Lula sai de mãos abanando e diz que Petrobrás vai investir na Bolívia
Questões de interesse do Brasil não foram discutidas, como as garantias contratuais da estatal no país
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu de mãos abanando e desautorizou o presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, no encontro de cúpula, ontem, em Puerto Iguazú, no qual Brasil, Argentina, Venezuela e Bolívia deveriam discutir a decisão do governo boliviano de nacionalizar a produção de gás natural e petróleo, ocupando com forças militares a refinaria da Petrobrás.
O encontro confirmou as expectativas criadas pelas declarações feitas pelos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales, desde anteontem à noite e na manhã de ontem, horas antes da reunião. Ao final, depois de três horas de conversa, os quatro presidentes divulgaram um comunicado lacônico com compromissos genéricos a respeito da integração dos países do Sul e o aval do bloco ao projeto pessoal de Chávez de construir o gasoduto que atravessará a América do Sul.
Nenhuma das questões objetivas para o Brasil foi mencionada. Não foi anunciada nenhuma decisão sobre as garantias contratuais da Petrobrás, nem sobre a aceitação pela Bolívia de uma eventual arbitragem internacional para o caso. Apenas foi reiterado o reconhecimento à decisão soberana de Evo Morales e a reafirmação de "soluções democráticas" para as "questões pendentes" no "diálogo bilateral".
Mais cedo, o próprio Evo Morales dera o tom do encontro: "A Petrobrás está fazendo chantagem". Em Brasília, simultaneamente, o encarregado de negócios da Embaixada da Bolívia, Pedro Gumucio, sugeria que o Brasil reduzisse seus impostos para evitar que um reajuste do preço do gás seja repassado aos consumidores.
O presidente Lula foi ao encontro dizendo-se disposto a negociar. Mas parecia alheio ao que acontecia ao seu redor e garantiu que a Petrobrás continuará investindo na Bolívia, desautorizando o presidente da empresa, Sérgio Gabrielli, que dissera o contrário na véspera. Gabrielli convocou uma entrevista coletiva na quarta-feira para afirmar que estava suspendendo novos investimentos na Bolívia, inclusive os já anunciados, como a ampliação do gasoduto que traz o produto ao mercado brasileiro.
"Os investimentos ou não da Petrobrás são decisão de uma empresa que tem autonomia para investir e que vai continuar investindo no estrangeiro, inclusive na Bolívia, de acordo com acordos que possam ter entre a YPFB, o governo da Bolívia e o governo brasileiro", rebateu Lula. O presidente aproveitou o encontro para avisar a Evo Morales que espera o cumprimento dos contratos para continuar investindo no país.
O desdobramento do encontro acontecerá, na próxima semana, segundo o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia. Uma missão do governo brasileiro, formada por representantes da Petrobrás e do Itamaraty, irá a La Paz para iniciar as negociações. "É assim que se faz negociação, é assim que se respeitam os direitos", definiu o presidente Lula.
Segundo ele, "tudo o que foi dito antes da reunião pouco vale diante do que está escrito na nota". Os bolivianos dão como certo que o o aumento do preço do gás, sem nenhuma preocupação de acenar com a possibilidade de indenizar os investimentos realizados pela Petrobrás ou aceitar a intermediação de um tribunal arbitral para discutir a questão do preço do gás. O presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, foi com Lula para Puerto Iguazú, mas evitou declarações.
Estadão
Um comentário:
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