Thomaz Bastos prepara depoimento mais duro no Senado
O governo avalia que a oposição está adotando a estratégia de partir para o ataque a qualquer custo para tornar o ambiente político tenso e afetar o presidente Lula. Essa estratégia teria ficado clara para o governo depois da audiência do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, na Câmara, na quinta-feira.
O ministro deu a sua versão para o caso da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa - de que ele teria apenas apresentado um advogado ao então ministro da Fazenda, Antonio Palocci - e a oposição insistiu na tese de que Thomaz Bastos arquitetou a defesa de Palocci e deveria ser demitido por isso. "A oposição não quer mais esclarecer o caso, mas sim, tornar o ambiente político tenso", comentou um assessor graduado do ministro.
O governo avalia que ataques como os desferidos a Thomaz Bastos serão cada vez mais comuns com a proximidade das eleições e definiu uma estratégia de resposta. O Palácio do Planalto pretende mostrar números, "realizações" dos três anos e quatro meses de Lula no poder. A idéia é apresentar à população dados positivos da gestão de Lula na economia, na área social. Nessa linha, o governo deverá explorar a recente baixa do Copom - a menor taxa de juros dos últimos 31 anos -, os números de atendimento do Bolsa Família, a construção de novos presídios, as reformas na Justiça e na Polícia Federal, para enfrentar as denúncias. "Enquanto a oposição tenta manter as crises acesas, o governo quer responder com as realizações de mandato", afirmou um interlocutor do ministro.
O ministro da Justiça não descarta uma nova ida ao Congresso para tratar do caso Francenildo. Ontem, durante a reunião de coordenação política do governo, ele foi cumprimentado por sua atuação na Câmara por outros ministros, mas, segundo interlocutores, não se tratou mais do assunto. Publicamente, Thomaz Bastos colocou-se à disposição para comparecer ao Senado. Se tiver que fazê-lo, o ministro deverá apresentar um discurso mais forte em relação àquele tom ameno da semana passada. Seus assessores acreditam que o encontro no Senado será muito mais duro. O ministro deverá dar respostas mais ríspidas e não descarta fazer críticas ao governo anterior.
As atenções de assessores de Thomaz Bastos estão voltadas para cinco senadores em especial: Arthur Virgílio (PSDB-AM), Antero Paes de Barros (PSDB-MT), Álvaro Dias (PSDB-PR), José Agripino (PFL-RN) e José Jorge (PFL-PE).
Do trio tucano, esperam questionamentos e discursos duros porque se trata do estilo dos três. Dos pefelistas, têm a mesma expectativa porque os dois disputam as atenções e a possível indicação a vice-presidente na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB). Uma dura participação no depoimento de Thomaz Bastos, avaliam assessores governistas, poderia ser importante na disputa interna. "Aqui o tom terá de ser mais forte do que na Câmara. O debate será mais denso", adianta Álvaro Dias.
A ida do ministro deverá ficar para a semana que vem, pois duas medidas provisórias trancaram a pauta e deverão ocupar todo o tempo de trabalho dos senadores nessa semana.
Neste meio tempo, a oposição tentará aprovar a convocação de Jorge Mattoso, que deixou a presidência da Caixa Econômica Federal por conta do caso Francenildo, à CPI dos Bingos. O PSDB e o PFL tentam aprovar hoje o requerimento de convocação de Mattoso. "Se conseguirmos, o Mattoso pode falar na quinta-feira e teremos mais material para o depoimento do ministro", afirmou Álvaro Dias. O tucano tem até um plano B para o caso de o governo conseguir evitar a votação da chamada de Thomaz Bastos no plenário: "Dependendo do que falar Mattoso, podemos convocar o ministro até na CPI".
A oposição pretende atacar o ponto mais frágil da defesa de Thomaz Bastos: o dia 23 de março, quando ele se reuniu com Palocci. Naquela data, o sigilo do caseiro já havia sido violado e Palocci era tido como o principal mandante do crime. A oposição sustenta que Thomaz Bastos foi advogar para Palocci. O ministro nega. Diz ter ido ao encontro apenas para indicar um advogado a Palocci.
Valor
Um comentário:
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