30.4.06

Evo Morales = HH

Evo Morales, o espelho de Heloísa Helena

Eis o novo messias boliviano – se o leitor quiser rir deste que vos escreve, que, com o artigo já concluso, relou uma tecla que apagou tudo – malditos sejam estes computadores, ou minha ignorância a respeito deles. Bom, com se diz que toda questão tem dois lados, quem sabe esta versão será melhor que a anterior?
Não é difícil recompor o texto, eu comparava Evo Morales, o novíssimo presidente boliviano com nossa falsa candidata à presidência, senadora Heloísa Helena.
Vamos primeiro ao cocalero Evo Morales, o Lula boliviano, que veio salvar os índios com sua política de desemprego, desapropriação da Petrobrás e das empresas do empresário Eike Baptista. A firma de Eike, e EBX, está num parque ecologicamente aprovado, onde não cabem restrições à sua instalação, que geraria 6 mil empregos, “trampos”, como se diz em São Paulo. Mas tudo isto vai pro brejo, como vão as instalações da Petrobrás, meu, seu, nosso patrimônio. Mais haveria planos de instalação de usinas termoelétricas a gás. Eike, apropriadíssimamente, disse: “Traição é só uma vez”. Endosso.
O que será feito disto tudo, com a estúpida lei dos hidrocarbonetos em vigor? Será mesmo que não valerá à pena importar gás natural liquefeito por navios? E se surgir uma descoberta gigante – o que não é uma utopia, de um campo de gás /petróleo gigantesco neste país tão imenso? O que diremos aos bolivianos? Sem palavrões, com diplomacia: hagan com su gás lo que quieran, tenemos muy más que ustedes por aqui.
Pois é, cara leitora, é isto que Heloísa quer para nós, reprivatizar as teles – a que preço? – coibir a saída de capitais, onde qualquer neófito do mercado financeiro sabe que o capital é como o vento: só entra onde tem saída.
Engraçado é que o estatuto do P-Sol menciona, ao menos, três vezes a palavra burguês. Do dicionário luso Priberam:Burguês:homem da classe média;homem pouco delicado;adj., relativo ao burgo;fig., que não tem elevação nem espiritualidade;ordinário;trivial.
Eis aí, douta senadora, o significado de burguês, que talvez jamais tenham ido buscar nos dicionários. Vossência é muito mais burguesa do que eu, que não tenho um átimo do que a Senhora recebe por mês. Somos, exceto os miseráveis, todos burgueses .Uns mais, outros menos.
Heloísa Helena tenho pena de sua ignorância econômico-política, mas dizem os búzios que não governarás o nosso Brasil.
Faça uma viagem, vá até Darfur, Sudão. Lá, Vossência poderá ver o que é miséria e o quanto de demagogia profere por estes Brasis e por este mundo afora. O ambiente rarefeito de lógica do congresso não faz bem à mente, aliena, excelência. Traz o esquecimento, pois onde está a entrevista que Vossência me prometeu? Alhures..., Que importa? Um mísero articulista que não sai n´O Globo, na Folha ou n´O Estadão? E daí, existem centenas de jornais e sites que me publicam, a capilaridade que os outros não têm.
Sua palavra não vale um tostão furado, senadora, qual a sua relação com o criminoso italiano, assassino de uma criança de oito anos, Achile Lollo? Não tem peito de responder!
Responda, H.H.ou me processe, aproveite que não tenho foro privilegiado, tampouco medo!
O jornal italiano Corriere de la Sera e outros são pródigos em matérias sobre Lollo, solertemente acobertado pelo “Supremo” Tribunal Federal, corte de exceção, política, indigna do nome que carrega.
Deixa estar, um dia todos verão que são Chávez, Morales, Heloísa Helena, Lula da Silva, Thomas Bastos, garotinho e seus 400 milhões, que o energúmeno acha que basta devolver para livrar a cara; sobre o Néstor Kirchner, outra múmia, presidente argentino. Sobre os malfeitos de Alckmin, manchetes de hoje, quarta, 26/5; sobre a Varig, cadáver insepulto; o Irã, sobre nossa repetência escolar maior que do paupérrimo Camboja.
Tem muito assunto, cara leitora, se eu não for em cana até lá...
Se alguém, desejar ler o jurássico estatuto do P-Sol, basta me solicitar, enviarei com satisfação.
* Luiz Leitão, administrador a articulista (luizleitao@allsites.com.br)

Armadilha na aposentadoria

Considerados os melhores pagadores da praça, os idosos estão agora protagonizando uma explosão de inadimplência. Dados da Serasa, fornecidos com exclusividade ao GLOBO, mostram que, em março, 3,027 milhões de pessoas com mais de 60 anos estavam com nome sujo na praça. O número é 3% superior à quantidade de idosos inadimplentes em dezembro — contra expansão só de 0,4% da média geral — e 10% acima do registrado há um ano. Em 12 meses, 277 mil pessoas dessa faixa etária passaram ao cadastro de maus pagadores. O responsável pelo movimento, que deve se intensificar em maio, tem nome e sobrenome: crédito consignado com desconto na aposentadoria do INSS.

Os idosos, sobretudo os aposentados e pensionistas, estão tendo dificuldades para honrar seus compromissos por terem assumido este tipo de empréstimo. Eles acabam não conseguindo pagar outras contas. Lançado há dois anos, o crédito consignado se tornou uma verdadeira coqueluche devido aos juros muito mais baixos do que os de financiamentos tradicionais e o desconto imediato. Em março, chegou a 5,2 milhões o número de beneficiários do INSS com crédito na modalidade — 13% mais do que em dezembro e 147,7% mais do que há um ano. Algo como 3,1 milhões de novos devedores.

Calote de idosos é o que cresce mais

Apesar das vantagens, os aposentados estão vivendo um verdadeiro dilema. Isso porque estes contratos comprometem até 30% da renda, reduzindo os recursos para o pagamento das outras contas, sobretudo as no comércio e de outros tipos de crédito. E o que é pior: em muitos casos, a inadimplência é involuntária, pois é grande o número de aposentados que pegaram o consignado para parentes, amigos ou conhecidos, que deram o calote.

— Nove entre dez aposentados que pegaram esses empréstimos estão sofrendo sérias dificuldades para manter as contas em dia. O número de inadimplentes em outras contas ainda é pequeno, porque os aposentados se desdobram para não ficar com nomes sujos. Mas a situação está piorando e, em maio, o número de inadimplentes deve subir 5% (pondo 151 mil idosos na lista suja) — alerta Renault de Souza, vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados.

Os dados da Serasa apontam nesta direção. O ritmo de expansão da inadimplência dos idosos foi quase dez vezes superior à média geral em apenas um trimestre. A empresa — que analisa cheques devolvidos, títulos protestados, carnês e dívidas vencidas com instituições financeiras, lojas e cartões de crédito — diz que caiu o número de pessoas inadimplentes nas duas faixas imediatamente inferiores, que vão de 35 a 50 anos e de 50 a 60 anos.

Isso significa que a movimentação acima de 60 anos é totalmente atípica e fomentada pelo fato de o limite de comprometimento de 30% do benefício para as pessoas de baixa renda ser representativo. Dados do Ministério da Previdência demonstram que 51,73% das operações dos aposentados em março se referiam aos que recebem até um salário-mínimo.

— Já estamos fazendo uma campanha com nossos afiliados para que não peguem esses empréstimos, a não ser que seja muito necessário — diz Nilton Domingues Pedrosa, vice-presidente de Relações Públicas da Federação das Associações de Aposentados e Pensionistas do Rio (Faperj).

Empréstimo ainda deve crescer, diz BC
O aposentado José Carlos Pinto Vieira, ex-gráfico, está entre os inadimplentes. Ele pegou dois empréstimos no BMG no valor de R$ 5 mil para quitar dívidas e fazer algumas compras. Como as mensalidades de cerca de R$ 300 comprometiam 30% de seu rendimento, José Carlos, morador do Santíssimo, em pouco tempo entrou na lista dos maus pagadores:

— Fiz pensando que poderia pagar, mas os prazos foram longos: um de 15 meses e outro de 36 meses. Fui percebendo que 30% a menos do salário é muita coisa, não tive como pagar as outras contas. Já vi casos de pessoas que chegam a passar fome.

Renault de Souza defende uma mudança drástica nas regras de concessão, inclusive com mais diminuição nos prazos de financiamento. O governo reduziu o prazo máximo de financiamento de 60 meses para 36 meses, mas ele acredita que o ideal é um prazo máximo de 24 meses.

Além de afetar a estima, o bolso e a saúde dos aposentados, a situação pode trazer problemas para o varejo. Segundo Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o aumento da inadimplência dos aposentados deve afetar os setores que se beneficiaram num primeiro momento: os de bens duráveis e semiduráveis, como eletrodomésticos, roupas e calçados. Para áreas essenciais, como alimentos e medicamentos, o risco é menor.

Mesmo com todas as considerações, o crédito consignado — pelo qual já foram financiados R$ 35,29 bilhões — deve crescer. O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, lembra que a folga obtida pelo décimo terceiro salário em dezembro já foi consumida:

— Há espaço para crescer porque a base é muito baixa ainda.

Jorge Higashino, superintendente de Assuntos Especiais da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), confirma essa tendência mas acha que, quando houver maior familiarização dos idosos com as regras e as implicações do desconto em folha, a inadimplência cairá.

O Ministério da Previdência, responsável pela regulamentação desses empréstimos, não se pronunciou.

O Globo

A esquerda no poder

As ideologias conformam a maneira de pensar dos que a elas aderem. Seus militantes são, quase sempre, fanáticos seguidores dos pseudovalores nelas contidos. Comumente, a ideologia é a negação da "verdade real", pela adoção de uma "verdade ideal", cujo ponto de chegada exigiria algo diferente do que a natureza humana é capaz de produzir.

Por esta razão, as ideologias são de fácil defesa e de impossível implementação, porque dependem, exclusivamente, do "homem ideal" e, como dizia, Montesquieu, o homem não é confiável no poder. Desta convicção do mestre francês é que surgiu a mais bem concebida teoria da partição de poderes desde a Antiguidade clássica. Atenas já conhecera tal forma de partilha. O mestre francês, todavia, a partir das lições de Locke, concebeu, tendo em vista a fragilidade de seus detentores, uma teoria que permitia ao "poder controlar o poder".

Lord Acton, notável por sua variada experiência investigatória e reflexiva, com mais realismo, declarou que "o poder corrompe sempre e o poder absoluto corrompe absolutamente".

Isto porque quem deseja o poder deseja, mais do que servir ao povo, servir-se a si mesmo. Luta, desesperadamente, para mantê-lo e apenas se houver sobras orçamentárias é que passa a servir à sociedade, por "efeito colateral".

Das diversas ideologias, de longe as múltiplas facetas da esquerda exteriorizam uma utopia admirável e uma realidade degradante. Aqueles que as têm defendido, em todos os espaços geográficos e períodos históricos, tendem a regimes de exceção, à confusão do dinheiro público com o privado, a perseguir os que pensam diferentemente, inclusive com eliminação dos adversários, e a não promover o verdadeiro bem social (patrocinam um medíocre assistencialismo), mas o bem para si mesmos. A Rússia de Stalin, a Cuba de Fidel, a Romênia de Ceausescu, a Hungria, a antiga Checoslováquia, a Alemanha Oriental e muitos outros países viveram a ascensão da esquerda, a ditadura, o assassinato institucionalizado, com o intuito de manobrar o poder, com fuzilamentos sem julgamento de adversários e uma brutal eliminação de liberdades, do respeito a direitos fundamentais, tudo coberto por uma fantástica propaganda oficial, para anestesiar a consciência popular.

É que, para a esquerda, os fins justificam os meios, mas, como os meios são os únicos instrumentos de que dispõem, no tempo, se transformam nos próprios fins.

No Brasil, a esquerda assumiu o poder. Não entro a discutir o assassinato não esclarecido de Celso Daniel, nem todos os eventos que o circundam. Não discuto também o assassinato do prefeito de Campinas. Caberá ao Ministério Público e à Justiça deslindarem o que efetivamente ocorreu. Não faço julgamentos precipitados.

