2.8.06

Renan e Sarney irritados

Renan e Sarney dão sinais de irritação com Lula
Presidente do Senado foi contra confirmação de José Agenor no Ministério da Saúde


A confirmação de José Agenor Álvares da Silva no cargo de ministro da Saúde ampliou a insatisfação da ala governista do PMDB com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde março, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), tentava emplacar no ministério seu afilhado Paulo Lustosa, que atualmente comanda a Funasa. Não conseguiu.

Aliado de Lula, Renan tem dado sinais de descontentamento com o governo e com a campanha do presidente à reeleição. Sob o argumento oficial de que não era viável conciliar a participação no conselho político da campanha com a presidência do Senado, retirou-se do colegiado. Na prática, ele já sabia há mais de um mês que não conseguiria nomear Lustosa, vetado pelo PT. Mas decidiu escancarar seu aborrecimento com um gesto prático.

Renan não está só. O senador José Sarney (AP) também não esconde suas mágoas com o governo, mesmo após o PMDB ter recebido a presidência dos Correios e três diretorias da estatal. Há duas semanas, Sarney deu aval à articulação para aproximar o candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, de sua filha, a senadora Roseana Sarney (PFL), candidata ao governo do Maranhão.

Um auxiliar de Lula disse ao Estado que o presidente só confirmou José Agenor no cargo ontem porque "acabou a disputa". Agenor era secretário-executivo da Saúde e assumiu o ministério no fim de março, quando Saraiva Felipe deixou o posto para disputar a eleição.

O presidente avaliou ainda que era preciso fortalecer José Agenor neste momento de tiroteio político, por causa das denúncias envolvendo a máfia dos sanguessugas.

Dirigentes do PMDB dizem que tanto Renan como Sarney estão "insatisfeitos" com o governo, "irritados" com o PT e "preocupadíssimos" com erros na campanha pela reeleição. Nos bastidores, os dois desfiam um rosário de queixas, a começar pelo fato de que o presidente não lhes deu o destaque esperado como conselheiros políticos e pouco os tem ouvido.

Eles também consideram que a estratégia de bater na candidata do PSOL, Heloísa Helena, não é inteligente. Responsabilizam o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), e o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, pelo movimento. Para o PMDB governista, o PT acaba fortalecendo Heloísa, permitindo que ela assuma papel de vítima.

Mesmo com as lamentações, Renan e Sarney não desembarcaram do projeto da reeleição, porque avaliam que Lula continua fortíssimo. Mas o que está em jogo é o quinhão de poder do partido. Os dois aliados já não acreditam que Lula esteja disposto a enfrentar o PT para um governo de coalizão.

A expectativa era que Lula definisse já o espaço de poder do partido no eventual segundo mandato e que cumprisse promessas de nomeações. Contavam com a verticalização dos cargos no Ministério de Minas e Energia, com diretorias da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e de agências reguladoras. Em conversas reservadas, Sarney diz que o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, é indicação sua, mas quem continua mandando é a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Estadão

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