28.5.07

Renan na Casa Civil.

Grupo queria lobby de Renan na Casa Civil, revela grampo
Em conversa, investigados dizem contar com senador para pressionar Dilma


Objetivo seria incluir no PAC obra na qual foi descoberta fraude; o presidente do Senado diz que só fala hoje e a ministra não foi localizada


Diálogos captados pela Polícia Federal revelam que acusados de integrar o esquema de corrupção da construtora Gautama articularam para que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fizesse lobby para pressionar a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) a liberar recursos para uma das obras fraudadas pelo grupo.
Os acusados disseram que trataram com o senador, segundo as interceptações telefônicas, para que o projeto fosse incluído no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
A obra é a barragem do rio Pratagy, em Maceió (AL), para a qual a União já repassou R$ 30 milhões, de um total previsto de R$ 70 milhões. O projeto foi, de fato, incluído no PAC e teve sua previsão de gastos ampliada para R$ 120 milhões.
Os grampos da PF, obtidos pela Folha, demonstram que pelo menos três integrantes da quadrilha, presos na Operação Navalha, tinham proximidade com Renan e com um de seus assessores, identificado pela polícia como Everaldo. O senador tem um assessor chamado Everaldo Ferro. O lobby sobre a ministra Dilma é citado em pelo menos dois momentos.
No dia 30 de março, o então secretário e o subsecretário de Infra-estrutura de Alagoas, Adeílson Teixeira Bezerra e Denisson de Luna Tenório, falam em preparar, de forma irregular, um documento sobre a barragem do Pratagy para que Renan pudesse pressionar a ministra.
Adeílson: "Eles têm que fazer um estudo preliminar em 15 dias [...].
Denisson: "Rapaz, em 15 dias não sai."
Adeílson: "Foi esse o prazo que o Enéas [de Alencastro Neto, representante do governo de Alagoas em Brasília] ficou preso lá e a gente prometeu a Renan que a gente fazia".
Denisson: "Como é que você vai fazer uma coisa dessa sem topografia? É chute".
Adeílson: "É chute mesmo, não é projeto executivo [...]. É só um documento para o Renan pressionar a Dilma na liberação do recurso".
A juíza Eliana Calmon (Superior Tribunal de Justiça), relatora do caso, incluiu Denisson e Adeílson no terceiro nível da organização criminosa, formada por funcionários públicos encarregados de remover obstáculos aos interesses da quadrilha. Em troca, receberiam propina.
No dia 23 de abril, Adeílson conversa com Enéas de Alencastro. Adeílson não só conta a Enéas que estivera um dia antes com o senador como dá recados, segundo ele, a pedido do presidente do Senado.
Adeílson: "Olhe, outra coisa que o senador me pediu. Disse para a gente se sentar, nós dois, e evidentemente levar isso para o governador, e ver o que acrescenta às obras estruturantes para botar logo no PAC".
O próprio assessor de Renan teve conversas gravadas. São 13 diálogos em que o senador é mencionado, dos quais 2 envolvem diretamente Everaldo.
Em uma das gravações, o empresário Zuleido Veras, dono da Gautama, orienta sua secretária, a enviar um telegrama desejando parabéns ao senador, a quem chama de "amigo".
Sobre um dos diálogos, entre Zuleido e Everaldo, a PF levanta a suspeita de o tema da conversa se referir a pagamento de propina, mas sem especificar a quem. Eles falam sobre Renan e o deputado Olavo Calheiros (PMDB), irmão do senador.
"Zuleido diz que, para a semana, disseram que resolvem aquele negócio, até segunda. Everaldo diz que tenha cuidado com Olavinho [Olavo Calheiros], pois parece que ele fica em cima, o ministro [não identificado] estava falando. Zuleido diz que tem que ter calma [...] e pede para transmitir os parabéns para o amigo [Renan]."
No dia 22 de fevereiro deste ano, Fátima Palmeira, funcionária da Gautama, conversa com um funcionário da empresa Brastubo chamado Fernando. Ele conta que havia estado com Renan em Maceió e que o senador lhe dissera que sairia R$ 1 bilhão para a adutora do rio São Francisco, em Sergipe (obra também investigada pela PF), e que não faltaria dinheiro para a barragem do rio Pratagy.
Folha

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