Dirceu articula pela reeleição no exterior e com empresários
De maneira discreta, deputado cassado reassume função de coordenador de campanha de Lula
Dirceu articula pela reeleição no exterior e com empresários
Quatro anos -e uma cassação- depois, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu começa a reocupar, na prática e de maneira discreta, o posto de coordenador de campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. As incursões de Dirceu não se limitam à cena política, como a Folha revelou na sexta-feira, mas invadem o mundo empresarial e extrapolam até as fronteiras do país.
Segundo petistas, Dirceu viajou para Bolívia e Venezuela, onde "tem seus contatos". A última viagem, à Venezuela, foi na quarta e quinta-feira da semana passada, quando Dirceu voltou a São Paulo. Em janeiro, Dirceu já tinha estado na Venezuela, onde participou do Fórum Social Mundial, inclusive da marcha de abertura.
O ex-ministro também mantém conexão com empresariado. Há dez dias, sentou à mesa do presidente de um banco e do representante de uma agência internacional de notícias no Brasil em jantar oferecido pelo empresário Lawrence Pih, presidente da Moinho Pacífico (trigo) e um dos primeiros empresários a manifestar apoio público ao PT. Pih já organizou comitês nos quais empresários simpáticos ao petismo colaboravam com dinheiro para a campanha e apresentavam propostas para o plano de governo.
Além de Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino, o deputado estadual Fausto Figueira e Danilo Camargo, tesoureiro de campanhas do PT em São Paulo, participaram do jantar. Genoino deverá concorrer à Câmara neste ano.
"Foi uma confraternização. O aniversário do Lawrence Pih. Havia empresários. Mas não tinha esse caráter", afirmou Figueira.
"Fui a um aniversário. Nem sabia que Dirceu iria nem que estava à mesa com um presidente de banco. Nem sabia quem era", disse Genoino. Segundo a assessoria de Dirceu, o encontro com o banqueiro foi acidental, porque os dois foram convidados para o mesmo aniversário. Porém, os contatos empresariais não são um acidente. A assessoria diz que o ex-ministro tem sido procurado por empresários de todo o Brasil, em grupos ou individualmente, interessados em ouvir as análises de Dirceu sobre o momento político do país.
Palanques
Ainda de acordo com interlocutores de Dirceu, ele tem atuado em todo o país para a construção de palanques para a reeleição de Lula, à exceção de São Paulo.
Favorável à candidatura de Marta Suplicy ao Palácio dos Bandeirantes, o ex-ministro teria decidido se afastar da disputa no Estado a pedido do próprio Lula, que é defensor do nome do senador Aloizio Mercadante. Dirceu, no entanto, tem feito viagens pelo país, como reuniões recentes no Rio de Janeiro e no Paraná.
A agenda de Dirceu também inclui encontros com movimentos sociais, estudantes e universidades. Segundo sua assessoria, o ex-ministro tem sido muito procurado por essas entidades. Na próxima semana, o deputado cassado vai participar do "Seminário Internacional sobre Mídia e Democracia e Novas Formas de Ativismo Político" na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), onde falará sobre mídia e poder. Também já recebeu convites do diretório central dos estudantes de uma universidade particular de Minas Gerais para fazer "análise de conjuntura".
No começo deste ano, quando Dirceu retomava suas atividades, chegou a dizer para interlocutores que o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) se engajaria em uma campanha para que conseguisse reaver seu mandato de deputado federal.
Segundo um integrante do comando petista, sua intenção é reunir todos os movimentos sociais para a campanha. No governo, Dirceu tentou passar a imagem de que era mais próximo aos movimentos sociais. Era uma maneira de se contrapor a Antonio Palocci e polarizar com o então ministro da Fazenda.
Petistas costumam repetir que o partido não pode abrir mão da experiência de Dirceu, comandante da campanha vitoriosa de Lula em 2002. Mas a movimentação incomodaria o atual presidente do PT, Ricardo Berzoini. Apontado como um possível coordenador de campanha de Lula, Berzoini vê a invasão de seu espaço sem que ele tenha sido sequer criado.
Folha
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