Lula desafia a oposição e diz estar pronto para rechaçá-la
Em encontro do PT, presidente afirma que adversários não vão derrotá-lo "na disputa democrática"
A uma platéia de quase 2.000 petistas que pediam em coro sua reeleição o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou pela primeira vez segurança de que vencerá a disputa. E lançou um desafio à oposição: "Que venham! Que venham, porque estaremos prontos para rechaçá-los".
Foi o trecho final -e mais aplaudido- de sua fala no 13º Encontro Nacional do PT, encerrada com o jingle da campanha presidencial de 1989, "Lula lá".
"Na disputa democrática, eles [da oposição] não nos derrotarão", disse. Lula atacou a oposição e a imprensa ao falar da crise política enfrentada em seu governo. Disse que "tem a dimensão histórica" do que está acontecendo no país e que o PT não pode aceitar ser julgado pelo PSDB e pelo PFL.
Ironizou ainda o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), deixando claro que quer comparar os resultados de seu mandato com o do tucano. "Comparar nosso governo com o passado é a mesma coisa que comparar o Corinthians com o Íbis", disse em referência a um clube pernambucano que já foi chamado de "o pior do mundo".
Lula não poupou o PT e colocou condições para entrar na disputa. Disse que só aceita ser candidato à Presidência se o partido abrir espaço para aliados nos Estados. "Não podemos permitir que em cada Estado prevaleça só a vontade do Estado. Se pode prevalecer, então não venham me dizer que a prioridade é o projeto nacional."
O PT convidou para o evento representantes de partidos políticos aliados, como PSB e PC do B. O vice-presidente, José Alencar (PMR), afirmou que apoiará Lula "onde quer que esteja", numa indicação de que poderá deixar de fazer parte da chapa na reeleição. Representantes políticos de 16 países, como Cuba, China, Venezuela e Estados Unidos, acompanharam o discurso de Lula.
Lula afirmou ainda que muitos "companheiros" passaram a maior parte do mandato preocupados em criticar o governo e a política econômica em vez de "fazer oposição" aos adversários.
Disse que está preparado "fisicamente, psicologicamente e politicamente" para a disputa. E que tudo o que quer na vida é fazer comparações, inclusive no campo ético. "É preciso levantar a cabeça para não ter vergonha do debate ético. Não podemos permitir que os setores mais conservadores venham nos dar lição de ética."
Para o presidente, o PT, na oposição, era "fichinha" perto do PSDB e o PFL. "Não atacávamos as pessoas, não mexíamos nas famílias. Porque para nós era valor sagrado, não mexíamos nas relações pessoais", disse, referindo-se a denúncias de irregularidades envolvendo a empresa de jogos eletrônicos de seu filho Fábio.
Bem-humorado e arranhando o espanhol em vários momentos, Lula mencionou a presença do ex-ministro José Dirceu, que foi ovacionado mas também vaiado por alguns petistas. Elogiou o empenho de Dirceu e também a paciência do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci para que a política econômica fosse mantida.
"Eu me lembro da preocupação que alguns tinham do que ia acontecer conosco no primeiro ano de governo. Nossos algozes torciam, tinham a convicção de que nós não íamos dar conta do recado e que o Brasil estaria quebrado no primeiro ano de governo." Em nova referência a Dirceu e Palocci, prometeu defendê-los: "Companheiro nosso, na dúvida, é nosso companheiro."
Seguindo a linha de criticar as elites e vincular a crise a uma espécie de disputa de classes, o presidente disse que é vítima da má vontade dos ricos. "Tenho noção do que uma parte muito pequena da elite política brasileira faz com aqueles que ocupam postos que eles pensavam que eram só deles na história deste país."
O presidente, cujo mandato foi marcado pela tensão nas relações com meios de comunicação, disse duvidar que exista no mundo um defensor maior que ele da liberdade de imprensa. "Uma parte da imprensa sabe que não tem sido democrática comigo."
Em uma alfinetada em seu adversário Geraldo Alckmin, que defende um "choque de gestão", Lula minimizou o impacto do discurso oposicionista: "Se eles não querem fazer disputa econômica nem projetos sociais, o que vamos debater, choque de gestão?".
Folha
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