O que me parece, todavia, de necessária reflexão é que, desde que o presidente Lula assumiu, há uma notável tentativa de calar a sociedade, felizmente, pelos anticorpos que a democracia brasileira já adquiriu, fracassada, até o presente.

Enumero, apenas, para caber dentro do espaço do presente artigo, algumas delas:

Calar os jornalistas por meio do Conselho Federal de Jornalismo, vinculado ao governo, que censuraria as matérias consideradas de risco para a estabilidade do governo;

Calar os artistas por meio da Ancinav, entidade que "reorientaria" a produção artística nacional no campo audiovisual;

Calar os advogados, mediante proposta de que, sempre que tivessem conhecimento, em função de sua profissão, de fatos presumivelmente delituosos, que denunciassem seus clientes;

Controlar a sociedade pela aplicação da quebra do sigilo bancário sem autorização da Justiça, por leis e atos complacentes, que vão muito além da - a meu ver - inconstitucional Lei Complementar 105/01;

Concentrar numa única pessoa todos os poderes arrecadatórios da Fazenda e da Previdência Social, instituindo-se a Super-Receita, entidade a ser criada nos moldes das pirâmides dirigentes dos regimes totalitários;

Tolerância máxima com o "estupro" da Constituição praticado diariamente pelo MST.

E poderia enumerar muitas outras demonstrações de que, na prática utilizada pela esquerda no poder, todos os fins que deseja são justificados pelos meios que utiliza, éticos ou não éticos.

A aceitação pelo governo Lula de um modelo econômico tido por membros do próprio PT como neoliberal é, de rigor, apenas um modelo de transição para o verdadeiro regime que deseja implantar, num segundo mandato. Se este ocorrer, Chávez, mais do que os empresários, Fidel Castro, mais do que o povo, Stédile e MST, mais do que os operadores do Direito, serão ouvidos por Lula. Como o Brasil, graças ao peso do empreguismo oficial de correligionários e aos custos administrativos acima da inflação de seu governo, tem progredido pouco, num período de estupenda expansão mundial, não excluo que, aos primeiros sinais de uma reversão econômica global, os bodes expiatórios apareçam para justificar os fracassos, e deverão ser aqueles que seu partido considera "a elite brasileira".

Como o barco do Brasil navega por força do "efeito maré" da economia global - apesar de mais pesado do que os outros -, será o primeiro a afundar quando o "efeito maré" acabar. E nesse momento, se reeleito o presidente Lula, estou convencido de que a caça às bruxas poderá começar, pois, segundo a esquerda, o governo não erra nunca e quem deve pagar por seus erros é sempre a sociedade. Tocqueville dizia que, "quando o passado não ilumina o futuro, o espírito vive em trevas". Se não compreendermos as lições do passado, as trevas em que vivemos preencherão o futuro.

Ives Gandra da Silva Martins

O avanço do retrocesso

Caiu a ficha. Lula sonha ser o pai do novo social-nacionalismo brasileiro. Premeditado ou não, o gesto de sujar as mãos de óleo, como fez Getúlio Vargas, que comandou a campanha "o petróleo é nosso", no início dos anos 1950, revela que o verniz populista do passado continua brilhando na cabeça do ex-sindicalista presidente. Os últimos acenos presidenciais foram ricos da simbologia varguista. Basta ver Lula atirando loas em direção ao MST e invectivas contra fazendeiros, que chamou de caloteiros em discurso no Rio Grande do Sul. Em seu primeiro governo, o ditador deu força aos trabalhadores rurais, incorporando-os à organização sindical. No segundo governo, Vargas incorporou os trabalhadores urbanos à política, nomeando sindicalistas para a direção de institutos, a ponto de ser acusado de querer instalar a República sindicalista. Já o metalúrgico que chegou à Presidência depois de anos dizendo que a CLT era o AI-5 dos trabalhadores patrocina, hoje, um dos mais sorrateiros ensaios para endurecer a legislação trabalhista, sujeitando-a aos caprichos de sindicalistas que tomaram conta da estrutura encarregada de administrar as relações do trabalho.

A sinalização mais clara nesse sentido é um projeto polêmico sobre a terceirização de serviços que o Ministério do Trabalho prepara para pôr em discussão no âmbito das centrais sindicais, que passam a ser reconhecidas oficialmente pelo governo. Como se sabe, o universo produtivo encontrou nos serviços terceirizados a ferramenta apropriada para alcançar as metas de produtividade e qualidade a custos compatíveis. No Brasil, esse campo é regulamentado pela Lei 6.019/74, que trata do trabalho temporário, e pelo Enunciado 331/93 do Tribunal Superior do Trabalho, que define atividade-meio e atividade-fim das empresas. O governo FHC, dando vazão à tendência de descompressão das relações de trabalho, que se observa em todos os quadrantes mundiais, deu ele mesmo o exemplo, enxugando a estrutura administrativa com o corte de 8,6% do número de servidores ativos (47 mil postos a menos). O governo Lula recompôs a base com a criação de 40 mil cargos.

O que está por trás disso? A pergunta inquieta o empresariado. A sensação é de que o País caminha na contramão da tendência de desregulamentação do emprego. Nos EUA e no Reino Unido, com o emprego menos regulamentado e impostos mais baixos, o desemprego é menor. O receio é que o Brasil queira imitar a França, onde uma generosa legislação trabalhista é responsável pela estagnação da economia e por uma taxa de desemprego que ultrapassa a casa dos 40% para os jovens de 18 a 25 anos das grandes cidades. Mas há casos exemplares na Europa, como o da Espanha, onde uma radical flexibilização da legislação trabalhista fez cair a taxa de desemprego, que há dez anos era de 25%, para os atuais 8%, abaixo da média européia. Essa política se ampara na idéia de que para diminuir o desemprego urge dividir o emprego existente entre o maior número de trabalhadores. Dessa forma, é melhor mais pessoas trabalhando e ganhando menos do que menos pessoas trabalhando e ganhando mais. A palavra flexibilizar, porém, deixou o dicionário petista desde que as amarras sindicais ao Estado passaram a encher os cofres.

A meta petista-lulista de resgatar o Estado paquidérmico tem que ver com a visão vertical de ocupação do poder. Nesse ponto, vale lembrar a denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, de que uma "sofisticada quadrilha" a serviço do PT estaria operando a máquina do Estado. Parece lógico aduzir que o ardor com que parcela do sindicalismo avança sobre a máquina gera suspeita de que a meta de partidarização do Estado continua acesa. Além do programa de desterceirização e das reformas sindical e trabalhista, cuja discussão será interrompida pelo embate eleitoral, o pacote na área trabalhista abrigaria, ainda, o combate duro a programas de formação do jovem, a partir do estágio, modalidade educacional inserida na Constituição, mas considerada como meio de precarização do trabalho na ótica de membros do Ministério Público do Trabalho. Como se sabe, o programa Primeiro Emprego do governo Lula fracassou. Cumpriu apenas 0,55% da meta de atingir 780 mil jovens em três anos. Daí não se entender por que o governo, em vez de fomentar, dá combate a formas já consagradas para inserir o jovem no mercado de trabalho.

Até parece que, perto de concluir o mandato, Lula se esforça para vestir o macacão de metalúrgico. Se a vã filosofia não explica, talvez a sábia psicologia mostre as razões para a profunda imersão de seu governo no corporativismo sindicalista. Poderia ser, por exemplo, uma forma de purgar os pecados de que é acusado, entre eles o de adotar um modelo neoliberal mais rígido que o de seu antecessor. Poderia ser, ainda, uma estratégia para se reaproximar de blocos que dele se apartaram. Ou simplesmente a tática getulista de falar para as massas, ignorando o meio da sociedade e as instituições. Seja qual for a intenção presidencial, o fato é que a encenação litúrgica em torno desse social-nacionalismo de proveta não passará batida pelo crivo de núcleos com assento na mesa de decisão, inclusive o setor político.

Lula é um comunicador capaz de expressar sandices sem passar recibo e cometer gafes sem perder o rebolado. Como mágico, junta contrários, água e óleo, pontos e contrapontos, avanço e retrocesso, modelo econômico liberal e modelo trabalhista/sindicalista autoritário. Até aí, tudo bem. Mas brincadeira tem limites. Se a foto das mãos lambuzadas de óleo tentou sugerir subliminarmente às massas que foi dom Luiz Inácio Lula da Silva, pernambucano, que descobriu o petróleo no Brasil, outra imagem foi sublinhada, desta feita pelos internautas. Ao lado da ilustração, um texto maldoso falando sobre a ameaça de "mais quatro anos de mãos sujas".

Quem com óleo brinca com óleo será queimado.

Gaudêncio Torquato
gautor@gtmarketing.com.br

Emprego cresce, renda cai

Sob Lula, emprego cresce, mas renda cai
Apesar de aumento do mínimo e das vagas, mercado vive precarização e queda no rendimento real do trabalhador


Sob o comando do governo Lula, o salário mínimo subiu, o desemprego diminuiu e aumentou a contratação com carteira assinada. Mas a administração do PT não foi capaz de inibir a precarização do mercado de trabalho, de conter a queda do rendimento real do trabalhador e de realizar uma das principais promessas de campanha -a reforma sindical.
Essa é a avaliação de economistas, sindicalistas, advogados e pesquisadores sobre o desempenho do mercado de trabalho no Brasil no governo petista.
O aumento real do salário mínimo foi de 25,32% de 2003 a 2006, segundo o Dieese. No primeiro mandato de FHC (1995-1998), o salário mínimo encolheu, com uma queda real de 2,40%. Entre 1999 e 2002, segundo mandato do governo tucano, voltou a crescer -nesse período o ganho real foi de 20,56%.
Quem ganhava salário mínimo precisava trabalhar 158 horas e 45 minutos em março de 2002 para comprar uma cesta básica em São Paulo. Em março de 2006, o trabalhador precisou de 130 horas.
Em seis regiões metropolitanas do país, a taxa de desemprego caiu de 12,9%, em março de 2002, para 10,4% em março deste ano. E a população ocupada com carteira assinada passou de 40,8% para 41,3% da PEA (População Economicamente Ativa), no período, segundo o IBGE.
Apesar dos indicadores serem positivos, especialistas dizem que esperavam mais de Lula, como regras para impedir demissões e o achatamento de salários. Consideram ainda que o governo não aproveitou as condições favoráveis do mercado internacional para criar um modelo de crescimento sustentado de produção e emprego -deu só continuidade à política econômica do governo anterior.
"Emprego e salário mínimo melhoraram nos últimos anos no país. No caso do mínimo, a trajetória de aumento ocorre desde a desvalorização do real, em 1999. Ainda não podemos afirmar que esse crescimento de salário e de emprego é sustentado", afirma Maria Cristina Cacciamali, professora da USP.
Quem acompanha o mercado de trabalho (e tem ou não afinidade com o PT) não tem dúvidas de que alguns números são mais positivos para os trabalhadores. "A política econômica do PT deveria estar mais comprometida com o crescimento do país. Esperávamos que, com Lula, o Brasil crescesse 5% ao ano, não 3%", afirma Claudio Dedecca, economista e professor da Unicamp.

Rendimento cai
Um indicador do mercado de trabalho ainda é negativo. O rendimento médio da população ocupada em seis regiões metropolitanas do país, segundo o IBGE, caiu 5,6% quando comparados os meses de março de 2002 e março de 2006 -passou de R$ 1.066,08 para R$ 1.006,80.
Para Clemente Ganz Lúcio, diretor do Dieese, emprego e renda só crescem de forma sustentada se a taxa de investimento no país aumentar. "O presidente Lula disse que dobraria o valor do salário mínimo, não conseguiu. Para isso, é preciso garantir o crescimento da economia. O Brasil precisa investir 25% do PIB ao ano. Essa taxa hoje é inferior a 20%", diz. Há duas décadas, o pífio crescimento da economia tem reflexo negativo no emprego e na remuneração, diz João Sabóia, diretor do Instituto de Economia da UFRJ.
É bom lembrar, segundo os especialistas, que o emprego que surgiu, na sua maioria, é de baixa remuneração. "A precariedade no mercado de trabalho continua elevadíssima. Tem muita gente no Brasil que ganha menos do que um salário mínimo. A expectativa era que todas essas questões fossem enfrentadas de forma mais firme pelo governo", diz Sabóia.
Do 1,5 milhão de pessoas contratadas formalmente entre janeiro e novembro de 2005, 1,023 milhão ganhavam de 1 a 1,5 salários mínimos e 400 mil recebiam de 1,5 a 2 salários mínimos, segundo informa o sociólogo José Pastore. "Essas duas faixas representam 95% dos novos contratados."
Para Pastore, não há o que comemorar amanhã, Dia do Trabalho. "A taxa de desemprego caiu, mas ainda é alta. Lula entrou com uma geração de empregos da ordem de 1,5 milhão por ano, e a situação é a mesma hoje. Disse que gostaria de criar 10 milhões de empregos formais em quatro anos, mas deve abrir 6 milhões de vagas. Nada mudou muito."

