30.4.06

Armadilha na aposentadoria

Considerados os melhores pagadores da praça, os idosos estão agora protagonizando uma explosão de inadimplência. Dados da Serasa, fornecidos com exclusividade ao GLOBO, mostram que, em março, 3,027 milhões de pessoas com mais de 60 anos estavam com nome sujo na praça. O número é 3% superior à quantidade de idosos inadimplentes em dezembro — contra expansão só de 0,4% da média geral — e 10% acima do registrado há um ano. Em 12 meses, 277 mil pessoas dessa faixa etária passaram ao cadastro de maus pagadores. O responsável pelo movimento, que deve se intensificar em maio, tem nome e sobrenome: crédito consignado com desconto na aposentadoria do INSS.

Os idosos, sobretudo os aposentados e pensionistas, estão tendo dificuldades para honrar seus compromissos por terem assumido este tipo de empréstimo. Eles acabam não conseguindo pagar outras contas. Lançado há dois anos, o crédito consignado se tornou uma verdadeira coqueluche devido aos juros muito mais baixos do que os de financiamentos tradicionais e o desconto imediato. Em março, chegou a 5,2 milhões o número de beneficiários do INSS com crédito na modalidade — 13% mais do que em dezembro e 147,7% mais do que há um ano. Algo como 3,1 milhões de novos devedores.

Calote de idosos é o que cresce mais

Apesar das vantagens, os aposentados estão vivendo um verdadeiro dilema. Isso porque estes contratos comprometem até 30% da renda, reduzindo os recursos para o pagamento das outras contas, sobretudo as no comércio e de outros tipos de crédito. E o que é pior: em muitos casos, a inadimplência é involuntária, pois é grande o número de aposentados que pegaram o consignado para parentes, amigos ou conhecidos, que deram o calote.

— Nove entre dez aposentados que pegaram esses empréstimos estão sofrendo sérias dificuldades para manter as contas em dia. O número de inadimplentes em outras contas ainda é pequeno, porque os aposentados se desdobram para não ficar com nomes sujos. Mas a situação está piorando e, em maio, o número de inadimplentes deve subir 5% (pondo 151 mil idosos na lista suja) — alerta Renault de Souza, vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados.

Os dados da Serasa apontam nesta direção. O ritmo de expansão da inadimplência dos idosos foi quase dez vezes superior à média geral em apenas um trimestre. A empresa — que analisa cheques devolvidos, títulos protestados, carnês e dívidas vencidas com instituições financeiras, lojas e cartões de crédito — diz que caiu o número de pessoas inadimplentes nas duas faixas imediatamente inferiores, que vão de 35 a 50 anos e de 50 a 60 anos.

Isso significa que a movimentação acima de 60 anos é totalmente atípica e fomentada pelo fato de o limite de comprometimento de 30% do benefício para as pessoas de baixa renda ser representativo. Dados do Ministério da Previdência demonstram que 51,73% das operações dos aposentados em março se referiam aos que recebem até um salário-mínimo.

— Já estamos fazendo uma campanha com nossos afiliados para que não peguem esses empréstimos, a não ser que seja muito necessário — diz Nilton Domingues Pedrosa, vice-presidente de Relações Públicas da Federação das Associações de Aposentados e Pensionistas do Rio (Faperj).

Empréstimo ainda deve crescer, diz BC
O aposentado José Carlos Pinto Vieira, ex-gráfico, está entre os inadimplentes. Ele pegou dois empréstimos no BMG no valor de R$ 5 mil para quitar dívidas e fazer algumas compras. Como as mensalidades de cerca de R$ 300 comprometiam 30% de seu rendimento, José Carlos, morador do Santíssimo, em pouco tempo entrou na lista dos maus pagadores:

— Fiz pensando que poderia pagar, mas os prazos foram longos: um de 15 meses e outro de 36 meses. Fui percebendo que 30% a menos do salário é muita coisa, não tive como pagar as outras contas. Já vi casos de pessoas que chegam a passar fome.

Renault de Souza defende uma mudança drástica nas regras de concessão, inclusive com mais diminuição nos prazos de financiamento. O governo reduziu o prazo máximo de financiamento de 60 meses para 36 meses, mas ele acredita que o ideal é um prazo máximo de 24 meses.

Além de afetar a estima, o bolso e a saúde dos aposentados, a situação pode trazer problemas para o varejo. Segundo Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o aumento da inadimplência dos aposentados deve afetar os setores que se beneficiaram num primeiro momento: os de bens duráveis e semiduráveis, como eletrodomésticos, roupas e calçados. Para áreas essenciais, como alimentos e medicamentos, o risco é menor.

Mesmo com todas as considerações, o crédito consignado — pelo qual já foram financiados R$ 35,29 bilhões — deve crescer. O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, lembra que a folga obtida pelo décimo terceiro salário em dezembro já foi consumida:

— Há espaço para crescer porque a base é muito baixa ainda.

Jorge Higashino, superintendente de Assuntos Especiais da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), confirma essa tendência mas acha que, quando houver maior familiarização dos idosos com as regras e as implicações do desconto em folha, a inadimplência cairá.

O Ministério da Previdência, responsável pela regulamentação desses empréstimos, não se pronunciou.

O Globo

Um comentário:

Anônimo disse...

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