21.8.06

Lulismo no ar

Em Pernambuco, até o candidato ao governo pelo PFL, Mendonça Filho, exibe imagens de Lula em seu programa de TV. Na Bahia, os candidatos locais se anunciam como membros do "time do Lula". Em São Paulo, Mercadante desfila na TV para lá e para cá agarrado à barba do pai salvador. Todos querem tirar uma lasquinha.
O lulismo, como se diz, está bombando. Mas não o PT. Fernando Henrique resumiu bem: "O PT é o Lula. E o Lula não é o PT", disse à "Playboy" deste mês. É porque não quer aceitar esse divórcio de fato que Berzoini, investido de ânimo vingativo, pode anunciar aos gritos, como fez no sábado, num comício com Lula, que a vitória será dedicada aos "companheiros atacados".
O gesto da véspera de desagravo aos mensaleiros contrastou com a omissão de Lula, que ontem em Osasco escondeu João Paulo atrás do palco em seu comício. É difícil saber qual dos escárnios é pior: o de quem fala ou o de quem cala.
O lulismo não deriva só do carisma do presidente ou das ações anestésicas de seu governo contra a miséria extrema. Mais do que isso, o lulismo é resultado do esfacelamento do PT e da anarquização fisiológica do sistema político e partidário. O mensalão é ao mesmo tempo sua causa e sua conseqüência.
Lula sobreviveu à base podre que ele mesmo gestou, descolou do PT e saiu da crise fortalecido. Mas está solto no ar. Em caso de vitória, o que o espera depois de outubro?
O PT, se tanto, deve conquistar três Estados bem periféricos: Acre, Sergipe e Piauí. E a bancada do partido, além de encolher, deve ser mais lulista do que petista: é nos grotões do Nordeste que o PT ainda tem chance de reduzir suas perdas.
Como então governar? Reforma política? Constituinte? Nem Lula acredita. Seu vice, vale lembrar, é do PRB. No final, tudo conspira para o casamento à moda antiga do lulismo com o PMDB. Saem o PL de Valdemar, o PTB de Jefferson e o PP de Janene. Entra o PMDB de Jader, Newtão e Renan. Afinal, se hoje no ministério cabe um Hélio Costa, por que não quatro ou cinco?
FERNANDO DE BARROS E SILVA - Folha

Um comentário:

Anônimo disse...

Ao invés de diminuir a corrupção, um segundo mandato de Lula aumentaria muito.