O que comemorar
"São 3,7 milhões de vagas criadas desde 2003. Claro que há o que comemorar. Estamos retomando o crescimento da renda e dando oportunidade aos jovens. O governo não falhou", diz o ministro Luiz Marinho (Trabalho).
O governo também não foi capaz de conter a rotatividade, um dos principais mecanismos de precarização do mercado de trabalho, diz Arnaldo Mazzei Nogueira, professor da PUC-SP e da USP. "Para fortalecer o emprego, é necessário regular as demissões e evitar que as empresas demitam trabalhadores de salários mais altos e contratem por menos. Nisso o governo falhou."
O nível de emprego com carteira assinada no setor privado aumentou 10% entre 2002 e 2005, enquanto a massa de salários dos empregados cresceu apenas 1,6%, segundo estudo de Marcio Pochmann, professor da Unicamp. "O emprego cresce, cada vez mais pessoas são incorporadas ao mercado. Mas o impacto na folha de pagamento das empresas praticamente não se altera."
As críticas ao governo Lula são mais contundentes quando o assunto é a reforma sindical. "O governo não fez nada na área trabalhista e sindical porque prometeu segurança aos empresários e melhorias aos empregados. Garantiu que faria uma omelete sem quebrar nenhum ovo. Não havia como. Por isso, "cozinhou" interminavelmente projetos de reformas", diz o advogado trabalhista João José Sady.
"Nada aconteceu, além de muita reunião. A reforma sindical não saiu do papel e a trabalhista nem foi tocada. Enquanto isso, pequenas e micro empresas continuam sobrecarregadas com despesas de contratação. O que contribui para a incidência do trabalho informal", afirma Pastore.
O projeto de reforma sindical foi enviado à Câmara no final de 2004, quando Ricardo Berzoini era ministro do Trabalho. Em 2005, a crise política abalou a capacidade de ação do governo, segundo dizem os especialistas, e impediu a realização de mudanças na estrutura sindical.
Na análise de Adalberto Cardoso, diretor do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), apesar de o governo não ter feito mudanças para fortalecer os sindicatos, conseguiu barrar projetos, como os do governo FHC, que queria a flexibilização de direitos. "Saiu de cena a proposta de impor que as negociações entre patrões e empregados se sobrepusessem à lei, o que poderia implicar perda de direitos históricos, como férias, 13º salário. O governo Lula voltou a assumir o compromisso de defender e assegurar o que está na lei."
Folha

Árvore de direita

Preconceitos cercam a "árvore de direita"

Os coalas ficariam indignados se soubessem o que a esquerda brasileira está falando do eucalipto, cujas folhas são sua principal fonte de alimentação. Os simpáticos bichinhos peludos australianos talvez até fundassem uma organização não-governamental para gritar estridentemente suas opiniões. Talvez optassem pelo vandalismo, como certas ONGs.
Acreditem, coalas: a bela e altaneira árvore nativa da Austrália foi tachada de "árvore de direita", e suas florestas no Brasil foram apodadas de "desertos verdes". Essa curiosa visão do universo arbóreo foi a justificativa para que mulheres alucinadas da ONG Via Campesina vandalizassem em março instalações da Aracruz Celulose, em Barra do Ribeiro (RS).
"Somos contra os desertos verdes, as enormes plantações de eucalipto, acácia e pinus para celulose, que cobrem milhares de hectares no Brasil e na América Latina. Onde o deserto verde avança, a biodiversidade é destruída, os solos se deterioram, os rios secam, sem contar a enorme poluição gerada pelas fábricas de celulose que contaminam o ar, as águas e ameaçam a saúde humana", diz o manifesto das senhoras.
Até que ponto elas têm razão -e essa árvore, que se acredita ter sido primeiro introduzida no Brasil em 1868, é de fato um grotesco símbolo do "neoliberalismo", o nome novo que a esquerda dá ao velho capitalismo?
O eucalipto, que foi por um tempo vilão ambiental dos verdes menos esclarecidos, estaria voltando a ser malvado e adentrando o panteão maldito da esquerda, onde estão Coca-Cola, Big Mac e soja transgênica?
"Deserto verde é duplamente errado. Deserto é onde não chove. Se é verde, não pode ser deserto", diz, com a paciência típica dos cientistas que vivem às voltas com mitos, o pesquisador Walter de Paula Lima, um dos maiores conhecedores do eucalipto na comunidade científica brasileira.
Ele começou a estudar essa árvore já em 1972, quando começou sua carreira acadêmica como auxiliar de ensino no então Departamento de Silvicultura da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo), em Piracicaba -a mais prestigiosa escola brasileira de agronomia.
Walter Lima é especialista em hidrologia florestal, o uso de água pelas florestas. Um mito acalentado pelos verdes e agora pelos vermelhos pouco esclarecidos é a voracidade do eucalipto por água, cujas plantações seriam capazes de secar rios, lagos, mananciais.
Havia quem dizia que uma árvore de eucalipto usava 360 litros de água por dia. Um absurdo, que foi depois modificado para 30 litros na propaganda antieucalipto. O valor real máximo é 15 litros, diz o professor da Esalq; e só em certas épocas do crescimento, e certas épocas do ano, e para árvores plantadas no padrão tradicional de reflorestamento, uma para cada seis metros quadrados.
Há árvores nativas brasileiras com consumo parecido, dependendo também das circunstâncias. O cientista acha estranho criticarem o eucalipto por afetar a biodiversidade. Qualquer plantação agrícola -de soja ou de café de um latifundiário do agrobusiness, um roçadinho de feijão ou mandioca de agricultura de subsistência- é um ataque à variedade natural de espécies vegetais que existiam no terreno.
A única alternativa a isso seria banir a agricultura da face da Terra -mas, para isso, a população do planeta teria de diminuir de 6 bilhões para no máximo uns 50 ou 100 milhões, se tanto, catando frutinhas no mato "biodiverso".
Mas, dizem os nacionalistas silvícolas, por que não usar árvores nativas em vez do neoliberal eucalipto? Charles Darwin e sua teoria da evolução explicam.
As plantas , árvores e arbustos brasileiros nativos coevoluíram com suas pragas, faz milhões de anos. Criar uma floresta só de embaúba, uma bela árvore de crescimento rápido, seria criar um belo repasto para as pragas locais -a não ser que fossem neoliberalmente enxarcadas de inseticidas.
O eucalipto, ao ser transplantado para cá, poderia ter virado fast food das pragas ou ser imune a elas. Ganhou a segunda opção. A árvore se deu bem, cresce rápido e virou estrela de exportação.
Mais irônico ainda: os tais "eucalipto, acácia e pinus para celulose" criticados pelas neovândalas cumprem seu papel de preservar as matas nativas de virarem papel. Quem vai querer transformar a mata atlântica em papel, se é muito melhor fazer isso com essas árvores de crescimento rápido?
Folha

MST, CUT e UNE

União repassou R$ 60 mi a entidades pró-Lula
MST, CUT e UNE, que ganharam a verba nos três primeiros anos da gestão do petista, farão manifestação em seu apoio


Mobilizadas para reagir a um eventual pedido de impeachment de Luiz Inácio Lula da Silva, entidades de trabalhadores, sem-terra e estudantes receberam mais de R$ 60 milhões dos cofres públicos nos primeiros três anos de mandato do presidente. O maior volume de dinheiro foi destinado ao MST e à CUT, investigados pelo Tribunal de Contas da União por desvio de verbas federais.
A Folha pesquisou os repasses de dinheiro dos impostos arrecadados pela União às três principais ONGs ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que não tem personalidade jurídica, à Central Única dos Trabalhadores e à UNE (União Nacional dos Estudantes).
Representantes das entidades se reuniram com o presidente do PT, Ricardo Berzoini, na última terça, e planejam para junho uma grande manifestação pró-Lula. Seria uma reação a um eventual pedido de impeachment do presidente analisado pela OAB.
Os números não levam em conta repasses feitos às entidades por estatais, que fogem ao controle do Siafi (sistema informatizado de acompanhamento de gastos federais). Para a comemoração do Primeiro de maio, por exemplo, a CUT recebeu da Petrobras e da Caixa R$ 800 mil. Há dois anos, para promover os 20 anos da central, essas estatais investiram, com os Correios, R$ 760 mil.
Encarregado da interlocução com os movimentos sociais, o ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) avalia que o governo Lula melhorou o diálogo com as entidades. "Mesmo aquelas dirigidas por adversários, como a CGT, tiveram interlocução maior." Dulci não opinou sobre o repasse de verbas públicas.

Salto
Sob Lula, ONGs ligadas ao MST foram as que mais ganharam. Mais do que quadruplicou o volume de recursos repassados para programas de capacitação profissional e de alfabetização ou cursos de formação política -principais formas de captação de recursos públicos pelos sem-terra.
Entre 2000 e 2002 -três últimos anos da administração Fernando Henrique Cardoso-, a Anca (Associação Nacional de Cooperação Agrícola), a Concrab (Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária) e o Iterra (Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária) receberam da administração direta pouco mais de R$ 7 milhões. Nos três primeiros anos de mandato de Lula, foram repassados quase R$ 30 milhões às entidades.
A comparação do mesmo período (três últimos anos da administração FHC contra os três primeiros de Lula) mostra queda de repasses à CUT. Mas, em julho de 2003, o TCU mandou suspender o repasse às centrais sindicais, depois de apurar o desvio de dinheiro do Planfor, programa destinado à capacitação profissional.
Em 2004, a CGU (Controladoria Geral da União) criticou formalmente o descumprimento das determinações do TCU. Mas o Ministério do Trabalho insistiu no entendimento de que a suspensão dos repasses se limitava ao Planfor. Num reexame das prestações de contas do programa, o ministério apurou desvio de R$ 9,9 milhões por parte da CUT. Procurada pela Folha, a assessoria do ministro Luiz Marinho disse que não há conclusão sobre a devolução do dinheiro aos cofres públicos.
O Ministério do Trabalho manteve os pagamentos destinados ao Plansine, programa que cuida da recolocação de desempregados no mercado de trabalho. A CUT também vem recebendo repasses do Ministério da Educação para programas de alfabetização.

Irregularidades
Entre as irregularidades apontadas na CUT, o tribunal encontrou um único trabalhador, de nome Adão de Jesus Evling Naysinger, inscrito em 25 cursos em seis cidades diferentes. A Força Sindical, igualmente condenada pelo TCU, continuou recebendo dinheiro público em volume maior do que a CUT em 2003 e 2005.
Alvo de investigações por desvio de verbas como a CUT, as principais ONGs ligadas ao MST foram cobradas pelo TCU a devolver R$ 15 milhões aos cofres públicos. É o valor corrigido no final de 2005 das verbas supostamente desviadas pela Anca e pela Congrab. A maior parte das irregularidades foi registrada em convênios feitos no governo Lula.
Em menos de quatro meses, a Anca já recebeu, só neste ano, R$ 2,9 milhões, segundo registros do Siafi. No mesmo período, foram repassados à UNE R$ 735 mil - 71% do total repassado em 2002, último ano de governo FHC.
Em 2005, a UNE recebeu num só dia (22 de julho) R$ 770 mil do Ministério da Cultura. A verba foi para atividades culturais, e a prestação de contas está em aberto. A pesquisa no Siafi foi feita com o apoio da ONG Contas Abertas.
Folha

29.4.06

Pânico no MT

Entrevista de ex-bicheiro pode trazer revelações no MT

Duas lideranças do PSDB no Mato Grosso, o senador Antero Paes e Barros e o ex-governador Dante de Oliveira, teriam procurado a rede Globo para se informar do conteúdo da entrevista do ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro deu à TV Centro América, filiada à emissora. As informações são do jornal “Olhar Direto” e foram confirmadas pelo jornalista Ricardo Noblat.

