."

Esquerda

Conceitos de esquerda, como o antiimperialismo ou a revolução, perderam sua pertinência hoje, afirmou o presidente. "Jamais me ative à etiqueta da esquerda", completou. Disse que é um "defensor da liberdade de expressão" e que cada um pode utilizar as palavras que melhor lhe convierem. Apesar disso, em 2004, o governo petista tentou expulsar o jornalista Larry Rohter, do "New York Times", que publicou reportagem com o título "Hábito de bebericar do presidente vira preocupação nacional".

Lula descartou convergências entre as suas reformas e aquelas promovidas pelo PSDB. "Se tivesse havido continuidade, a inflação teria chegado aos 40%, e o risco-país disparado", afirmou. Reconheceu, no entanto, "certos pontos em comum com partidos como o PSDB ou o PMDB e com partidos de esquerda menores". Citou dados comparativos entre sua gestão e a de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) para, em seguida, afirmar que "não existe comparação entre este governo e o precedente".

Sobre a Copa do Mundo, afirmou que se for considerado só "o retrospecto e o talento de cada jogador, o Brasil voltará a ser campeão mundial". Ressalvou, no entanto, que não basta ter a melhor seleção ou os melhores jogadores. "Há momentos na história em que os favoritos não vencem. (...) Em assuntos de futebol, é preciso sempre esperar pelo começo do campeonato."
Folha

Senado vai ouvir DD

Senado decide ouvir Daniel Dantas no dia 7
CCJ quer que banqueiro confirme ou negue as denúncias sobre contas de petistas no exterior


A oposição saiu em busca do tempo perdido e resolveu, finalmente, convidar o banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity, para depor no Senado. Ontem, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), marcou para o próximo dia 7 o depoimento no plenário da CCJ.

Até lá, Dantas, que responde a processo na Justiça norte-americana por quebra fiduciária e hoje alega estar impedido de contar o que sabe por determinação de um juiz de Nova York, já estará livre para falar em sessão pública sobre o suposto dossiê sobre autoridades do governo brasileiro contratado durante a gestão de seu grupo à frente da Brasil Telecom. Também deve ser questionado sobre a suposta tentativa de extorsão de US$ 40 milhões, atribuída ao PT em troca de melhoria nas relações do Opportunity com o governo federal.

Na terça-feira, durante sessão da CPI dos Bingos, a oposição não demonstrou apetite para aprovar a convocação de Daniel Dantas.

O senador Antonio Carlos Magalhães disse que vai insistir para que o banqueiro confirme ou negue as denúncias que lhe foram atribuídas pela revista Veja - que o apontou como fonte de uma lista de contas no exterior supostamente pertencentes a petistas de expressão.

A relação envolve ministros e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva e tem sua autenticidade questionada até por parlamentares da oposição. "Dantas tem que confirmar o que disse ou então está em situação complicada", sustenta ACM.

No PFL, a aproximação entre Dantas e o senador Heráclito Fortes (PI) gerou insatisfação entre deputados. Eles não gostaram de ver um senador do PFL como principal patrocinador do jantar realizado entre o banqueiro e o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

Os parlamentares avaliam que a forma insistente com que o senador vem defendendo o banqueiro pode levar a opinião pública a tomar Dantas como um dos quadros do PFL. "O Heráclito está misturando o PFL com Daniel Dantas e isso não é bom para o partido", disse ontem um deputado.

Em sua defesa, Heráclito Fortes informou que nem sequer é amigo de Dantas, mas sim de Carlos Rodenburg, sócio e ex-cunhado do banqueiro. O senador lembra que a relação de Dantas com os pefelistas é anterior a seu ingresso no PFL. "Quando eu cheguei no partido, o Dantas já estava lá", defendeu-se.

A Comissão de Constituição e Justiça do Senado também vai ouvir a irmã do banqueiro Daniel Dantas, Verônica Dantas. A ela é atribuída frase dando conta de que o governo do PT teria "ódio" do grupo Opportunity.

