8.11.06

A volta do MST!

MST faz primeira invasão no Pontal após 2º turno

20 famílias ocupam fazenda que, segundo o movimento, é do Incra e deveria ter sido usada para assentamento


Integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) invadiram na madrugada de ontem a Fazenda São Mateus, no município de João Ramalho, no Pontal do Paranapanema, extremo oeste do Estado de São Paulo. O grupo de 20 famílias cortou a cerca, entrou na propriedade e iniciou a construção de barracos. Essa é a quarta fazenda invadida na região depois do fim da trégua dada pelo MST ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - a primeira depois do segundo turno das eleições.

A fazenda, de 54 hectares, é usada para pecuária. O proprietário, Serafino Fianbelli, registrou a invasão na delegacia. Segundo ele, os sem-terra também estouraram o cadeado de uma porteira. Fianbelli deve entrar hoje com pedido de reintegração de posse na Justiça.

De acordo com o coordenador do MST, Luciano de Lima, desde 1981 a área pertence ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), mas teria sido ocupada indevidamente por um pecuarista da região. 'Essa terra deveria ter sido usada para assentar famílias.'

Lima disse ter obtido em um cartório da Comarca de Rancharia cópias do documento de transmissão da fazenda para o Incra.

Segundo a assessoria do órgão em São Paulo, a área foi repassada à União porque o antigo dono morreu e não deixou herdeiros. O governo federal destinou-a para reforma agrária em 2005. O Incra, que considera irregular a posse de Serafino Fianbelli, vai entrar com ação para reaver a terra.

DESPEJO

As 300 famílias do Movimento dos Sem-Terra que invadiram, no dia 25 de outubro, quatro dias antes do segundo turno das eleições presidenciais, as fazendas São Luiz, em Presidente Prudente, Santa Cruz, em Mirante do Paranapanema, e São José, em Teodoro Sampaio, foram despejadas pela Justiça.

Os sem-terra montaram acampamento em um terreno pertencente à Rede Ferroviária Federal (RFFSA), vizinho da Santa Cruz, em Mirante, mas foram notificados para deixar também essa área.

De acordo com o coordenador estadual Valmir Ulisses Sebastião, os oficiais de Justiça estão exigindo que o acampamento seja transferido para uma distância de 10 quilômetros do local.

Segundo Sebastião, a exigência é arbitrária. 'Eles apresentaram um mandado expedido no início do ano, em outro processo. Não houve uma nova ordem judicial.' Os sem-terra não estão dispostos a deixar a área da RFFSA.

Descontente com os resultados do primeiro mandato de Lula em relação à reforma agrária, o MST promete intensificar suas ações no ano que vem.
Estadão

6.11.06

Telefonemas ligam Berzoini a Freud!!

Quebra de sigilo revela comunicação intensa entre escritório do então presidente do PT e empresa do segurança

A quebra dos sigilos telefônicos da empresa Caso Sistemas de Segurança Ltda., pertencente ao ex-guarda-costas do presidente Lula Freud Godoy e sua mulher, Simone Godoy, registra intensa comunicação com o escritório do presidente licenciado do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). Em agosto e setembro há pelo menos 32 ligações dos telefones do comitê de campanha de Berzoini, em São Paulo, para a Caso.

Apesar de se dizer inocente no caso do dossiê Vedoin, Berzoini foi afastado da coordenação da campanha de Lula quando estourou o escândalo da compra do dossiê. Freud foi apontado por Gedimar Passos, ex-integrante do núcleo de inteligência da campanha, como a pessoa no PT que mandou pagar pelo dossiê. Depois, Gedimar mudou seu depoimento, passando a isentar Freud e a afirmar que citou-o por pressão do delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno, primeiro a interrogá-lo.

Algumas das ligações coincidem com um momento crucial do processo de negociação do dossiê. Há uma seqüência de seis telefonemas nos dias 11, 12 e 13 de setembro. No dia 14, conforme as investigações da PF, Hamilton Lacerda, ex-assessor do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), levou ao Hotel Ibis o dinheiro destinado à compra do dossiê.

A mais longa delas, com cinco minutos de duração, foi realizada às 11h08 do dia 13 de setembro. Outra seqüência de 13 telefonemas do comitê de Berzoini para a Caso é identificada entre os dias 21 e 29 de setembro, às vésperas do primeiro turno das eleições. No dia 29, quando Freud Godoy prestou depoimento na superintendência da Polícia Federal em São Paulo, há o registro de duas chamadas entre os dois escritórios: uma de apenas sete segundos e outra de 3 minutos e 17 segundos.