A entrevista, que de acordo com o “Olhar Direto” traria revelações sobre financiamento de campanha de alguns políticos do Estado, foi confirmada pela Rede Globo, no entanto eles informaram que a exibição neste domingo ainda não é certa.

Em entrevisa a Noblat, publicada em seu blog, Paes de Barros confirmou que ligou ao jornalista Geneton Moraes Neto, editor do Fantástico e, sabendo da existência da entrevista, pediu para ser ouvido na mesma ocasião, caso seu nome fosse citado. Ouvi de Geneton que a entrevista esta sendo avaliada e se o senador fosse citado, seria ouvido pela reportagem do Fantástico.

O jornalista também confirmou com Paes de Barros e com Dante de Oliveira que o PSDB não entrou com uma ação para impedir que a entrevista do ex-bicheiro seja exibida pela Rede Globo.

O comendador, como é conhecido Arcanjo, está detido em Cuiabá, numa ala federal do Presídio Pascoal Ramos, considerado de segurança máxima. Arcanjo estava preso em Montevidéu desde 11 de abril de 2003 por falsificação de documentos. Já foi condenado a 49 anos de prisão em Mato Grosso e ainda responde a processos por crime organizado, formação de quadrilha, homicídios, lavagem de dinheiro, contrabando e evasão de divisas.

Ex-policial civil e segurança, com o dinheiro das atividades criminosas, segundo denúncia do Ministério Público, o Comendador (título conferido pela Câmara de Vereadores de Cuiabá) até então amigo de políticos, juízes, desembargadores e religiosos no Estado, foi um homem influente em Mato Grosso por mais de uma década.

Controlador do jogo do bicho e jogos de contravenção, ele que emprestava dinheiro, por meio de factorings viu seu império ruir após o assassinato do jornalista Sávio Brandão, dono do jornal "Folha do Estado", morto em 30 setembro de 2002.

Em dezembro do mesmo ano, a Polícia Federal deflagrou a Operação Arca de Noé, acolhendo determinação da Justiça Federal, para desarticular atuação do bicheiro em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, São Paulo, Paraná e Minas Gerais. Os inquéritos ainda não foram concluídos.

Levantamento dos bens do bicheiro feito pelo juiz federal Julier Sebastião da Silva mostra que o patrimônio estimado é de R$ 2,4 bilhões. Os bens cadastrados - fazendas, aviões, apartamentos, salas comerciais, hotéis, casas e edifícios comerciais - estão indisponíveis. O bicheiro já foi indiciado em nove homicídios ocorridos em Mato Grosso.

Crise no campo

Protestos bloqueiam rodovias e barram mais de 100 caminhões
Em Lucas do Rio Verde (MT), participaram cerca de 1,5 mil produtores


Os protestos se intensificaram no eixo Nova Mutum-Sinop da BR-163, em Mato Grosso, o maior centro de produção de soja e milho do País. Mais de 100 caminhões carregados de grãos foram barrados na região. Cerca de 1.500 produtores de Lucas do Rio Verde (350 km de Cuiabá) acampados na beira da estrada com seus tratores e máquinas, queimaram uma colheitadeira na pista. "Vende-se por R$ 1,99 mais Finame", diziam placas afixadas nos tratores. A pista está coberta de soja, derrubada de um caminhão que tentou furar o bloqueio.

Em Nova Mutum (255 km de Cuiabá), cerca de 500 agricultores bloquearam o Banco do Brasil da cidade com tratores e colheitadeiras e impediram a entrada de clientes. Os produtores estão barrando também a saída de caminhões de soja de tradings como Bunge, ADM e Cargill. Na Bunge de Nova Mutum, há 26 caminhões impedidos de partir com os carregamentos para o Porto de Paranaguá, de onde seriam exportados. A região produz quase 10% da safra brasileira de grãos.

Os prefeitos decretaram ponto facultativo e a maioria do comércio das cidades estava fechado. Muitas lojas tinham bandeiras pretas em sinal de luto.

O movimento foi batizado de Grito do Ipiranga, por causa da cidade onde começou, Ipiranga do Norte, na quarta-feira da semana passada. Os produtores reivindicam redução de impostos sobre o óleo diesel, renegociação das dívidas com juros mais baixos, mudanças na política cambial, conclusão da BR-163 e desoneração dos insumos agrícolas.

Pedro Ferronato, produtor de Ipiranga do Norte, é o idealizador do movimento. Ele planta 300 hectares de soja e está devendo R$ 120 mil. Está com o nome sujo no Serasa porque atrasou as prestações e vai vender duas máquinas e parte de suas terras. "Vou caçar e pescar", brinca. Ferronato afirma que o movimento vai continuar por tempo indeterminado, apesar de haver uma liminar determinando o desbloqueio da estrada. Cerca de 30 agentes da Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal, além de quatro agentes da Polícia Federal, foram deslocados para a região. "Se tentarem tirar a gente da estrada,vai ser uma carnificina."

O coordenador de Comercialização e Abastecimento do Ministério da Agricultura, Sílvio Farnese, foi ontem à cidade reunir-se com os prefeitos da região e lideranças rurais. Ele falou sobre a prorrogação das dívidas com bancos oficiais, anunciada pelo governo recentemente, e garantiu que o projeto de seguro agrícola sai do papel neste ano. Mas os produtores estavam com os ânimos exaltados e receberam Farnese em clima de hostilidade. "Vocês vêm dar migalhas para a gente, não vamos conseguir plantar nada na próxima safra", disse Ferronato. "Isso só vai ser resolvido a paulada."

O prefeito de Lucas do Rio Verde, Marino Franz, afirmou que o movimento continua pelo menos até terça-feira, quando lideranças rurais de vários Estados se reúnem para ampliar os protestos. Nesse dia, o movimento deve ter a adesão dos caminhoneiros de Mato Grosso e podem ser fechadas outras rodovias, inclusive na Bahia e em Mato Grosso do Sul .

Lula e Casas Bahia

Lula elege Casas Bahia como modelo de desenvolvimento para o Brasil
Em discurso, presidente diz ter a mesma concepção de "estabelecer parceria com a parte pobre da população"


Afeito a utilizar seus discursos para ressaltar a importância de governar para os mais pobres, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o foco das Casas Bahia - o consumidor de baixa renda - durante inauguração ontem do novo Centro de Distribuição da empresa, em São Bernardo do Campo, para comparar o Brasil à líder nacional no setor varejista de eletroeletrônicos, eletrodomésticos e móveis.

Falando de improviso, Lula disse que é daqueles que, em vez de ficar tentando adivinhar o que vai acontecer, prefere trabalhar para que aconteça. "E estou convencido de que vai acontecer neste país o mesmo que aconteceu nas Casas Bahia."

Dirigindo-se ao presidente das Casas Bahia, Samuel Klein, o presidente falou sobre a necessidade de olhar para os menos favorecidos. E elogiou a opção da empresa de priorizar a parcela mais carente da população e "acreditar" nela. "Embora não seja presidente das Casas Bahia, seja presidente do Brasil, a minha concepção de tratamento deste país é a concepção que o senhor teve de estabelecer a sua parceria com a parte pobre da população", discursou.

Ao lado do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, da primeira-dama, Marisa Letícia, e do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, Lula listou uma série de políticas de seu governo dirigidas à população carente. E insistiu que "é preciso mudar um pouco a forma conceitual com que se trata as coisas" no Brasil. "O senhor (Samuel Klein) fez, teve resultado e disse agora há pouco para mim: 'Eu gostaria que o Brasil fosse que nem as Casas Bahia, todo mundo feliz'. O senhor fez isso porque acreditou na parte pobre da população", disse o presidente.

ELEITORADO

Ao longo dos 22 minutos em que discursou na cerimônia, Lula utilizou quase todo o tempo para falar das parcelas mais carentes da sociedade, onde tem, segundo as pesquisas, maior intenção de voto. Listou uma série de realizações de seu governo para os mais pobres, entre elas o Bolsa Família - e seus 9 milhões de famílias beneficiadas - , o crédito consignado, o ProUni, o salto de R$ 2,4 bilhões para R$ 9 bilhões no financiamento para a agricultura familiar, além do aumento real de 1,5% do salário dos aposentados.

"No Brasil ainda nem todo mundo evoluiu a ponto de compreender que a transferência de renda é a melhor forma que a gente tem para fazer o País crescer", argumentou o presidente.

Mais tarde, em entrevista, voltou ao tema. Disse que "acabou o tempo daqueles que falam que o Brasil precisa, primeiro, crescer para, só depois, distribuir". "Estamos provando que é possível crescer e distribuir ao mesmo tempo", enfatizou, acrescentando que distribuir ajuda o País a crescer.

Ao falar da importância de os mais carentes terem acesso ao crédito consignado e a condições de compra a prazo, Lula disse que para os mais pobres não importa o valor do produto, mas sim o fato de a prestação ser baixa. "Obviamente que a parte mais pobre da população, quando pega R$ 1 mil emprestados, não vai comprar dólar para guardar ou não vai emprestar a juros", disse. " A pessoa vai comprar uma roupa, uma camisa, um sapato, uma televisão, um rádio. E quanto mais tempo a gente der de prestação e quanto mais barata for a prestação, mais as pessoas vão poder comprar, porque no meio da parte mais pobre da população eles não têm a preocupação se vai custar cinco ou seis vezes a mais. Eles querem saber se podem pagar uma prestação, eles querem saber se é possível dividir e conseguir pagar um pouquinho a cada mês."

RUMO CERTO

Mais uma vez, Lula elogiou a iniciativa de Klein em criar as Casas Bahia e ter descoberto "o filé" de se dirigir aos menos favorecidos. Para Lula, as Casas Bahia demonstraram "claramente" que basta acreditar na sociedade brasileira para que as coisas dêem certo. "Basta ter uma política correta para o público correto que não há jeito de errar." Por fim, reafirmou a empresários e funcionários da empresa sua convicção de que o Brasil finalmente encontrou seu rumo. "O Brasil entrou num ciclo de desenvolvimento duradouro, sustentável e isso vai durar muitos e muitos anos." Na cidade em que ganhou projeção como sindicalista, Lula foi saudado por metalúrgicos que o aguardavam ao lado de fora.
Estadão

Tapas, socos e chutes!

Sindicalistas da CUT expulsam tucanos que organizavam protesto contra Lula

Militantes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e da CUT (Central Única dos Trabalhadores) expulsaram ontem, com tapas, socos e chutes, cerca de 20 manifestantes ligados ao PSDB que tentaram fazer um protesto contrário ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Eles estavam a cerca de 300 metros de distância do local do evento.
O confronto aconteceu por volta das 9h30, duas horas antes de Lula chegar de helicóptero.
O grupo do PSDB, que chegou no local por volta das 8h, colocou cartazes em postes de iluminação e distribuiu folhetos contrários ao PT. O objetivo era lembrar que, em 2003, o local do novo depósito das Casas Bahia serviu de palco de uma invasão comandada por militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e defendida por membros do PT.
Em julho daquele ano, um repórter-fotográfico da revista "Época" foi morto a queima-roupa durante um tumulto entre os sem-teto. À época governador, Geraldo Alckmin determinou à polícia o cumprimento de uma ordem judicial de despejo.
O Diretório Municipal do PSDB de São Bernardo do Campo encomendou 20 cartazes com a imagem de petistas em meio à invasão, como o senador Eduardo Suplicy e o atual ministro do Trabalho, Luiz Marinho.
Quando os militantes favoráveis a Lula chegaram de ônibus e viram os cartazes, pediram para o motorista parar. Desceram, arrancaram os cartazes, rasgaram os panfletos e expulsaram os manifestantes. A Polícia Militar foi chamada para fazer a escolta de alguns tucanos.
"Se dependesse dos petistas, a nova área das Casas Bahia nem existiria. Tudo seria uma imensa favela. É muita cara-de-pau agora eles irem para lá para inaugurar a empresa", afirmou o deputado estadual Orlando Morando (PSDB), um dos organizadores da manifestação.
Segundo o deputado, dois manifestantes tucanos foram feridos de forma leve.
Folha

Cheiro de Vitória!