A declaração constou de documento do Citibank no processo que corre nos Estados Unidos. Deveria ter sido mantida em sigilo, pelas regras da ação, mas o documento acabou aparecendo em poder do senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB, durante depoimento no Congresso de Silvio Pereira, ex-secretário-geral do PT, no início do mês.

O presidente do Citibank, Gustavo Marin, também será convidado a depor à CCJ do Senado.
Estadão

24.5.06

Entrevista sobre corrupçao

'PC seria aprendiz em meio a essa indústria do PT'
Entrevista: Altivo Ovando Júnior, secretário de Habitação de Mauá

Altivo Ovando Júnior, de 45 anos, avalia que o suposto esquema de corrupção nas administrações municipais do PT é muito mais organizado e grave que o de Paulo César Farias, o PC, tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor (1990-1992).

Assassinado a tiros em junho de 1996, PC tornou-se um símbolo da corrupção no País. "Eu digo que, infelizmente, o PC Farias seria só aprendiz em meio a essa indústria de arrecadar dinheiro que o PT montou", comparou o secretário de Habitação de Mauá, na Grande São Paulo.

Ovando Júnior conversou com o Estado ontem às 18h30 e confirmou as declarações prestadas em fevereiro ao Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaerco), braço do Ministério Público Estadual que investiga a corrupção e desvio de recursos públicos. "Não lembro a data exata, mas prestei vários depoimentos em Santo André", afirmou.

Ele ressaltou ter presenciado conversas do então presidente nacional do PT, José Dirceu, com o prefeito petista Oswaldo Dias (1997-2004), de quem foi secretário da Habitação entre 1997 e 2001. Ele retomou recentemente a secretaria em Mauá, agora sob a gestão do prefeito Leonel Damo (PV). Antes, relembra, trabalhou como superintendente de obras viárias de Marta Suplicy em São Paulo, por seis meses. "Eu deixei os dois cargos por problemas dessa natureza, de institucionalização da corrupção", defendeu-se.

O ex-ministro José Dirceu esteve no gabinete do ex-prefeito de Mauá Oswaldo Dias, no período em que o sr. foi secretário?

Ele foi várias vezes ao gabinete do prefeito. Teve vários encontros, era comum ele comparecer lá.

O sr. presenciou essas conversas? Ele falava sobre arrecadação de dinheiro para o PT?

Ele comentava abertamente que era obrigatório ter esquema de arrecadação de dinheiro, que todo município petista participava. Os esquemas de arrecadação eram obrigatórios em todas as cidades.

E envolvia o quê? Contratos de ônibus, de lixo?

Eu não gerenciava, nunca gerenciei. Mas com lixo e construtoras era em todas as prefeituras. Era aberto, todo mundo sabia que envolvia construtoras, contratos de lixo, essas coisas. Hoje isso está público, todo mundo conhece. Mas eles sempre fizeram, sempre existiu essa indústria de arrecadar dinheiro, infelizmente.

O sr. já trabalhou para a ex-prefeita Marta Suplicy?

Trabalhei por seis meses como superintendente de Projetos Viários da Prefeitura de São Paulo. Eu deixei o cargo pelo mesmo motivo pelo qual larguei a Secretaria de Habitação de Mauá, por problemas dessa natureza, de institucionalização da corrupção.

Por que deixou os dois empregos?

Deixei quando vieram e me enquadraram: "Ou você faz ou está fora." Saí na hora. Hoje todo mundo sabe dessa indústria de corrupção montada pelo PT. Mas ela já estava institucionalizada havia muito tempo.

E essa cobrança era pública, feita abertamente?

Digo que, infelizmente, o PC Farias seria só aprendiz em meio a essa indústria de arrecadar dinheiro que o PT montou. Infelizmente, o PC seria só aprendiz.

Além de secretário, o sr. é professor?

Sim. Sou professor de direito na UniABC. Sou formado em arquitetura e em direito. Tenho escritório de advocacia, mas não exerço, pois é proibido por eu estar ocupando cargo público.
Estadão

Advogado acusa promotores

Advogado acusa promotores de falta de ética e de ocultar provas da defesa

O criminalista José Luiz de Oliveira Lima, que defende o ex-ministro José Dirceu, reagiu com veemência à divulgação do depoimento de Altivo Ovando Júnior. Segundo Oliveira Lima, os promotores "não agiram com lealdade processual, não agiram com ética". O advogado sustenta que os promotores não revelaram a existência e o teor da nova prova contra seu cliente, agora enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF). "Esconderam provas da defesa", afirmou. "Isso é ilegal, isso lembra os procedimentos feitos na época da ditadura."

