Os idosos, sobretudo os aposentados e pensionistas, estão tendo dificuldades para honrar seus compromissos por terem assumido este tipo de empréstimo. Eles acabam não conseguindo pagar outras contas. Lançado há dois anos, o crédito consignado se tornou uma verdadeira coqueluche devido aos juros muito mais baixos do que os de financiamentos tradicionais e o desconto imediato. Em março, chegou a 5,2 milhões o número de beneficiários do INSS com crédito na modalidade — 13% mais do que em dezembro e 147,7% mais do que há um ano. Algo como 3,1 milhões de novos devedores.
Calote de idosos é o que cresce mais
Apesar das vantagens, os aposentados estão vivendo um verdadeiro dilema. Isso porque estes contratos comprometem até 30% da renda, reduzindo os recursos para o pagamento das outras contas, sobretudo as no comércio e de outros tipos de crédito. E o que é pior: em muitos casos, a inadimplência é involuntária, pois é grande o número de aposentados que pegaram o consignado para parentes, amigos ou conhecidos, que deram o calote.
— Nove entre dez aposentados que pegaram esses empréstimos estão sofrendo sérias dificuldades para manter as contas em dia. O número de inadimplentes em outras contas ainda é pequeno, porque os aposentados se desdobram para não ficar com nomes sujos. Mas a situação está piorando e, em maio, o número de inadimplentes deve subir 5% (pondo 151 mil idosos na lista suja) — alerta Renault de Souza, vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados.
Os dados da Serasa apontam nesta direção. O ritmo de expansão da inadimplência dos idosos foi quase dez vezes superior à média geral em apenas um trimestre. A empresa — que analisa cheques devolvidos, títulos protestados, carnês e dívidas vencidas com instituições financeiras, lojas e cartões de crédito — diz que caiu o número de pessoas inadimplentes nas duas faixas imediatamente inferiores, que vão de 35 a 50 anos e de 50 a 60 anos.
Isso significa que a movimentação acima de 60 anos é totalmente atípica e fomentada pelo fato de o limite de comprometimento de 30% do benefício para as pessoas de baixa renda ser representativo. Dados do Ministério da Previdência demonstram que 51,73% das operações dos aposentados em março se referiam aos que recebem até um salário-mínimo.
— Já estamos fazendo uma campanha com nossos afiliados para que não peguem esses empréstimos, a não ser que seja muito necessário — diz Nilton Domingues Pedrosa, vice-presidente de Relações Públicas da Federação das Associações de Aposentados e Pensionistas do Rio (Faperj).
Empréstimo ainda deve crescer, diz BC
O aposentado José Carlos Pinto Vieira, ex-gráfico, está entre os inadimplentes. Ele pegou dois empréstimos no BMG no valor de R$ 5 mil para quitar dívidas e fazer algumas compras. Como as mensalidades de cerca de R$ 300 comprometiam 30% de seu rendimento, José Carlos, morador do Santíssimo, em pouco tempo entrou na lista dos maus pagadores:
— Fiz pensando que poderia pagar, mas os prazos foram longos: um de 15 meses e outro de 36 meses. Fui percebendo que 30% a menos do salário é muita coisa, não tive como pagar as outras contas. Já vi casos de pessoas que chegam a passar fome.
Renault de Souza defende uma mudança drástica nas regras de concessão, inclusive com mais diminuição nos prazos de financiamento. O governo reduziu o prazo máximo de financiamento de 60 meses para 36 meses, mas ele acredita que o ideal é um prazo máximo de 24 meses.
Além de afetar a estima, o bolso e a saúde dos aposentados, a situação pode trazer problemas para o varejo. Segundo Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o aumento da inadimplência dos aposentados deve afetar os setores que se beneficiaram num primeiro momento: os de bens duráveis e semiduráveis, como eletrodomésticos, roupas e calçados. Para áreas essenciais, como alimentos e medicamentos, o risco é menor.
Mesmo com todas as considerações, o crédito consignado — pelo qual já foram financiados R$ 35,29 bilhões — deve crescer. O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, lembra que a folga obtida pelo décimo terceiro salário em dezembro já foi consumida:
— Há espaço para crescer porque a base é muito baixa ainda.
Jorge Higashino, superintendente de Assuntos Especiais da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), confirma essa tendência mas acha que, quando houver maior familiarização dos idosos com as regras e as implicações do desconto em folha, a inadimplência cairá.
O Ministério da Previdência, responsável pela regulamentação desses empréstimos, não se pronunciou.
O Globo
Um comentário:
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