4.8.06

Vedoin e o RJ

O depoimento do empresário Luiz Antonio Trevisan Vedoin, um dos chefes da máfia dos Sanguessugas, à Justiça Federal de Mato Grosso mostra que no Rio de Janeiro o esquema era coordenado por um homem muito bem relacionado com políticos fluminenses das mais diferentes correntes ideológicas. O empresário Nylton José Simões Filho era o responsável por liberar as emendas para a compra de material hospitalar e de informática no estado e recebia propina equivalente a 2% do valor de cada emenda liberada. Segundo o depoimento de Vedoin, Nylton tinha acesso a políticos do PT, do PSDB, do PSB, do PMDB e do PL. Procurado ontem, o empresário não foi localizado.

Num trecho do depoimento, Vedoin diz que Nylton Simões — que está indiciado pelo Ministério Público Federal de Mato Grosso como um dos 81 envolvidos no esquema dos Sanguessugas — foi o responsável por seu encontro com o ex-ministro da Saúde Humberto Costa. Segundo ele, Nylton teria conhecido um homem identificado como pastor Lourenço, que teria trabalhado no governo Benedita da Silva. O pastor teria apresentado Vedoin ao petista Benedito Domingues, ex-vice governador do Distrito Federal, que o teria levado ao ministro. A ex-governadora Benedita da Silva, coordenadora da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Rio, informou por sua assessoria que Nylton ou Lourenço jamais foram seus assessores.

A grande quantidade de emendas de deputados do Rio liberadas fez com que Vedoin e Nylton brigassem. De acordo com o depoimento de Vedoin, Nylton queria ter 2% de todas as emendas liberadas no estado. Mas Vedoin não concordou. O Rio é o estado com o maior número de deputados apontados como envolvidos no esquema: 16 até agora. Segundo o depoimento de Vedoin, “Nylton Simões trabalha com os seguintes deputados: Almerinda de Carvalho (PMDB), José Divino (PRB), Nelson Bornier (PMDB), Carlos Nader (PP), Reinaldo Gripp (PL), Josias Quintal (PSB), Betão (PL), Paulo Feijó (PSDB)”.
Nilton também representava, segundo Vedoin, o grupo nas licitações direcionadas dentro das prefeituras envolvidas no esquema. No depoimento, o empresário cita várias prefeituras da Baixada Fluminense onde Nylton teria tido encontros, alguns deles até diretamente com prefeitos, como no caso da de Magé, Nubia Cozzolino (PMDB). Outro contato de Nylton na região era com Maria José, que seria assessora do deputado Itamar Serpa (PSDB) e teria recebido R$ 69 mil de propina.
Segundo Vedoin, “Maria José também cooperou com os contatos do interrogando nos municípios de Belford Roxo, Paracambi, Japeri, Nova Iguaçu e São João do Meriti.” Em entrevista ao GLOBO, Itamar diz que só estava citado porque uma funcionária de nome Ada, que não seria nomeada por ele, teria usado o telefone do gabinete para ligar para integrantes da máfia.

Para aumentar os ganhos no esquema, Nylton criou uma ONG para fazer trabalhos para o governo federal no Rio, segundo o depoimento de Vedoin. O Instituto Brasileiro de Cultura e Educação (Ibrae) passou a realizar serviços para o Ministério da Ciência e Tecnologia na área de inclusão digital. A máfia vendia emendas para a compra de ônibus para o instituto. As comissões eram divididas entre Nylton e deputado federal Paulo Baltazar (PSB), conforme antecipou O GLOBO em maio deste ano. O deputado nega participação no esquema.

Na época, o presidente do Ibrae, Marco Antonio Tadeu Alves, disse que Nylton não era ligado à organização e que prestava apenas serviços voluntários à ONG. Marco Antonio, que segundo Vedoin teria recebido propina, prometeu devolver os recursos recebidos do Ministério da Saúde porque não havia conseguido realizar a licitação para os serviços contratados.
OGlobo

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