Oliveira Lima afirmou que pretende entrar com uma representação na Corregedoria do Ministério Público contra o promotor Amaro Thomé Filho, que teria entregue, por duas vezes, a um de seus assistentes, cópias do procedimento administrativo criminal 01/06 - instaurado para investigar Dirceu logo que a Câmara cassou seu mandato. Segundo o criminalista, as peças entregues pela promotoria não continham cópia do depoimento de Ovando Júnior.

"Os promotores informaram que o que havia nos autos era aquilo", disse Oliveira Lima. Para ele, a atitude dos promotores de Santo André demonstra "o desespero da acusação, que desprovida de provas, circunstâncias e indícios concretos usa dessa estratégia para defender seu ponto de vista".

"Essa prova mágica do Ministério Público na verdade não é prova nenhuma porque é mais um depoimento isolado e não tem nenhuma relação com o fato de Santo André", avalia o advogado.

A promotora Adriana Ribeiro Soares de Morais reconheceu o direito de o criminalista entrar com a representação, mas rebateu as acusações. "Não estamos escondendo nada. O depoimento era de outro procedimento investigatório e só juntamos aos autos do José Dirceu porque o ministro Eros Grau pediu todas as provas para justificar essa investigação."

Entrevista Roberto Rodrigues

"Governo demorou para ver a crise rural"
Ministro da Agricultura afirma que, com dificuldade para cobrir dívidas, setor vive um de seus mais graves momentos


A DEMORA do governo em olhar para os problemas do setor agrícola exige, agora, um esforço ainda maior para contorná-los, segundo o ministro Roberto Rodrigues. Dólar desvalorizado, custos de produção elevados e investimentos feitos pelos próprios produtores no período favorável da agricultura deixaram para trás um forte endividamento. "Com dificuldades para cobrir as dívidas, a agricultura entrou em uma das mais graves crises das últimas décadas."

FOLHA - A agricultura vive de crises cíclicas. Quais os pontos básicos da atual crise do setor?
ROBERTO RODRIGUES - Um deles é o câmbio, que gera o descasamento de custos entre o plantio e a colheita, e que resulta em perda de renda. Soma-se ao problema cambial o custo de produção em dólar: diesel, fertilizantes, equipamentos e máquinas. Além disso, o setor supridor de insumos aproveitou o momento positivo da agricultura e fez investimentos vigorosos, e, para amortizar isso, cobrou mais caro.

FOLHA - Então o setor aumentou a margem...
RODRIGUES - É, aumentou a margem. O segundo fator foi a queda dos preços, e aí o câmbio é fundamental. Com o câmbio desfavorável e o crescimento dos custos, vem o terceiro fator, que é o forte endividamento. O produtor aproveitou o bom momento da agricultura e também fez investimentos, mas a custos elevados.

FOLHA - Que outros fatores cooperaram para a crise atual?
RODRIGUES - A seca e a conseqüente redução da produção. Some a tudo isso a questão da logística, o volume de recursos insuficiente e a taxa de juros elevada e você tem uma crise de renda na agricultura.

FOLHA - Se o problema maior é o câmbio, o governo tem responsabilidade nessa crise?
RODRIGUES - É difícil dizer que o governo tem culpa. O exagero é da questão monetária: juros altos e o câmbio.

FOLHA - E a responsabilidade do ministro da Agricultura?
RODRIGUES - O ministério vem insistindo com o governo sobre a necessidade de recursos. Em fevereiro de 2005, a Agricultura solicitou R$ 1 bilhão para a Fazenda. Se tivéssemos colocado aquele recurso para apoiar a comercialização em fevereiro e em março, teríamos dado um sinal para impedir o desastre no nível dos preços.

