7.5.06

Raízes do novo populismo na AL

Raízes do novo populismo na América Latina

A América Latina vive uma terceira onda esquerdista, na qual convivem governos social-democratas, em países como Chile e Brasil, com perigosas experiências populistas na Venezuela e na Bolívia, possíveis graças à ausência de um sistema de partidos sólido e de instituições capazes de evitar a radicalização política dos novos revolucionários latino-americanos. Esta é a conclusão a que chegou o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade da República do Uruguai, Jorge Lanzaro, autor do artigo “A terceira onda das esquerdas latino-americanas: entre o populismo e a social-democracia”.

— O presidente venezuelano, Hugo Chávez, chega ao poder porque seu país não tem um sistema de partidos articulado, ele se move num horizonte sem oposição — explicou Lanzaro ao GLOBO, em entrevista por telefone, de Montevidéu.

Segundo ele, “a fraqueza institucional da Venezuela é o calcanhar-de-aquiles do presidente venezuelano”, porque isso o leva a aprofundar um estilo autoritário que poderia virar seu pior inimigo.

— O único populismo que deu certo no continente foi o mexicano (com o Partido Revolucionário Institucional, o PRI), porque foi o único que conseguiu se institucionalizar. Assim durou 70 anos — afirmou o uruguaio.

O ‘petropopulismo’ de Hugo Chávez

Já o populismo de Chávez, disse Lanzaro, se sustenta numa liderança carismática e num relacionamento absolutamente desorganizado com as massas populares. Chávez, assegurou o cientista político, não busca preservar as instituições e tem uma forte tendência ao autoritarismo.

— Com Chávez temos um petropopulismo, pois ser populista implica ter recursos para distribuir e Chávez tem o dinheiro do petróleo, uma quantidade de dinheiro que nenhum outro populista teve — declarou Lanzaro.

De fato, os recursos de que dispõe Chávez são enormes. Somente no ano passado, foram US$ 45 bilhões. Segundo a imprensa local, este ano o governo injetará cerca de US$ 4,5 bilhões nas chamadas missões bolivarianas, os programas sociais implementados por Chávez nas áreas de saúde, educação e alimentação, entre outras.

Na visão de Lanzaro, a Venezuela é um dos casos mais radicais do continente. Já os governos de países como Uruguai, Brasil e Chile integram sistemas de partidos mais sólidos, o que os obrigou a moderar o discurso e a aceitar as regras do jogo democrático e a disciplina do mercado liberal.

Divisões no país contêm Morales

A Bolívia está em mãos de um populista, mas por enquanto um pouco mais moderado do que Chávez.

— Evo Morales parece ser um pouco mais cuidadoso, mais prudente. Primeiro, não conta com os recursos de Chávez e, segundo, enfrenta enormes dificuldades internas que impedem a radicalização de seu governo.

De fato, o presidente boliviano está às voltas com ameaças de greve no departamento (estado) de Santa Cruz, o mais rico do país, e em setores delicados como saúde e educação.

— Morales enfrenta um cenário de fragmentação regional e econômica. Chávez tem total liberdade para fazer o que quiser — enfatizou Lanzaro.

Resta saber se o presidente boliviano atuará em função das limitações que existem em seu país ou optará por aprofundar sua aliança com Chávez e desafiar partidos e instituições.

O populismo também ressurgiu no Peru, onde o candidato nacionalista Ollanta Humala, do movimento União pelo Peru, venceu o primeiro turno das eleições presidenciais de abril, com pouco mais de 30% dos votos. Humala, um ex-militar que liderou uma tentativa de golpe de Estado contra o governo de Alberto Fujimori (1990-2000), defende a nacionalização dos recursos naturais do país e a revisão de todos os contratos assinados com empresas multinacionais.

— Muitas vezes dançamos sobre o túmulo do populismo, mas ele sempre ressurge. E ressurge em países com frágeis sistemas partidários, em países que enfrentam fortes mudanças e graves crises institucionais.
Globo

Um comentário:

Anônimo disse...

best regards, nice info
»