Roberto Jefferson: 'Não sou pior do que os caras do PT'
Ex-deputado e ex-presidente do PTB, o político, de 52 anos, diz não ter arrependimento por denunciar esquema de distribuição de mesada encabeçado pelo PT após se sentir prejudicado
Rio - Mesmo longe do Congresso Nacional, o ex-deputado Roberto Jefferson dispara contra seus maiores desafetos: o PT e seus pares. O advogado, que voltou a exercer a profissão após ter o mandato cassado por quebra de decoro, diz que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, “está podre” por ter, segundo ele, atuado como advogado de um crime de violação de sigilo. Apesar da tempestade, não pretende abdicar da política. Quer eleger a filha, a vereadora Cristiane Brasil, deputada federal, e o genro, Marcos Vinícius, deputado estadual. E avisa: em 2014, volta à luta e vai disputar um cargo executivo.
—Hoje o senhor está arrependido?
—De quê?
—De tudo o que aconteceu. Faria alguma coisa diferente?
—Eu não. Fiz o que tinha que ser feito. A luta era essa, e eu enfrentei essa operação que o PT montou contra mim, que o governo montou contra mim. De peito aberto, fui para essa luta. Disse que ia fazer, e avisei ao País que ia fazer, que eu ia enfrentá-lo, e acabou dando nisso aí. Explodiu isso tudo. Eu faria de novo, sem nenhum problema.
—Qual a sua opinião sobre a queda do ex-ministro Antonio Palocci?
—Um episódio muito ruim. O grave foi tentar intimidar o caseiro, antidemocrático, um negócio de uma violência que acabou arrastando o ministro da Justiça. Funcionou como um advogado para aconselhar o Palocci. Está igual a técnico de futebol. “Estou prestigiado pelo presidente” (repetiu a frase de Bastos da semana passada). Está podre.
O ministro da Justiça está podre, apodreceu. Ele não foi ministro da Justiça. Atuou como advogado de um crime de violação de privacidade, de sigilo de uma pessoa humilde. A máquina do estado foi usada, a Polícia Federal, a Caixa Econômica, para oprimir um caseiro. Se é no Fernando Henrique Cardoso (governo), eu nem imagino o que o PT ia fazer. Se é com o Collor (Fernando)... Se o Collor faz isso com aquele Eriberto (Eriberto França, o motorista que denunciou o ex-presidente), imagina, estava linchado em praça pública.
—O que o senhor acha de a Justiça ter autorizado a investigação sobre o caseiro Francenildo Costa?
—Se tem notícia, que investigue. Que faça uma investigação judicial. Mas do jeito que foi feito, uma coisa de truculência, prepotência...
—Isso chega até o presidente Lula?
—Acho que isso está tão perto do Lula... Mas não sou a favor do impeachment, não. Ele vai querer sair de vítima. Deixa vir a eleição. Senão, vai dar uma de Hugo Chávez (presidente da Venezuela). Vai dividir o Brasil em dois. Ele é o pobre que vai ser perseguido pelas elites.
—Quem é seu candidato à Presidência?
—Vai ser contra o Lula. Quem tiver condição de derrotar o Lula, terá o meu apoio. Não fico com o Lula de jeito nenhum.
—O senhor acha que prestou um serviço à Nação denunciando o mensalão?
—Não vou dizer que fiz isso. Não foi por isso que fiz. Só não sou pior do que os caras do PT. Não sou herói, nem vilão, mas não podia ficar no meu colo um crime que não pratiquei. Sabia que ia ser cassado na hora que rompi com a instituição. Mas não me preocupei com isso. Mais importante que o mandato é a honra pessoal. Eu disse que ia sair de cabeça erguida, pela porta da frente. Caixa 2 todo mundo sempre fez, mas mensalão eu nunca recebi. Não aluguei minha bancada. Financiamento de campanha por fora (caixa 2), sempre foi assim no Brasil.
—Isso vai mudar agora?
—Não vai, não. A legislação não mudou.
—Nada vai mudar?
—Vai. A vigilância do povo é que vai mudar. Quem abusar com despesas eleitorais, com uma campanha muito rica, o povo vai perceber.
—O senhor tem munição para combater ataques?