FOLHA - O dinheiro veio tarde?
RODRIGUES - Veio. Do R$ 1 bilhão pedido, R$ 400 milhões foram liberados no final de julho e R$ 300 milhões no final de novembro [de 2005], quando a comercialização da safra já tinha praticamente passado. Todos os grandes fatores causais da crise agrícola estão fora do ministério. Temos tentado convencer as outras áreas do governo que são responsáveis pelos fatores causais da crise, mas acho que não fui competente nessa questão.

FOLHA - A Agricultura acabou recebendo menos recursos do que outras áreas?
RODRIGUES - Recebeu muito menos devido ao tamanho da crise, que foi anunciada, desenhada e documentada pelo Ministério da Agricultura, mas não teve a necessária atenção dentro do governo.

FOLHA - O senhor classificou 2005 como um ano horrível. Como está sendo 2006?
RODRIGUES - Um horrível "plus". Mas os jornais de hoje [sábado] dão duas boas notícias: mudanças no câmbio e a questão do H-Bio (biodiesel).

FOLHA - E o pacote do dia 25 [amanhã], o que tem de novo?
RODRIGUES - O governo trabalha um pacote com substância em três conjuntos: endividamento, medidas estruturais e plano de safra. Primeiro, está avaliando o endividamento, a área mais complicada porque tem a ver com a volta do dinheiro [emprestado] da safra anterior para financiar a próxima.

FOLHA - E as medidas estruturais, quais são?
RODRIGUES - Não tenho ainda as medidas prontas, mas um ponto relevante será o seguro rural. Adotaremos medidas mais sensíveis e criaremos um fundo contra catástrofes para ajudar de fato as seguradoras e resseguradoras a acreditar no processo.

FOLHA - De onde virá o dinheiro?
RODRIGUES - Estamos trabalhando com aumentos de limite e de volume. Em 2005, tivemos R$ 2,6 milhões de recursos. Neste ano são R$ 46 milhões. Houve aumento de limite e maior subvenção. Há uma certa resistência das resseguradoras do mundo inteiro no setor depois do furacão Katrina [nos EUA, em 2005] e do tsunami [na Ásia, em 2004]. É fundamental, portanto, que o IRB [Instituto de Resseguros do Brasil] assuma isso.

FOLHA - E o dinheiro para o fundo contra catástrofes?
RODRIGUES - O pontapé inicial tem de vir do Tesouro. Virão também de prêmios, investimentos de seguradoras e de outras investidores externos.

FOLHA - E a redução de custos, como pode ser feita?
RODRIGUES - Trabalhamos fundamentalmente com redução de tributos sobre insumos e menores tarifas de importação. Essas medidas, no entanto, estão sob análise porque representam ônus para o Tesouro e problemas [menos recursos] para a Receita Federal.

FOLHA - Até que ponto a crise atual compromete a agropecuária nos próximos anos?
RODRIGUES - O comprometimento já é comprovado, como a própria Folha já mostrou. Há queda de área plantada que, se continuar, poderá tirar até 50 milhões de toneladas na produção de grãos. E isso afetará os preços e pode ter reflexo na inflação lá na frente. Mas a preocupação não é só com a queda de área plantada, mas também com a redução do padrão tecnológico. Tudo o que foi conquistado e que permitiu o saldo de produtividade pode ser perdido.

FOLHA - O senhor disse que não fica mais no governo. Faça uma avaliação do que foi positivo em seu ministério.
RODRIGUES - Penso que vou deixar algumas coisas. Uma delas é o biodiesel. É uma coisa muito importante para a história da agricultura brasileira e até mundial. Outra, acho que tive um papel importante na gênese do G-20 [grupo de países em desenvolvimento que luta pela abertura da agricultura mundial]. Uma terceira coisa que acho importante foi ter contribuído para a recuperação vigorosa da Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária]. A quarta é ter estabelecido no ministério uma visão sistêmica de planejamento estratégico. Além disso, as reformas estruturais (seguro rural e novos papéis que nós lançamos) também são importantes.