Procurado, o advogado de Freud Godoy, Augusto Botelho, explicou que a Caso presta serviços de segurança ao comitê de Berzoini e as ligações são decorrentes deste contrato. Segundo Botelho, as chamadas refletem as conversas de funcionários do comitê do deputado com funcionários da empresa de Freud discutindo assuntos relacionados aos serviços de segurança e não têm relação com o dossiê. “Freud Godoy não vai à Caso com freqüência”, diz Botelho. O advogado reitera que seu cliente não está envolvido no escândalo.

Não há, até o momento, registro de telefonemas entre os celulares pessoais de Freud e Berzoini. Das 32 chamadas, nove têm duração inferior a um minuto. A reportagem pediu contato com o deputado, que estava viajando, por meio de sua assessoria. Até 19 horas não havia recebido retorno.

FRENESI NO DIA 13

Em seu celular pessoal, com prefixo de Brasília, Berzoini recebeu dezenas de ligações do comitê de campanha de Lula. A maior seqüência delas é precisamente no dia 13 de setembro, quando Gedimar aguarda o recebimento do dinheiro no hotel.

Naquela mesma semana, Expedito Veloso e Oswaldo Bargas, do alto escalão da campanha de Lula, estavam em Cuiabá checando a entrevista que Luiz Antônio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas, daria acusando a administração tucana no Ministério da Saúde de cometer irregularidades.

Foram 11 chamadas, todas entre 19h e 23h. No dia 12 de setembro, Berzoini recebe duas ligações de Jorge Lorenzetti, chefe do núcleo de inteligência do PT e patrão de Gedimar.
Estadão

5.11.06

PT contra a Imprensa!

Embalado pela vitória, PT ensaia ‘terceiro turno’ contra a imprensa

Lula prometeu melhorar relação com a mídia, mas o pós-eleição mostrou hostilidade de petistas contra jornalistas

A festa da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornou-se um terceiro turno contra a mídia. Dizia uma faixa na Avenida Paulista, domingo à noite, durante o comício da vitória: “O povo venceu a mídia.”

No dia seguinte, na volta de Lula a Brasília, duas centenas de petistas empurraram e xingaram jornalistas. Um repórter da Folha de S. Paulo levou uma bandeirada. Um automóvel da TV Globo acabou coberto por adesivos da campanha de Lula. Temendo novas agressões, funcionários da área técnica da emissora trancaram-se no carro de link - para tentar abrir a porta, uma repórter teve de esmurrá-la.

“Acho que a imprensa deveria fazer uma auto-reflexão sobre o que ocorreu nestas eleições”, declarou Marco Aurélio Garcia, presidente interino do PT, coordenador da campanha de Lula e assessor influente do presidente, assumindo a visão de que jornais e jornalistas têm ao menos parte da culpa pela baderna de que foram vítimas.

Garcia condena manifestações desse tipo. “Sou contra toda manifestação que conduza à violência”, ressalta. Os militantes que proferiram ameaças contra jornalistas usavam crachás de ministérios e muitos são figuras carimbadas de atos públicos de Brasília. Se houvesse interesse, não seria difícil localizá-los para explicar por que não se deve promover “manifestações que conduzam à violência”.

Um dos mistérios do segundo mandato será descobrir como o governo Lula pretende conviver com a mídia. Não adianta procurar pistas no programa de governo, que não recebeu leitura atenciosa nem dos signatários. O presidente já disse que pretende dar mais entrevistas - o que é sempre uma boa notícia, desde que concorde em ser cobrado por fatos desagradáveis. Nas entrevistas que deu no segundo turno, quando a necessidade de conquistar o eleitorado recomendava muita simpatia, Lula chegou a se dirigir em tom impróprio diante de perguntas sobre a “carga tributária” e sobre a “reforma da Previdência.”

IMPRENSA BURGUESA

A realidade é que no Planalto “ainda tem muita gente que acredita em imprensa burguesa”, admite, em conversas reservadas, Tarso Genro, ministro das Relações Institucionais. Não se trata de uma herança retórica, mas de uma visão da mídia como adversária a ser pressionada e confrontada.

