28.4.06

Entre males

Investidores devem manter distância do Peru se Ollanta Humala se eleger presidente em 28 de maio. A julgar pelos planos que apresentou para salvar o país, pelo putsch que encabeçou em 2000 contra o presidente Alberto Fujimori e por sua ficha de violador dos direitos humanos, dias sombrios chegarão para a frágil democracia peruana se Humala for o escolhido.

Sua proposta de nacionalizar a economia, recebida como promessa por certos setores da vida peruana, naturalmente assusta o capital mundo afora. Na visão distorcida desse ultranacionalista latino-americano, é preciso devolver ao Peru as empresas que, segundo ele, hoje enriquecem os estrangeiros. Isto para não mencionar a influência que seu clã familiar — que, como ele, defende políticas fascistas, como pena de morte para homossexuais e mordaça para a imprensa— exerceria na vida institucional peruana.

Mas o cenário também não é animador na hipótese de o escolhido ser Alan García, que já foi presidente anteriormente. Não fosse a vida democrática a caixinha de surpresas que costuma ser em toda parte, os peruanos não teriam sequer permitido que García se apresentasse como candidato. Em seu governo, de 1985 a 1990, nossos vizinhos andinos conheceram as angústias do desgoverno, as agruras da hiperinflação e a violência desvairada do Sendero Luminoso em sua fase mais brutal e sanguinária. Por tudo isso, o calamitoso governo García abriu caminho para a era Fujimori, o decênio em que o Peru foi dominado pela dupla Fujimori-Vladimiro Montesinos — o ditador e o braço sinistro da corrupção.

Mesmo assim, e lamentavelmente para o eleitorado peruano, García parece a opção menos suicida. Ele, pelo menos, tem com a democracia um compromisso que Humala jamais teve. Não se refere ao presidente Hugo Chávez, da Venezuela, como seu guru e modelo. E não encarna, nas atitudes e palavras, o que há de pior na história continental: o autoritarismo, o militarismo, a descrença no diálogo — embora também cultive o vício do populismo.

Defender suas instituições deve ser a prioridade dos peruanos no segundo turno, ainda que isso signifique jogar o país novamente nas mãos ineptas de García.
Globo