FOLHA - E o negativo?
RODRIGUES - Fiquei 40 anos trabalhando pela agricultura na área privada e levei propostas, projetos e idéias para todos os ministros [da Agricultura] dos últimos 20 anos. De modo que cheguei [ao ministério] com a convicção de que, em seis meses, seria o maior ministro da Agricultura da história do Brasil. Ia resolver tudo e fazer coisas formidáveis. A frustração por não ter conseguido chegar lá é enorme. Tenho uma grande tristeza por não ter conseguido montar um programa de defesa sanitária no Brasil.


FOLHA - O sr. teve responsabilidade pela volta da aftosa? RODRIGUES - Acho que foi um conjunto de coisas. Acho que o ministério também teve sua parcela de responsabilidade, mas diria que [a parcela de responsabilidade] é menor.

FOLHA - O presidente Lula disse que vê "cretinice" e ações oportunistas de alguns fazendeiros, principalmente, por causa da época de eleição. O sr. concorda com isso?
RODRIGUES- Achei que foi uma declaração infeliz. Isso foi dito por pessoas que participaram da reunião com ele. A declaração, se houve, não é generalizante. Mas acho que, em anos de eleição, sempre tem, em todos os setores, gente aproveitando o momento.

FOLHA - Como foi a atuação do ministro nessa crise agrícola?
RODRIGUES - Se tive culpa nesse processo, foi por não ter sido suficientemente convincente, dentro do governo, com as áreas que desejava ter modificado. Não deixei de lutar um minuto. Talvez, se culpa tenho, é por não ter sido capaz de transmitir a importância de priorizar a agricultura no rol das atividades do governo.

FOLHA - É uma situação difícil?
RODRIGUES - É sempre uma questão, como todas, que tem dois lados. Primeiro, tenho convicção do que estou fazendo. E, segundo, tenho esperança de que vá conseguir melhorar as coisas. Enquanto a esperança persistir, continuarei meu trabalho. Ainda tenho um resto de esperança.

FOLHA - Para agüentar até 31 de dezembro?
RODRIGUES - Dia 25 [amanhã] está aí. Vamos ver o que vem.

PT apela ao TSE

PT fará apelo ao TSE para limitar gastos nas campanhas de outubro

Prevendo dificuldades para arrecadar dinheiro para as campanhas do partido depois do escândalo do "mensalão", dirigentes do PT farão nesta terça-feira um apelo para o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Marco Aurélio Mello, fixar um limite de gastos para os candidatos nas eleições de outubro. A proposta atingiria os candidatos à Presidência da República, aos governos dos Estados, à Câmara e ao Senado.

O assunto será levado ao presidente do TSE pelo presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), e o líder do partido na Câmara, deputado Henrique Fontana (RS), num encontro hoje às 18h.

O limite de gastos para as campanhas chegou a ser discutido pelo Congresso, mas não foi incluído na minirreforma eleitoral aprovada em 19 de abril. A proposta era considerada moralizadora, mas não recebeu o apoio de grandes partidos e ficou fora da discussão.

O TSE tem poderes para regulamentar a medida. O tribunal se reúne hoje à noite para discutir as regras que irão valer para as eleições deste ano, dentre as quais o teto de gastos. "A principal fonte de corrupção na estrutura político eleitoral brasileira é o fato de o abuso do poder econômico ser totalmente legal", justificou o deputado Henrique Fontana.

Valores

Segundo o líder do PT, caberá ao TSE definir o valor que poderá ser gasto em cada campanha. Uma proposta é estabelecer os tetos com base na população de cada Estado e nos gastos das últimas campanhas eleitorais.

Fontana citou que as estimativas são que em São Paulo, por exemplo, uma campanha para deputado federal custará neste ano cerca de R$ 4 milhões. O valor é considerado exagerado.

"Nós pedimos desculpas por temos praticado o caixa dois e entendemos como um avanço qualquer regra que impeça a prática", afirmou o líder petista.
Folha

Cháves e empresas brasileiras

Chávez convida empresas brasileiras para viagem à Bolívia

Exatamente uma semana depois de acusado pelo ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, de causar "desconforto" ao governo brasileiro, o presidente Hugo Chávez foi assunto de uma reunião reservada, no Itamaraty, com representantes de grandes empresas nacionais. Amorim informou aos empresários a profunda irritação do governo com a mais recente iniciativa de Chávez: o presidente venezuelano convidou grandes empresas brasileiras para integrar a comitiva da viagem que fará, nesta semana, à Bolívia.