Uma repórter dedicada à cobertura do Palácio do Planalto desde a Nova República de José Sarney resume: “Cobri cinco presidentes diferentes, mas nunca vi relações tão tensas entre o governo e os jornalistas.” Mesmo funcionários de carreira do palácio têm receio de conversar com os jornalistas, pelo temor de serem acusados de fornecer informações sem autorização. No Planalto também existem os funcionários-militantes, que formam um mundo exclusivo -- no aniversário de Lula, tiveram um encontro fechado com o presidente.

A liberdade de circulação de repórteres enfrenta restrições crescentes desde o governo Collor. Mas eles contam que nunca foram tão vigiados como agora.

PROMESSA

As cenas dos últimos dias só foram surpreendentes porque se falou em melhorias antes da eleição. Muito antes do mensalão, o presidente teve um encontro com líderes sem-terra, em Brasília, quando centenas de militantes se aproximaram dos repórteres em tom de ameaça. Para evitar agressões, os jornalistas foram resgatados por José Genoino, então presidente do PT, e por José Dirceu, ministro-chefe da Casa Civil, e conduzidos a um local reservado às autoridades.

Garcia diz que “gostaria de viver num país com imprensa mais plural, onde, como na Espanha, eu pudesse ler El País e o ABC.” Ele também diz que os “donos dos meios de comunicação nunca concordaram com as idéias do partido”. E frisa: “Mas agora os próprios jornalistas também manifestam uma posição de conflito conosco. Mudaram de campo cultural.” Os adversários sempre acusaram a imprensa de dar um tratamento VIP ao PT, dispensando à legenda de Lula um olhar menos agressivo e inquiridor.

A crítica faz algum sentido, quando se conta a história do PT de trás para frente. Num fenômeno que tem a ver com política e até com antropologia -- pois eram pessoas de uma mesma geração, muitas vezes colegas de escola e de ambientes culturais - o PT contava com uma credibilidade nas redações como nenhuma outra legenda da Nova República. Isso poupou o partido por um longo período. Como Lula descobriu no primeiro mandato, esse momento acabou - e o convívio com a imprensa será, em primeiro lugar, um convívio com sua liberdade.
Estadão

Planalto já afaga tucanos!

Lula precisa negociar e começa a sondar governadores

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva promete receber com “tapete vermelho” os seis governadores tucanos que serão empossados em 1º de janeiro. Mas não é só. De acordo com um assessor do Palácio do Planalto, os seis serão tratados a “pão de ló”, expressão do velho jargão político que significa receber com mimos, cuidando para que não falte alguma coisa ao convidado.

Lula tem dito a assessores que goza da amizade dos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) e que tem conversado rotineiramente com ambos por telefone. Serra e Aécio estarão, nos próximos quatro anos, à frente dos dois maiores colégios eleitorais do País. O presidente tem dito que essa proximidade o ajudará a desanuviar as negociações com o PSDB, o principal partido de oposição, e com os outros governadores tucanos -Yeda Crusius (RS), Cássio Cunha Lima (PB), Teotônio Vilela Filho (AL) e Ottomar Pinto (RR).

Yeda era motivo da maior preocupação de Lula, não só porque a campanha eleitoral de segundo turno no Rio Grande do Sul, contra Olívio Dutra (PT), foi muito tensa, mas porque Yeda foi uma liderança tucana que, no Congresso, não deu tréguas ao PT. É dela, por exemplo, a ação na Justiça que tenta proibir a cobrança, nas folhas de pagamento do Estado, das contribuições de servidores públicos ao PT.

Mas a gaúcha se mostrou disposta ao diálogo. Ela já conversou por telefone com Lula, falou de suas preocupações com a situação do Estado, que, entre os 27 da União, é o que compromete a maior fatia da receita para pagar a dívida com a União e o que tem menor disponibilidade de recursos para investimentos. A governadora eleita não se dá bem com Olívio Dutra, mas tem um bom relacionamento com o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, o que facilitou o diálogo.

Lula quer também ter uma relação próxima com o único governador eleito pelo PFL, o atual deputado José Roberto Arruda, que assumirá o governo do Distrito Federal em 1º de janeiro. Na segunda ou terça-feira o presidente receberá Arruda para uma primeira conversa sobre a situação de Brasília.

