15.5.06

PCC e o dízimo

PCC arreda R$ 1 milhão por mês com dízimo

O Primeiro Comando da Capital (PCC) arrecada atualmente perto de R$ 1 milhão por mês, conta com cerca de 100 mil simpatizantes dentro das prisões e domina 90% do sistema prisional do Estado. Nas ruas de São Paulo, não existe hoje um grande crime que ocorra sem que seus autores tenham de pagar um porcentual da receita da ação - o chamado dízimo - à cúpula da facção. A organização tem ligação com a maioria das bocas de drogas da região central, zonas leste, sul, norte, oeste da capital e Baixada Santista.

Fundado em 1993, o PCC conseguiu sair das cadeias e vem arregimentando em suas fileiras cada vez mais traficantes e ladrões em liberdade. Com a ampliação de ligações do lado de fora das prisões, a facção nunca arrecadou tanto, a ponto de ter se tornado uma espécie de "banco do crime". Além de garantir proteção aos simpatizantes, na fase atual, financia a ação de quadrilhas - dinheiro com retorno garantido.

Suporte financeiro

Com capacidade para oferecer suporte financeiro aos bandidos num meio em que ter capital de giro é estratégico, o PCC não se impõe entre os criminosos paulistas apenas pela ameaça da violência. Oferece a possibilidade de firmar parcerias aos bandidos sem capital, dispostos a ganhar a vida com o crime e dividir os ganhos com a organização.

Responsável pela consolidação dessa nova estrutura, a liderança de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, exercida desde outubro de 2002, conquistou o reconhecimento da bandidagem, aumentando o quadro de simpatizantes.

A mudança na estrutura passou a ser detectada nas escutas telefônicas feitas pela polícia. A antiga função dos chamados pilotos, responsáveis por coordenar os ganhos da facção nas diferentes penitenciárias do Estado, passou a ser exercida também nas ruas da cidade. Os pilotos ou gerentes são responsáveis pela coordenação das ações em diferentes regiões da cidade. Eles arrecadam dinheiro junto a bocas de drogas, linhas de lotação dominadas pela organização e em ações de quadrilhas ligadas à facção.

Na zona leste, as bocas do Jardim Elba, uma das principais regiões do tráfico na cidade, do Itaim Paulista e de Cidades Tiradentes são dominadas pelo PCC. As bocas do Grajaú, Capão Redondo, Favela do Pantanal, na divisa da capital com Diadema, Paraisópolis, Heliópolis, todos na zona sul, também. Na zona norte, as de Parada de Taipas, Brasilândia e Limão são da organização. A distribuição de drogas na Baixada Santista também.

O maior seqüestro ocorrido no ano passado em São Paulo, com resgate pago de R$ 1,8 milhão, por exemplo, foi organizado por dois pilotos do PCC, Marcelo Vieira, o Capetinha, e Deivid Surur, o DVD, para financiar o tráfico na região. Também foram identificados os laços do grupo com linhas de perueiros das zonas sul, norte e leste. Os roubos a condomínio de luxo, crime que atemoriza a classe média alta de São Paulo, também são coordenados pelas lideranças do PCC.

A transição

Criado nas celas da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté (o chamado Piranhão), o PCC surgiu inicialmente para pedir melhorias nas condições penitenciárias no Estado. A principal reivindicação da organização era a desativação do Centro de Readaptação Penitenciária de Taubaté, objetivo conquistado no ano 2000, depois de um motim que deixou nove mortos.

Durante os sete primeiros anos, o governo paulista negou a existência da organização, alegando que se tratava de exagero da imprensa. Mas a capacidade de mobilização da facção tornou-se incontestável depois da megarrebelião ocorrida em fevereiro de 2001, que envolveu 25 presídios dominados pelas ordens do comando do PCC.

A repercussão obtida em todo o mundo levou o PCC a subir um degrau e alcançar um novo patamar. Ao mesmo tempo em que passou a ser visto com mais respeito e simpatia pelos criminosos, as autoridades do Estado iniciaram uma ofensiva numa tentativa de isolar suas lideranças.

Os dois primeiros anos depois da megarrebelião, contudo, foram uma das fases mais complicadas para a organização. Além da investigação acirrada da polícia, a cúpula da organização estava rachada, dando início a uma série de acertos de contas que levou à baixa de pelo menos 15 importantes lideranças da organização.

Em julho de 2001, cinco meses depois de comandar a megarrebelião de fevereiro, morreu enforcado Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra. Ele foi acusado de mandar matar injustamente um integrante do partido. Em fevereiro de 2002, foi a vez de Mizael Aparecido da Silva, o Miza, um dos fundadores da organização e criador do estatuto do PCC, também ser assassinado.

Outros dois fundadores ficaram em maus lençóis dentro da organização. Cesar Augusto Roriza, o Cesinha, foi apontado como principal suspeito de mandar matar a advogada Ana Maria Olivatto Camacho, mulher de Marcola. Ele foi expulso do PCC em outubro de 2002, junto com José Márcio Felício, o Geléião, outro fundador do PCC, que passou a sofrer resistência na cúpula por defender atentados em lugares públicos no Estado.

A partir de novembro de 2002, Geléião delatou à polícia os principais comandantes da organização e explicou como funcionava o organograma do PCC.

Depois de todas essas baixas e com o isolamento da principal liderança do PCC no presídio de Presidente Bernardes, o Governo chegou a divulgar que o PCC estava morto. Mas era um enorme equívoco. A liderança de Marcola se consolidava nas ruas, a organização concentrava capital e mudava suas estratégias, criando as condições para os atentados que ocorreram no final de semana.
Estadão

Um comentário:

Anônimo disse...

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