O objetivo evidente do convite é reforçar a imagem de Chávez como líder emergente na região, desta vez com o endosso de grandes companhias brasileiras com investimentos e interesses nos países vizinhos. Chávez escolheu pelo menos quatro empresas de peso: Odebrecht, Brasken (que tem como acionista majoritário a própria Odebrecht), Vale do Rio Doce e Camargo Corrêa. Ele quer anunciar o apoio da estatal venezuelana de petróleo, a PDVSA, e do governo venezuelano, a investimentos dessas empresas no país presidido por Evo Morales.

A iniciativa desagradou, mais uma vez, ao governo brasileiro, que avalia caber ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e não ao venezuelano, o anúncio de algum eventual apoio de empresas brasileiras aos projetos de desenvolvimento na Bolívia. A viagem de Chávez e seus gestos em direção ao governo Evo Morales acontecem em meio a duras negociações entre a Bolívia e a Petrobras, que anunciou a paralisação de investimentos no país vizinho devido à nacionalização que retirou da estatal brasileira o controle sobre os campos de gás e as duas refinarias que tem no país.

Um ponto une as empresas convocadas por Hugo Chávez: todas têm, ou pretendem ter, negócios na Venezuela. A Brasken sonha com a implantação de um pólo gás-químico no país, e estava planejando um pólo também na Bolívia. Chávez informou à empresa que no governo Morales caíram em desgraça investimentos como o planejado pela Brasken no país, baseados exclusivamente em capitais e controle privado. A associação com a PDVSA poderia viabilizar o negócio, desde que haja também a participação da boliviana YPFB, com a brasileira como minoritária, teria argumentado Chávez.

As empresas, procuradas pelo Valor, evitaram comentar o assunto, ou manifestaram desconhecer oficialmente qualquer convite venezuelano. Fontes das próprias empresas, do setor privado venezuelano e do governo brasileiro confirmam, porém, que, até a semana passada, pelo menos as construtoras cogitavam aceitar o convite de Chávez, e que a Vale, que tem hoje apenas um escritório na Venezuela, declinou do convite.

É difícil para empresas com interesses na Venezuela, dependentes de decisões governamentais, recusar um convite desses, que traz, implícita, a ameaça de retaliações, segundo avalia um diplomata brasileiro informado sobre os planos de Chávez. Nas conversas com os empresários, o governo brasileiro informou que, caso participem da viagem de Chávez, que as companhias enviem executivos de seus escritórios venezuelanos, e não dirigentes no Brasil, como parecia ser o plano da Odebrecht.

Graduados funcionários do governo brasileiro manifestam seu desagrado com uma ironia: o empenho de incorporar empresas brasileiras à comitiva venezuelana mostra que Chávez não dispõe de muitas opções em sua anunciada colaboração com a Bolívia de Evo Morales.

Hugo Chávez dispõe, porém, da PDVSA, empresa com lucro estimado de US$ 6,5 bilhões, e um orçamento de "gastos sociais" superior a US$ 3,5 bilhões no ano passado. Nesta sexta-feira, durante a visita de Chávez a Morales, a PDVSA assinará, com a estatal boliviana YPFB um acordo de construção de usinas de industrialização de gás em território boliviano, para produção de 300 mil toneladas anuais de GLP (gás de cozinha).

Apoiado em sua "Alternativa Bolivariana para as Américas", o venezuelano ofereceu ao governo Morales a possibilidade de associações em que a YPFB tenha mais que os 51% previstos pela lei de nacionalização dos hidrocarbonetos, oferta comemorada na semana passada pelo presidente da estatal, Jorge Alvarado. A ação na Bolívia é parte de uma estratégia de crescente influência na região, bancada com o petróleo venezuelano.