Quase toda a arrecadação do DF tem origem nos repasses do governo federal, como o Fundo de Participação dos Estados (FPE), o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), dinheiro para o custeio do Judiciário e do Ministério Público e o Fundo Constitucional do Centro-Oeste, que repassa R$ 4 bilhões anuais para Brasília.
Estadão

3.11.06

'Operação abafa é fantasia', diz superintendente

Para Araújo, delegado Bruno mentiu ao depor sobre prisão de Gedimar e Valdebran e precisa de tratamento

O superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Geraldo José de Araújo, afirmou ontem que são falsas e fantasiosas as afirmações feitas pelo delegado Edmilson Pereira Bruno ao Ministério Público Federal sobre uma suposta 'operação abafa' após a prisão dos petistas envolvidos com a compra do dossiê Vedoin. Para ele, as acusações de Bruno têm 'conotação política'.

O delegado Bruno foi o responsável pela prisão de Gedimar Passos e Valdebran Padilha, no dia 15 de setembro, no Hotel Ibis Congonhas, em São Paulo, com R$ 1,75 milhão. No depoimento prestado em 23 de outubro, ele afirmou aos procuradores que o superintende da PF e o delegado Severino Alexandre teriam demonstrado preocupação quanto ao caso. Bruno acrescentou que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, foi avisado por São Paulo sobre a prisão e quis saber se o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia sido envolvido.

'Isso tudo é fantasia da cabeça desse rapaz', rebateu o superintendente da PF ontem. 'Eu não sei o que está acontecendo com o Bruno. Espero que ele se recupere logo e volte ao seu estado normal. Ele precisa se tratar.'

Araújo confirmou que recebeu um telefonema de Bastos - e não que teria ligado, como diz Bruno -, mas negou que tenham falado sobre o presidente. 'É a coisa mais normal quando tem alguma operação de repercussão o ministro querer tomar conhecimento. O ministro ligou para mim, mas não foi conversado nada demais. Nunca houve nada sobre o presidente da República.'

Araújo negou ainda que Bastos tivesse feito qualquer pedido para que os envolvidos não ficassem detidos. 'Nunca houve isso. Ele está interpretando uma conversa sem saber o que foi falado. Como ele pode saber o que meu interlocutor falava do outro lado da linha?'

Para Araújo, 'salta aos olhos a conotação política' das afirmações do delegado. 'Não dá mais para confiar no Bruno. Cada hora ele apresenta uma versão diferente. Nem a imprensa está mais dando crédito para ele.'

PROCESSO

Além disso, Araújo negou que Bruno esteja sendo perseguido dentro da PF e não tenha direito à defesa. É que o delegado é alvo de um processo administrativo interno por causa do vazamento das fotos do dinheiro apreendido com os petistas.

'É mentira que ele está sendo perseguido e não tem direito de defesa. É exatamente o contrário, ele se recusa a receber a intimação para apresentar sua defesa no processo administrativo', explicou Araújo.

O superintendente da PF também desqualificou as afirmações feitas pelo delegado Bruno de que tenha sido afastado do caso da compra do dossiê. 'Isso não é verdade, ele não poderia ter sido afastado do caso porque o caso nunca foi de São Paulo. Essa é uma investigação de Cuiabá', afirmou. 'Ele era um mero plantonista que atendeu a uma ocorrência e, justiça seja feita, trabalhou muito bem naquele dia.'
Estadão

Polícia oferece delação premiada a dono da Vicatur

Ribas não aceitou acordo, que tem como vantagem a diminuição da pena; prazo da PF está acabando

Correndo contra o tempo, a Polícia Federal decidiu apostar na delação premiada para fazer prova contra quem encomendou os dólares que o PT reuniu para adquirir o dossiê Vedoin.

Os benefícios da delação foram oferecidos a Fernando Ribas, sócio-proprietário da Vicatur, casa de câmbio da Baixada Fluminense que mobilizou família de laranjas para repassar US$ 109,8 mil aos quadros do PT envolvidos na trama. Essa quantia representa menos da metade do total em dólares - US$ 248,8 mil - apreendidos em 15 de setembro com Gedimar Passos e Valdebran Padilha, negociadores do dossiê.

Punição mais branda e outras vantagens é o que a PF oferece a Ribas. Mas o doleiro resiste, em nome do pacto de silêncio que marca as atividades do mercado negro da moeda americana.

A delação é legal, recentemente adotada pelo Brasil no combate a organizações criminosas. A polícia pode acenar com esse recurso em favor do investigado, mas cabe ao juiz a eventual homologação do acordo. A proposta foi feita na semana passada, em conversa com policiais que antecedeu o seu indiciamento. A PF o acusa de crime contra o sistema financeiro - operações fraudulentas de câmbio. A colaboração pode ser negociada em qualquer fase da apuração.

