MST em Pernambuco

MST faz saque e bloqueia 5 estradas em Pernambuco
Os sem-terra também invadiram prédios do Incra e fazendas em outros Estados
Agricultores pedem reforma agrária mais ágil, liberação de créditos para o campo e renegociação das dívidas dos pequenos produtores

Manifestantes bloqueiam estrada em Pernambuco para pressionar por desapropriação de terra

Em seis horas de ações simultâneas em Pernambuco, agricultores ligados ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) saquearam ontem um caminhão, bloquearam cinco rodovias, promoveram manifestações em três agências bancárias e invadiram duas representações do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) no Estado. A onda de protestos foi batizada pelos sem-terra de "jornada nacional de luta", começou durante a madrugada e, segundo diz o movimento, só deve terminar domingo. Os agricultores reivindicam mais agilidade no processo de reforma agrária, a renegociação das dívidas dos pequenos agricultores e a disponibilização de recursos, em forma de crédito, para o campo. Não houve confronto no primeiro dia de manifestações, mas cinco integrantes do movimento foram presos quando transferiam para um veículo parte da mercadoria saqueada de um caminhão em Quipapá (190 km de Recife). Portando foices e facões, os sem-terra ainda tentaram fugir com o veículo, mas foram perseguidos e detidos por policiais militares e rodoviários federais em uma estrada vicinal, perto do local do saque. O caminhão estava carregado com massas e biscoitos e foi atacado às 10h, durante um bloqueio na BR-104, próximo à divisa de Pernambuco com Alagoas. Cerca de 150 pessoas teriam participado da ação. Segundo o policial rodoviário federal que atendeu a ocorrência, José Jataí, os saqueadores teriam levado metade da carga, de 13 toneladas, e roubado ainda R$ 200 da Vitamassa, empresa dona do veículo. Ainda teriam roubado R$ 30 do motorista Amauri de Araujo. O policial estima que apenas 10% dos produtos saqueados na ação foram recuperados. O supervisor de segurança patrimonial da Vitamassa, Adilson Pereira, não divulgou o prejuízo da empresa. A carga, disse ele, não tinha o seguro. Ouvidos pela Folha, por telefone, um dos presos, José Ivandil Rodrigues da Silva, 29, negou envolvimento no saque. "Fui enganado", disse. "Me chamaram para botar fogo [bloquear] na estrada e depois pediram para eu carregar as mercadorias, sem saber de nada", declarou. Silva, que mora no acampamento São Joaquim, controlado pelo MST, afirma que foi preso apenas por estar próximo ao veículo. "Estou fora disso, não participei de nada." O MST informou que aguarda um comunicado oficial sobre a prisão dos sem-terra para decidir o que fazer. O movimento confirmou, entretanto, que seus advogados já foram acionados para cuidar do caso.
Outros Estados
O MST também invadiu sedes do Incra em Fortaleza (CE) e Campo Grande (MS). Já em Minas Gerais, o MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra) invadiu anteontem a fazenda São Domingos, no município de Comendador Gomes (645 km de Belo Horizonte). O MLST também realizou protesto ontem em Alagoas. Segundo a Polícia Rodoviária Estadual, cerca de 50 manifestantes interditaram a rodovia AL-101, em Porto Calvo (110 km de Maceió), das 8h às 12h.