16.5.06

Pressão do PT

Ex-diretor de banco diz que PT pressionou
Rodenburg descreve conversa com Delúbio em que, após pedido de ajuda, petista falou de 'furo' de US$ 50 milhões no partido.


O ex-diretor do grupo Opportunity Carlos Rodenburg, ex-cunhado de Daniel Dantas, disse ontem ao Estado que sentiu "uma pressão para ajudar o partido" no encontro que teve com o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

Rodenburg preferiu não utilizar a expressão "extorsão" para caracterizar as insinuações de Delúbio - que, diante de um pedido para azeitar as relações do Opportunity com o governo, passou a falar sobre as dificuldades financeiras do partido e mencionar o "furo" de US$ 40 milhões a US$ 50 milhões que teria.

As conversas - na realidade, dois encontros - ocorreram no primeiro semestre de 2003. Era o início do governo Lula, e o grupo Opportunity precisava de apoio do governo para se manter no controle da Brasil Telecom. Rodenburg confirma que foi Marcos Valério, pivô do esquema do mensalão, quem agendou o encontro com o tesoureiro petista, depois apontado como administrador dos recursos não-declarados movimentados pelo PT.

Rodenburg sustenta que, no final, o dinheiro não foi pago.

Quem apontou a participação de Rodenburg na negociação foi o próprio Daniel Dantas. Os advogados dele alegam num processo norte-americano que o Opportunity sofre perseguição do governo brasileiro por ter se negado a pagar o dinheiro que o PT lhe pediu. Questionado, Dantas disse que quem entendeu tratar-se de extorsão foi seu ex-cunhado.

Leia abaixo a entrevista concedida ontem:

O senhor esteve com Delúbio Soraes?

Duas vezes.

Quando?

Primeiro, no Hotel Blue Tree, em Brasília, em abril ou maior de 2003. O segundo ocorreu 30 dias depois em São Paulo. Foi em um apart hotel perto da Avenida Paulista.

Quem pediu os encontros?

O primeiro, fui eu quem pediu. O segundo, ele. Por sugestão de Marcos Valério.

Como o senhor conheceu Marcos Valério?

Conhecia o sócio dele, Cristiano Paz. Contei a ele as dificuldades que tinhamos com o PT antes das eleições. Ele me disse que conhecia alguém que poderia me ajudar e me apresentou Valério. Valério disse que poderia ajudar e pediu a Delúbio um encontro comigo.

No encontro com Delúbio, o que ele lhe pediu para poder ajudar?

Ele não fez um trade comigo. Isto é, uma troca. Ele disse o seguinte: "Olha, Carlos, estamos com dificuldades financeiras muito grandes, com um furo de caixa de US$ 40 a US$ 50 millhões. O PT está com esse furo e tem que se ajustar".

Ele era o tesoureiro oficial. Ele queria ajuda oficial?

Olha, eu achei o pedido sui generis e disse que iria consultar o Daniel.

O que disse Daniel Dantas quando o senhor contou?

Ele comunicou o fato ao Citigroup em NY, e o Citi disse não. No segundo encontro, desta vez pedido por ele, eu disse que não era possível ajudar. Acho que não agradei.

E aí?

Aí, os fatos falam por si só.

O senhor considerou essa conversa com Delúbio uma extorsão?

Não, senti como uma pressão para ajudar o partido.

Foram essas as únicas duas vezes que vocês tiveram contato com a campanha do PT?

Teve uma terceira vez. Um dia, no escritório do Opportunity em São Paulo, fui informado de que um tal de Ivan Guimarães queria falar comigo. Não tinha marcado encontro, não foi indicado por ninguém. Me trouxe o que, vim a saber depois, era um kit de contribuição do PT, com uma fita do Lula, um broche e um caneta dentro de uma caixa. Achei estranho, disse que concessionária de governo não pode contribuir.

O que o senhor apurou?

Eu tenho um amigo no PT e entreguei a caixa para ela. Ele ficou de verificar o que era aquilo.

O senhor então não contribuiu?

Não.

Estadão