A polícia já dispõe de dados sobre quem fez a encomenda dessa parte da bolada de R$ 1,75 milhão que o PT juntou para adquirir o material contra tucanos. A suspeita cai sobre um petista histórico, que trabalha em Brasília. Sem provas, propôs a delação premiada e, simultaneamente, formalizou pedido à Justiça para quebra do sigilo telefônico da Vicatur e de seus controladores. Por esse caminho espera confirmar a identidade do personagem que teve a incumbência de arrecadar os dólares.

A delação será oferecida a outros doleiros. O prazo da PF para desvendar o escândalo é exíguo - tem pouco mais de três semanas para encerrar a investigação.

CASAS DE CÂMBIO

Os federais miram mais quatro casas de câmbio como possíveis fornecedoras do segundo lote de dólares (US$ 139 mil). A PF obteve na Justiça autorização para abrir o sigilo de operações de câmbio dessas instituições. Os documentos estão sendo analisados pelos investigadores.

'Parte dos dólares americanos estava com numeração seqüencial', anotou o delegado que preside o inquérito, Diógenes Curado, em relatório enviado ao juiz Jeferson Schneider, da 2ª Vara Federal de Cuiabá. Segundo os EUA, as séries de notas entraram no Brasil através do Banco Sofisa. 'Até aquele momento, havia um controle sobre a numeração das cédulas', destacou o delegado.

O banco vendeu a corretoras, que passaram o dinheiro às casas de câmbio, que fizeram a venda a particulares. 'Em todo esse caminho não existiu mais controle das notas e, pior, começaram a surgir fraudes para esconder a real operação', disse.
Estadão

2.11.06

Bolívia sofre com êxodo em massa

Milhares enfrentam caos para conseguir passaporte e deixar país em busca de vida melhor

Numa viela, sob o sol quente e ar escasso de La Paz, milhares de bolivianos enfrentam o caos em busca de um documento - o passaporte. É com ele que os pobres e remediados nutrem o sonho de dar a si e a sua família uma vida que a Bolívia jamais lhes permitiu.

São horas, são dias numa rotina dura em frente ao Serviço Nacional de Migração, órgão governamental encarregado de permitir aos bolivianos a fuga do país. 'Calma, calma!', grita um oficial da Polícia Nacional, diante do prédio apertado e escuro onde funcionários tentam dar conta de atender aos futuros exilados econômicos.

O presidente Evo Morales prometeu emprego, dignidade, uma revolução social. 'Evo fala muito', resume Romer Quisbert, estudante de ciência política na Universidade de La Paz. Por enquanto, ele quer ficar na Bolívia, mas enfrentava o sol ardente quase no final da fila para pegar documentos para uma prima, esta sim, de malas prontas para a Europa. Quisbert, desde as 6 da manhã, estava no mesmo ponto de quando chegou: em frente à sede da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), a estatal sobre a qual repousa agora a esperança de alento econômico capaz de frear tamanho êxodo. Falta trabalho e renda neste país castigado pela história de desajustes econômicos.

Lorenzo Quispe, de 27 anos, não quer ficar no país. Prepara-se para ser um emigrante reincidente. No começo do ano, para vencer o desemprego e a falta de perspectiva, enfrentou uma jornada. Aceitou ir a São Paulo para ser mão-de-obra barata e ilegal nas confecções do bairro do Bom Retiro.

PRECONCEITO

'Trabalhei durante quatro meses e não suportei', conta Quispe. 'Trabalho duro, 18 horas por dia.' Pior do que isso era o preconceito. 'Cachorros bolivianos que vêm tirar emprego dos brasileiros' - essa era uma das ofensas ouvidas por Quispe. Suportou calado, mas preferiu voltar.

Agora, ele se prepara para sair de novo. As promessas de Evo não o convenceram a ficar. 'Talvez um dia, mas hoje não vejo nada', diz Quispe. Agora, pensa mais alto. Tenta obter um passaporte para ir à Espanha. A relação entre Bolívia e Espanha é a mesma existente entre Brasil e Portugal. A Espanha, ex-colonizadora, é a esperança dos bolivianos de entrar na Europa, ter emprego e dignidade. Cerca de 1.500 bolivianos chegam todos os meses à Espanha.