Chávez tornou-se o principal financiador da dívida argentina, com a compra estimada de US$ 2 bilhões em títulos (e o anúncio de aquisição, neste ano, de mais US$ 1 bilhão), comprou cerca de US$ 250 milhões de dívida do Equador, e prometeu ao Uruguai fornecimento de combustível abaixo dos preços de mercado por 25 anos.
Valor Online

23.5.06

Ligações suspeitas

Ligações cada vez mais suspeitas

Advogada do chefe de facção criminosa é casada com delegado paulista

Candidato a deputado estadual pelo PV, o advogado José Cláudio Bravos diz ter o apoio do crime organizado. A advogada do chefe dos criminosos, Maria Cristina Rachado, é casada com um delegado. A entidade que negociou o fim das rebeliões, a Nova Ordem, é dirigida por um ex-delegado da Polícia Federal. Paridas nos porões do sistema penitenciário, as facções criminosas estão cada vez mais infiltradas nas instituições de São Paulo e contam com o apoio de advogados, contadores, doleiros e outros profissionais.

Ex-presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil em Marília (SP) e pai de um ex-agente penitenciário, Bravos é pré-candidato a deputado estadual pelo PV. Ele diz ter apoio político da maior facção criminosa do estado desde que liderou uma manifestação com 8 mil parentes de presos em frente à Secretaria de Administração Penitenciária, ano passado.

- Depois do protesto fui procurado pelos líderes dos presos. Eles me prometeram apoio político, mandando seus parentes votarem em mim, mas não financeiro. Ano que vem estarei na Assembléia Legislativa - diz Bravos.

Além de negar que receba dinheiro dos criminosos para a campanha, ele também refuta o rótulo de defensor de bandidos:

- Minha luta é pela mudança no sistema carcerário. Isso inclui parentes de presos e funcionários do sistema.

Depois do protesto, Bravos foi denunciado à OAB-SP pelo secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, mas foi absolvido pela comissão de ética da entidade.

Segundo o diretor do Departamento de Investigações contra o Crime (Deic), delegado Godofredo Bittencourt, uma dezena de advogados são investigados por supostas ligações com a facção que domina o crime organizado. Quatro estão presos. Entre os investigados está Maria Cristina Rachado, acusada de comprar por R$200, de um funcionário da Câmara, uma gravação sigilosa da CPI do Tráfico de Armas. Ela é casada com o delegado José Augusto Rachado, que trabalha no setor de precatórios da 4ª Delegacia de São Paulo.

Anteontem, a Corregedoria da Polícia Civil passou a investigar Rachado. O delegado é suspeito de passar à esposa informações sigilosas depois transmitidas aos bandidos. Rachado trabalhou em duas delegacias ficam em áreas dominadas pela facção criminosa. Procurado por intermédio da Secretaria de Segurança Pública, ele não se manifestou.

Na quinta-feira, o advogado Brasílio Matias de Oliveira foi preso ao tentar entregar duas baterias de celular, dois pedaços de serra e um fone de ouvido a um cliente na penitenciária de Avaré. Oliveira, Maria Cristina e outros advogados serão investigados pela comissão de ética da OAB-SP. No ano passado, a entidade puniu mais de 1.800 advogados por motivos diversos, mas expulsou apenas 17.

A Nova Ordem é uma organização da sociedade de interesse público (Oscip) que participou da negociação com os chefes do crime organizado a pedido do governo de São Paulo para encerrar a onda de rebelião de presos. Ela é presidida pelo ex-investigador Ivan Raymondi Barbosa. A diretora jurídica, Iracema Vasciaveo, que foi num avião da Polícia Militar negociar com bandidos em Presidente Bernardes, foi escrivã, investigadora e delegada de polícia. O diretor de Planejamento, Joaquim Trolezi Veiga, foi delegado da Polícia Federal.

Enquanto os moradores de seis cidades paulistas sofrem com o bloqueio de telefones celulares nos presídios, o diretor do Deic mostra temor de falar assuntos delicados ao celular. Ao ser perguntado sobre a colaboração de policiais com o crime, em conversa telefônica com O GLOBO na sexta-feira, Bittencourt respondeu:

- Não posso falar sobre essas coisas pelo telefone, meu filho.
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