—Não. Eu vou enfrentar mesmo. Que moral tem petista para me acusar? Que moral tem essa gente? O mais corrupto governo que testemunhei ao longo da minha carreira política é o governo do PT. O PC Farias virou ladrão de galinha perto dessa turma. O símbolo do Lula é macaquinho de souvenir: “não falo, não vejo e não ouço.” Esses caras vão falar o quê? Apodreceu. O governo está podre.
—Certa vez, o senhor disse que havia recebido R$ 4 milhões, que havia posto no cofre do PTB, que devolveria esse dinheiro ao PT. Nada aconteceu. Os R$ 4 milhões existem ainda? Foram gastos?
—Se recebi, dei aplicação política a ele. Se recebi. É só essa a resposta. Se recebi, o dinheiro teve uma aplicação política de financiamento de candidatura.
—O senhor teria como apresentar os gastos?
—Claro que não. Se repassei, não vou comprometer ninguém. Meu nome é Roberto Jefferson, não é Genoino. Não colocaria isso nas costas de companheiros meus.
—Recentemente, seu nome acabou citado no escândalo de fraudes na Delegacia Regional do Trabalho.
—Eu não fui envolvido, não. O Henrique Pinho, ex-delegado regional, era pessoa do PTB, sim. Mas embaixo, a estrutura toda é do PT. Era uma luta interna do PT. A chefia da fiscalização e a chefia da Segurança e Medicina do Trabalho são pessoas do PT. E a luta, que está monstruosa na DRT, são grupos da ex-ministra Benedita da Silva e do ex-ministro Jaques Wagner. Eles brigam de se matar por dinheiro.
É uma luta interna do PT. A delegada atual (Lívia Arueira) não fiscaliza as terceirizadas. Isso é do velho acordo do Jaques Wagner. O grande poder aqui no Rio está nas terceirizadas da Petrobras e de Furnas. E esses interesses estão nessas terceirizadas. Ela (a delegada regional) fica prendendo fiscal que fez um favor a uma empresa de ônibus, a um supermercado. Está pegando o varejo, mas embaixo dela, o principal, que é o atacado, as terceirizadas, ela não mexe. E essa é a disputa que se trava, do PT. Quiseram fazer uma bomba de fumaça e jogar no meu colo, mas não cola.
—Mas o PTB teve cargos no governo...
—Todos os cargos que o PTB possuía no governo foram devolvidos. À exceção de um vice-presidente da Caixa, colocado lá pelo Walfrido (Walfrido dos Mares Guia, ministro do Turismo).
—Existe alguma vantagem de obter cargos de segundo escalão?
—Todo mundo, todo partido, quando indica presidente de estatal, é para fazer caixa. Porque a partir do presidente, do diretor, você estabelece uma rede de relação das empresas que gravitam em torno dessa diretoria ou dessa presidência. E eles fazem caixa para o partido, é assim. Sempre funcionou assim. O PT que quis mudar a lógica, quis monopolizar isso. Dava a cabeça... Por exemplo, o presidente da Eletronorte era do PTB, mas, embaixo, toda a estrutura era petista. Então você não conseguia fazer arrecadação para o PTB. O PT quis fazer caixa único para esses repasses do tipo mensalão.
—E durante o tempo que o PTB teve os cargos na mão, ajudou?
—A minha luta foi essa. Os nossos eram apenas as rainhas da Inglaterra. Eu não aceitei fazer esse jogo de receber repasse. Eu dizia para o Genoino, para o Zé Dirceu: quem faz caixa no partido sou eu. Tem uma linha amarela no chão que eu sei como caminho. Não aceito mesada de vocês.
A mesada desmoraliza e escraviza. Eu faço o caixa do partido. Senão, ficaria na mão deles tendo que fazer aquele papelão que fizeram o PP, o PL, o PCdoB. Quem deveria fazer o caixa era eu, através das pessoas que indicava para as empresas, mas não consegui. O PT centralizava. Teve um sistema único de arrecadação de caixa 2. Daí, o megaescândalo com o Marcos Valério.
—O senhor tem medo do José Dirceu?
—O medo que tenho do Zé não é medo dele, em relação a ele. É do que eu pudesse fazer com ele. Ele é muito mentiroso. Meu ímpeto era bater nele, pegar na mão. Graças a Deus, passou.
O Dia
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