26.5.07

O COLAPSO DA AUTORIDADE

Com as labaredas do incêndio da Operação Navalha chamuscando o plenário e a fumaça escurecendo os corredores e gabinetes, a tremedeira da paúra despertou os poucos parlamentares que se preocupam com a crise moral que devasta o Legislativo e para a urgência de medidas para evitar o pior.

Mas ou à imaginação entorpecida pelo estresse dos últimos dias não acudiram idéias novas ou a explicação que salta aos olhos ilumina a evidência de que o desgaste da atividade política, desprezada pela virtual unanimidade da população, espertou a dormência dos privilegiados com um dos melhores empregos do mundo.

A excitação de senadores e deputados encontrou alívio na troca de angústias de reuniões e nas declarações aos repórteres de plantão. No Senado, meia dúzia de ministros e governadores valorizaram o bate-papo a portas fechadas. Do que transpirou dos segredos de Estado, a mesinha mágica para salvar o doente é a reforma política, velha e cansada de esperar. A receita é a mesma: financiamento público das campanhas, para que o povo pague a conta da eleição de suas excelências, fechando-se o ralo do caixa 2, do mensalão e da generosidade da Gautama. Junte-se a fidelidade partidária para acabar com o balcão da troca de legendas e o polêmico voto em lista para espantar de vez o eleitor, proibido de votar no candidato da sua preferência.

Céus! Se os congressistas não querem mirar-se no espelho e olhar em torno, basta ler os jornais, assistir aos noticiários das redes de TV, prestar atenção nas conversas de rua, nos transportes coletivos: o colapso da autoridade infla na desmoralização do Legislativo e enfuna-se na passividade do governo.

A paciência do povo, a sua indignação com a roubalheira impune, a sua decepção com a comédia das denúncias de novas trapaças, apuradas pela Polícia Federal, pela Promotoria Pública, pelas CPIs e que não deram em nada, gritam a advertência da urgência de uma reação para valer.

Como o Congresso quer ser levado a sério se não se dá ao respeito? O Conselho de Ética da Câmara - na verdade o Conselho Antiética - anistiou todos os deputados processados por crime de corrupção no mandato anterior e reeleitos com o pretexto de um cinismo alvar de que foram anistiados pelas urnas. O responsável é o eleitor.

Na mesma toada dos vândalos que invadiram e depredaram o Congresso e estão impunes, as centenas de militantes do MST, do Movimento dos Atingidos por Barragens e da Via Campesina ocuparam a Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, invadiram a sala de controle e a casa de força, ameaçaram incendiar as instalações. O governo enviou tropa para restabelecer a ordem. Com o recado presidencial de que examinará as pretensões dos manifestantes na mesa de negociação.

Milhares de manifestantes do MST bloquearam sete rodovias federais, em Pernambuco, com barreiras de pneus incendiados e provocaram engarrafamentos de mais de três horas na BR-408, a 22 quilômetros de Recife.

No Rio, os sem-terra fecharam por duas horas a BR-393, no Sul Fluminense, e as rodovias federais BR- 101 e BR-356, no Norte do Estado do Rio, e foram dispersos pela tropa policial.

Greves em cascata: na Polícia Federal, com a volta das filas nos aeroportos; dos professores da Universidade de São Paulo, em solidariedade ao protesto dos estudantes e funcionários. Apenas o flagrante do dia.

O Congresso atolado em mais um escândalo; o Poder Judiciário arrastando-se no passo lerdo das leis caducas e o Executivo apostando as fichas da popularidade na demagogia, nos índices estatísticos e na parolagem presidencial compõem o quadro de tintas fortes da falência da autoridade.

Villas-Bôas Corrêa (JB)

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