16.5.06

Dantas diz e não diz

"Compra da Gamecorp ficou em estágio preliminar"
Dantas ressalta, porém, que não foi consultado sobre o assunto; ele também não confirma se deu dinheiro para o PT


O banqueiro Daniel Dantas, controlador do Opportunity, disse ontem ao Estado que a negociação envolvendo a Brasil Telecom e a Gamecorp - empresa de Fábio Luís, filho do filho do presidente Lula -, ficou em "estágio preliminar". A Gamecorp recebeu cerca de R$ 10 milhões da Telemar para tê-la como sócia. Dantas fez questão de frisar que ninguém o procurou para falar do assunto. "Se a compra fosse se concretizar, eu seria consultado", disse. Sobre outras denúncias publicadas pela revista Veja, Dantas preferiu não dar respostas precisas. A seguir, a entrevista:

Afinal, o Opportunity deu ou não deu dinheiro para o PT?

Foi sugerido que nós pudéssemos ajudar a cobrir o déficit que o PT tinha.

Para ajudar vocês na briga pela Brasil Telecom?

A minha visão é que o PT tinha alguma coisa a favor de outros grupos, que passaram a pretender o controle dos ativos que nós tínhamos direito por contrato.

Esse grupo era a Telemar?

A informação que tivemos, e não posso dizer se é verdadeira ou não, é que existia um acordo entre alguns elementos do governo e a Telemar para tomar os ativos que pertenciam aos fundos administrados pelo Opportunity.

Sobre contas de políticos lá fora, o senhor tem a papelada?

Não, não tenho.

O senhor teve algum contato com a Veja sobre este material?

Tive, me consultaram, mas disse que essa história não era verossímil.

Esse material publicado foi oferecido ao Opportunity?

Não, não foi.

O senhor se aproximou da Gamecorp, do filho do presidente Lula, para agradá-lo?

Não iniciamos as conversas. O Opportunity administra os fundos que eram donos da Brasil Telecom. Não fiz parte, em nenhum momento, do time executivo da empresa e tampouco do seu conselho de administração. Portanto, grande parte ou mesmo a totalidade das decisões da empresa são tomadas pelos seus executivos e instâncias administrativas. Poucas vezes pediam ajuda em decisões, só quando o tema saia do escopo, como foi no caso de impedir que a Brasil Telecom pagasse um sobrepreço pela CRT (Companhia Rio-grandense de Telecomunicações).

No caso da Gamecorp, ninguém o consultou?

Não. Se a compra fosse se concretizar, eu seria consultado. Mas, como ela não se deu, ficou em um estágio preliminar, não consistindo compromisso, a proposta não chegou a mim.

O senhor, em algum momento deste governo, se sentiu extorquido?

No meu depoimento na CPI, disse que não. Depois, no processo que corre em Nova York entre o Citi e Opportunity, tivemos acesso a documentação do Citi e vice-versa. Como existe confidencialidade destas informações, elas existem para uso específico das ações. Não posso dizer mais nada.

Mas como é que elas vazaram?

Foi vazada uma carta de nossos advogados ao juiz de Nova York. Aí começou a confusão. O que posso dizer é que, se antes eu tinha acesso à cena, passei a enxergar os bastidores, mas não posso comentar.

Esse assunto tem conexão direta com o processo ainda em aberto na disputa pela Brasil Telecom?

Não acredito. Me parece mais um assunto da área política.

A Telecom Italia cancelou a compra da sua parte na BrT?

O contrato de compra que assinaram conosco tinha validade de um ano. A corte em Nova York nos impediu de renová-lo.

O senhor tem esperança de reaver o controle da Brasil Telecom?

De acabar comprando, não. Nosso objetivo é ter nossos direitos assegurados e vender nossa participação quando tudo estiver resolvido. Não tenho obrigação de vender para Telecom Italia e acho que esta situação do controle da empresa tem que ser resolvida de alguma forma.
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Em nota, banqueiro confirma entrevista e chama lista de contas de 'inverossímil'

O banqueiro Daniel Dantas divulgou nota ontem em que classifica como "inverossímil" a lista de supostas contas no exterior de políticos, sobretudo petistas, publicada pela revista Veja desta semana. Na reportagem, o banqueiro é citado como uma das fontes da informação.

Dantas nega que tenha encomendado qualquer tipo de investigação sobre pessoas do governo ou outras autoridades. Mas confirma o conteúdo de entrevista publicada na mesma edição da revista, na qual diz que o PT havia tentado extorquir perto de US$ 50 milhões.

Leia abaixo a nota:

"Sobre a matéria da revista Veja de 17 de maio de 2006, intitulada 'A Guerra nos Porões', tenho a esclarecer que:

1. Não encomendei nenhuma investigação de qualquer natureza sobre atividades ou pessoas do governo federal ou de qualquer autoridade.

2. Nunca me ocupei em preparar dossiês de qualquer natureza. Como também nunca os encomendei a ninguém, a nenhum auxiliar, a nenhum colaborador ou contratado. Se dados foram produzidos no curso de algum procedimento já de conhecimento público, tal sucedeu sem minha autorização.

3. Tive conhecimento do teor de parte dos papéis que serviram à matéria da revista Veja, mas jamais tive acesso a eles. Manifestei meu descrédito sobre o assunto. Na minha opinião era - e é - inverossímil.

4. Não entreguei à revista Veja, a nenhum repórter, editor, jornalista ou qualquer funcionário - como também para nenhum outro veículo de comunicação nacional ou internacional - nenhum papel, nenhum arquivo eletrônico, nenhuma informação ou declaração acerca das informações publicadas na citada matéria da revista Veja.

5. Concedi, em 11 de maio de 2006, uma entrevista ao colunista Diogo Mainardi. Quanto ao restante das informações colocadas em matéria separada, nada partiu de mim.

Daniel Valente Dantas"

Estadão