29.4.06

Lula e Casas Bahia

Lula elege Casas Bahia como modelo de desenvolvimento para o Brasil
Em discurso, presidente diz ter a mesma concepção de "estabelecer parceria com a parte pobre da população"


Afeito a utilizar seus discursos para ressaltar a importância de governar para os mais pobres, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o foco das Casas Bahia - o consumidor de baixa renda - durante inauguração ontem do novo Centro de Distribuição da empresa, em São Bernardo do Campo, para comparar o Brasil à líder nacional no setor varejista de eletroeletrônicos, eletrodomésticos e móveis.

Falando de improviso, Lula disse que é daqueles que, em vez de ficar tentando adivinhar o que vai acontecer, prefere trabalhar para que aconteça. "E estou convencido de que vai acontecer neste país o mesmo que aconteceu nas Casas Bahia."

Dirigindo-se ao presidente das Casas Bahia, Samuel Klein, o presidente falou sobre a necessidade de olhar para os menos favorecidos. E elogiou a opção da empresa de priorizar a parcela mais carente da população e "acreditar" nela. "Embora não seja presidente das Casas Bahia, seja presidente do Brasil, a minha concepção de tratamento deste país é a concepção que o senhor teve de estabelecer a sua parceria com a parte pobre da população", discursou.

Ao lado do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, da primeira-dama, Marisa Letícia, e do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, Lula listou uma série de políticas de seu governo dirigidas à população carente. E insistiu que "é preciso mudar um pouco a forma conceitual com que se trata as coisas" no Brasil. "O senhor (Samuel Klein) fez, teve resultado e disse agora há pouco para mim: 'Eu gostaria que o Brasil fosse que nem as Casas Bahia, todo mundo feliz'. O senhor fez isso porque acreditou na parte pobre da população", disse o presidente.

ELEITORADO

Ao longo dos 22 minutos em que discursou na cerimônia, Lula utilizou quase todo o tempo para falar das parcelas mais carentes da sociedade, onde tem, segundo as pesquisas, maior intenção de voto. Listou uma série de realizações de seu governo para os mais pobres, entre elas o Bolsa Família - e seus 9 milhões de famílias beneficiadas - , o crédito consignado, o ProUni, o salto de R$ 2,4 bilhões para R$ 9 bilhões no financiamento para a agricultura familiar, além do aumento real de 1,5% do salário dos aposentados.

"No Brasil ainda nem todo mundo evoluiu a ponto de compreender que a transferência de renda é a melhor forma que a gente tem para fazer o País crescer", argumentou o presidente.

Mais tarde, em entrevista, voltou ao tema. Disse que "acabou o tempo daqueles que falam que o Brasil precisa, primeiro, crescer para, só depois, distribuir". "Estamos provando que é possível crescer e distribuir ao mesmo tempo", enfatizou, acrescentando que distribuir ajuda o País a crescer.

Ao falar da importância de os mais carentes terem acesso ao crédito consignado e a condições de compra a prazo, Lula disse que para os mais pobres não importa o valor do produto, mas sim o fato de a prestação ser baixa. "Obviamente que a parte mais pobre da população, quando pega R$ 1 mil emprestados, não vai comprar dólar para guardar ou não vai emprestar a juros", disse. " A pessoa vai comprar uma roupa, uma camisa, um sapato, uma televisão, um rádio. E quanto mais tempo a gente der de prestação e quanto mais barata for a prestação, mais as pessoas vão poder comprar, porque no meio da parte mais pobre da população eles não têm a preocupação se vai custar cinco ou seis vezes a mais. Eles querem saber se podem pagar uma prestação, eles querem saber se é possível dividir e conseguir pagar um pouquinho a cada mês."

RUMO CERTO

Mais uma vez, Lula elogiou a iniciativa de Klein em criar as Casas Bahia e ter descoberto "o filé" de se dirigir aos menos favorecidos. Para Lula, as Casas Bahia demonstraram "claramente" que basta acreditar na sociedade brasileira para que as coisas dêem certo. "Basta ter uma política correta para o público correto que não há jeito de errar." Por fim, reafirmou a empresários e funcionários da empresa sua convicção de que o Brasil finalmente encontrou seu rumo. "O Brasil entrou num ciclo de desenvolvimento duradouro, sustentável e isso vai durar muitos e muitos anos." Na cidade em que ganhou projeção como sindicalista, Lula foi saudado por metalúrgicos que o aguardavam ao lado de fora.
Estadão