23.5.06

Ligações suspeitas

Ligações cada vez mais suspeitas

Advogada do chefe de facção criminosa é casada com delegado paulista

Candidato a deputado estadual pelo PV, o advogado José Cláudio Bravos diz ter o apoio do crime organizado. A advogada do chefe dos criminosos, Maria Cristina Rachado, é casada com um delegado. A entidade que negociou o fim das rebeliões, a Nova Ordem, é dirigida por um ex-delegado da Polícia Federal. Paridas nos porões do sistema penitenciário, as facções criminosas estão cada vez mais infiltradas nas instituições de São Paulo e contam com o apoio de advogados, contadores, doleiros e outros profissionais.

Ex-presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil em Marília (SP) e pai de um ex-agente penitenciário, Bravos é pré-candidato a deputado estadual pelo PV. Ele diz ter apoio político da maior facção criminosa do estado desde que liderou uma manifestação com 8 mil parentes de presos em frente à Secretaria de Administração Penitenciária, ano passado.

- Depois do protesto fui procurado pelos líderes dos presos. Eles me prometeram apoio político, mandando seus parentes votarem em mim, mas não financeiro. Ano que vem estarei na Assembléia Legislativa - diz Bravos.

Além de negar que receba dinheiro dos criminosos para a campanha, ele também refuta o rótulo de defensor de bandidos:

- Minha luta é pela mudança no sistema carcerário. Isso inclui parentes de presos e funcionários do sistema.

Depois do protesto, Bravos foi denunciado à OAB-SP pelo secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, mas foi absolvido pela comissão de ética da entidade.

Segundo o diretor do Departamento de Investigações contra o Crime (Deic), delegado Godofredo Bittencourt, uma dezena de advogados são investigados por supostas ligações com a facção que domina o crime organizado. Quatro estão presos. Entre os investigados está Maria Cristina Rachado, acusada de comprar por R$200, de um funcionário da Câmara, uma gravação sigilosa da CPI do Tráfico de Armas. Ela é casada com o delegado José Augusto Rachado, que trabalha no setor de precatórios da 4ª Delegacia de São Paulo.

Anteontem, a Corregedoria da Polícia Civil passou a investigar Rachado. O delegado é suspeito de passar à esposa informações sigilosas depois transmitidas aos bandidos. Rachado trabalhou em duas delegacias ficam em áreas dominadas pela facção criminosa. Procurado por intermédio da Secretaria de Segurança Pública, ele não se manifestou.

Na quinta-feira, o advogado Brasílio Matias de Oliveira foi preso ao tentar entregar duas baterias de celular, dois pedaços de serra e um fone de ouvido a um cliente na penitenciária de Avaré. Oliveira, Maria Cristina e outros advogados serão investigados pela comissão de ética da OAB-SP. No ano passado, a entidade puniu mais de 1.800 advogados por motivos diversos, mas expulsou apenas 17.

A Nova Ordem é uma organização da sociedade de interesse público (Oscip) que participou da negociação com os chefes do crime organizado a pedido do governo de São Paulo para encerrar a onda de rebelião de presos. Ela é presidida pelo ex-investigador Ivan Raymondi Barbosa. A diretora jurídica, Iracema Vasciaveo, que foi num avião da Polícia Militar negociar com bandidos em Presidente Bernardes, foi escrivã, investigadora e delegada de polícia. O diretor de Planejamento, Joaquim Trolezi Veiga, foi delegado da Polícia Federal.

Enquanto os moradores de seis cidades paulistas sofrem com o bloqueio de telefones celulares nos presídios, o diretor do Deic mostra temor de falar assuntos delicados ao celular. Ao ser perguntado sobre a colaboração de policiais com o crime, em conversa telefônica com O GLOBO na sexta-feira, Bittencourt respondeu:

- Não posso falar sobre essas coisas pelo telefone, meu filho.
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