18.4.06

Bloqueios e saques

MST protesta com bloqueio de estradas e saques

Cerca de 400 militantes do MST saquearam ontem dois caminhões e carregaram cerca de 12 toneladas de macarrão e biscoitos para o acampamento Chico Mendes, num engenho às margens da BR-408, em São Lourenço da Mata, a 22 quilômetros de Recife. Além do saque, os sem-terra fecharam oito rodovias federais em Pernambuco ontem de manhã, provocando transtornos na Zona da Mata e no Agreste, já próximo ao Sertão.

A coordenação do MST alegou que os protestos e a “recuperação dos alimentos” tiveram o objetivo de marcar a primeira década do massacre de Eldorado do Carajás, quando 19 sem-terra foram executados durante uma ocupação no Pará. Por esse motivo, o MST fez ocupações e manifestações em todo o país. Só no Pontal do Paranapanema, em São Paulo, um dos maiores focos do movimento, foram dez fazendas invadidas.
Além disso, duas mil famílias invadiram uma fazenda no sul da Bahia e outras 60 ocuparam uma propriedade em Capitão Enéas, em Minas Gerais. O MST ainda fez bloqueios temporários em 12 trechos de rodovias do Rio Grande do Sul e fez vigília em frente a Tribunais de Justiça, como na Paraíba e em Mato Grosso.

Estrada não tinha policiamento

No momento do saque em Pernambuco não havia agentes da Polícia Rodoviária Federal nem da Polícia Militar, apesar do grande transtorno no trânsito. O bloqueio da rodovia começou às 8h30m. Duas horas depois, houve o saque. Os sem-terra interceptaram um caminhão que levava biscoitos e macarrão e mandaram o motorista descer:

— Eles chegaram me ameaçando e disseram: desça e abra o baú. Não me restou outra alternativa. Estava tudo armado, tive muito medo. Minhas pernas tremiam. Fiz o que eles mandavam — disse o motorista José Edson de Oliveira.

De acordo com o MST, os sem-terra tinham apenas “instrumentos de trabalho”, como foices e facões. Mas grande parte deles carregava porretes. Os sem-terra ainda pararam outro caminhão e coagiram o motorista Monzílio Rodrigues dos Reis a abrir o baú. Nervoso, ele não acertava a chave e foi espancado pelos lavradores.

— Eles achavam que eu estava enrolando e desceram o pau. Arrombaram o cadeado — contou Monzílio.

O delegado de São Lourenço da Mata, Paulo Nogueira, abriu inquérito e pôs agentes no acampamento Chico Mendes para recuperar a carga roubada.
— O que ocorreu não foi saque, foi assalto. Esse pessoal, se for encontrado, será autuado em flagrante por roubo e vai responder pelo artigo 157 do Código Penal — disse o delegado.

Para o coordenador do MST Jaime Amorim, não foi crime:

— O saque foi mais um ato simbólico para mostrar aos governantes que os acampamentos estão com fome e que é preciso dar condições ao Incra de realizar a reforma agrária.

Em Caruaru, houve bloqueio na BR-232 por mais de duas horas. Ainda na BR-232, houve interdição à altura do município de Pesqueira. Na BR-104, a rodovia foi fechada em Quipapá e em Toritama, no principal pólo de confecções do estado. Os sem-terra também fecharam a BR-101 em Gameleira.

Na Bahia, o MST atacou em duas frentes: cerca de 2.500 militantes protestaram em frente ao Fórum Ruy Barbosa, no Centro de Salvador, cobrando punição para os responsáveis pela morte dos sem-terra no Pará. Outro grupo, com cerca de dois mil agricultores, manteve a ocupação da Fazenda Céu Azul da empresa Suzano Papel e Celulose, invadida domingo, em Teixeira de Freitas. Em Minas, pelo menos 138 famílias ligadas ao MST ocuparam de madrugada a Fazenda Bom Sucesso, em Capitão Enéas e a Fazenda Vereda São João, em Coração de Jesus, ambas no norte do estado.

No Estado do Rio, dezenas de famílias de sem-terra e desempregados de Volta Redonda que invadiram há mais de dois meses a fazenda da Companhia Estanífera do Brasil (Cesbra), em Piraí, interditaram ontem durante uma hora a pista no sentido São Paulo da Via Dutra, no quilômetro 242. Os manifestantes cometeram um crime ambiental cortando com machados uma árvore à beira da rodovia.