24.5.06

Entrevista sobre corrupçao

'PC seria aprendiz em meio a essa indústria do PT'
Entrevista: Altivo Ovando Júnior, secretário de Habitação de Mauá

Altivo Ovando Júnior, de 45 anos, avalia que o suposto esquema de corrupção nas administrações municipais do PT é muito mais organizado e grave que o de Paulo César Farias, o PC, tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor (1990-1992).

Assassinado a tiros em junho de 1996, PC tornou-se um símbolo da corrupção no País. "Eu digo que, infelizmente, o PC Farias seria só aprendiz em meio a essa indústria de arrecadar dinheiro que o PT montou", comparou o secretário de Habitação de Mauá, na Grande São Paulo.

Ovando Júnior conversou com o Estado ontem às 18h30 e confirmou as declarações prestadas em fevereiro ao Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaerco), braço do Ministério Público Estadual que investiga a corrupção e desvio de recursos públicos. "Não lembro a data exata, mas prestei vários depoimentos em Santo André", afirmou.

Ele ressaltou ter presenciado conversas do então presidente nacional do PT, José Dirceu, com o prefeito petista Oswaldo Dias (1997-2004), de quem foi secretário da Habitação entre 1997 e 2001. Ele retomou recentemente a secretaria em Mauá, agora sob a gestão do prefeito Leonel Damo (PV). Antes, relembra, trabalhou como superintendente de obras viárias de Marta Suplicy em São Paulo, por seis meses. "Eu deixei os dois cargos por problemas dessa natureza, de institucionalização da corrupção", defendeu-se.

O ex-ministro José Dirceu esteve no gabinete do ex-prefeito de Mauá Oswaldo Dias, no período em que o sr. foi secretário?

Ele foi várias vezes ao gabinete do prefeito. Teve vários encontros, era comum ele comparecer lá.

O sr. presenciou essas conversas? Ele falava sobre arrecadação de dinheiro para o PT?

Ele comentava abertamente que era obrigatório ter esquema de arrecadação de dinheiro, que todo município petista participava. Os esquemas de arrecadação eram obrigatórios em todas as cidades.

E envolvia o quê? Contratos de ônibus, de lixo?

Eu não gerenciava, nunca gerenciei. Mas com lixo e construtoras era em todas as prefeituras. Era aberto, todo mundo sabia que envolvia construtoras, contratos de lixo, essas coisas. Hoje isso está público, todo mundo conhece. Mas eles sempre fizeram, sempre existiu essa indústria de arrecadar dinheiro, infelizmente.

O sr. já trabalhou para a ex-prefeita Marta Suplicy?

Trabalhei por seis meses como superintendente de Projetos Viários da Prefeitura de São Paulo. Eu deixei o cargo pelo mesmo motivo pelo qual larguei a Secretaria de Habitação de Mauá, por problemas dessa natureza, de institucionalização da corrupção.

Por que deixou os dois empregos?

Deixei quando vieram e me enquadraram: "Ou você faz ou está fora." Saí na hora. Hoje todo mundo sabe dessa indústria de corrupção montada pelo PT. Mas ela já estava institucionalizada havia muito tempo.

E essa cobrança era pública, feita abertamente?

Digo que, infelizmente, o PC Farias seria só aprendiz em meio a essa indústria de arrecadar dinheiro que o PT montou. Infelizmente, o PC seria só aprendiz.

Além de secretário, o sr. é professor?

Sim. Sou professor de direito na UniABC. Sou formado em arquitetura e em direito. Tenho escritório de advocacia, mas não exerço, pois é proibido por eu estar ocupando cargo público.
Estadão

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