Ghuilmar Benítez, de 23 anos, é outro boliviano que amplia as estatísticas deste êxodo. Em 8 de agosto, Benítez embarcou rumo à Espanha. Sonho frustrado. Esse jovem teve de voltar no dia seguinte, deportado, para seu país. Refeito do baque, Benítez prepara nova tentativa. Ele trabalha em cafezais. A família ganha, por ano, cerca de 3 mil pesos bolivianos (R$ 1 mil). Na Espanha, amigos ganham 70 por dia, mais do que a remuneração média mensal em La Paz.

David Carrillo, de 40 anos, quatro destes vividos na Espanha, é a prova do que o conterrâneo imagina. Também estava no caótico prédio da migração. Tentava tirar o passaporte de toda a família. 'Voltei para levar todos, será melhor', diz.

A filha, Yomar Carrillo, aguardava na fila o momento de tirar a fotografia que será estampada no passaporte.

E num último esforço do Estado boliviano em demover a jovem da decisão de largar o país, o funcionário do Serviço de Migração pede para ela olhar a bandeira da Bolívia. Yomar olha e... flash! A Bolívia dá adeus a mais um boliviano.
Estadão

1.11.06

Volta a truculência!!!

Passada a eleição, grupos governistas ensaiam campanha para intimidar a imprensa livre e coibir o direito à informação

CONFIRMA-SE o ceticismo a respeito da brandura que marcou a atitude da campanha de Lula para com a imprensa no segundo turno. Um verniz de humildade substituíra a arrogância, o desapego à prestação de contas e a truculência do petismo governista enquanto interessava ao cálculo eleitoral. Fechadas as urnas, setores da militância do PT puseram em marcha uma campanha que tenta intimidar meios de comunicação independentes.
Na segunda-feira, um grupo de petistas -muitos dos quais gozando de prebendas no funcionalismo federal- se arrogou o direito de fazer uma "triagem" dos jornalistas que cobriam o primeiro retorno de Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio da Alvorada como presidente reeleito. Um repórter foi agredido.
Particularmente grave foi o episódio de ontem em que um delegado federal usou um inquérito interno como pretexto para intimidar jornalistas da revista "Veja". Mandou às favas o direito de uma repórter de consultar seu advogado. A intenção do policial era a de, ao feitio das ditaduras, enviar um "recado" aos responsáveis pelo semanário.
Não surpreende a hostilidade. Durante mais de um ano, lideranças e "intelectuais" do PT, para não mencionar o próprio presidente Lula, acalentaram a farsa de que os flagrantes de corrupção sistêmica em seu governo teriam sido fruto de uma conspiração da mídia.
Nos incautos que esperavam uma mudança agora, após a refrega do dossiegate, Marco Aurélio Garcia desferiu um choque de realidade. O presidente do PT repudiou a violência de militantes em Brasília, mas não se esqueceu de dar um "conselho" à imprensa. Sugeriu "auto-reflexão" à mídia, afirmando que ela deve ao país a informação de que o mensalão não existiu.
Às páginas 11 e 12 de denúncia assinada em 30 de março pelo procurador-geral da República, lê-se que uma quadrilha, integrada por membros da cúpula do governo e do PT, agia em plano federal com o objetivo de "garantir a continuidade do projeto de poder do Partido dos Trabalhadores mediante a compra de suporte político de outros partidos".
"Auto-reflexão" deveriam ter feito o PT e o governo. As cúpulas de ambos desmoronaram, mas a necessária depuração dos métodos e dos quadros não ocorreu. Sobreveio, como filho da impunidade, o escândalo do dossiê. Mais uma série de cabeças petistas rolou, mas a lição ainda não foi assimilada.
Lideranças do PT continuam a alimentar a ira de correntes partidárias descompromissadas com a soberania das leis. Envereda pelo mesmo caminho o governador Roberto Requião, conhecido pela boçalidade, que inventou um complô de veículos de comunicação para explicar sua reeleição apertadíssima no Paraná.
O que essas manifestações de hostilidade ameaçam é muito mais do que a imprensa: é o direito da sociedade de ter livre acesso à informação e à opinião. A pretexto da vitória legítima de Lula, tentam silenciar o jornalismo crítico. As urnas não outorgaram nenhum tipo de anistia para os crimes cometidos pelos companheiros do presidente.
Ainda há muito a esclarecer.
Folha