PT vende perfume "Cheiro de Vitória" para reforçar caixa
O PT apresentou ontem, no seu Encontro Nacional, a mais nova idéia para reforçar o seu desfalcado caixa: o perfume "Cheiro de Vitória". Vendido em um kit com 24 frascos -12 masculinos e 12 femininos-, a fragrância petista era oferecida num stand por rapazes e moças sorridentes, junto com os tradicionais livros, revistas e chaveiros. "Sinta! Cheiro de Vitória. Experimente! Cheiro de Vitória", diziam os cartazes.
A simpatia dos vendedores cessou quando o repórter, após receber gotas dos perfumes no pulso, identificou-se como jornalista. Nem o preço foi revelado. "Isso precisa ser tratado com nossa assessoria de imprensa", disse um vendedor.
A segurança extrema foi a marca de todo o evento, com a imprensa isolada e proibida de circular pela quadra. Até ir ao banheiro despertava suspeitas.
Na entrada, três detectores de metais congestionavam a fila, provocando um início de tumulto quando delegados mais exaltados tentaram agilizar a entrada. Do lado de fora, petistas graúdos reuniam-se em rodinhas, algumas vezes xingados por motoristas e pedestres. Pesquisadores da Fundação Perseu Abramo circulavam com um questionário perguntando a opinião de delegados sobre como o PT fará para superar a crise: "Na sua opinião, a crise foi muito grave, pouco grave ou nada grave?"
Lula não ficou muito tempo no palco acompanhando os discursos: saiu por dez minutos e depois voltou com um chaveirinho do Corinthians. Quando o presidente do PC do B, Renato Rabelo, defendia a reeleição de Lula apesar do difícil momento político, um militante empolgado interrompeu a fala aos gritos de "rapadura é doce, mas não é mole!". Foi um dos mais aplaudidos.
Folha

Lula desafiador!

Lula desafia a oposição e diz estar pronto para rechaçá-la
Em encontro do PT, presidente afirma que adversários não vão derrotá-lo "na disputa democrática"


A uma platéia de quase 2.000 petistas que pediam em coro sua reeleição o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou pela primeira vez segurança de que vencerá a disputa. E lançou um desafio à oposição: "Que venham! Que venham, porque estaremos prontos para rechaçá-los".
Foi o trecho final -e mais aplaudido- de sua fala no 13º Encontro Nacional do PT, encerrada com o jingle da campanha presidencial de 1989, "Lula lá".
"Na disputa democrática, eles [da oposição] não nos derrotarão", disse. Lula atacou a oposição e a imprensa ao falar da crise política enfrentada em seu governo. Disse que "tem a dimensão histórica" do que está acontecendo no país e que o PT não pode aceitar ser julgado pelo PSDB e pelo PFL.
Ironizou ainda o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), deixando claro que quer comparar os resultados de seu mandato com o do tucano. "Comparar nosso governo com o passado é a mesma coisa que comparar o Corinthians com o Íbis", disse em referência a um clube pernambucano que já foi chamado de "o pior do mundo".
Lula não poupou o PT e colocou condições para entrar na disputa. Disse que só aceita ser candidato à Presidência se o partido abrir espaço para aliados nos Estados. "Não podemos permitir que em cada Estado prevaleça só a vontade do Estado. Se pode prevalecer, então não venham me dizer que a prioridade é o projeto nacional."
O PT convidou para o evento representantes de partidos políticos aliados, como PSB e PC do B. O vice-presidente, José Alencar (PMR), afirmou que apoiará Lula "onde quer que esteja", numa indicação de que poderá deixar de fazer parte da chapa na reeleição. Representantes políticos de 16 países, como Cuba, China, Venezuela e Estados Unidos, acompanharam o discurso de Lula.
Lula afirmou ainda que muitos "companheiros" passaram a maior parte do mandato preocupados em criticar o governo e a política econômica em vez de "fazer oposição" aos adversários.
Disse que está preparado "fisicamente, psicologicamente e politicamente" para a disputa. E que tudo o que quer na vida é fazer comparações, inclusive no campo ético. "É preciso levantar a cabeça para não ter vergonha do debate ético. Não podemos permitir que os setores mais conservadores venham nos dar lição de ética."
Para o presidente, o PT, na oposição, era "fichinha" perto do PSDB e o PFL. "Não atacávamos as pessoas, não mexíamos nas famílias. Porque para nós era valor sagrado, não mexíamos nas relações pessoais", disse, referindo-se a denúncias de irregularidades envolvendo a empresa de jogos eletrônicos de seu filho Fábio.
Bem-humorado e arranhando o espanhol em vários momentos, Lula mencionou a presença do ex-ministro José Dirceu, que foi ovacionado mas também vaiado por alguns petistas. Elogiou o empenho de Dirceu e também a paciência do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci para que a política econômica fosse mantida.
"Eu me lembro da preocupação que alguns tinham do que ia acontecer conosco no primeiro ano de governo. Nossos algozes torciam, tinham a convicção de que nós não íamos dar conta do recado e que o Brasil estaria quebrado no primeiro ano de governo." Em nova referência a Dirceu e Palocci, prometeu defendê-los: "Companheiro nosso, na dúvida, é nosso companheiro."
Seguindo a linha de criticar as elites e vincular a crise a uma espécie de disputa de classes, o presidente disse que é vítima da má vontade dos ricos. "Tenho noção do que uma parte muito pequena da elite política brasileira faz com aqueles que ocupam postos que eles pensavam que eram só deles na história deste país."
O presidente, cujo mandato foi marcado pela tensão nas relações com meios de comunicação, disse duvidar que exista no mundo um defensor maior que ele da liberdade de imprensa. "Uma parte da imprensa sabe que não tem sido democrática comigo."
Em uma alfinetada em seu adversário Geraldo Alckmin, que defende um "choque de gestão", Lula minimizou o impacto do discurso oposicionista: "Se eles não querem fazer disputa econômica nem projetos sociais, o que vamos debater, choque de gestão?".
Folha

28.4.06

Entre males

Investidores devem manter distância do Peru se Ollanta Humala se eleger presidente em 28 de maio. A julgar pelos planos que apresentou para salvar o país, pelo putsch que encabeçou em 2000 contra o presidente Alberto Fujimori e por sua ficha de violador dos direitos humanos, dias sombrios chegarão para a frágil democracia peruana se Humala for o escolhido.

Sua proposta de nacionalizar a economia, recebida como promessa por certos setores da vida peruana, naturalmente assusta o capital mundo afora. Na visão distorcida desse ultranacionalista latino-americano, é preciso devolver ao Peru as empresas que, segundo ele, hoje enriquecem os estrangeiros. Isto para não mencionar a influência que seu clã familiar — que, como ele, defende políticas fascistas, como pena de morte para homossexuais e mordaça para a imprensa— exerceria na vida institucional peruana.

Mas o cenário também não é animador na hipótese de o escolhido ser Alan García, que já foi presidente anteriormente. Não fosse a vida democrática a caixinha de surpresas que costuma ser em toda parte, os peruanos não teriam sequer permitido que García se apresentasse como candidato. Em seu governo, de 1985 a 1990, nossos vizinhos andinos conheceram as angústias do desgoverno, as agruras da hiperinflação e a violência desvairada do Sendero Luminoso em sua fase mais brutal e sanguinária. Por tudo isso, o calamitoso governo García abriu caminho para a era Fujimori, o decênio em que o Peru foi dominado pela dupla Fujimori-Vladimiro Montesinos — o ditador e o braço sinistro da corrupção.

Mesmo assim, e lamentavelmente para o eleitorado peruano, García parece a opção menos suicida. Ele, pelo menos, tem com a democracia um compromisso que Humala jamais teve. Não se refere ao presidente Hugo Chávez, da Venezuela, como seu guru e modelo. E não encarna, nas atitudes e palavras, o que há de pior na história continental: o autoritarismo, o militarismo, a descrença no diálogo — embora também cultive o vício do populismo.

Defender suas instituições deve ser a prioridade dos peruanos no segundo turno, ainda que isso signifique jogar o país novamente nas mãos ineptas de García.
Globo

Fidel, Cháves e Morales

Fidel, Chávez e Morales avançam em alternativa frente aos EUA
Os líderes devem assinar um acordo para iniciar o Tratado de Comércio dos Povos (TCP), alternativa à Alca proposta pelos Estados Unidos

HAVANA - O presidente boliviano, Evo Morales, chegou nesta sexta-feira a Havana para avançar com Cuba e Venezuela no processo de integração regional impulsionado pelo venezuelano Hugo Chávez como alternativa ao modelo defendido pelos Estados Unidos.

Morales foi recebido pelo presidente cubano, Fidel Castro, no aeroporto de Havana, onde se espera a chegada do governante venezuelano nas próximas horas para participar da "mini-cúpula" no sábado, na qual será assinado um acordo para iniciar o Tratado de Comércio dos Povos (TCP).

O TCP, impulsionado por Morales, inscreve-se na Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), assinada em maio do ano passado por Fidel e Chávez como alternativa à Área de Livre-Comércio das Américas (Alca) proposta pelos Estados Unidos.

Pouco se sabe até agora do conteúdo do TCP que será assinado no sábado pelos três presidentes e que já provocou duras críticas entre os detratores de Morales na Bolívia e foi questionado por outros Governos da região, como o peruano.

Antes de viajar para Havana, Morales anunciou que o acordo permitirá o comércio de algumas mercadorias, entre elas a folha de coca e a soja, com tarifa zero, embora ainda não tenha sido divulgada a lista de produtos incluídos no convênio nem a data de entrada em vigor do Tratado.


Encontro histórico
Em declarações à agência estatal cubana Prensa Latina, Evo Morales afirmou que será "um encontro histórico de três gerações" que lutam pelas mudanças na região e fortalecerá "o chamado eixo do mal", em alusão às críticas dos EUA contra os três governantes.

A iniciativa, segundo analistas e observadores ocidentais, tem uma grande carga política devido à atual conjuntura da região e o conflito aberto pelo anúncio de Chávez de retirar a Venezuela da Comunidade Andina (CAN) em protesto pela negociação do Peru e Colômbia de Tratados de Livre-Comércio com os Estados Unidos.

A "mini-cúpula" de Havana acontece apenas uma semana depois que Morales pediu aos presidentes da Colômbia, Álvaro Uribe, e Peru, Alejandro Toledo, que suspendessem os Tratados de livre-comércio negociados com Washington e solicitasse a Chávez que reconsiderasse a decisão de abandonar a CAN.

Após sua chegada a Cuba, Chávez poderá informar a Morales e a Fidel os resultados de sua reunião com os governantes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e Argentina, Néstor Kirchner, com quem analisou esta semana sua proposta de "reformular" o Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai), bloco ao qual a Venezuela está em processo de incorporação como membro pleno.

Às vésperas de sua visita a Havana, o governante venezuelano anunciou que o encontro permitirá "continuar avançando na integração humanista" da Alba, diante da "morte da imperialista Alca".

A reunião coincide, além disso, com o primeiro aniversário da assinatura, por Chávez e Fidel, de cerca de cinqüenta acordos para consolidar o processo de integração no contexto da Alba.

Entre outros pontos, os acordos permitiram a isenção do pagamento de tarifas e impostos a produtos venezuelanos adquiridos no marco da Alba, enquanto a Venezuela concedeu preferências tarifárias a 104 produtos cubanos.

A Venezuela fornece a Cuba mais de 90 mil barris diários de petróleo a preços preferenciais que a ilha retribui com serviços médicos, educativos e esportivos.

O comércio bilateral superou no ano passado US$ 2,3 bilhões, dos quais US$ 1,5 bilhão corresponde à fatura energética.

Além disso,a Venezuela anunciou recentemente um investimento superior a US$ 1 bilhão para a reativação da refinaria cubana de Cienfuegos.
EFE

Arcanjo no Fantástico

Arcanjo vai apresentar lista de políticos e empresários domingo no Fantástico

É Fantástico! O slogan que há 30 anos se tornou marca registrada aos domingos a noite, na TV Globo, promete ser mais do que fantástico neste domingo. É que uma equipe da emissora carioca esteve na última quinta-feira em Cuiabá. A reportagem não será sobre o Pantanal, muito menos sobre a floresta amazônica. Desta vez a matéria que promete bater todos os recordes de audiência em Mato Grosso será com o presidiário João Arcanjo Ribeiro, o capo da máfia do bicho no Estado e acusado de ter mandado matar muita gente, entre elas o dono do jornal Folha do Estado, Sávio Brandão. Na entrevista, Arcanjo antecipa a apresentação da lista de influentes políticos e empresários que promete apresentar à Polícia Federal dia 5 de maio. Cita nomes, todo o esquema que envolvia o envio de propinas aos políticos e fala em Deus.

