Quebra de sigilo revela comunicação intensa entre escritório do então presidente do PT e empresa do segurança
A quebra dos sigilos telefônicos da empresa Caso Sistemas de Segurança Ltda., pertencente ao ex-guarda-costas do presidente Lula Freud Godoy e sua mulher, Simone Godoy, registra intensa comunicação com o escritório do presidente licenciado do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). Em agosto e setembro há pelo menos 32 ligações dos telefones do comitê de campanha de Berzoini, em São Paulo, para a Caso.
Apesar de se dizer inocente no caso do dossiê Vedoin, Berzoini foi afastado da coordenação da campanha de Lula quando estourou o escândalo da compra do dossiê. Freud foi apontado por Gedimar Passos, ex-integrante do núcleo de inteligência da campanha, como a pessoa no PT que mandou pagar pelo dossiê. Depois, Gedimar mudou seu depoimento, passando a isentar Freud e a afirmar que citou-o por pressão do delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno, primeiro a interrogá-lo.
Algumas das ligações coincidem com um momento crucial do processo de negociação do dossiê. Há uma seqüência de seis telefonemas nos dias 11, 12 e 13 de setembro. No dia 14, conforme as investigações da PF, Hamilton Lacerda, ex-assessor do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), levou ao Hotel Ibis o dinheiro destinado à compra do dossiê.
A mais longa delas, com cinco minutos de duração, foi realizada às 11h08 do dia 13 de setembro. Outra seqüência de 13 telefonemas do comitê de Berzoini para a Caso é identificada entre os dias 21 e 29 de setembro, às vésperas do primeiro turno das eleições. No dia 29, quando Freud Godoy prestou depoimento na superintendência da Polícia Federal em São Paulo, há o registro de duas chamadas entre os dois escritórios: uma de apenas sete segundos e outra de 3 minutos e 17 segundos.
Procurado, o advogado de Freud Godoy, Augusto Botelho, explicou que a Caso presta serviços de segurança ao comitê de Berzoini e as ligações são decorrentes deste contrato. Segundo Botelho, as chamadas refletem as conversas de funcionários do comitê do deputado com funcionários da empresa de Freud discutindo assuntos relacionados aos serviços de segurança e não têm relação com o dossiê. “Freud Godoy não vai à Caso com freqüência”, diz Botelho. O advogado reitera que seu cliente não está envolvido no escândalo.
Não há, até o momento, registro de telefonemas entre os celulares pessoais de Freud e Berzoini. Das 32 chamadas, nove têm duração inferior a um minuto. A reportagem pediu contato com o deputado, que estava viajando, por meio de sua assessoria. Até 19 horas não havia recebido retorno.
FRENESI NO DIA 13
Em seu celular pessoal, com prefixo de Brasília, Berzoini recebeu dezenas de ligações do comitê de campanha de Lula. A maior seqüência delas é precisamente no dia 13 de setembro, quando Gedimar aguarda o recebimento do dinheiro no hotel.
Naquela mesma semana, Expedito Veloso e Oswaldo Bargas, do alto escalão da campanha de Lula, estavam em Cuiabá checando a entrevista que Luiz Antônio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas, daria acusando a administração tucana no Ministério da Saúde de cometer irregularidades.
Foram 11 chamadas, todas entre 19h e 23h. No dia 12 de setembro, Berzoini recebe duas ligações de Jorge Lorenzetti, chefe do núcleo de inteligência do PT e patrão de Gedimar.
Estadão
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