12.5.06

Palavras do ministro boliviano

Brasil insinuou usar Exército, diz boliviano

Em depoimento ao Senado, o ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Andrés Soliz Rada, disse que, durante a preparação do decreto que nacionalizou o gás e o petróleo, havia "insinuações muito diretas do governo brasileiro" de que poderia haver até uma intervenção militar contra o país.
"A realidade da nacionalização boliviana é que, por detrás das empresas, há enormes potências mundiais. França, Espanha, EUA, Brasil. Como recuperar a direcionalidade do negócio petroleiro e ao mesmo tempo não gerar um desastre para a Bolívia?", disse, em sabatina ontem à noite.
"E poderia ter acontecido. Havia insinuações muito diretas do governo brasileiro. Prestem atenção na imprensa brasileira, que chega a dizer que, em caso de desabastecimento -claro, se 80% de São Paulo funciona com gás boliviano-, e, se eu digo aos brasileiros: "As válvulas estão sendo fechadas", aí vem o Exército brasileiro", afirmou.
"Mais ainda, a 400 km da nossa fronteira, há uma base militar norte-americana no Paraguai [os dois países negam]. Como vamos caminhar todo o conjunto do cenário para ver até onde é possível avançar? E consideramos que era possível avançar via esse decreto."
Ecoando as críticas de Morales à Petrobras, o ministro disse que, para a Bolívia participar do projeto do gasoduto vindo da Venezuela, é necessário que as empresas participantes sejam estatais.
"E aqui surge um grandíssimo problema com a Petrobras. Sessenta por cento da Petrobras está nas mãos de multinacionais. Será investida uma enorme quantidade de dinheiro para que as petroleiras sócias de Petrobras se beneficiem? Isso é um problema muito grave para a Petrobras."
Soliz Rada disse ainda que o Brasil fez "uma jogada muito tonta" ao dizer que a Venezuela venderia gás a US$ 1 o milhão de BTU. Segundo ele, essa afirmação foi desmentida pelo próprio governo venezuelano a ele, que teria dito que o preço era US$ 5 o milhão de BTU.
Finalmente, o ministro falou também que a Petrobras atualmente pratica uma "relação incestuosa" porque produz o gás do lado boliviano e vende para ela mesma do lado brasileiro.
Folha