No encontro com o Fantástico, Arcanjo abre o jogo, fala dos empréstimos que fez para políticos e empresários mato-grossenses. Cita nomes e assegura que todos estes ainda lhe devem os empréstimos feitos, principalmente referentes às campanhas de 1998 e 2002.

Sem o uniforme de presidiário e dando entrevista na sala da administração do presídio, João Arcanjo fez questão de esclarecer que não mandou matar o empresário Sávio Brandão, que não tem nada a ver com o caso.

Mas o assunto mais bombástico da entrevista foi mesmo quando o repórter lhe perguntou sobre o esquema de empréstimo de dinheiro nas campanhas políticas de 1998 e 2002 e os políticos que foram beneficiados com a sua ajuda financeira.

Tranqüilo, com um sorriso sarcástico, Arcanjo não poupou ninguém. Citou os nomes de vários políticos que estão se preparando para as eleições de 2006 e que são considerados bons de votos.

Policiais que acompanharam a entrevista disseram ao site 24 Horas News que ficaram surpresos com os nomes dos políticos citados por Arcanjo. “É gente da alta. Político famoso. Tem empresário que se diz poderoso. Um esquema incrível de poder e bajulação”, disse um dos policiais não conseguindo conter a surpresa do conteúdo da entrevista que vai ao ar domingo no Fantástico.

Arcanjo falou também do chamado “Esquema tucano”, o já conhecido empréstimo de dinheiro para a campanha tucana de 1998 e 2002 e que acabou em investigação da Polícia Federal em 2004 com a apreensão de computadores nos escritórios políticos do ex-governador Dante de Oliveira e no Diretório Estadual do PSDB.

O ex-capo do jogo do bicho, comendador João Arcanjo Ribeiro não se curvou a contar a história. Confirmou tudo que havia sido declarado em juízo por Nilson Teixeira, seu ex-contador e que também cumpre pena. Contou tudo, deu detalhes, mas segundo o policial que acompanhou a entrevista, o chefão inocentou o ex-governador Dante de Oliveira, embora tivesse citado que as negociações de empréstimos foram feitas em uma secretaria de Estado no governo do PSDB em Mato Grosso.

Os advogados de Arcanjo preteriram a imprensa regional. Apesar dos três maiores jornais e TVs de Cuiabá terem solicitado entrevista com o bicheiro, inclusive com autorização judicial em mãos, Arcanjo preferiu falar apenas para a Rede Globo.

Ao final da entrevista que foi recusada para os três jornais de Cuiabá e para as principais emissoras de rádio e TV da cidade, Arcanjo, sorrindo aproveitou para dizer que confia na justiça, falou muito de religião, disse que tem Deus em seu coração e mandou beijos para sua família.

A entrevista que foi negada aos veículos de comunicação de Cuiabá, mas que vai ao ar no Fantástico é aguardada com expectativa, com muito nervosismo por parte da classe política e empresarial que se acostumaram ao recebimento de dinheiro fácil de Arcanjo. As drogarias e farmácias de Cuiabá estão ampliando os estoques de calmantes. Os hospitais da cidade estão se preparando para receber após o programas pessoas que tiverem seus nomes citados com pressão alta e infarto. O programa jornalístico da Globo será mesmo de arrepiar os cabelos, será Fantástico!
24 horas News

Ong Petista no RS

ONG do PT influencia debates sobre contrato de R$ 600 mi da área do lixo

Foi inaceitável a decisão do secretário municipal César Busatto de
convidar a ONG neopetista Camp para mediar os debates do 1o Seminário
Municipal sobre Catadores de Resíduos Recicláveis (papeleiros).
Busatto tentou se explicar ao site VideVersus, mas não teve êxito. O
objetivo oculto de Busatto pode ser o de envolver politicamente a
"aguerrida" alcatéia petista, contendo-lhe os dentes, mas se isto é
verdade, apostou errado.
A Camp foi criada por petistas fundamentalistas guascos, entre os
quais o ex-secretário de Segurança de Olívio, Lauro Magnano, seu atual
presidente, além de notórios censores de jornalistas locais, no caso
os srs. Guaraci Cunha e Laerte Méliga. A lista inclui Davi Stival, o
presidente do PT que teve que fazer acordo em juízo para não ser
condenado no processo como mensaleiro do Valerioduto.

O PT gaúcho está envolvido há 16 anos com os empreiteiros do lixo.
Sua experiência na área – e das ONGs que por ele são aparelhadas –
deixou um rastro de escândalos. Os casos dos prefeitos assassinados
Celso Daniel e Toninho do PT são dois exemplos. No RS, Darci Campani,
que dominou a sesmaria do DMLU durante 13 dos 16 anos da dinastia do
PT, foi condenado a devolver R$ 1 milhão aos cofres públicos. O
ex-prefeito Olívio Dutra comprou no afogadilho uma usina de lixo
hospitalar que jamais foi instalada e apodrece na zona Sul.

Por trás de tudo isto está um contrato bilionário de R$ 600 milhões,
que será objeto da licitação que o DMLU abrirá ainda este ano em Porto
Alegre, contemplando todas as áreas dos serviços de lixo de Porto
Alegre.

Ninguém consegue saber porque o prefeito José Fogaça resolveu
atribuir ao diretor Geral do Dmlu o papel de rainha da Inglaterra
nesse processo de licitação de R$ 600 milhões da área de serviços de
lixo.

O secretário José Busatto assumiu a liderança do processo e não
larga o osso.
Políbio Braga

Juventude do PT

Juventude do PT vai às escolas do MS incentivar voto aos 16 anos

Campo Grande – Jovens petistas do Mato Grosso do Sul deflagram hoje (28) no interior do Estado a campanha “Queremos Mais Participação”. Iniciada em Campo Grande nesta semana, a ação visa incentivar quem completará 16 anos até o dia 1º de outubro a tirar o título de eleitor e participar, com o voto, das eleições deste ano. Sob coordenação do Coletivo Estadual da Juventude do Partido dos Trabalhadores, a campanha começa nesta sexta-feira em Dourados, Nova Andradina e Naviraí com jovens militantes visitando escolas para conscientizar os futuros eleitores sobre a importância de sua participação no processo de escolha dos governantes.

Promovida pela Secretaria Nacional de Juventude do PT a campanha começou na Capital do Mato Grosso do Sul na última segunda-feira (24), com visitas da Juventude do PT de Campo Grande às escolas estaduais Hércules Maymone (Avenida Ceará) e Waldenir de Barros (Moreninhas). Os jovens petistas levaram cartazes e panfletos do movimento.

Objetivos – “A meta é fazer o corpo-a-corpo com os jovens, debatendo sobre a importância da participação nas eleições aos 16 anos”, disse ao Portal do PT-MS, Sérgio Anastácio de Souza Jr., o Serginho, do Coletivo Estadual da Juventude petista. Além de incentivar os jovens a ingressar no processo exercendo seu direito de escolher seus governantes, a campanha visa também promover a participação mais ativa da juventude na política, através de sua organização em grêmios estudantis, centros acadêmicos, associações, movimentos sociais e na filiação ao PT.
A campanha pelo voto aos 16 anos é primeira com o mote “Queremos Mais”, adotado pela Juventude do PT para o conjunto de suas campanhas e ações neste ano. A criação de um mote comum para as atividades da JPT tem como objetivo criar uma identidade nacional para atuação dos jovens petistas seja em nível nacional, estadual, municipal ou setorial.

Desfaçatez como nunca se fez

Insolência de Lula diante da lei alimenta a cultura da infração no Brasil
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Roberto Busato, em seu discurso na posse da ministra Ellen Gracie na presidência do Supremo Tribunal Federal, defendeu a necessidade de se "pôr a termo" a sensação de que o Brasil "é o país da impunidade".
O presidente Luiz Inácio da Silva estava lá, ouviu e seria de todo conveniente que não só apreendesse o sentido total da frase como tomasse consciência de que tem sido ele um dos principais empecilhos para a reforma de mentalidades referidas na cultura da infração e talvez o mais destacado incentivador do supostamente esperto descaso à lei.
O desleixo do presidente com o conteúdo e os efeitos de suas palavras dispensa apresentações, pois três anos e meio de mandato não foram suficientes para imbuir Lula do sentido do cargo, da responsabilidade que tem como cidadão-símbolo dos valores de correção e probidade.
Quando fala, o presidente continua dando à própria voz um tratamento leviano; típico, não obstante condenável, de políticos de oposição. Com a mesma ligeireza que apontava a existência de "300 picaretas" no Congresso, Lula avalizou o uso do caixa 2 em campanhas eleitorais e agora, mais exatamente na quarta-feira à noite, assume-se em estado de flagrante agressão à lei e não se mostra minimamente constrangido com isso.
Ao contrário. Durante o lançamento do livro do senador Aloizio Mercadante o presidente da República repetiu que não tem pressa em oficializar sua candidatura à reeleição e, desta vez, explicou a razão com todas as surpreendentes e robustas letras.
"Temos dois meses pela frente, temos muitas obras para inaugurar. Se eu disser que sou candidato, eu não posso fazer isso. Se o partido fizer convenção vai ficar mais difícil. Então, eu quero ter liberdade para fazer as coisas", disse ele.
E por "fazer as coisas" entenda-se iniciar a campanha eleitoral valendo-se dos instrumentos à disposição da Presidência e fora do prazo legal permitido.
De tão ousada e displicente, a declaração do presidente chega a soar ingênua. Ele parece realmente convencido de que "as coisas" podem ser feitas desse modo. Se a lei não permite, então arranja-se um jeito de contornar as restrições.
Para ele, tudo se resume a aparências: se não diz que é candidato, pode agir como se não fosse, embora reconheça que só não assume a candidatura porque isso o obrigaria a andar dentro da lei, em condições de igualdade com seus adversários.
O presidente manifesta inconformidade com as cobranças, reivindica o direito de "colher o que plantou", defender o seu governo e mostrar seus feitos. Pois muito bem, teve três anos e meio para isso e, a partir de julho, com o início oficial da campanha terá de novo.
Só não poderá "fazer as coisas" usando os instrumentos de Estado. Quando se iniciar o horário eleitoral, em agosto, os programas do PT estarão à sua disposição para pedir um segundo mandato, apresentando todas as realizações e credenciais administrativas.
Geraldo Alckmin fará o mesmo em relação ao governo de São Paulo e assim também Anthony Garotinho, se conseguir se manter candidato até lá. Pode-se argumentar que esses dois, e outros tantos, também fazem campanha fora de época.
A diferença, porém, é que não escamoteiam essa condição e, portanto, estão submetidos a contestações legais e a eventuais punições.
Lula não, exacerba o atrevimento no confronto às regras e ainda busca justificar sua posição jactando-se dos subterfúgios adotados para burlar as normas.
Acentua, assim, a "impressão de que o Brasil é o país da impunidade" e firma a constatação de que o presidente da República adota o lema segundo o qual todos são iguais perante a lei, mas alguns são mais iguais que os outros.
Dora Kramer

MST segue destruindo

MST destrói 200 mil mudas e deixa fazenda

Embora a promessa fosse resistir à ação policial de reintegração de posse, determinada pela Justiça, integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) desocuparam pacificamente na manhã de ontem a Fazenda Céu Azul, do grupo Suzano Papel e Celulose, em Teixeira de Freitas, extremo sul da Bahia. Os militantes saíram da propriedade sem nenhuma garantia de que a reivindicação por assentamentos na área seja atendida. Mas deixaram um saldo de pelo menos 200 mil pés de eucalipto destruídos, como forma de protesto, segundo um dos coordenadores regionais do movimento, Weldes Valeriano Queiroz. O líder sem-terra repetiu as ameaças de novas invasões e atos contra a monocultura na região.

"Não vamos enfrentar a polícia, não somos loucos. Agora, ninguém vai nos impedir de fazer a reação, com a ocupação de outras propriedades", avisou Queiroz, enquanto os acampados desmontavam a estrutura erguida nos 11 dias de invasão e recolhiam bandeiras e pertences. "Se o empecilho da reforma agrária são as empresas de eucalipto, nós vamos questionar com as ocupações."

Contrariando a tensão que reinava no dia anterior, a desocupação foi pacífica, sem a presença da Polícia Militar. Os sem-terra começaram a desmontar os barracos logo no início da manhã. Às 10 horas, eles já preparavam um novo acampamento às margens da BR-101, nas proximidades da fazenda.

Durante cerca de cinco minutos, um grupo formado por homens, mulheres e crianças bloqueou o tráfego na rodovia, erguendo enxadas, facões e foices. No meio da estrada, os sem-terra batucaram e cantaram refrões hostis às empresas de celulose da região.

O prazo dado pela Justiça para a saída dos 3 mil invasores da Fazenda Céu Azul expirou na quarta-feira. A PM então avisou que, se não deixassem a área por conta própria, iria usar a força para expulsá-los.

A corporação chegou a mobilizar 120 homens, fortemente armados, para a entrada no acampamento. No entanto, aceitou prorrogar por 24 horas o prazo para a reintegração, atendendo a um pedido do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Nesse período, o superintendente regional do órgão, José Vieira Leal Filho, firmou um acordo com os líderes do movimento e prometeu fazer um levantamento na região de fazendas que poderão ser consideradas improdutivas e destinadas para reforma agrária.

Leal disse também que vai propor à Suzano Papel e Celulose a aquisição da Céu Azul por meio de decreto. A invasão impede que o Incra vistorie a área por um período de dois anos. "Mas é facultado ao proprietário aceitar ou não. A legislação agora o favorece, porque houve a ocupação", observou.

RECUO

Trabalhadores ligados às 11 entidades da Articulação de Movimentos Sociais, Rurais e Urbanos da Bahia que realizam protestos e manifestações esta semana no Estado decidiram ontem recuar em todas as ações radicais desencadeadas para pressionar os governos federal e do Estado a atender a uma lista de 300 reivindicações feitas desde o ano passado. Pela manhã, um grupo chegou a interditar mais uma vez o trecho da rodovia BR-324 no município de Capim Grosso, mas a estrada foi liberada ao meio-dia.

Manifestantes desocuparam também o prédio da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) e um projeto de irrigação que está sendo construído pelo governo estadual no município de Tucano e decidiram não cumprir as ameaças de fechar outras três rodovias federais. "Como fomos recebidos por representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e Ministério Público Federal, resolvemos recuar", disse Gilmar dos Santos Andrade, um dos líderes do movimento.

Segundo ele, os prédios públicos do Estado também deixaram de ser alvo dos manifestantes por causa de uma nova promessa de reuniões com secretários estaduais. Mas, no fim da tarde de ontem, sentindo-se mais uma vez ludibriados, pois os trabalhadores não haviam sido recebidos por ninguém do governo baiano, cerca de 400 manifestantes discutiam a possibilidade de voltar a radicalizar as ações. De acordo com Andrade, eles conseguiram uma área do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS) em Salvador para acampar e ficar na capital até definir "os rumos do movimento".
Estadão

Aonde a imprensa desceu

Todos têm direito às suas próprias opiniões, diz um aforismo americano, mas não aos seus próprios fatos. E os fatos que dizem respeito ao ex-ministro e deputado cassado José Dirceu deveriam induzi-lo a morder a língua antes de emitir opiniões delirantes como a que manifestou quarta-feira durante seminário sobre mídia e política, na Universidade Federal do Rio de Janeiro: "Só no período da Oban, do DOI-Codi" - alusão aos mais infames porões da repressão do regime militar brasileiro - "a imprensa brasileira desceu tanto como está descendo neste momento da vida política nacional."

O problema de Dirceu é que a imprensa e as instituições do Estado - PF e MP -, com todos os seus tropeços e limitações, desceram aos porões da corrupção - no governo Lula e onde mais medrar essa praga aparentemente inerradicável da política brasileira. E, ao fazê-lo, escancararam a degradação ética do antigo combatente da ditadura. Exilado em Cuba, Dirceu aprendeu o que jamais viria a esquecer: que a imprensa e as instituições devem ser livres - mas apenas para servir ao regime revolucionário, encarnado, naturalmente, na pessoa do seu líder máximo.

Aprendeu também com o compañero Fidel que o dissenso, a crítica, a denúncia devem ser aplastados com mão de ferro por serem invariavelmente expressões de um complô da reação contra o governo comprometido com a redenção social, ou assim convém apresentá-los. É fácil imaginar o grau de frustração de quem é obrigado, como Dirceu, a viver sob um sistema político em que os opositores não podem ser simplesmente silenciados - ou "neutralizados", conforme o eufemismo de todos os totalitarismos. À falta disso, a melhor alternativa é se passar por vítima e desqualificar os fatos e os que os colocam ao alcance do público.

Só que o truque tem prazo de validade - que, no caso de Dirceu, expirou no dia 11, quando o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, divulgou o seu primeiro relatório sobre o mensalão - a "sofisticada operação criminosa" lançada para "garantir a permanência do Partido dos Trabalhadores no poder". No documento, Dirceu é identificado como o "chefe do organograma delituoso" e o "principal articulador dessa engrenagem, garantindo-lhe a habitualidade e o sucesso". O procurador o denunciou por formação de quadrilha, peculato e corrupção ativa.

Não podendo dizer do procurador-geral o que gostaria, Dirceu descarrega sua fúria sobre a "parcela do Ministério Público de São Paulo" que se recusa a pôr uma pá de cal sobre o assassínio do prefeito Celso Daniel, acha que todas as pistas devem ser seguidas e quer ouvir o ex-ministro sobre o esquema de corrupção que está por trás do crime, segundo indícios indesmentíveis. A parte da mídia nessa história consistiria em ter ajudado a reabrir o caso, como um meio a mais para deixar mal o presidente.

Admita-se, apenas para raciocinar, que a incriminação de Dirceu não inocenta necessariamente a mídia. Ou seja, deixe-se de lado a sua completa falta de autoridade moral para invectivar a mesma imprensa que em dias melhores para ele o reverenciava como o primeiro-ministro de Lula e corria sofregamente atrás de suas palavras. Examine-se como age a imprensa contrária à reeleição do presidente. Para começar, vai fundo na denúncia do alegado uso político dos gastos publicitários da Caixa Econômica de São Paulo, a Nossa Caixa, entre outras irregularidades, por interferência ou em sintonia com o Palácio dos Bandeirantes ocupado pelo tucano Geraldo Alckmin.

Tem mais. Além de noticiar, também com destaque, a movimentação eleitoral do ex-governador e seus arrufos com o PFL, expõe a ficha barrenta das firmas que doaram algo como R$ 600 mil à pré-candidatura do fluminense Anthony Garotinho, do PMDB, e o repasse de R$ 112 milhões do governo do Rio chefiado por sua mulher, Rosinha Matheus, a três doadores do marido. Ora, tudo que possa prejudicá-lo é boa notícia para Lula e má notícia para Alckmin. O presidente joga as fichas que tem e que não tem contra a candidatura Garotinho - ou a de qualquer outro peemedebista. Já o tucano precisa do PMDB na disputa para afastar o risco de que tudo termine no primeiro turno.

A imprensa, como se vê, não desce a parte alguma - a não ser aos meandros da corrupção. É isso que o "chefe do organograma delituoso" Dirceu tem motivos de sobra para não suportar
Estadão

LULA E SEUS AMIGOS

Apesar da demonstração de união de anteontem dos presidentes de Brasil, Argentina e Venezuela, o fato é que a mal-ajambrada agenda de "liderança regional", temperada de ideologia terceiro-mundista, do governo Luiz Inácio Lula da Silva ora apresenta a fatura para o dirigente brasileiro. E ela não tem nada de conveniente para Brasília.
A proposta de um gasoduto atravessando a América do Sul não passa de um factóide a alimentar a pantomima "bolivariana" de Hugo Chávez. Se o objetivo de conectar as duas maiores reservas de gás natural do subcontinente parece a princípio razoável, a quantidade de estudos, tratativas políticas e diplomáticas, licenças ambientais (a tubulação teria de rasgar a Amazônia!) e conversas com investidores e empresários que demandaria um projeto dessa envergadura não permite ilusões sobre os propósitos do líder venezuelano.
Mas, se os problemas de Lula com seus amigos chefes de Estado que exumam a pior tradição populista da América Latina se resumisse ao espectro do Grande Gasoduto do Sul, não haveria motivo para preocupação. Bastaria a frase lacônica do chanceler Celso Amorim -"Esse é um projeto que precisa evoluir naturalmente"-, e o assunto caminharia "naturalmente" para o ostracismo.
A principal dor de cabeça da diplomacia brasileira é mais concreta e responde pelo nome de Evo Morales. O presidente boliviano e os ideólogos do confronto de classes instalados em seu governo tentam empurrar a Petrobras, a maior investidora na Bolívia, para um beco sem saída: pretendem que a estatal brasileira se torne uma mera prestadora de serviços na área do gás ou, alternativamente, aceite um estrangulamento de sua margem de operação ainda mais radical do que o já estabelecido.
Além disso, nessa cruzada inconseqüente contra os investidores estrangeiros, a Bolívia ameaça expropriar os ativos de uma outra empresa brasileira, uma siderúrgica, acusada de operar ilegalmente na fronteira com o Brasil. É chegada a hora de Lula decidir: ou continua a fazer afagos no companheiro boliviano ou assume a defesa, com o rigor que a situação e seu mandato constitucional exigem, dos interesses brasileiros.
Folha

Palocci deputado?

Ex-ministro deve disputar vaga na Câmara

Apesar de todo o impacto da violação do sigilo bancário do
caseiro Francenildo dos Santos Costa, o "Nildo", o ex-ministro da
Fazenda Antonio Palocci deve ser lançado candidato a deputado pelo PT
nas próximas eleições. Pelo menos dois nomes influentes do partido, o
presidente da legenda em São Paulo, Paulo Frateschi, e a pré-candidata a
governador Marta Suplicy confirmaram os planos de Palocci de ocupar uma
cadeira na Câmara dos Deputados em janeiro de 2007.

Enquanto aguarda o desdobramento das investigações sobre o escândalo,
Palocci, mesmo denunciado pela Polícia Federal (PF), articula a
definição da candidatura para o dia 7. Nessa data, os filiados petistas
no Estado de São Paulo decidirão no voto entre Marta e o pré-candidato
Aloizio Mercadante (PT-SP) para disputar o governo paulista. Vão, ainda,
recomendar nomes para disputar a Câmara.

O ex-comandante da Fazenda, que chegou a ser o ministro mais importante
do governo Lula, vem se reunindo com apoiadores e empresários, sobretudo
do setor financeiro, para dar sustentação à pré-candidatura. Como ele,
se movimenta nos bastidores - igualmente interessado num mandato de
deputado -, o ex-presidente do PT José Genoino. Também investigado e
denunciado pela PF, Genoino é acusado de ajudar a montar o esquema do
valerioduto.

Cabe lembrar que, se eleitos, tanto Palocci como Genoino terão direito
ao foro privilegiado e os seus processos serão remetidos automaticamente
ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde serão julgados.
Tribuna da Imprensa

27.4.06

Ongs sob suspeita

Juiz quebra sigilos do Instituto Florestan Fernandes, de ONG e de sete empresas

O juiz Edson Ferreira da Silva, da 13ª Vara da Fazenda Pública, decretou, na quarta-feira (26/4), a quebra dos sigilos fiscal, bancário e financeiro do Instituto Florestan Fernandes e da ONG (organização não-governamental) Sampa.Org, além de sete empresas que, segundo alega o Ministério Público na ação cautelar impetrada no dia 20, teriam ligações estreitas com o Partido dos Trabalhadores e com integrantes da administração da ex-prefeita paulistana Marta Suplicy (2001-2004).

Na ação, assinada pelos promotores Saad Mazloum, Sérgio Turra Sobrane, Silvio Marques e Tulio Tavares, todos da promotoria de Justiça da Cidania, o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) alega que cinco secretarias municipais firmaram, sem licitação, ao menos onze contratos de prestação de consultoria, no valor total de R$ 12,8 milhões, com a FGV (Fundação Getúlio Vargas) e Fundep (Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa), no que subcontratavam as duas ONGs (Florestan Fernandes e Sampa.Org), as sete empresas ou mesmo consultores ligados às ONGs e às empresas.

"Assim, a fundação (FGV ou Fundep) remunerava seus consultores, na verdade, todos ou em sua maioria, membros do Instituto Florestan Fernandes e do Sampa.Org. E, quando a fundação decidia subcontratar, tal era feito com o Instituto Florestan Fernandes, o Sampa.Org ou empresas pertencentes a membros destas entidades. Por conta disso, as entidades também recebiam generosa remuneração, dinheiro originário dos cofres públicos", escrevem os promotores na ação.

De acordo com o entendimento do MP, a contratação sem licitação das consultorias se configuraria como um "desrespeito inequívoco às regras constitucionais e legais que regem o instituto da licitação pública".

Maria Teresa Augusti, presidente do Instituto Florestan Fernandes, afirmou não ter sido oficialmente comunicada da decisão e que o pedido de quebra de sigilo "não preocupa a instituição" (leia abaixo). De acordo com ela, todos os documentos solicitados foram remetidos ao MP.

A assessoria de imprensa da ex-prefeita Marta Suplicy informou, por meio de nota, que "todas as contratações realizadas pela Prefeitura na gestão anterior obedeceram rigorosamente às determinações legais". A FGV e a Fundep ainda não se manifestaram.

Na ação, que se deu a partir de uma apuração aberta após o jornal Folha de S. Paulo ter publicado a reportagem "Fundações contratadas por Marta beneficiam petistas", no dia 19 de abril de 2004, o MP lista a participação de nove secretários da ex-prefeita, além da própria Marta Suplicy, no conselho consultivo do Instituto Florestan Fernandes.

E os promotores escrevem: "O Sampa.Org foi fundado em 25/4/2002. Transformou-se em "entidade autônoma", contando com "o apoio da Assembléia e da diretoria do Instituto Florestan Fernandes". É dirigido e integrado por pessoas que também integram o Instituto Florestan Fernandes. Possui o mesmo endereço e até o mesmo telefone do Instituto Florestan Fernandes".

De acordo com a ação proposta pelo MP, "essa ilícita triangulação de serviços contratados pela municipalidade de São Paulo, por seus então dirigentes, permitiu, como visto, impressionantes e volumosos repasses de valores, dinheiro público, ao Instituto Florestan Fernandes, Sampa.Org e a empresas pertencentes a membros dessas entidades".

Segundo o promotor Saad Mazloun, o Ministério Público quer saber, por meio da quebra dos sigilos das ONGs e das empresas, se as empresas eram as reais destinatárias dos recursos ou se eles teriam sido repassados a outras contas. Tais informações, segundo o promotor, embasarão uma futura ação de improbidade administrativa contra os envolvidos.

Outro lado
Maria Teresa Augusti, presidente do Instituto Florestan Fernandes, declarou ter sido comunicada da decisão unicamente pela imprensa, mas afirmou que o pedido de quebra de sigilo "não preocupa a instituição". Ela afirmou porém que conhecia o objeto da ação, e "lamenta os motivos alegados pelo MP-SP". Maria Teresa afirmou que os contratos entre a FGV e o Insitituto Florestan Fernandes foram todos legais. Eles se tratavam, segundo a presidente, de "uma contribuição técnica no setor de gestão pública, especialidade do Instituto". Ela também nega que a Fundação tenha subcontratado o Instituto para prestar os serviços.

Nesta noite, a presidente do Instituto divulgou nota à imprensa, reafirmando "o que já apresentaram à Promotoria de Justiça da Cidadania, por meio de documentos formais: suas ações
se pautam pelos parâmetros legais, éticos e por sua missão institucional de contribuir para o desenvolvimento institucional e melhoria da capacidade de gestão dos poderes públicos e eficácia das políticas públicas. A abertura do sigilo bancário apenas reafirmará, efetivamente, esse posicionamento".

A assessoria da ex-prefeita Marta Suplicy também divulgou nota dizendo que: "Todas as contratações realizadas pela Prefeitura na gestão anterior obedeceram rigorosamente às determinações legais. A Fundação Getúlio Vargas e a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa, mencionadas pelo Ministério Público como contratadas pela Prefeitura de São Paulo, são entidades respeitabilíssimas, prestaram serviços por meio de contratos juridicamente perfeitos e mantêm contratações com governos municipais, estaduais e o federal. São conhecidas por trabalharem com profissionais, entidades e organizações igualmente respeitáveis e gabaritadas. No que diz respeito à Ação Cautelar do Ministério Público, a ex-prefeita não é parte citada a responder na ação."

A assessoria da Fundação Getúlio Vargas afirmou que só tratará do caso por meio de seu advogado, Décio Freire, que por sua vez disse que se manifestará sobre o assunto a partir de amanhã.

Procurada, a Fundep informou que apenas Hely Lajes, assistente da diretoria executiva da fundação, poderia se manifestar. A reportagem deixou recado na caixa postal de seu celular.
Ultima Instância

Críticas de Dirceu

Dirceu acusa MP de cometer excessos e ataca imprensa
Ex-ministro critica promotores que o investigam e diz que mídia integra conspiração para derrubar Lula


Com ataques ao Ministério Público (MP) Estadual de São Paulo e à imprensa, o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu reagiu ontem à notícia de que está convocado a prestar depoimento em 4 de maio no inquérito que investiga o esquema de corrupção em Santo André na gestão do prefeito Celso Daniel, assassinado em 2002. O petista, que teve o mandato de deputado cassado no ano passado sob acusação de ter chefiado o mensalão, afirmou que não recebeu nenhuma notificação e acusou o MP de se exceder, ao incluí-lo na investigação de um crime com o qual diz não ter envolvimento.

"Hoje, abri o jornal O Estado de S. Paulo e tomei conhecimento - já é a terceira entrevista do promotor público e eu não fui notificado - de que estou sendo investigado pela morte de Celso Daniel", afirmou, para uma platéia de estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "É algo inédito. Existem sete réus respondendo a processo, presos pela morte de Celso Daniel. E existe um inquérito policial que concluiu que o crime era comum." Segundo ele, o caso foi reaberto por imposição da família de Daniel, "e principalmente da mídia", com "parcela do Ministério Público de São Paulo".

"Todo dia eu me pergunto: primeiro me cassaram com ss e agora querem me caçar com ç? Qualquer atividade minha é suspeita. Transformaram uma empresa que fechei em empresa de fachada." Exaltado, afirmou que "só no período da Oban, do DOI-Codi (instrumentos de repressão da ditadura) a imprensa brasileira desceu tanto como está descendo neste momento na vida política do Brasil". E acusou a mídia de tentar ajudar a derrubar o governo Lula.
Estadão

Lula, seu galinheiro e o milharal

Inegavelmente, ao falar às massas o presidente Lula se comunica muito melhor que seus companheiros e adversários. Ainda que algumas vezes atropele a gramática, cometa erros conceituais ou diga tolices na avaliação dos intelectualmente mais exigentes, sua oratória funciona bem, inclusive para dissimular, como o provam os elevados índices de popularidade que mantém, apesar do enorme escândalo que mancha seu partido e seu governo. Em particular, mesmo com algumas trapalhadas, é mestre no uso de metáforas populares, de gosto discutível, mas que servem a seus objetivos. Para enfrentá-lo nos debates eleitorais que se aproximam será preciso utilizar recursos semelhantes, sem o que os eleitores absorverão apenas as histórias que conta na interpretação que lhe convém.

Numa delas, que a revista Veja chamou de filosofia avícola, ao pedir paciência na cobrança de resultados, afirmou que "uma galinha, por mais que ela saiba que precisa botar ovo para ter mais pintinhos, ela bota um ovo de cada vez". Em lugar de desdenhar uma afirmação desse tipo, o melhor é tomá-la nos seus termos e buscar sua vulnerabilidade.

Esta reside no fato de que no galinheiro sob sua gestão, o das contas públicas, ele ignora que para ter mais pintinhos é preciso consumir menos ovos, colocar mais para chocar, e isso sem exaurir os contribuintes que entregam o milho sob a forma de impostos. Sem que esse rumo seja tomado, a economia continuará crescendo a taxas ridículas e o contínuo endividamento poderá levar o galinheiro à inadimplência.

Com seus modelos e seu jargão, os economistas usualmente não se preocupam em se fazer entender por quem não é do ramo, muito menos pelo povão, e costumam vender seu peixe a políticos que saem por aí falando "economês". Só para exemplificar, peço paciência ao leitor, não pelo tempo que tomará a leitura, mas para não desistir dela em face do que afirmarei no próximo parágrafo.

Uma das razões fundamentais do fraco crescimento da economia brasileira é que a carga tributária é muito alta, e muito baixa a taxa de investimento do governo. Além disso, ao tributar ele retira recursos de quem tem alta propensão a poupar e a investir e os distribui a quem tem alta propensão a consumir. Dado esse quadro, fica comprometida a taxa de investimento da economia como um todo e o crescimento dela.

Agora, vou dizer a mesma coisa combinando filosofia aviária e de plantio para descrever o mau funcionamento de uma economia que, de modo simplificado, tem um setor privado que produz milho a sustentar um governo que administra mal o galinheiro de suas penosas contas.

Assim, esse galinheiro é abastecido com impostos arrecadados do milharal da economia; como o governo tira muito, quem entrega o milho tributário fica não só desanimado com o grande confisco, mas também com menos para consumir e usar como sementes que definiriam o tamanho da colheita seguinte. Como é mais difícil contrair o consumo, a proporção destinada às sementes é reduzida e o milharal cresce menos do que poderia crescer se a carga tributária não fosse tão elevada.

A partir do milho que recebe, o governo alimenta o seu galinheiro fiscal, mas guarda pouquíssimos ovos para chocar na forma de investimentos públicos, como em infra-estrutura, que permitiriam ampliar tanto o milharal da economia, ao facilitar transportes, comunicações e outras de suas necessidades, como o milho destinado ao governo.

Grande parte dos ovos do galinheiro governamental vai também para gente que consome muito, e pouco poupa e/ou investe colocando-os para chocar, relativamente aos que pagam o milho tributário. No limite, se a carga prosseguir aumentando, o milharal entrará em clara decadência (hoje já cresce muito pouco), o governo não colocaria nada para chocar e para manter o galinheiro ampliaria ainda mais seu endividamento, até o ponto de crise.

Essa história ainda não teve o mesmo fim trágico daquela da galinha dos ovos de ouro, narrada também sem ver a coisa pelo lado do milharal. No Brasil este perde fôlego, pois, se comparado com milharais vizinhos, ou mesmo mais distantes, o que se percebe é que estamos ficando para trás em matéria de crescimento econômico, frustrando gerações atuais e futuras nos seus anseios de progresso pessoal e nacional. O mesmo acontece com a gestão dos galinheiros fiscais, pois a do nosso é um péssimo exemplo.

Para sair dessa encrenca a receita é fácil de escrever. Como a distorção está no galinheiro que toma muito e investe pouco, o governo precisaria conter suas despesas em geral, exceto investimentos, os quais deveriam ser ampliados num contexto em que a carga tributária, como porcentagem do produto do milharal, seguiria uma tendência declinante. Faltam, entretanto, políticos com coragem e vocação de estadista para levar essa receita adiante.

Em particular, em lugar de colocar mais ovos a chocar e fazer com que mais sementes sejam plantadas, o governo Lula segue na outra direção. É recordista de receita tributária, de gastos públicos no custeio da máquina governamental e de transferências como as realizadas pela Previdência Social. Ao mesmo tempo, deixa o País na segunda ou terceira divisão do jogo econômico internacional, na categoria dos que investem menos, não oferecem um clima que estimule a produção e, por isso mesmo, crescem muito pouco.

Lula, enfim, gere o governo com a irresponsabilidade de quem não pensa na economia, nas dificuldades de quem produz e paga impostos, nem no futuro do País.

Roberto Macedo, economista (USP), com doutorado pela Universidade Harvard (EUA), pesquisador da Fipe-USP e professor associado à Faap, foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda